“Alma gêmea é uma concepção que se baseia na ideia de que existem seres que estão destinados a se encontrarem e se unirem em uma relação profunda e significativa.”
Hinata era o tipo de pessoa que pensa na existência real do famoso encontro de almas, não que ele fosse do tipo leitor de clichês, estava mais para apreciador de filmes de comédia romântica, isso sim era a sua cara, filmes que o faziam rir e chorar por pensar que nunca encontraria sua alma gêmea.
Recentemente ele estava em um impasse, todo dia durante o decorrer do mês ia até o último andar do prédio em que estudava e encontrava Kageyama pintando o mesmo quadro calmamente, era sempre assim, ele olhava e admirava a calma com que ele passava o pincel diversas vezes na tela, já havia pensado em se aproximar, mas sabia que seria estranho pra caralho, então preferiu apenas o observa de longe, ao mesmo tempo em que pensava o quão louco era aquilo, se alguém o pegasse ele com certeza teria uma fama horrível de stalker.
Sabem aquela coisa e fio do destino? Algumas pessoas passam a crer nisso ao longo da vida, tentando se agarrar a qualquer coisa que dê esperanças de que vão encontrar um parceiro para o resto de sua vida, mas na verdade isso só não existia. O ponto é, Hinata com certeza estava vivendo uma dessas loucuras de destino, pois todos os lugares que ia, corredores que virava, horário de almoço, Kageyama estava lá acompanhado de Oikawa e Iwaizumi, que o cercavam como seguranças. Era fofo pensar que pelas condições do moreno, talvez os dois se sentissem na obrigação de o proteger, mas será que aquela proteção era bem vinda?
Os únicos momentos em que via Tobio sozinho era na sala de pintura e na biblioteca, onde descobriu que o maior se enfiava na maioria das aulas e lia o equivalente a três meses de leitura de Hinata, que ficava admirado pela cara concentrada que ele fazia. Talvez não fosse o destino, talvez ele estivesse à procura do moreno, como algo inconsciente, pois algo dentro dele indicava que deveria se aproximar, estar sempre por perto, mesmo que apenas o observando, era algo magnético demais para o ruivo apenas ignorar.
No momento ele estava sentado no palco, era sua aula prática e todos aproveitavam para ensaiar o show de fim de ano, para fechar com chave de ouro. A cada ano uma turma de Artes Cênicas era escolhida para elaborar uma grande apresentação para encerrar o ano letivo, e esse ano a turma de Hinata ficou encarregada dessa parte, onde apresentariam o musical francês “Les Miserables” composto por Claude-Michel Schönberg em 1980, baseado no romance épico francês "Les Misérables" (Os Miseráveis), de Victor Hugo, um famoso clássico, este que Shoyo teve a grande oportunidade de atuar como o protagonista Jean Valjean.
Olhava para o roteiro em suas mãos e não sabia dizer exatamente o que sentia, estava tão feliz que apresentaria seu primeiro musical, seu sonho era atuar, mas cantar enquanto atuava era algo muito mais prazeroso, sempre que subia no palco e olhava todo aquele público não ficava nervoso, só ficava mais confiante e animado, soltava a voz e o ar de todo o seu pulmão sentindo a garganta doer, mas os aplausos no final fazia tudo valer a pena.
-Hinata! Vamos, é sua deixa!- Um de seus colegas chamou sua atenção e ele se levantou rápido, estava tão distraído que não reparou o tempo em que deveria entrar na música, porém logo pegou o ritmo enquanto encenava com os colegas.
Algumas horas depois e estava jogado no meio do grande palco de madeira, seu corpo e cabelo molhados pelo suor, a respiração ofegante e descompassada, estava mortinho. Se sentou pronto para ir até o vestiário pegar suas coisas e ir para casa o mais rápido possível, precisava urgentemente de um banho e teria feito isso se não fosse os cabelos pretos e olhos azuis no meio da plateia o encarando.
Ele olhou diretamente pra ele, Kageyama possuía um sorriso quase invisível em seus lábios, uma perna cruzada sobre a outra e em suas mãos um caderno e o que parecia ser uma lapiseira, afinal de contas a quanto tempo ele estava ali? Foi andando devagar até as escadas na lateral do palco, precisava pegar suas coisas e ir até ele, algo lhe dizia que não teria outra chance, afinal, quem imaginaria que o cara que sempre encontrava por engano (ou não) estava bem ali, o observando atuar, tinha que fazer alguma coisa.
Correu para o vestiário assim que saiu da vista do maior, pegou sua mochila e saiu com a mesma pressa que entrou, recebendo olhares assustados de seus companheiros de sala, ele não se importava, tinha que alcançá-lo. Viu que ele saia pela porta do teatro e se apressou ainda mais passando pelo mesmo lugar poucos segundos depois, chegou mais perto, estava a apenas alguns centímetros dele, mas por que não conseguia tocá-lo? Por que seu corpo não reagia? A ideia de chamar por ele pareceu ainda mais absurda quando se lembrou que ele simplesmente não escutaria.
Tomou coragem, toda a coragem que tinha e finalmente levou a mão a barra da blusa do outro, que parou automaticamente e se virou, no momento em que se encararam seu coração disparou, sua respiração desregulada, aqueles olhos. Aqueles malditos olhos que o hipnotizava e fazia o ar fugir de si, não sabia explicar exatamente o que era aquilo, se via indefeso e desarmado, agora que tinha chamado sua atenção não sabia o que fazer ou falar.
Kageyama o olhava com dúvida, esperava pacientemente que o ruivo se expressasse, seu rosto formava uma careta fofa demais para o pobre coração de Shoyo, era demais pra sua cabecinha confusa.
-Você.. bom- Começou devagar, deixava sua boca à vista e falava devagar por mais que não soubesse bem o que falar- Não esperava te encontrar no teatro, desculpe se te assustei.
Viu ele sorrir um pouco e pegar o celular, digitar alguma coisa e virar o aparelho para ele.
“Gosto de ir para lugares assim, o ambiente me ajuda a pensar e sempre tenho mais inspiração.”
-Ah! Que legal, você faz Artes Visuais né? Sempre te vejo por aí com materiais de pintura ou um caderno e lapiseira na mão- Riu sem graça, a maior mentira de todas com certeza, nunca tinha o visto com nada disso, mas contar que o observava vez ou outra seria mais do que estranho para os dois ali e esperava de coração que ele não percebesse sua falta de honestidade.
“Não imaginei que fizesse artes cênicas, mas julgar por sua personalidade até que combina bastante.”
-Minha personalidade?
“Sim, você parece alguém bem agitado. Desculpe se estiver fazendo um julgamento errado.”
Hinata não evitou rir da situação e prontamente negou com a cabeça, ele com certeza não estava errado, o ruivo possuía um espírito livre, fazia o que vinha na telha, nunca pensava nas consequências e, por mais que quase sempre se coloca-se em encrenca, ele aproveitava sua vida. Não resistiu em chamar o moreno para comer alguma coisa e se surpreendeu quando recebeu uma resposta positiva, andavam lado a lado num silêncio confortável, Shoyo não sabia usar linguagem de sinais e Kageyama não queria correr o risco de cair ao digitar no celular. Estavam bem na presença um do outro.
[...]
-Então vocês almoçaram juntos? Que fofo- Akaashi dizia sentado ao seu lado, no final do dia ele e seus amigos resolveram se encontrar numa lanchonete próxima para conversar e desestressar um pouco.- Ele é realmente irmão do Oikawa então, que estranho não terem o mesmo sobrenome.
-Pelo que parece Oikawa foi adotado depois que a irmã mais velha dele nasceu, eles estavam com dificuldade e a oportunidade apareceu, um tempo depois descobriram que a mãe estava grávida de Kageyama.- Hinata explicava calmamente enquanto bebia seu Milkshake.
-Faz sentido até, mas não tem problema você nos contar isso?- Tendou sorriu de lado comendo outra batatinha- Tipo, o grande veterano não vai ficar irritado se souber que o irmão espalha as coisas da família assim?
-Até que não, ele diz que antes Oikawa era chato pra isso, mas hoje muitas pessoas já sabem e ele não liga, mas falando em irritação, o que deu no Atsumu?
-Eu conto!- Osamu se prontificou rapidamente- Ele ta bravinho assim porque o crush dele disse que ele era irritante e não responde a umas duas horas- Uma risada pode ser ouvida e logo o falso loiro socou o ombro do irmão.
-Cala a boca! Ele não tá me ignorando ou coisa assim- Disse convicto e se virou para os amigos.- Não me olhem assim!
-Atsumu, você ta sendo meio burro- Kenma se manifestou enquanto ainda jogava- Sakusa é mais difícil que uma porteira, acha mesmo que ele vai te dar confiança? Ele só conversa com o Komori porque são primos, além de odiar contato físico.
-E você é extremamente grudento- Tendou disse rindo da cara do outro- Mas não desanime assim, quando conheci o Wakatoshi ele era quase assim, muito fechado e na dele, mas hoje ele é bem mais sociável.
-Só com você amigo, só com você- Keiji pontuou e todos começaram a rir, era engraçado de qualquer forma- Nunca lidei com isso, Bokuto sempre foi extremamente extrovertido e eu sempre fui muito fechado, continue tentando ser social, mas respeite o espaço dele, uma hora ou outra ele acaba cedendo.
O garoto apenas concordou e logo o foco da conversa voltou a ser o baixinho. Ele começou a explicar sobre aquela misteriosa sensação que tinha sempre que via o moreno, ficar nervoso perto de outra pessoa era estranho para ele, sempre foi tão extrovertido, então de duas uma, ou estava doente ou louco.
-Você ta apaixonado.- Pontuou Kenma por fim olhando o amigo e rindo da cara de espanto dele.
Apaixonado? Por um cara que conheceu a menos de um mês? Como era possível? Seus amigos só podiam estar loucos, sim era isso, estavam completamente loucos.
Estavam até Hinata ler a mensagem em seu celular, já havia chegado em casa e tomado um bom banho quando recebeu a notificação, não esperava aquilo nem em mil anos, mas talvez seus amigos estivessem certos. Seu coração começou a bater rápido demais, suas mãos tremendo em nervosismo e entusiasmo com apenas uma maldita mensagem, estava certo de que não mudaria de opinião tão cedo, era daquele jeito, quando entrava na onda nada o fazia sair, era como surfar um tubo e aos poucos ele ir se fechando a sua volta até enfim te engolir totalmente.
XXX:
oi Hinata
É o Kageyama, espero que não ache isso estranho.
Peguei seu número com um colega da sua turma
Queria saber se pode me ajudar com um trabalho da faculdade.
Shoyo com certeza explodiria de alegria, com o que Kageyama precisava de ajuda? E por que ele pediria para si assim tão do nada? Simplesmente não importava, ele só estava tão feliz que começou a pular pelo quarto segurando o celular nas mãos, para ele aquilo não passava de uma grande loucura, uma loucura que iria aproveitar até a última gota.
Para alguns, se apaixonar em apenas um mês não passava de um mal entendido e confusão, mas para ele era muito mais do que isso, sabia que tinha algo de diferente em Tobio assim que o viu pintando o maldito quadro, quando o via pelos corredores, quando viu o sorriso de canto dele quando conversaram, aquilo era bom. Estar na presença do maior aquele dia acabou se tornando uma coisa que Hinata queria experimentar com mais frequência.
You:
oi Tobio!
Não tem problema nenhum!!
Como posso te ajudar???
Tobio:
Eu precisava de um modelo
para uma pintura
não sou tão sociavel e não conheco quase ninguém, então achei que poderia me ajudar
entendo se não quiser
You:
Óbvio que ajudo!
Seria uma honra!
Só me dizer quando :))
[...]
Aquele era o seu fim! Estava sentado na mesma sala de pintura que sempre via o maior trabalhar incansavelmente em seu quadro, Kageyama havia marcado com ele no dia seguinte, bem cedo no último andar, ele explicou onde era a sala e nem sonhou que o menor já sabia aquele caminho de có. Ele balançava a perna e levantou a cabeça rapidamente quando o moreno adentrou a sala com apenas uma bolsinha não tão grande, mas visivelmente possuía diversos tipos de lápis e canetas.
Se cumprimentaram com um aceno e Kageyama tentou indicar a Hinata o que queria da melhor maneira possível, por mais que o celular ajudasse, eles se atrasariam demais com cada pausa para digitação. Shoyo fez o melhor que pôde e se sentiu orgulhoso quando viu ele sorrir e com as duas mãos pedir que apenas não se mexesse, ele fez isso, ficou apenas parado e observando o outro arrastar a lapiseira pelo papel de desenho.
Aquilo era hipnotizante, via as mãos dele se movendo lentamente, os traços eram cuidadosos e certeiros, poucas vezes o viu pegar a borracha, não por preguiça, mas porque simplesmente não precisava, formava linhas e traços tão sólidos e detalhados que chegava a ser assustados, viu ele trocar a lapiseira por um lápis bem mais grosso, não sabia o nome, apenas que alguns artistas usavam para fazer sombra.
Perguntava a si mesmo se ele não usaria um lápis de cor ou giz, ás vezes o intuito do trabalho era usar apenas cores neutras, mas não iria discutir. Subiu seu olhar para o rosto dele, era incrível como ele era lindo, o nariz fino, as bochechas levemente coradas, os cílios grandes e as íris perfeitas, mas a boca, sim a boca com certeza chamou sua atenção naquele momento, a forma como ele mordia levemente quando se via em dúvida do que fazer, a forma que passava a língua entre eles tentando mantê la úmida, por Deus, como ele queria provar daqueles lábios.
Mas uma coisa o surpreendeu de imediato, do lado direito, em seu ouvido, um pequeno aparelho preto e conhecido por si.
Um fone.
Aquilo com toda a certeza o deixou assustado, pensava que ele era surdo, será que esse tempo todo ele estava sendo enganado e feito de idiota? Não. Ele não tiraria nenhuma conclusão precipitada, casualmente o perguntaria depois e tentaria entender de alguma forma, por mais que não fizesse sentido algum.
[...]
-Preciso perguntar algo.- Tocou o ombro do moreno e o viu levantar a cabeça, repetiu a frase e viu o rosto dele formar uma expressão confusa, mas acenou para que ele continuasse.- Mais cedo, quando desenhava.. você usava um fone, só que..
Duas mãos foram balançadas a sua frente, ele o olhou assustado, o maior tinha um rosto apreensivo, parecia querer se explicar e alguma forma e não sabia como, procurou o celular no bolso e começou a digitar rapidamente, Shoyo ainda estava extremamente confuso e pegou o aparelho para ler quando lhe foi oferecido.
“Não entenda errado, realmente não consigo escutar, mas sinto vibrações”
-Vibrações?- O olhou impressionado, aquilo para si era incrível, era um mundo totalmente novo e queria descobrir tudo, descobrir como era o mundo silencioso em que Kageyama vivia, descobrir mais sobre vibrações, sobre arte, sobre o que quer que fosse apenas para ver que o seu mundo não tinha nada haver com o dele e que aquilo era mais do que curioso e fantástico.- Kageyama isso é demais! Precisa me explicar como isso funciona, como assim vibrações? Como isso funciona?
Tobio o encarava assustado, não esperava aquela reação e não sabia como responder, não tinha entendido metade das coisas que Hinata havia dito de forma afobada e corrida demais para ler entre seus lábios, segurou o braço dele o obrigando a olhar em seus olhos, respirou fundo e fez um sinal para que ele fosse devagar, pois realmente não entendia uma palavra sequer.
-Você é a pessoa mais incrível que já conheci, por favor, me deixe conhecer você melhor.
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