Capitulo Dois
Naquela manha Ambrosie acordou mais rápido que o normal. Ela mexia meus pés freneticamente em busca de seus calçados e com isso, acabou por chutar um deles para longe, mas isso não a importava. Pegou seus remédios e se jogou no chão, logo alcançando a pantufa debaixo do armário em frente. Seguiu para o banheiro tomando seus remédios, pensando se eles faziam mesmo efeito ou se eram dados como placebo. Nunca era bom remediar.
Se olhou no espelho, fazendo-se a usual e repetitiva pergunta. “Por que não posso me olhar no espelho como pessoas normais?” se perguntou também. A menina se despiu de seus pijamas, uma calça moletom e um casaco igual. Entrou no chuveiro, se perguntando qual seria a motivação de hoje. Não pode responder, mesmo que no fundo algo dizia que hoje iria ser diferente, talvez mais diferente que ontem, com um almoço com alguém engraçado, uma briga no pátio de recreação, e outro aperto de mão, dessa vez mais longo e entrelaçando os dedos de forma carinhosa. Amby considerou aquilo como um ato gentil da parte do menino, mesmo corando assim que perceberam que não soltavam as mãos fazia mais de um minuto.
- Então. Você estava sorridente quando eu vim te buscar no centro ontem. – a mãe de Amby disse receosa, com medo de usar as palavras erradas. Qualquer palavra errada com a filha era capaz de fazer ela se fechar, e só se abrir depois de horas. Srta. Bones sabia como lidar com a filha tão amada e mimada. Amby apenas olhou para a mãe sorrindo, e logo se voltou para a janela, observando a cidade e os prédios se distanciarem, dando boas vindas à paisagem, tão natural e bela que deixou Ambrosie impressionada, por nunca ter tido tempo, ou talvez fosse mera falta de atenção da garota, para observar e apreciar. O sorriso de Amby se alargou com aquilo, e a duvida no interior de Amby, sobre a origem daqueles sorrisos, se aumentava. Algo a dizia que ela sabia a resposta, mas a menina, tão imersa em pensamentos superficiais, não iria admitir.
Por algum motivo, Amby se viu sendo levada por seus pés até o banheiro, para se olhar no espelho especificamente. A pequena menina, sua estatura realmente a incomodava, não fazia muita ideia do que fazia ali. Ela se olhou no mesmo, fazendo a mesma pergunta usual, mas dessa vez, por mais estranho que isso soasse para a garota, ela sorriu. Sorriu em resposta a sua pergunta, sempre ignorada por si mesma por ser algo retórico, como se o que ela estivesse fazendo consigo mesma fosse algo bom. A menina ajeitou o cabelo, os cílios e as sombra celhas, utilizando-se apenas de um pente simples para o cabelo e a mão para o resto. Perdendo-se da noção da hora, Amby só foi se tocar que devia estar na reunião em grupo quando deu-se por satisfeita pelo resultado obtido, quinze minutos atrasada.
- Perdão pelo atraso. – disse a menina esbravejando as palavras, por não estar acostumada a correr -ainda recebendo a reação do corpo por sua aventura do dia anterior- principalmente a essa hora do dia. – Eu perdi a noção do tempo. – disse sem graça. Ela contornava agora as cadeiras para se dirigir ao lado do Dr. até que foi surpreendida por um levíssimo beliscão no braço, algo que poderia ser facilmente considerado um cumprimento carinhoso entre amigos. O autor do ato foi Chris, encontrando o olhar com o da menina apenas quando ela se virou para se sentar, quase que na sua reta, e lançando-o um olhar fumegante. A menina não se lembrava de ter lhe dado o direito a beliscá-la. Chris se perguntou o que havia feito de errado, se havia a beliscado forte demais ou de maneira inapropriada. Mais uma vez o menino se pegou se culpando pela reação inesperada da garota, ainda não entendendo por que passara a se importava tanto com a opinião da mesma.
- Então. Hoje seremos breves pois estaremos nos preparando, essa tarde, para o Festival da Fruta de amanha – e com isso se ouviu uma salva de uivos e palmas. O menino se indagou se era uma daquelas datas criadas para agradar loucos e dar comida boa a eles uma vez na vida, mas depois se tocou de que era o Festival da Fruta, algo que acontecia por toda a Londres, agradecendo pela boa colheita. Chris olhou para Amby, esperando um bufar ou reação negativa vinda da garota, mas o que encontrou foi ela olhando para a janela, mais especificamente para as arvores lá fora, parecendo sentir uma ânsia de estar tão longe delas. Chris pensou em anotar em sua lista mental “eco-louca” mas achou muito grosseiro de sua parte então tratou de memorizar “ecológica” somente.
Mais tempo se passou e mais uma reunião se deu por encerrada, tão rápida que Chris ficou surpreso quando de repende, o Dr. veio falar com ele e com adivinha? Amby o acompanhava. Ele disse que precisava que fossem apresentado ao novo integrante do centro suas instalações, e nada melhor do que a paciente não interna, já que os internos são mais graves, que mais passa tempo no centro. Chris percebeu o revirar de olhos que a menina deu disfarçadamente quando lhe caiu a ficha que teria mesmo que mostrar os lugares para ele. Não bastava ele não conseguir entender a garota, teria que passar mais tempo com ela para o desagrado da mesma, causando uma pequena grande confusão na cabeça do garoto. Para ele, o dia anterior tinha sido muito bom. Para o dia em que você começa a fazer terapia com um bando de malucos, ele havia os intitulado assim antes de conhecer os mesmos, conhecer uma garota bonita, que é engraçada e tem personalidade era ótimo. Seria uma boa companhia e uma ótima motivação para ele ir, alem de não receber uma tremenda bronca em casa por não ter responsabilidade nenhuma e querer se matar. Tirando o pequeno desentendimento que eles tiveram ontem, por um motivo que Christopher ainda não descobriu qual foi, o dia foi bastante proveitoso, conhecendo muito a menina que de cara chamara sua atenção, chegando ao final do dia com a impressão de que se tornara “intima” dela, como se a conhecesse a muito mais tempo. Por isso, a indiferença de Amby hoje o causara uma estranha comoção. Chris estava tentado a desistir de ser amigo ou ter qualquer tipo de relação com a menina que o tratava com frieza quando de repente, ela puxa seu braço, entrelaça os seus com os dele, e sai sorridente com ele da sala. Chris se perguntou se ela havia ficado bêbada de um minuto para o outro. A possibilidade de ter batido a cabeça muito forte na parede (por raiva de ter que passar mais tempo com ele) não lhe saía da cabeça.
Amby ia puxando Chris, o guiando pelas salas e corredores internos do centro, sempre cumprimentando os médicos e assistentes, mas nunca os pacientes, a não ser algumas poucas crianças que residiam ali. Amby explicou ao menino como as coisas funcionavam, contando-o que algumas crianças tinham doenças mentais, distúrbios como ela o corrigiu, e algumas tinham doenças terminais, e passavam muito tempo aqui para o tratamento psicológico lidando com tudo. Chris sentiu um aperto no coração com essas crianças, se identificando. Depois e antes de suas sessões de tratamento médicos, elas ficam aqui, maior parte do tempo na verdade. Ambrosie começou a mostrar o jardim animada, falando de como era bom ler debaixo daquela arvore da direita ou como era tranquilo dormir sobre a sombra daquela outra. O menino conversava com ela, apreciando o carinho que ela transmitia sentir sobre aquelas plantas. E conversavam e riam, brincavam e em dado momento brigavam. Em dez minutos Amby voltava com um sorriso no rosto, pois havia visto uma borboleta. “Sem problemas” pensava Chris. Menos tempo brigando e ficando brigados, mais tempo amigos.
E dessa mesma forma simples e podemos até chamar de repetitiva as primeiras semanas após a chegada do novato foram se passando. Todos os dias, Amby o rejeitava, não por querer mas por sentir uma raiva imensa do garoto por qualquer besteira que o mesmo fizesse. Chris não entendia, mas respeitava. Ela o puxava pelo braço e eles passeavam, conversando e brincando. Não era comum para Amby ter um amigo. Tirando sua mãe, seus médicos eram os outros únicos que tinham contato com ela.
E com o passar do tempo, poucas semanas, uma quantidade enorme de horas e quilos de informações, Chris e Amby se tornaram inseparáveis, necessitando um do outro. Chris pedira o celular de Amby, e como a mesma não possuía um, deu o telefone de casa, que decorou de tanto passá-lo para médicos, suas secretarias e afins. Então começou-se, depois do primeiro final de semana após ter conhecido Chris, horas e horas de no telefone perdidas com o garoto, deixando sua mãe curiosa.
Ambrosie passava a maior parte do tempo sem crises, um avanço bastante considerável. Ela estranhava se olhar no espelho sorrindo, se perguntando o por que da suposta felicidade. Uma voz na sua cabeça começara a sussurrar que talvez não fosse “o que” aconteceu mas sim “quem”. Amby perdia o sorriso quando o sussurro a alcançava. Se sentia mal e infeliz ao pensar de tal forma. Como alguém como ela, problemática e estranha, teria chances com alguém como Christopher? Forte, alto, bonito e charmoso? Ela odiaria iludir. Odiava criar expectativa tanto quanto odiava pessoas que não comiam, pois queriam ficar “bonitas”. E era nesses momentos que Amby chorava, e a felicidade lhe parecia inalcançável.
“Então Amby” – o menino começava a mudar de assunto, falando envergonhado ao telefone. A menina imaginou que ele estivesse corando e dessa forma, provavelmente estaria mexendo em seu cabelo. Habito que ela reparara que ele tinha quando ficava sem graça.
“Sim, sou eu” – a menina disse boba, envergonhada por não saber o que fazer ou falar. O menino riu, percebendo que ela estava tão nervosa quanto ele, ambos percebendo o clima meio tenso instalado. Não tenso de estar ruim, mas algo que poderia deixar os dois constrangidos certamente deve ser sobre os dois.
“Queria saber se você não quer fazer alguma coisa depois de amanha.” – a menina ficara estática, prestando atenção em cada palavra, mas sem conseguir esboçar mínima reação. – “Abriu um novo parque de diversões, perto do lago de Bristol. Você gostaria de ir? No sábado a tarde talvez?” – a menina nada respondia. Se ela pudesse ver o garoto naquele momento talvez reconhecesse nele as mãos tremulas e suando, o olhar tenso. Ele estava tão nervoso para falar aquilo como ela estava para ouvir e responder.
Chris começava a se desculpar, culpando-se e julgando-se internamente por ter sido precipitado demais. Talvez os momentos em que ela dizia que o odiava e que ele a fazia mal e aqueles sentimentos prevalecessem nela. Talvez ela realmente o odiasse. Mas ele realmente não poderia acreditar nisso pelo simples fato dele não saber o porquê.
“Eu acho que” – e a ligação foi encerrada. Chris estava mais confuso do que antes dessa ultima resposta, mesmo se achando incapaz disso.
Havia momentos em que ele achava que Ambrosie - ele realmente adorava repetir esse nome – realmente não gostava de sua presença. Nos dias em que ela não entrelaçava os pequenas braços dela nos seus, ele sabia que ela não estava bem. Ela brigava com ele por ele ser estúpido e idiota, ridículo e burro, hipócrita e imbecil. Chris provavelmente apenas havia discordado dela em alguma pequena coisa para gerar essa reação dela. Ele era atingido por aquilo. Seu peito se apertava pela raiva que suas palavras carregavam mas ele logo se aliviava, sentindo seu corpo ser de repente empurrado para trás, pois Amby está o abraçando fortemente. Ela deitava sua cabeça em seu peito, agarrava sua cintura como se quisesse alcançar sua bunda de tão baixo que segurava – realmente às vezes alcançava e em outros momento ela gostava de brincar de apalpá-la e apertar, pois ela a considerava muito grande – mas era apenas sua baixa estatura. Chris gostava da sensação de tê-la em seus braços. O fazia se sentir bem, protetor e forte, como há tempos não se sentia.
Mas e os momentos em que ele achava que ela gostava dele? De sua presença, carinho e demais características? Ele não sabe se deveria contar com os momentos que pegava ela o observando, enquanto os dois conversavam e apenas arrancavam algumas pequeninas plantas do chão – não que ele não fizesse isso, na verdade fazia, com maior frequência que ela e menos descrição – ou o fato de que ela parecia arrumar uma briga com ele só para ter pretexto para se reconciliar depois – isso Chris não podia julgar, já que não tinha tanta certeza, pois o mesmo suspeitava que esse seu temperamento pudesse ser o ou um dos motivos de Amby frequentar tanto o centro – abraçando-o. Ou simplesmente fazendo-o sofrer com as brigas e xingamentos, curtindo o sofrimento dele – não que isso dissesse que ela gostava dele mas “o ódio é melhor amigo do amor” ou algo do tipo, como Chris pensava -. Ele gostava de lembrar dos momentos em que não existia Amby boa e Amby má. Existia Amby. Com tão pouco tempo ele se sentia tão necessitado da garota, como se ela fosse a vontade de viver que ele a tanto procurava. Ele não queria se precipitar tanto em relação a ela. Os momentos com Amby vinham a sua cabeça, como quando ela simplesmente deitava-o em seu colo e fazia carinho nos seus cabelos, que ela dizia terem uma rebeldia bonita e gostosa. Ele poderia começar a admitir que começava a alimentar algum sentimento muito grande por ela, a conhecendo a pouco mais que dois meses talvez dois meses e meio, ou se sentir preocupado demais com o pequeno ser que se encaixa tão bem nele, e as vezes, quando estavam encostados em alguma arvore ou em algum lugar escondido no gramado, o surpreendia deitando em seu peito as vezes até colocando sua perna sobre a dele. Ela permitia que ele a envolvesse com os braços apenas ronronando e acariciando as bochechas dele, de olhos fechados. Chris desejava que esses momentos durassem para sempre.
Após uma sequencia de idas e voltas para a cama, olhar para o teto e pensar mais sobre o porque de ter sido rejeitado, Chris havia se cansado de pensar nas possibilidades. Será que ela havia descoberto sua condição? Ele havia feito algo de errado? Deveria evitá-la amanha? Não era a primeira vez que ela desligava na sua cara. As vezes ela retornava, ou o ligava já de madrugada dizendo que precisava conversar com alguém para poder dormir. Ele conversava com ela, ate perceber que falava sozinho escutando apenas o simples ronronar da menina. Mas não dessa vez. Chris havia se precipitado chamando-a para sair, ele agora tinha certeza. Chris havia desistido. E então o telefone tocou.
- Eu aceito sair com você. – e a ligação foi encerrada.
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