Estava eu sentada na areia da praia, na sombra de um coqueiro, em um fim de tarde, ou um dia um pouco nublado, não sabia dizer. Batia uma brisa agradável que balançava um pouco meus cabelos. Não havia ninguém lá. De repente, um cheiro bom invade minhas narinas e eu respiro fundo. Morango? Cereja? Acho que os dois, mas não consigo associar esse cheiro a nada no ambiente. Sou sacudida do nada e uma voz doce chama meu nome. Mais uma vez. Outra e mais uma sacudida, dessa vez mais forte. Sinto um leve baque no corpo e noto que estou com os olhos fechados. Lábios quentes em um beijo no meu pescoço. Sorrio e mais um. Uma mordidinha e um beijo mais molhado, eu suspiro e resolvo abrir os olhos. Me viro e dou de cara com Yasmin sorrindo. Impossível não sorrir de volta.
- Bom dia... – falei, com a voz meio rouca e arrastada por causa do sono.
- Bom dia Mari. Levanta, senão a gente perde a hora da escola. – aí eu notei que ela já estava devidamente arrumada e penteada. Cheguei mais perto e envolvi sua cintura com um braço.
- Hmm, que tal a gente ficar então? Poderíamos fazer muitas coisas melhores... – beijei seu pescoço de leve, ela arfou, eu sorri em sua pele.
- Tentador, mas não. A gente tem que ir pra escola, e hoje tem a entrega daquele resumo de história.
- Vish, eu esqueci.
- Você é muito esquecida. Anda, levanta, direto pro banho. – falou e me puxou da cama, eu fiquei em pé e ela me empurrou até o banheiro dando tapas de leve na minha bunda.
- Desce que em vinte minutos eu tô pronta ok?
- Ok. – e desceu. Como prometido, vinte minutos depois já estávamos no elevador.
Em algum momento, durante o percurso, meu celular quebrou o silêncio com uma mensagem:
- É o seu Mari.
- É, mensagem da Ju, esse toque é dela. Lê aí pra mim.
- É dela mesmo. Diz assim “por favor, não falem pra Babi que eu já contei que a gente tá namorando. Ela acha que é novidade, não estraguem isso”.
- Hahaha, tinha que ser a Júlia. Isso tudo é medo de apanhar, só pode.
- Coitada da Babi, é a namorada e a última a saber.
- Com a Ju é tudo louco mesmo. – ela riu mais um pouco, e eu parei pra ouvir o som da sua risada, tão bom. Borboletas voaram no meu estômago. É isso o que as pessoas chamam de paixão? Eu chamo de idiotice, mas agora nem tanto, começou a fazer sentido.
- Você vai almoçar lá em casa hoje. – eu quase bati o carro. Como assim conhecer o sogro? Já? Sem nem um descanso pra mim?
- Fala igual à Júlia, não combina e depois me arrasta, o que vai ter lá?
- Mari, simplesmente eu não posso chegar em casa com uma tatuagem com o seu nome e não dar explicação nenhuma ao meu pai, tenho que contar pra ele.
- Dá pra esperar até sexta, pelo menos?
- O que tem sexta?
- Nada, eu não posso ir hoje, só sexta.
- Fala sério, você é desocupada.
- Não sou nada. Olha lá a Ju com a Babi. – Mudei de assunto, nesse momento eu já estava estacionando e, num canto, o casal (que agora é casal mesmo) trocava carícias.
Pela primeira vez eu cheguei na escola cedo. Culpa da minha quase namorada. O casal, no exato momento em que a gente desceu do carro, começou a se pegar e digamos apenas que elas têm sincronia, beijo encaixado, bonito de ver, mas nem todo mundo gosta. Por isso eu cheguei e dei um peteleco na orelha da Júlia, que deu um gritinho no meio do beijo e virou pra mim pronta pra matar quem quer que fosse. Até Babi rachou o bico. Parei de rir na hora que ela me acertou um tapa que estalou alto e deixou meu braço vermelhíssimo por um bom tempo.
As aulas foram um saco, sinceramente. Mas passaram até rápido. Depois do fim da aula, Ju e Babi foram embora juntas, óbvio. Enquanto eu deixei Yasmin pegar ônibus. Por quê? Porque se eu a levasse em casa, ela ia insistir pra eu entrar ou sei lá e eu não quero estragar a surpresa que estou preparando antes de conseguir terminar, não é?
Cheguei em casa e ainda tinha o almoço que Yasmin tinha feito ontem, coloquei no microondas , comi, depois fui para o quarto fazer o resumo de história, o professor me deu outra chance, só que eu não conseguia me concentrar, de jeito nenhum. Meia hora, e meu resumo tinha cinco linhas (tinha que ter no mínimo duas páginas) e minha cabeça só ia pra Yasmin. Mesmo sendo minha, eu não consigo parar. Eu sinto saudades, muitas. Vou mandar uma mensagem no WhatsApp.
[15h03] Mari: Oi baby. Tava tentando fazer o resumo de história, mas só tem você na minha cabeça. Saudades.
[15h03] Yasmin: Oi Marii <3 eu não estou fazendo nada, a culpa é que você me ama demais, admita e vá estudar.
[15h04] Mari: Tudo bem. Você me ama de volta? Pergunto porque depois que você saiu daqui de manhã, nem me deu mais beijo.
[15h04] Yasmin: Só digo se provar que eu sou diferente.
[15h05] Mari: É claro que você é, eu vou provar, não vai demorar.
[15h05] Yasmin: É, mas eu sei que você saiu de fininho hoje e não me deu carona porque não queria ir lá em casa.
[15h06] Mari: Eu só acho que não está na hora disso.
[15h06] Yasmin: Tá. Eu só queria saber porque tenho que esperar até sexta, como você disse.
[15h06] Mari: Eu disse? Baby, eu tenho que trabalhar no meu resumo, beijos <3
[15h06] Yasmin: Mas não foi você que veio me chamar pra dizer que tava com saudades?
[15h07] Mari: Foi, mas... Esse resumo é importante.
[15h07] Yasmin: Não vai falar?
[15h07] Mari: ...
[15h08] Yasmin: Vai fazer seu resumo Mari, beijos, o Lucas tá me chamando no Skype.
[15h08] Mari: Não, peraí!
[15h08] Yasmin: Mas você não vai falar e você tem um resumo importante. Beijos <3
E essa agora... Fui trocada. Vale a pena manter a surpresa?
Só me resta esperar até a sexta, porque antes, eu não posso cobrar nada dela.
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