Os irmãos Kwon nunca fizeram o tipo dependentes.
Afinal, ter de lidar desde bem pequeno com a falta de pais presentes não é para qualquer um, principalmente se sua família carrega algo importante. Então, todos passam a opinar sobre sua vida e exigir que você não suje o “sagrado nome”, mesmo que estejam do outro lado do mundo.
Felizmente, aqueles dois nunca foram bons em seguir ordens, de qualquer maneira.
[...]
Sábado, Mansão Kwon.
Coréia do Sul, Seul. 14h24min.
Jae-Hyun observava atentamente os nomes escritos naquela lista, distraindo-se mais a cada letra lida. Para ele, era esquisito o fato de ter se tornado tão popular em tampouco tempo. Afinal, nunca fora um dos mais falantes ou sociáveis, e nem fazia questão de ser simpático a todo tempo com aqueles que não conhecia direito. Normalmente, apenas seu rosto sério já parecia servir como um convite para que se aproximassem, o que não fazia o mínimo sentido segundo sua visão e o deixava incômodo grande parte das vezes. Era secretamente e inegavelmente um antissocial.
Espreguiçou-se pela terceira vez em cinco minutos antes de voltar a prestar atenção no que fazia antes, alternando impacientemente entre olhar para o relógio ou para os nomes. Há quanto tempo estaria fazendo aquilo? Uma hora, duas horas, três…? Tudo parecia mais interessante, até mesmo o som que os carros faziam na parte de fora de sua casa, por mais irritante que soasse em um dia normal.
Porém, aquele não era um dia normal. Faltando quarenta e oito horas para o início das aulas, todos já esperavam pelo que viria a seguir. Para adolescentes normais, significava o início de um novo período escolar em suas vidas. Já para os alunos do Korea International High School, um motivo a mais para dar uma enorme festa.
Ao ouvir o som de alguém descendo as escadas, virou-se rapidamente, sentindo o arrependimento de imediato. Por ter ficado muito tempo na mesma posição ereta, mover-se bruscamente fez com que seu pescoço doesse de forma absurda, soltando um pequeno e rouco grito como consequência.
— Não sabia que minha entrada causava tanto impacto assim. — Jae-Hwa comentou, franzindo as sobrancelhas em uma careta enquanto dirigia-se para o sofá onde o irmão mais velho estava sentado. — Uau, você está horrível!
— Ao menos você é sincera. — respondeu, massageando o pescoço. — Não aguento mais fazer isso, lembrar nomes é difícil! — resmungou, utilizando o tom mais manhoso que poderia fazer.
— Se as garotas soubessem que o “Príncipe Frio” se importou tanto a ponto de lembrar seus nomes, estariam derretendo agora. — a morena provocou em tom sarcástico, recebendo um olhar de confusão pela parte de Jae-Hyun.
— Eu sou chamado dessa forma? — perguntou, em um tom incrédulo — Por quê?
— Você já viu seu rosto naturalmente, Hyun? Suas expressões são as mesmas de uma pedra! — contou, recebendo um soco leve no braço — “Ah, Príncipe Frio, sorria para mim!” — encenou, com uma voz terrivelmente teatral e esganiçada
O mais velho mostrou a língua em um ato infantil, sendo respondido por uma revirada de olhos. Por um curto período de tempo, agradeceu mentalmente pela irmã não fazer parte do clube de teatro, uma vez que era um verdadeiro desastre em imitar os outros.
Novamente voltou sua atenção aos nomes, suspirando pesadamente e sabendo que Jae-Hwa provavelmente soltaria uma risada se sua ajuda fosse pedida para algo tão “superficial como festas”.
[...]
Ao perceber a mensagem que havia recebido, Hyun-Woo arregalou os olhos e abriu um pequeno sorriso. Aquela já seria a terceira garota no dia a mandar-lhe coisas “indecentes”, e, cá entre nós, para um garoto com os hormônios à flor da pele, aquilo não parecia ruim. Afinal, que culpa tinha se as pessoas pareciam sentirem-se atraídas a ele tão rapidamente?
Saiu do chat, abrindo um novo onde as notificações não paravam de chegar. Soltou uma risada alta ao ver o desespero do melhor amigo, Jae-Hyun, ao pedir que o ajudasse a lembrar quem convidar para sua festa. Decidiu então que daria uma passada na Mansão Kwon, afinal, não estava fazendo nada de importante.
Ao abrir a porta do quarto, fora inevitável não fazer uma careta. O forte cheiro de álcool, apesar de já ter se tornado rotina, surpreendia Woo todas as vezes.
A explicação para aquilo? Seu irmão mais velho, Bae Myung, que insistia em aproveitar-se todas as vezes que seus pais viajavam para se embebedar e levar garotas para dentro de casa, fazendo o mesmo com elas. Woo tornava-se encarregado de limpar sua bagunça, e, durante as únicas vezes que tentara saber mais sobre o assunto para ajudar de alguma forma, recebera apenas respostas agressivas.
Lembrava-se de uma incômoda vez na qual desceu as escadas para tomar café da manhã e encontrou uma garota nua assistindo televisão, como se aquela fosse sua própria casa. Quando tentou falar com Myung sobre o assunto, gerou uma briga enorme com o mais velho sobre estar “se intrometendo onde não deveria”. O mais novo lembrava que o outro estava realmente assustador, como se, a qualquer momento, pudesse dar-lhe uma verdadeira surra.
Decidido a não ter de passar por situações turbulentas novamente, juntou todas as latas de bebida jogadas dentro e ao redor da residência — além dos nojentos restos de comida — e jogou fora, deixando no chão apenas roupas.
Encenou um falso sorriso de canto, e, finalmente, partiu em direção a casa do melhor amigo. No momento, sabia que aquela seria sua saída.
[...]
Grande parte das garotas normais teria desmaiado ao deparar-se com Bae Hyun-Woo e seu típico sorriso de canto que complementava o que chamavam de “ar encantador”.
Bem, todas com exceção de Kwon Jae-Hwa. Na realidade, a reação fora totalmente oposta do esperado. De pijamas e cabelo bagunçado, abriu a porta para o amigo do irmão passar sem o menor entusiasmo, antes de bocejar e voltar para a cozinha onde se localizava antes.
Ouviu uma risada, seguida da conversa animada dos dois garotos ao fundo. Porém, não prestou realmente atenção, pois seus olhos focalizaram na foto que servia de imã na geladeira. Na época, ainda morava nos Estados Unidos.
Na foto, uma Jae-Hwa em seus oito anos sorria animadamente para as câmeras sem seus dentes da frente e com o cabelo totalmente bagunçado devido a animação que colocava em seus passos. Fora uma apresentação realmente memorável para uma garota tão pequena, e quando percebeu que amava fazer aquilo verdadeiramente.
Ao mesmo tempo, a primeira de muitas apresentações que seus pais não compareceram por estarem ocupados demais com seus próprios negócios. Uma desculpa que se seguiu durante todos os anos em situações diferentes, até o momento em que Jae se cansou de esperar por pessoas que não demonstravam o devido interesse e ignorou o fato de compartilharem o mesmo sangue.
Fora então que, após um escândalo muito comentado durante semanas por inúmeras pessoas, que a família Kwon decidira mudar seus dois filhos para a Coréia do Sul, onde haviam nascido e se mudado tão novos. A adaptação acabou por não ser nada fácil, e foram precisos inúmeros professores particulares para que o coreano dos dois jovens se tornasse, no mínimo, perfeito até o início das aulas.
Sacudiu a cabeça, como uma tentativa de esquecer-se das inúmeras lembranças ruins e desistiu de comer algo, uma vez que havia perdido totalmente a fome.
Sabendo que teria de passar pela sala para ir em direção ao seu quarto, resmungou algo inaudível, encontrando novamente os dois sentados no sofá conversando animadamente.
— É sério! Olha a foto que ela me mandou, dá para ver tudo! — Woo contava a Jae-Hyun, que ria sem dizer nada.
— Então… Vocês estão juntos? — o mais velho perguntou, mesmo sabendo qual seria a resposta óbvia.
— O que? Não, claro que não! Eu sou livre! — Woo respondeu, dando maior ênfase na última palavra enquanto lançava uma piscadela ao outro.
Jae-Hwa bufou. Por que a maioria dos garotos tinha que ser tão idiota?
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