História Snow Boy - Min Yoongi - Capítulo 1.

1.

Estava ansiosa. O motivo? Segundo a moça que apresentava a previsão do tempo do jornal local, hoje cairia os primeiros flocos de neve do inverno. Eu e minha irmã mais velha morávamos em um local bem afastado de Taebaek na província de Gangwon, por isso quando nevava ficávamos praticamente isoladas, mas eu amava morar aqui, era calmo e silencioso e quando nevava parecia um mundo totalmente diferente. Quando eu era criança, amava brincar de guerra de bolas de neve com Kay, mamãe ficava doida gritando para que parássemos ou iriamos ficar resfriadas. Eu senti falta dela e de meu pai. Papai morava em Busan, trabalha e tem outra família lá, temos uma boa relação, ele nos manda dinheiro com frequência, já que eu ainda não consegui um emprego e Kay trabalha numa cafeteria do centro. E a mamãe.... Bem… Foi em uma dia como esse que ela nos deixou.

Abri os olhos já levantando rapidamente e correndo para janela, eu gostava de ver a primeira neve cair. Olhando atentamente eu podia ver os pequenos flocos despencando do céu. Sorri como uma criança quando ganha o presente de natal que havia pedido. Natal… Poxa eu nem havia me tocado que já era quase Natal, faltavam apenas alguns dias para o mesmo e para que a neve deixasse tudo branco. O cheiro do café da minha irmã despertou meu voraz estômago, fui para o banheiro fazer minhas higienes e logo desci as escadas indo direto para a cozinha.

ㅡ Unnie. ㅡ Beijei sua bochecha e ela sorriu.

ㅡ Sabia que iria aparecer agora Saeng. ㅡ Riu e eu a acompanhei, ela conhecia meu estômago de leão. Kay era muito bonita, com seus 29 anos, cabelos loiros pintados e uma da melhores peles que já vi, baixa e magra, namorava um cara legal, que no momento prestava serviços militares, quando ele voltasse iriam se casar e eu teria que acordar pra dura realidade de morar sozinha e se virar. Não que eu já não estivesse nela, mas ainda tinha um pé na vida de irresponsável.

ㅡ Está começando a nevar. ㅡ Falei alegre e ela riu negando com a cabeça, ela achava engraçado essa minha felicidade por neve.

ㅡ É eu vi. Daqui a pouco já está tudo coberto, temos que comprar comida. ㅡ Falou e eu assenti.

ㅡ Podemos ir mais tarde, papai disse que iria mandar um dinheiro a mais esse mês. ㅡ Ela concordou sentando-se à mesa. Agradecemos pela comida e logo em seguida atacamos, a comida de Kay era sempre muito boa, ela seria uma boa esposa para Seokjin.

4 dias depois…

Para onde se olhava só se via branco. Tudo estava completamente coberto de neve e eu ficava eufórica com isso. Parecia que morávamos em um reino de gelo, as árvores secas tinha várias estalactites de gelo em seus galhos e tudo parecia mágico. Eu já disse que eu amo o inverno?

ㅡ Hyuna! ㅡ Ouvi o chamado de minha irmã e me virei para trás, observando a porta da varanda se abrir e ela aparecer com uma caixa ㅡ Olha o que eu achei! ㅡ Disse animada se ajoelhando ao meu lado, já que eu estava sentada no topo da pequena escadinha da varanda, e deixando a caixa de papelão no chão. Dentro dela havia algumas coisas antigas nossas. ㅡ Olha isso! ㅡ Riu pegando uma bonequinha de pano bem surradinha.

ㅡ Era minha! ㅡ Exclamei me lembrando da boneca.

ㅡ Você andava pra cima e pra baixo com isso. ㅡ Falou e eu ri nostálgica.

ㅡ Isso era da mamãe. ㅡ Apontei para um cachecol preto simples, eu me lembrava dela com ele. Peguei o mesmo na mão e eu podia me lembrar das vezes que toquei o mesmo sentada em seu colo. Kay gargalhou alto e virou uma foto pra mim.

ㅡ Ah eu fiquei muito chateada com você nesse dia. ㅡ Ela mostrava uma foto que papai havia tirado quando eu perdi meu primeiro dente da frente, Kay havia arrancado ele mesmo eu falando que não queria. Ela sorria mostrando o dente na palma da mão aberta como um troféu e eu estava emburrada ao seu lado de braços cruzados, as bochechas e nariz vermelho e o rosto molhado pelo choro.

ㅡ Eu sinto falta desse tempo. ㅡ Sorriu triste e eu sorri da mesma forma segurando em sua mão que acariciava o cachecol.

ㅡ Eu também… Mas é a vida. ㅡ Ri fraco e ela assentiu passando a mão nos olhos úmidos e sorrindo abertamente. Olhei para o cachecol e tive uma ideia.

ㅡ Eu vou fazer um boneco de neve. ㅡ Ri divertida e minha Unnie gargalhou balançando a cabeça como quem diz “criança”.

Kay entrou e eu fui logo atrás, corri em meu quarto e peguei um gorro azul que eu tinha e não usava fazia algum tempo. Me agasalhei melhor e corri para o quintal dos fundos já começando o meu trabalho. Fiz e coloquei tudo o que um boneco de neve tem direito, braços de gravetos, olhos e boca de pedrinhas negras e até um nariz de cenoura, óbviamente Kay só me deixou pegar uma mini cenoura para isso, coloquei o cachecol em volta do seu pescoço e ajeitei o gorro em sua cabeça e voilá estava pronto! Fiquei um tempo observando o mesmo e me senti feliz com o resultado. Ao longo dos dias Suga, como eu chamei meu boneco, por ser branco como açúcar e ter uma aparência doce, se tornou meu melhor confidente, toda tarde eu me sentava no chão gelado e conversava com ele. Talvez ele tenha se tornado algo a mais que um confidente, loucura eu sei.

ㅡ Sabe Suga, eu sinto falta dela… Quando essas datas chegam eu fico mais triste, pois eu sei o quanto ela gostava delas, gostava de ter a família junto… Eu sei que Kay também fica, mas ela tenta não demonstrar isso para que eu não fiquei triste e eu tento não pensar em coisas negativas. Amanhã já é Natal e eu acho que se eu pensar apenas nas coisas boas é melhor, certo? ㅡ Perguntei para ele, mas ele apenas ficou quieto, não era pra menos também, ele era um boneco de neve.

ㅡ Você é bem quietão, não é? ㅡ Ri sozinha de minha frase.

Então foi olhando para aquele boneco com o sorriso da Monalisa e os olhos de pedras cor de ébano, os bracinhos de gravetos, o cachecol preto e o gorro azul, eu desejava algo. Queria poder saber o que ele pensava ou sentia. Queria poder falar e ser respondida, já havia despejado tanta coisa em cima daquele carinha branco que eu tinha certeza que ele já estava cansado de apenas ouvir. Sentada no chão frio coberto de neve, brincando com a mesma em frente as minhas pernas cruzadas, observando o sol se pôr e minha irmã ligar a luz da varanda, eu pedi:

ㅡ Você poderia ser humano, não é Suga? ㅡ Sorri levemente inclinando a cabeça para o lado e  olhando para seus olhos escuros que brilhavam com a luz refletida neles. Ouvi Kay me chamando para o jantar e dei uma ultima olhada no meu amigo, me levantei tirando o excesso de neve do corpo e segui para dentro. Nossa “ceia” era simples, algo só para nós duas realmente. Nosso pai até havia nos chamado para passar com eles em Seul, mas dessa vez não. Kay havia feito um jantar delicioso e nós comemos confortavelmente. Quando deu meia noite trocamos presentes simples. Eu havia ganhado um colar com um pingente de floco de neve, era lindo. E eu havia dado uma bolsa que ela vinha namorando a algum tempo, eu tinha economizado e ela merecia. No momento que ela fechou o colar no meu pescoço ouvimos batidas desesperadas na porta dos fundos. Eu pulei de susto e ela sem querer puxou meu cabelo.

ㅡ Desculpa! ㅡ Pediu me olhando rapidamente enquanto eu esfregava o local que ela puxou. As batidas continuaram e nós nos olhamos assustada. ㅡ Eu não vou abrir! ㅡ Falou, ela era uma medrosa nata!

ㅡ Eu abro.

ㅡ Cuidado. ㅡ Falou se escondendo atrás da cadeira da mesa de jantar, o que não adiantaria muito. Com todo cuidado e silêncio eu fui até a porta esperei até as batidas pararem e abri a porta de uma vez. Me assustei vendo um homem parado em frente a mesma, se tremendo todo. Kay de repente apareceu ao meu lado, me assustando de novo, ela olhava para ele de olhos arregalados.

ㅡ P-Por favor, m-me deixem entr-trar. ㅡ Pediu batendo o queixo e esfregando os braços. Eu ainda olhava para ele estática e então Kay puxou o homem pelo braço para dentro de casa e eu fechei a porta, me virando lentamente para eles.

ㅡ Meu Deus, como você estava desse jeito lá fora? ㅡ Ela perguntou e eu enfim reparei nele direito. Ele usava uma camiseta de botões e uma calça, estava descalço e usava um cachecol preto e um gorro azul… Espera! Espera aí!

ㅡ Onde você conseguiu isso? ㅡ Perguntei apontando para seu rosto, ele me olhou confuso e eu bufei ㅡ O cachecol e o gorro! Estavam no meu boneco! ㅡ Falei já franzindo a testa.

ㅡ Eu…

ㅡ Isso não é hora pra se importar com isso Hyu. ㅡ Kay brigou comigo e eu inflei as bochechas com raiva, corri para a janela e olhei na direção que meu boneco estava. Sim, estava, pois ele não está mais lá.

ㅡ Você destruiu ele? Por que você destruiu ele?! ㅡ Perguntei raivosa indo em sua direção. ㅡ Você não podia ter feito isso!

ㅡ Hyuna, é só um boneco bobo, para com isso! A situação aqui é séria. ㅡ Kay falou novamente mais séria.

ㅡ Não era um boneco bobo, Unnie. Ele era importante pra mim. ㅡ Senti lágrimas molharem meu rosto e senti mais raiva por isso. ㅡ Eu te odeio. ㅡ Falei para o homem e saí correndo para meu quarto.

Poderia ser infantil meu ataque, mas ele era realmente importante pra mim. Eu havia compartilhado tantas coisas com ele, que eu deixaria pra me preocupar em perdê-lo quando o inverno estivesse acabando. Eu posso parecer louca ao dizer isso, mas eu gostava do Suga que eu criei.