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História Slices Of Life - - romanticize what might have been - - História escrita por cherrybombshell - Spirit Fanfics e Histórias
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História Slices Of Life - - romanticize what might have been -


Escrita por: cherrybombshell

Capítulo 2 - - romanticize what might have been -


A primeira coisa que Abraham Jr. pensou quando conheceu Brutus Malfoy foi que ele era o menino mais lindo que Júnior já tinha visto.

Ele tinha 13, ia fazer 14 em um mês, a perfeita imagem de inocência e fragilidade e estava sentado na biblioteca, estudando porque sua Madrasta queria que ele tivesse as melhores notas da sala então ele tinha que ter elas e ele tinha que começar agora para poder ficar na frente de todos seus colegas. Aí Brutus apareceu do nada e deu um tapinha na capa do seu livro para chamar sua atenção, começou a falar com ele sem nenhuma explicação.

Enquanto olhava para cima, olhava pro menino muito mais alto com olhos arregalados e bochechas vermelhas, Júnior tinha certeza que ele estava vendo um anjo.

Brutus estava no último ano. Ele tinha cabelos platinados que, embaixo da luz, pareciam dourados como o sol e aqueles olhos cinzas brilhantes e ele era toda confiança e sorrisos quentes, ele andava com ombros largos e a cabeça levantada como se fosse o dono da escola enquanto Júnior sempre se encolhia e tentava não ser notado, e ele parecia tão celestial e etéreo que Júnior começou a se sentir alto-consciente e menor na mesma hora.

Brutus tinha o tipo de rosto que faria um bruxo acreditar em lendas trouxas. Era o mais próximo que eles poderiam chegar desse céu mitológico deles.

Quando ele se sentou numa cadeira na frente de Júnior e se voluntariou para o ajudar na matéria já que ele era mais velho e já tinha estudado aquilo – bem, Júnior sabia que era errado. Ele tinha uma namorada e ele deveria ter dito não e se distanciado tanto quanto possível de alguém que fazia seu coração se acelerar daquele jeito.

Mas ele disse sim mesmo assim.

Ele disse porque Gilly também era sorrisos doces, mas eles eram tão mais óbvios em seu desprezo e ele sabia que ela não dava a mínima para ele, mas ele não podia terminar com ela sem irritar Madrasta. Disse porque ele só tinha 13 anos e ele era tão malditamente ingênuo que ele não conseguia ver o que poderia dar de errado. Porque estava cansado de fazer tudo que mandavam, porque uma vez na sua vida ele queria se sentir menos como um robô seguindo ordens sem pensar por si próprio.

Então ele disse sim e sempre que Brutus o chamava para ir na biblioteca ele ia e quando Brutus colocou a mão na sua coxa e sussurrou que Júnior era tão bonito e precisava se cuidar mais em seu ouvido, Júnior ignorou seus pensamentos sobre Gilly e não empurrou Brutus para longe.

Ele deveria ter dito não.

 

 

A verdade é, Júnior nunca teve muito amigos, mas ninguém parecia perceber isso.

Ele se sentava com Martha e James e Gilly e eles conversavam como se eles não se odiassem profundamente. E seus irmãos e namorada tinham amigos que também se sentavam com eles, então ninguém nunca teve nenhuma razão para assumir que a pessoa mais próxima de um amigo que ele já teve era a irmã postiça que ele nunca mais ia ver, porque, até onde todo mundo sabia, ele era popular e adorado por várias pessoas.

Do jeito que as coisas realmente eram, ninguém se importava com ele.

A não ser Brutus.

Brutus se importava com ele mais do que qualquer outra pessoa e ele perguntava sobre a vida de Júnior quando ninguém tinha se importado em querer saber mais e ele queria passar mais tempo com Júnior, mesmo que Brutus fosse mais velho e mais legal e pudesse ter qualquer outro aluno.

Ele se importava com Júnior. Por isso que ele era tão sincero.

— Eu sei que não deveria te dizer isso, mas eu ouvi Gilly falando as coisas mais desagradáveis sobre você para os amigos dela e eles riram. Eu sinto muito, Júnior.

— Eu sei que dói, mas eu estou te dizendo, sério, James está tirando sarro de você. Eu não sei como seus irmãos conseguem ser tão malvados.

— Martha está sendo horrível. Ela quer nos separar, você não vê? Você não deveria ficar saindo com ela tanto. Não iria querer que ela colocasse essas coisas horríveis na sua cabeça.

(“você não acha que está ficando próximo demais daquele Malfoy?,” era o que Martha tinha dito, em um dos poucos momentos que ela reconhecia algo sobre a vida de Júnior. “ele é tão mais velho. por que não arranja uns amigos da idade dele? e eu não gosto do jeito que ele olha para você, Júnior.”

 essa talvez tenha sido a única coisa boa que qualquer pessoa de sua família já tinha o dito. ele deveria ter ouvido sua irmã)

Brutus gostava de Júnior.

Ninguém nunca tinha gostado de Júnior antes, não do jeito que Brutus gostava, com tanta força que as vezes ele ficava com ciúmes só de ver Júnior conversando com outras pessoas. Júnior aceitou, porque é claro que ele iria, quem ele teria sem Brutus? Sua família? Sua namorada?

Não.

Ele não podia confiar neles do jeito que confiava em Brutus.

Com o ciúmes, veio a aspereza e então Brutus o ignorava até ele pedir desculpa, o que ele também aceitou, porque ele estava começando a amar Brutus um pouquinho mais, e ele não podia aguentar a solidão esmagadora em sua alma sempre que Brutus não o respondia.

Ele aceitaria qualquer coisa desde que Brutus não o deixasse, porque Júnior tinha ficado tanto tempo sozinho na sua casa que isso parecia um destino pior do que qualquer coisa.

 

 

— Você me ama, Fawley? — Brutus perguntou um dia, enquanto mostrava uma sala secreta para Júnior, no primeiro andar.

— Eu amo, é claro — respondeu Júnior, depois de hesitar, e ele estava corando, estava olhando para o chão com muito medo da reação do menino mais velho.

Então, Brutus o beijou e Júnior nunca esteve mais feliz a sua vida inteira.

 

 

Depois daquele beijo, Júnior aprende que o preço pela atenção de Brutus era muito mais alto do que ele achava inicialmente.

Depois daquele beijo, Júnior aprende que ele pagaria qualquer preço para não ficar completamente sozinho de novo.

No final, a escolha não era dele.

Brutus vai embora.

Júnior deixou ele o tocar de jeitos que ninguém tinha o tocado antes e praticamente o entregou sua inocência num prato e implorou por Brutus do jeito que Brutus gostava, mas Brutus se casou com uma puro-sangue ruiva e linda como uma bonequinha de porcelana e nunca olhou para trás.

Ele riu enquanto terminava com Júnior e Júnior chorou, sentindo seu coração se quebrando enquanto Brutus dava um tapinha na sua cabeça como se ele fosse uma criancinha estúpida.

Brutus riu como se ele não tivesse tirado a âncora de Júnior quando o mundo ao seu redor era muito barulhento e muito brilhante de todos os jeitos errados, e, antes de se formar e ir fazer sua própria família o mais longe de Júnior possível, Brutus contou para Gilly que Júnior estava a traindo e deixou Júnior para lidar com os gritos de Gilly e as coisas arremessadas contra ele e as lágrimas que nunca paravam de cair de seus olhos enquanto todo mundo na escola começava a o odiar um pouco mais.

(ainda é melhor do que o que Madrasta faz com ele)

 

 

Quando Júnior foi comprar seu material no Beco Diagonal pro próximo ano, ele viu Brutus e sua recém esposa andando por aí, mãos entrelaças e com alianças brilhantes, diamantes grandes como um pequeno planeta.

Brutus sorria enquanto ela enfiava sua cara numa vitrine para olhar vassouras. Ela parecia não ter a mínima ideia de como Brutus não olhava para ninguém do jeito que olhava para ela, um olhar suave e quente de quem estava completamente apaixonado e confiava nesse seu amor mais do que qualquer coisa.

Júnior, porém, sabia muito bem que Brutus nunca tinha o olhado desse jeito. Ninguém nunca tinha.

Por alguma razão, ele não achava que alguém iria no futuro também. Ele não achava que ele ia merecer um olhar daqueles.

 

 

Ele aguentou por mais uns quatro anos.

Na madrugada depois de sua formatura, porém, ele escreve um bilhete.

Ei, pai, eu decidi tirar um ano sabático, ou alguma merda Trouxa do tipo, então, bem, não me espere acordado. Ah, e tente não sentir muita falta de mim. Eu ainda te amo, apesar de tudo.

Dar tchau foi muito fácil, na verdade. Ele não pegou uma mala, só a sua varinha, e ele só encheu sua barriga com cada doce escondido por Madrinha em sua casa antes de sair sem nunca olhar para trás, pronto para conhecer o mundo e si mesmo melhor.

Ele deixou Júnior para trás, porque ele estava cansado de ser visto só como uma miniatura do pai que sempre o negligenciou, e, ele descobriu, Bram era um apelido com muito menos bagagem emocional e dor.

Um ano se tornou tanto mais e, nesse tempo, ele viu o mundo.

Ele sentiu a areia em baixo de seus pés e o sal e sol em sua pele, andando descalço por praias limpas com os cachos que ele herdou da mãe que o deixou sem nunca olhar para trás caindo em frente de seus olhos. Ele bebeu e dançou em bares Trouxas, aprendeu sobre novas culturas, aprendeu mais sobre pessoas do que tinha aprendido todos os anos em que estudou em Hogwarts

A primeira vez que alguém o pagou uma bebida e o levou para cama, uma Trouxa de sua idade com os olhos castanhos mais bonitos que ele já tinha visto, Bram esperou que ela o expulsasse de sua cama logo depois deles acabarem e Bram parou de ser útil, como Brutus tinha feito, mas, enquanto ele nunca teve uma relação que durou mais de uma noite, ninguém nunca foi tão seco quanto Brutus tinha sido com ele quando Bram era só uma criança ainda.

Às vezes, ele não sabia se ele realmente conseguia viver sabendo disso.

 

 

 

A primeira coisa que Bram pensou quando conheceu Tom Riddle Sr. foi que o homem era tão incrivelmente bonito quanto ele era assustador.

Bram entrou na casa dele andando como se fosse o dono do mundo, porque ele não se encolhia fazia um tempão, e ele sorriu para Riddle e piscou como se ele estivesse calmo, mas ele não poderia estar surtando mais, porque Riddle era todo olhos tão escuros quanto ônix e cabelos pretos como carvão e ângulos e feições perigosamente afiados, e ele não estava sorrindo, mas encarando Bram como se ele odiasse cada fibra de seu ser e ele não era um Bruxo e não tinha magia, de maneira nenhuma podia o vencer em um duelo, mas Bram ainda se sentiu tão malditamente intimidado, ele não podia nem começar a explicar porquê.

Brutus parecia um anjo.

Não havia nada de dourado em Riddle.

Isso não impediu algo desconhecido e surpreendentemente incrível de borbulhar nas profundezas do estômago de Bram quando ele viu Riddle ficando cara a cara com Brutus por seu filho ou quando o viu sorrir pela primeira vez para Tom e, Deus, quando ele sorriu pela primeira vez para Bram, o homem estava certo de que iria desmaiar.

Isso não o impediu de dividir historias com ele no chão de um estábulo, os dois falando sobre os piores anos de suas vidas com olhos cheios de lágrimas e longe um do outro, mas tão, tão perto, um entendimento silencioso no ar entre os dois que Bram nunca tinha sentido com mais ninguém.

Isso com certeza não o impediu de se apaixonar por Riddle.

 

 

Ele não sabia dizer o momento exato em que aconteceu.

Talvez foi naquele estábulo escuro e frio em que eles falaram até se sentirem um pouco mais livres. Talvez foi lá de volta no Beco Diagonal, quando Bram estava tão perto de desmaiar por ter que encarar Brutus de novo, mas a voz de Riddle o trouxe de volta. Talvez tenha sido tão devagar que apontar o momento exato em que eles pararam de ser só amigos bem atraídos um pelo outro fosse impossível.

Sim, ele se apaixona. Ele não conseguia se ajudar.

O rosto dele se iluminava quando ele via Riddle. Ele aproveitava cada chance que tinha para tocar Riddle, colocar seu braço a redor dos ombros dele, sorrir para ele o tempo todo, mesmo que ele soubesse que Riddle não podia gostar dele de volta.

Ele sabia disso, é claro que sabia, e, Merlin, era um tipo peculiar de dor. Seus sentimentos por ele estavam sempre alojados em algum lugar dentro do seu peito, no espaço onde seu coração deveria estar e onde a leveza da presença de Riddle fixou residência ao invés. Então, quando o tempo passou depois de crianças sequestradas e tentativas de assassinato e fisioterapia em St. Mungus para Riddle e Tom voltarem a como eram antes, Bram teve que aproveitar a calmaria para pensar e entender o que sentia.

Ele entendeu.

E ele surtou.

A verdade é, Bram não tinha a mínima ideia de como se aproximar de Riddle.

Em todos seus outros relacionamentos, a única coisa que tinha importado para as outras pessoas era seu corpo e o que ele podia fazer por elas. Ele era bonito e as pessoas gostavam disso; o contrário também podia ser dito. Mas Riddle tinha admitido para ele que não se importava com esse tipo de coisa e o que Bram podia o oferecer além disso? Sua personalidade?

Ele tinha problemas.

Bram pensou sobre isso, se preocupou com isso. Ele roeu suas unhas enquanto tentava pensar uma pessoa, só uma em toda sua vida, que tinha gostado dele por quem ele era – Caroline, talvez, mas até ela Bram tinha deixado na mão, quando deixou Madrasta se livrar dela, e de vez em quando ele pensava que realmente não merecia ser perdoado.

Então. Problema.

A solução que ele tentou foi idiota, mas foi a única coisa em que ele conseguiu pensar – Bram foi pedir ajuda pra Cecilia.

Ela estava fazendo jardinagem com Caroline – o que quer dizer que ela estava parada olhando Caroline cuidar do jardim – e, quando ele perguntou sobre Riddle, ela o encarou como se Bram fosse a coisa mais patética que ela já tinha visto.

— Eu estava esperando você vir.

— Sério?

— Vocês dois não são discretos. — Ela observou a irmã de Bram tentar cortar uma erva daninha, um sorrisinho crescendo em seus lábios. — Só vai falar com ele.

— Mas…

Cecilia o cortou só com um olhar.

— Acredite em mim, seus sentimentos não são tão incorrespondidos quanto você acha que eles são. E eu sei que ele vai gostar se você for sincero.

Bram engoliu em seco, mas ele foi.

 

 

Ele encontrou Riddle na frente da casa dele, no frio.

— Vendo se a neve vai fechar a calçada — ele explicou, sorrindo para Bram só ligeiramente – sempre tão ligeiramente e reservado, como se ele temesse mostrar suas emoções pro mundo.

Bram deu um passo para frente, observando o modo como os cabelos e olhos de Riddle pareciam ainda mais escuros em contraste com a neve e a palidez de sua pele num inverno sem sol. Ele sentiu um sorriso suave crescendo em seu rosto e suas bochechas queimando, enquanto enfiava suas mãos no bolso de seu casaco e fingia não estar se sentindo tímido como uma criança de novo.

— Eu falei com Cecilia.

Riddle levantou uma sobrancelha.

— Você está na minha casa o tempo todo e ela sempre está na sua, era de se esperar que vocês falassem vez ou outra. — Bram revirou os olhos, ficando ainda mais vermelho. — Sobre o que?

— Sobre você.

Ótimo trabalho, idiota, ele pensou, enquanto via Riddle se encolher um pouco.

Ah — o mais velho soltou. — O que sobre mim?

— Que eu gosto de você. — Os olhos de Riddle se arregalaram. — E ela deu a entender que você gostava de mim de volta.

Quando Riddle não negou, Bram não conseguiu se segurar. Ele se inclinou para um breve beijo – os lábios de Riddle eram quentes, enquanto todo o corpo dele era frio, e mais suaves do que Bram teria imaginado. E, Merlin, ele tinha imaginado.

Foi só um celinho rápido, sem língua, mas Bram sentiu seu rosto queimar. Ao se separarem, Riddle estava sorrindo muito maior do que antes.

Era um lindo sorriso.

— Isso realmente não é uma boa ideia.

— Por que?

Riddle revirou os olhos.

— Eu sou casado.

— E sua esposa está transando com a minha irmã.

— Eu tenho dois filhos.

— E eu adoro eles. Eles são ótima crianças.

Dessa vez, foi Riddle quem iniciou o beijo, que rapidamente deixou de ser adequado para qualquer duas pessoas em um lugar semi público, mas principalmente para dois homens, na cultura Trouxa. Os dentes dele se bateram ligeiramente, enquanto eles deixavam suas línguas se encontrarem.

— O que você acha — sussurrou Riddle contra o seu ouvido, sua mão acariciando as costas de Bram e se abaixando até descansar em seu quadril —, dá gente entrar antes que fique mais frio?

E, aquele dia, eles só beberam chocolate quente e conversaram em frente a lareira, o pior que eles fizeram sendo trocar alguns beijos lentos e quentes e só muito ligeiramente pornográficos, mas Bram não acha que nenhum dos muitos encontros que ele já teve pudessem competir com aquele.

 

 

 

A primeira coisa que Bram pensou quando conheceu Abraxas Malfoy foi que o menino era tão parecido com o pai dele que doía. Quando ele se virou com seu rostinho e olhinhos iguaizinhos ao de Brutus, implorando por ajuda, Bram ficou tão mortalmente assustado que seu cérebro congelou e ele sentiu vontade de chorar e não pôde segurar o comentário sobre ter feito sexo com pai dele.

Depois do primeiro momento, ele começou a se preocupar.

O menino vai morar com eles o que, ok, é estranho, mas tudo envolvendo os Riddle é estranho ao menos em algum nível. E Bram começou a passar muito tempo com Riddle, na casa dele, o que significa que ele começou a ver Abraxas muito.

São as pequenas coisinhas, mas atingiu Bram que ele nunca tinha pensado como alguém como Brutus seria como um pai.

Brutus parecia um marido bom, daquela vez que Bram tinha o visto com sua esposa, mas, como Tom deixaria escapar perto dele um dia, a mulher tinha morrido quando Abraxas era uma criança (ela era bonita como uma bonequinha de porcelana, mas porcelana sempre quebra em algum momento, não é?). E, enquanto ele percebia como Abraxas se aproximava de cada toque como se fosse a coisa mais incrível que ele já tinha recebido a sua vida inteira, algo que ele nunca tinha recebido antes, Bram viu que Brutus passava longe de ser o melhor dos pais, principalmente se ele fosse obrigado a ser um pai solteiro.

São as pequenas coisinhas, o modo como um adulto prestar atenção nele parecia o surpreender tanto, ou como ele sempre parecia concordar com qualquer coisa que dissessem para ele, como ele não se deixasse ter sua própria opinião, como se ele tivesse medo de os irritar tendo sua própria opinião, ou como ele sempre se isolava de todo mundo a não ser Tom em alguns dias aleatórios, como se o mundo fosse muito assustador a não ser por essa pessoa em especial –

São essas coisinhas que talvez não fossem tão pequenas, mas atingiram Bram, como uma bola de canhão. Abraxas se parecia muito mais com Bram quando tinha a sua idade do que com Brutus.

E doía.

Doía porque Brutus tinha o machucado tanto quando ele tinha 13 anos e ele não iria querer que nenhuma criança tivesse que viver com aquele cara como sua única família e, para piorar, provavelmente a única pessoa em geral que Abraxas tinha visto frequentemente por mais da metade de sua vida.

Doía porque ele podia imaginar o tipo de coisa que Brutus tinha feito Abraxas passar, podia imaginar os dias em que Abraxas se isolava em se quarto se perguntando o que ele tinha feito de errado que nunca seria o suficiente para seu pai, podia imaginar o tipo de cicatriz emocional que Brutus tinha causado e que nunca iria se curar completamente.

Merlin sabe que Bram não se curou.

Não quando, de vez em quando, sua cabeça não calava a boca sobre Brutus. Não quando Bram ainda pensava no que teria acontecido se Bram fosse mais velho, romantizando as possibilidades de Brutus nunca ter o deixado e romantizando o relacionamento que eles poderiam ter. Imaginando como teria sido se ele fosse realmente a pessoa que ele parecia no começo, apenas um jovem tão doce quanto açúcar, maravilhoso e lindo e inteligente como ninguém no mundo, como um anjo, que queria ele, amava ele.

Do mesmo jeito, ele sabia que Riddle ainda pensava em Mérope de vez em quando e o que teria sido dele se ela não tivesse parado de o dar a poção do amor e às vezes ele nem conseguia sair da cama por causa disso, muitas possibilidades ruins, muitos medos e pesadelos e inseguranças que não o deixavam descansar.

Mas eles podiam lidar com isso, juntos, porque ás vezes duas pessoas quebradas se conheciam e era como duas peças de um quebra cabeça que se encaixavam perfeitamente e cuidavam das feridas um do outro e, às vezes, era lindo.

Às vezes, podia ser muito feio.

Bram realmente acreditava que ele e Riddle faziam parte da primeira categoria.

 

 

Conforme o tempo passou, Bram começou a pensar em Abraxas muito mais do que pensava no pai dele.

Ele achou que todo mundo podia ver também. Até Eddie, que era Eddie e tinha se mantido inocente apesar de traumatizado, tinha percebido. Ele não fala com ninguém, porque ninguém fala sobre isso, mas Bram viu Eddie dando seu chocolate favorito para um Abraxas com o rosto todo cheio de lágrimas e ele sabia que tinha que ter alguma coisa ali.

Tom sabia, com certeza. Os dois eram próximos demais e protetores demais um do outro e havia algo entre eles que gritava uma confiança frágil e ainda recém adquirida e era óbvio que Abraxas dividia com Tom o que ele não dividia com mais ninguém.

O que fazia sentido e era bom que Abraxas pudesse falar com alguém, Bram ficava feliz por isso. E ele sabia que eles tinham mais amigos em Hogwarts. Ainda assim – ele se preocupava.

Quando ele encontrou Abraxas sozinho na varanda, observando a chuva cair numa tarde muito fria e sem som, bem, se preocupar não significa que ele tinha um assunto com o menino, a não ser aquele assunto proibido, e o primeiro instinto de Bram é deixar o menino, mas aí ele pensou melhor e ele saiu da casa, deixando a porta bem aberta atrás de si.

Abraxas se encolheu quando ele parou do lado dele na entrada coberta, mas ele não falou nada ou tentou sair de perto de Bram.

— Ei — disse Bram. O menino o deu um aceno de cabeça, sem olhar em sua direção. Parecia com medo. Isso era a pior coisa que poderia acontecer.

Bram pensou, mortificado, no que Brutus poderia ter falado sobre ele para seu filho.

Bem, ele respirou fundo. Agora era a hora.

Tinha que falar algo inteligente.

— Seu pai… — Algo mudou nos olhos de Abraxas. Eles se tornaram tão vazios e sem vida quanto os de um cadáver. — Ele é um idiota.

Abraxas piscou lentamente. Então, houve a raiva e indignação, crescendo em sua expressão enquanto sua boca começava a preparar uma negação desesperada. Ele a fechou, seu rostinho de criança se torcendo numa careta feia.

— Eu acho — ele finalmente disse, suspirando.

— Eu tenho certeza. E olha que eu conheci ele bem… — Bram se encolheu. — Bem intimamente.

— Eu sei que você fez sexo com ele, Sr. Fawley, você não precisa me lembrar a cada conversa que a gente tem.

— Eu não queria…

— Eu sei.

Houve um longo, desconfortável silêncio. Talvez o silêncio mais desconfortável de toda a vida de Bram. Os dedos do pé dele se retorceram e ele piscou, tentando falar alguma coisa para salvar aquela conversa.

Ele sabia que não teria coragem de se aproximar de Abraxas sobre isso uma segunda vez.

— O que eu queria — tentou de  novo —, era te dizer que, bem, seu pai é um panaca. Eu sei disso. Sei o tipo de coisa que ele faz. E o que quer que ele tenha te dito – sobre Trouxas, sobre Tom e as pessoas ao seu redor, sobre você, é tudo mentira. Brutus, ele gosta de mentir para as pessoas para as manipular. Você nunca deveria o ouvir.

Bram pensou que seria bem constrangedor se Abraxas não tivesse a mínima ideia do que ele estava falando, mas agora era muito tarde para desistir. Ele colocou uma mão no ombro da criança, o olhando nos olhos (Brutus sempre o olhava de cima para baixo), e sim, ele reconhecia aquela expressão.

Abraxas tinha o entendido perfeitamente. Isso, de alguma maneira, era muito pior.

O menino se revirou, passando suas mãos por seus braços como se ele quisesse abraçar a si mesmo e si encolher até que ele fosse pequeno demais para qualquer pessoa o ver. Então, ele olhou para Bram, levantou seu queixo de um jeito confiante que só os Malfoy conseguiam, porque eles eram, afinal, donos do mundo, do seu próprio jeitinho ilegal e imoral.

— Eu estou tentando não o ouvir — ele disse.

— Você vai conseguir.

— Eu sei.

Os cantos da boca de Abraxas tremeram num sorriso fraco. Ele se virou para sair, mas antes, ele lançou um olhar para Bram.

— Valeu.

Aí ele desapareceu dentro da casa.

Bram piscou, sentindo seu corpo todo vibrar. Ele estava feliz, ele sabia disso, porque ele queria tanto que Abraxas fosse feliz e quebrasse aquele círculo de abuso e tristeza e culpa em que todos eles pareciam estar presos. Ele também se sentia um pouco… um pouco mais livre, um pouco menos machucado enquanto pensava em Brutus.

Ele continuou na varanda, respirando fundo, e foi aí que Riddle o encontrou. Estava frio. Riddle tirou seu casaco e o colocou em cima dos ombros de Bram sem falar nada.

— Tudo bem? — perguntou Riddle, franzido as sobrancelhas enquanto ia pro lado de Bram. Sua mão estava quente nas costas dele apesar do casaco e da blusa de Bram a separar de sua pele.

Bram olhou para onde Abraxas tinha saído e de volta para Riddle, sem nem tentar controlar o sorriso pateta que crescia em seu rosto. Deu um celinho rápido nele.

— Tudo está ótimo.

Brutus parecia um anjo, com o sorriso brilhante e os cabelos mais claros do mundo, e Bram tinha acreditado que ele era o mais perto que um bruxo podia chegar do céu, mas ele só tinha quebrado seu coração e transformado a vida de Bram num inferno na terra.

E não havia nada de dourado na beleza perigosa de Riddle e no preto de seus olhos e cabelos e feições, mas Bram nunca se sentiu tão leve e etéreo quanto quando prosseguia para segurar o rosto dele entre suas mãos e o beijar lentamente.



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