Chanyeol atravessou a casa como um foguete quando ouviu a campainha tocar. Isso vinha acontecendo com uma frequência incomum, nos últimos dias, mas o Sr. Changsu já tinha entendido que era para deixar o filho atender a porta.
Chanyeol ficava frustrado quando era entrega de macarrão para o almoço, ou quando era a lavanderia devolvendo os ternos do sr. Park. Também pisava duro de volta para dentro quando era visita. Dessa vez, também não era nada do que esperava. Era só Kyungsoo sorrindo de lado no batente da porta de entrada.
— Ai que saco! Puta merda... — Chanyeol embicou, frustrado. A confusão do namorado ainda o fazia abrir e fechar a boca sem saber o que dizer quando, de repente, o humor do Park mudou de forma visível. Finalmente notando quem de fato estava na porta, Chanyeol se recompôs e puxou Kyungsoo para um selinho na boca. — Oi, Soo. O que tá fazendo aqui?
— Vim ver você… Tô atrapalhando alguma coisa? — Kyungsoo cambaleou um passo para dentro do hall de entrada quando Chanyeol o puxou pelas bochechas, amassando-as entre as mãos.
— Não, eu só ‘tava esperando outra coisa…
Qualquer que fosse a explicação, a frase se perdeu no instante em que Chanyeol apertou os olhos e viu um boné amarelo pairar em frente a fachada da casa. Com o rosto se iluminando, o Park trombou porta à fora em direção ao entregador, assustando-o ao estender as mãos com uma dancinha agitada.
— Assina aqui, por favor — o moço exigiu, antes de deixá-lo tocar na caixinha bem embalada. Chanyeol estava trêmulo. Sua assinatura quase saiu de cabeça para baixo de tão pequena e embolada, mas, satisfeito, o carteiro deixou o pacote nas mãos nervosas.
Chanyeol pulou de novo para dentro de casa e de lá para o quarto, gritando para Kyungsoo seguí-lo. Parando em meio ao cômodo, arrancou a fita adesiva à dentadas e olhou para a caixa branca e bonita com a logomarca da loja de roupas online.
Finalmente, depois de duas semanas de espera…
— O que é?
Chanyeol olhou para o namorado, que se sentava em sua cama calmamente, observando-o com um sorrisinho. Parecia gostar de sua animação, então... Será que podia deixá-lo ver?
Nah, isso estragaria a surpresa! Abraçou a caixa de forma protetiva.
— Você vai ver na hora certa.
— E qual seria essa hora? — testou Kyungsoo, olhando-o de olhos semicerrados, mas certamente interessado no mistério. Chanyeol sorriu, fugindo para o banheiro.
— Na segunda oportunidade.
Passando a chave na porta, ele abriu a caixa e ficou namorando sua compra por bons dez minutos, experimentando-a com todo o cuidado do universo. Ajustou ao corpo, acariciando o tecido e parando em frente ao espelho sobre a pia para olhar.
Não podia ver o corpo inteiro, mas era... tão confortável. Tinha caído bem e estava até bonitinho. Isso era para além de sua expectativa ao comprar algo online, mas depois de Baekhyun medí-lo inteiro com uma fita métrica, elogiando o diâmetro de suas coxas (e esquecendo que em comparação com o resto do corpo elas não eram assim tão fartas, mas tudo bem), o resultado até que foi bem satisfatório.
E ele que achou que teria que fazer um buraco numa calça jeans...
Sentia-se tão bem que quase não quis tirá-la do corpo outra vez. Quis aparecer no quarto e mostrar a Kyungsoo para ele aprovar também, mas esforçando-se para não estragar a surpresa, vestiu de novo seu conjunto de moletom e guardou a roupa nova na caixinha, escondendo-a no guarda roupa com um olhar vigilante e desconfiado para o namorado.
— Por que eu não posso ver? — gemeu ele, frustrado, chamando-o para um abraço.
— Você vai ver loguinho!
Chanyeol caiu com vontade entre os braços do Do. Sentando em uma das pernas dele, envolveu-o pelo pescoço e fechou os olhos para sentir o carinho dos lábios pousando com suavidade em suas bochechas repetidas vezes, descendo com calidez e lentidão.
A agitação com a novidade e o carinho foram o bastante para Chanyeol ir juntando pouquinho a pouquinho a coragem, ensaiando o que ia dizer, até conseguir vocalizar, com um sorrisinho:
— O que vai fazer hoje à noite?
Surpreendeu-se com Kyungsoo olhando-o com animação, como se estivesse feliz por ter feito a pergunta.
— Tenho uma partida de tênis com o Minseok naquele clube de rico perto da casa dele — tagarelou —, tô precisando esticar o corpo. Yeol, você tem que ver a grama verdinha, tem uma carrocinha de lanche lá perto que-
De repente, interrompendo-se de maneira muito engraçada, Kyungsoo notou finalmente que havia um outro sentido por trás daquela inocente pergunta. Chanyeol sentiu um pouco de pena, porque a julgar a forma como ele relatava, tão entusiasmado, pareceu prestes a chamá-lo para vir junto.
— E depois disso?
Dando seu jeitinho de não recusar ao pedido implícito, murmurou a sugestão contra a boca farta. Os olhos estavam fixos nos de Kyungsoo quando lambeu o lábio superior dele, de repente sedentos por contato.
Os dedos apertando a cintura larguinha sempre deixavam o Park com um calor insano e com frio na barriga ao mesmo tempo, e dessa vez não era diferente, só... não tinha vontade alguma de fingir que não estava meio excitado. Chanyeol sorveu com prazer cada gota da confiança que brotava em seu interior, incentivada pelo olhar febril de Kyungsoo, fixo em seus olhos com uma expectativa terna. Como se estivesse louco para fazer aquilo consigo.
— Não sei se vou aguentar jogar tênis pensando no que vem depois, Chanyeol, não que eu esteja querendo apressar as coisas — explicou ele, em tom comicamente controlado, de forma que o Park teve que selar sua boca, numa permissão silenciosa para ele “apressar as coisas”. Kyungsoo segurou-o pelo rosto, unindo as testas. Chanyeol assentiu. — Vou ligar para o Seok e desmarcar a partida.
Foi difícil focar em qualquer outra coisa durante a tarde. Qualquer toque parecia acender a vontade borbulhando nos interiores, os beijos estavam impossivelmente quentes e nem as cócegas estavam imunes ao sentido sexual que tudo tinha adquirido desde a sugestão.
E com isso a tarde pareceu durar uma semana.
Kyungsoo precisou voltar para casa, planejando deixar as coisas prontas para de noite. Disse que estava se sentindo “tentado demais”. Até que Chanyeol gostou da ideia de se separarem um instante também, porque estava igualmente “tentado” e não conseguia parar de pensar no que iriam fazer, o que o fazia ficar com uma eterna semi ereção que começava a incomodar.
No fim da tarde, Chanyeol fez algo reforçado para comer antes de tomar um banho longo e avaliou-se pela terceira vez naquele mês diante do espelho. Não querendo pensar muito nas inseguranças que vieram de fininho querendo se instalar, reafirmou para si mesmo a necessidade da roupa e decidiu mentalmente seguir com o plano de ficar com elas até que surgisse a vontade genuína de tirar. Se surgisse. Esperou que Kyungsoo não se importasse.
Assim vestiu-se, admirando-se mais um pouquinho e sentindo aquela onda de agitação subir borbulhando pelo corpo. Um sorriso incontrolável iluminava seu rosto enquanto colocava o casaco de moletom com zíper e as calças folgadas por cima da roupa nova.
Fizeram hora até mais tarde, quando saiu dando um tchau pela metade para o pai (que o olhava para lá de desconfiado), e correu porta afora para se lançar no banco do passageiro do fusquinha legal.
Ele e Kyungsoo se olharam. Será que se beijavam? Estranhamente, pareciam concordar que essa era uma ideia perigosa e se pegaram gargalhando fortemente entre tapinhas e provocações por alguns segundos antes de, vermelhos, trocarem uma série de selinhos, darem a partida e seguirem o caminho até o monte.
Talvez porque estava nervoso, a estrada para o lugar marcado pareceu muito curta. Chanyeol tentava segurar, mas não conseguia parar de sorrir idiotamente quando a imagem do que estava prestes a acontecer invadia sua mente. Temendo que Kyungsoo o achasse patético e infantil, respirou fundo pelo nariz, soprando pela boca várias vezes.
— Abre a janela aí, meu cão. — Kyungsoo zombou preocupadamente, puxando aquela manivelinha charmosa que fazia a janela abrir. — Você tá bem?
— É, tô nervoso — concluiu. Depois de Kyungsoo cutucá-lo nas costelas em cócegas impossíveis de fugir, Chanyeol distraiu-se um pouco do próprio nervosismo e a paisagem das árvores altas cercando o caminho até o mirante finalmente tomou sua atenção.
Quando chegaram ao topo, Kyungsoo desligou o carro e os dois se olharam. Chanyeol puxou os pés descalços para cima do banco enquanto ele jogava a chave no porta-luvas e puxava a alavanca para abrir o porta-malas, nervosamente calado. Só então surgiu a vontade de perguntá-lo se ele já tinha feito aquilo.
Essa não era uma informação que tinham trocado durante o tempo de namoro, nunca viera à tona e quando tivera a oportunidade, não quis perguntar.
Enquanto o olhava, decidiu que ainda não queria saber. A curiosidade podia cutucar, mas Chanyeol sabia que ficaria neurado não importando qual fosse a resposta. Então... melhor não.
Kyungsoo mordia a bochecha por dentro e o olhava longamente, preocupado, atencioso. Chanyeol pediu sua mão para segurar e deixou-o notar em como estava tremendo de levinho, suando nas palmas.
— Se quiser amarelar, sempre existe a terceira, quarta e quinta oportunidades. — Ele apertou seus dedos, o polegar acariciando as costas de sua mão. Chanyeol sentiu os olhos marejarem, de repente meio emotivo. — Qualquer coisa, tem refri no porta-malas, e marshmallows.
— Você criou um plano B?? — Chanyeol arregalou os olhos, surpreso, mas de uma forma boa. Kyungsoo deu de ombros.
— Na verdade é tudo um plano A, de qualquer forma eu vou querer uma Sprite.
— Você é impressionante.
— Ah — ele grunhiu, puxando-o para um mordiscar pouco dolorido na orelha — o carinho vai começar no meu ego?
Chanyeol deu de ombros, sentindo a voz grave mexer com sua sensibilidade.
— Já que subiu à cabeça... Agora é só ir descendo até o pé.
Kyungsoo ficando tão genuinamente surpreso com as coisas tão menos tímidas que Chanyeol dizia era sempre uma cena engraçada de olhar.
Era incomum que o Park variasse do tão comum silêncio envergonhado, mas estava óbvio no rosto de Kyungsoo que ele gostava daquilo. Costumava provocá-lo até que ficasse vermelho e emudecido, no entanto, as respostas afiadas enchiam seu olhar primeiro de um lampejo surpreso, e então, de um brilho de excitação, como se absolutamente adorasse seu atrevimento, e isso fez Chanyeol sentir algo em si engrandecer, incentivado.
Não exatamente essa parte do corpo, mas algo um pouco mais abstrato. Algo que ainda queria poder explorar em si. Quer dizer, todo mundo era acostumado e esperava de Chanyeol uma retidão, mas Kyungsoo não era todo mundo.
E, aliás, parecia prestes a avançar sobre seu colo para beijá-lo até perder o fôlego, Kyungsoo já quase o fez enlouquecer desse jeito algumas vezes. Contudo, a situação pedia um pouquinho mais de controle que o normal, e sabendo que Chanyeol estava pisando devagarinho naquele novo espaço, respirou fundo teatralmente, deixando-o ver que estava exercitando o autocontrole.
— Vou lá para o fundo ajeitar as coisas. E você?
Kyungsoo avisou de maneira despropositada, pensando que Chanyeol apenas o seguiria até lá, entretanto o Park titubeou.
— Pulo para lá daqui a pouquinho? — Soou como uma pergunta, e como Chanyeol estava um tantinho trêmulo, Kyungsoo o olhou atentamente, assentindo. Não fazia mal dá-lo um pouco de privacidade.
Chanyeol o observou pelo retrovisor por todos aqueles minutos seguintes. Hoje, Kyungsoo estendeu uma mantinha confortável e pesada no couro preto lustroso, (melhor assim, que as bundas não ficariam agarradas no estofado). As almofadinhas de estampa esportiva estavam por todo lugar e ele tinha mesmo trazido a caixa térmica pequena, que perdeu o lugar no porta malas e foi parar no chão, perto da roda, enquanto o saquinho de doces ficou encostado num lugar acessível.
Era sua deixa, não teria mais muitos minutos para respirar e tentar resolver aquele nó no estômago, então esperou-o se distrair com algo lá atrás para tirar o moletom, lutando para arrancá-lo das pernas longas demais.
A silhueta de Kyungsoo deu a volta no carro e quando chegou à janela do passageiro, Chanyeol já tinha pulado para a parte de trás, esquivo como um rato. Tapando-se com uma almofada, O Park o chamava com batidinhas no colchão e um sorrisinho.
Eram batidinhas e sorriso para lá de confiantes, ainda que tímidos. Kyungsoo não sabia bem como podia essas duas coisas conviverem, mas fez seu coração pular uma batida. Chanyeol prendeu a respiração, e só soltou outra vez, longamente, quando Kyungsoo veio até ele e, engatinhando porta-malas à dentro, sentou sobre os joelhos, olhando-o abobado.
Tinha imaginado uma infinidade de coisas que poderiam estar dentro da caixa que veio pelo correio, entretanto, errou feio em todas as suposições. Chanyeol vestia o pijama mais confortável que provavelmente já viu na vida.
Era um conjunto de cetim, feito de blusa preta sem mangas e shortinho curto, mostrando bem até o meio das coxas. A estampa era quase imperceptível contra a cor de um azul profundo, mas Kyungsoo captava cada detalhe enquanto seus olhos lambiam lentamente a imagem do namorado.
Ele estava tão lindo... Parecia tão confortável e abraçado pelas roupas que sua vontade foi de olhá-lo por horas, fantasiando. Mas notou que só olhar, provavelmente com baba escorrendo no queixo, não era suficiente. Chanyeol também começava a reagir à sua falta de resposta, e estava a meio caminho de levar muito lentamente a mão à nuca.
Se ela chegasse lá, sabia, a insegurança estaria instalada.
Kyungsoo correu para pegá-la, segurando a mão macia enquanto o olhava nos olhos. Estava sem palavras! Ainda que buscasse por elas incansavelmente, seu coração apenas batia loucamente dentro do peito. Lentamente, infiltrou-se no espaço do Park, afastando os joelhos para colocar-se entre eles. Chanyeol acompanhou com os olhos enquanto ele tocava o tecido das roupas, acariciando de leve suas coxas. Com os rostos próximos, podiam sentir a respiração quente um do outro, e Kyungsoo tocou seu queixo também, levantando-o.
— Você tá tão lindo... — selando seus lábios com uma leveza quase desumana, ele continuou, baixinho. — Tão gostoso...
Chanyeol sentiu-se tremelicar quando as mãos de Kyungsoo o trouxeram pela cintura, encostando os troncos. Tudo se encostava, ainda mais quando a roupa era quase nenhuma. A leveza do tecido em sua pele quando o namorado passeava com as mãos pelo seu corpo começava a deixá-lo meio excitado.
— Hm… Eu tenho mais uma pergunta, Soo… — partindo o beijo desajeitadamente, Chanyeol murmurou, tão baixo que era óbvio seu receio de irritar o namorado. Porém, a atenção de Kyungsoo estava em seu rosto e com isso puxou um pouquinho de ar. — Você… vai se importar se eu não tiver me...
Chanyeol nunca conseguiu terminar a frase. Suas bochechas estavam pegando fogo de tão rubras e suas mãos se encolheram entre suas coxas.
— E-eu tentei, mas dói pra cacete, então acabei fazendo só as beiradinhas… para não ficar desigual...
Ele calou, constrangido, pensando que Kyungsoo provavelmente não queria todos esses detalhes, mas o Do continuava olhando e absorvendo cada expressão.
— Não precisa fazer isso, vou deixar nos seus termos, okay? — ele respondeu, puxando o ar, talvez porque, como Chanyeol estava descobrindo, ele também ficava sem jeito de falar as coisas tão abertamente. Talvez não com os amigos, onde tudo era uma grande brincadeira. Entretanto, consigo ele estava sério, queria deixá-lo confortável e deixava isso evidente.
Chanyeol assentiu com um sorriso leve e aliviado antes suas mãos cobrirem as bochechas do namorado, trazendo-o para beijar sua boca outra vez, em selos longos que lentamente empurravam o Park a deitar-se.
Kyungsoo pareceu gostar quando soltou um leve ofego, caindo contra as almofadas. Suas mãos desceram para o fecho dos jeans claros, mas depois de abrí-lo, pararam por aí. Ele voltou a engatinhar sobre seu corpo, naquele ângulo fodido que o deixava mais sensual do que devia ser permitido por lei.
— Eu tô doido para te botar inteiro na boca. — Olhando-o de baixo a cima, ele comentou como se fosse só o jantar de domingo. Chanyeol taparia o rosto para rir, mas Kyungsoo tocou seu lábio inferior com as costas do indicador, pegando a pontinha de sua língua quando Chanyeol lambeu-o em provocação, como um costume antigo. — Essa coisinha aqui é a primeira coisa que eu vou chupar.
— Ah! — reclamou Chanyeol, tímido, fechando os olhos com o constrangimento apesar de sentir sempre uma coisinha gostosa no peito com essas coisas meio malucas que Kyungsoo costumava dizer. Essas gracinhas fora de hora sempre o faziam rir. Às vezes fazia-o sentir que era exatamente o que o mantinha apaixonado pelo Do.
Entrando na brincadeira, Chanyeol mostrou a pontinha da língua outra vez, oferecendo-a. É claro que Kyungsoo aceitou, e os lábios cheios tomaram sua boca naquele beijo que o deixava completamente amolecido.
Os olhos se fecharam sem nem notar. Adorava quando o beijava desse jeito, segurando-o pelo queixo e dominando-o, o rosto encaixado ao seu de formas que nunca pareciam lógicas. Sentia-se à mercê da vontade do Do de beijá-lo, essa que ele não escondia, amassando amorosamente seus lábios em beijos curtos e amorosos.
Notou que não estavam com pressa, contudo, lembrar o objetivo dos beijos o fez ficar ansioso outra vez. Sentindo Chanyeol travado de repente, Kyungsoo também se sentiu um pouco inexperiente e nervoso, mesmo quando levou as mãos outra vez até as próprias calças.
— Melhor tirar isso logo, né... — Ele lutou um pouco com os jeans justos e Chanyeol levantou o tronco, os olhos se esbarrando algumas poucas vezes com os do namorado. Queria tanto saber o que fazer... Estava estragando tudo! O que faria?
Sequer viu quando ele conseguiu livrar o corpo do incômodo, no entanto, quando o Do voltou a se aproximar, seu coração já acelerado passou a bater com força excessiva. Mesmo o beijo na boca e os braços ao redor de seu corpo, deitando-o no acolchoado firme, não foram o suficiente para acalmá-lo. Os lábios se esbarraram com brusquidão não planejada, e Kyungsoo parou, preocupado, para olhá-lo quando sentiu sua movimentação estranha.
Chanyeol apontava para algum lugar no painel no carro, nos bancos da frente. Estava um pouco trêmulo.
— O rádio... — ele balbuciou. — M-música seria legal, né?
Quase sem ouvir o pedido todo, o Do se esticou até lá, enfiando o dedo nos botões até fazer algo funcionar. Tentou não afogar Chanyeol entre suas pernas no processo, ainda que estivesse tendo que fazer uma ginástica para isso.
— Cuidado aí, bolas ao sul — alertou, tentando um tom cômico enquanto ajustava o som e aproveitava para buscar o que tinha esquecido nos bancos da frente: a mochila. Chanyeol perdeu o olhar encabulado em outro lugar, ouvindo a música desconhecida soar baixinho. Era uma boa música, ao menos sabia que não teria que se preocupar com nada constrangedor tocando enquanto passavam por aquele processo. Kyungsoo tinha bom gosto musical.
— Acho que nós vamos precisar disso daqui a pouco...
Era perceptível a forma como o Do tentava preencher os silêncios desconfortáveis com conversa casual. O fato de Chanyeol estar deitado como um cadáver, cobrindo o peito com as duas mãos, o incentivava a falar para espantar o clima tenso.
Os dedos do Park se aproximarem da embalagem pequena que Kyungsoo segurava, querendo olhar de mais perto. Chanyeol não queria ser tão transparente, mas era visível no mastigar constante de suas bochechas: ele estava muito travado.
— É a primeira vez que eu encosto numa coisa dessas... — ele murmurou, virando a camisinha. Sempre desviou os olhos na farmácia, como se fosse algo errado, e agora estava prestes a usá-la. Depois de botá-la cuidadosamente onde Kyungsoo tinha colocado o frasquinho pequeno de lubrificante, seus braços longos buscaram o Do para um abraço.
Apertou-o contra si e sentiu-o beijar sua testa, os dedos deixando belisquinhos amorosos na bochecha. Kyungsoo sentia contra seu peito as batidas fortes do coração do Park e começava a se preocupar que ele estivesse se sentindo sobrecarregado.
— Está desconfortável, denguinho?
Chanyeol sentiu a palma quente contra sua nuca, apertando de levinho os pontos de tensão. Deitados lado a lado, as cabeças contra as almofadas e os olhos se buscando para entender o porquê daquele desencaixe, os dois sentiram a necessidade de uma pausa.
— Sabe que pode dizer se não estiver pronto.
— Eu sei... Eu estou pronto. — Chanyeol soltou todo o ar, tentando tirar o peso esmagador sobre seu peito. Suas sobrancelhas se juntavam, levemente trêmulas. — É minha primeira vez, e eu não consigo parar de pensar nisso. Eu não quero fazer tudo errado... Só me diz o que você quer que eu faça, Soo?
Chanyeol temeu muito que ele não entendesse o que estava tentando dizer, mas essa sensação se dissipou quando Kyungsoo tocou a ponta do nariz à sua. As mãos em sua cintura espalhavam formigação por todo seu corpo, mas talvez um pouco desse efeito fosse causado pela forma como Kyungsoo o olhava.
— O que você precisa fazer...
Kyungsoo ponderou por alguns segundos quietos.
— Você pode me beijar quando sentir vontade, me tocar onde sentir vontade… Yeol, a única coisa que eu quero é te fazer sentir bem junto comigo, hm? Não precisa ter vergonha. — Descendo beijos pelo pescoço, Kyungsoo sentiu as mãos de Chanyeol agarrando sua blusa, a cabeça tombando para abrir espaço. — Continua me dizendo o que você sente, eu fico mais seguro quando você confia em mim para se abrir — assegurou por fim, beijando outra vez o queixo quadradinho.
Chanyeol estava se sentindo tão idiota... Interrompendo o tempo todo com suas inseguranças e estragando o clima. Agora seu peito começava a esvaziar daquele peso, era confortante saber que Kyungsoo não o achava um virgem chato e cheio de frescuras...
Na verdade, se abraçaram por vários e confortáveis minutos, bem forte, enquanto o Do acarinhava seu cabelo e cantarolava as músicas da playlist que passava.
Chanyeol sentiu o nariz pinicando quando notou que tinha quase extinguido o clima, mas respirando bem fundo, notou que não tinham conseguido estabelecer um clima ainda. Chanyeol nunca chegou a ter uma ereção, assim como Kyungsoo, em primeiro lugar, então... Estava tudo bem, não estava?
Sabia que ele diria que sim se o perguntasse, então poupou outra pergunta excessivamente carente e se encolheu contra o corpo quentinho do Do quando a noite começou a esfriar, gemendo em satisfação quando ele abriu o cobertor de solteiro para se encolherem, compartilhando calor e beijinhos.
— Você é um cristal de paciência, Soo... — Chanyeol murmurou, admirando os olhos grandes voltados em sua direção enquanto encolhia as mãos para o meio das próprias coxas. Ele era tão lindo...
— Não é paciência, eu gosto de ficar com você — explicou, sem dar muita importância para aquilo tudo de ficar à toa no carro em vez de fazer o que estavam planejando desde o início. — Eu amo você, denguinho.
O jeito como ele falou, passando o dedo em sua bochecha e beliscando de levinho sua orelha... Chanyeol sorriu sem conseguir realmente estabelecer controle sobre isso, sentindo o peito quente.
— Também amo você.
Tentou olhá-lo, mas a timidez tomou seu rosto em forma de rubor e precisou desviar o olhar instantes depois que se conectou com o do Do. Fugindo da sensação vergonhosa depois da declaração repentina, levantou-se o suficiente para alcançar o puxador do teto solar, deixando as estrelas à vista como da primeira vez. A luz lunar iluminou o interior do carro, inundando seu corpo de uma sensação boa.
— Antes de deitar de novo, pega ali o plano B — pediu o Do, cutucando-o na barriga.
— Os refrigerantes?
Olhou ao redor enquanto parava os dedos atrevidos de invadirem insistentemente sua blusa. Nada que impedisse o Do de mordê-lo de levinho na parte de trás das coxas enquanto se esticava para pegar o primeiro pacote que encontrou na bagunça. Eram Marshmallows rosa e brancos, mas devia servir.
Abrindo o pacote com certa força, Chanyeol praguejou quando viu os doces choverem por todo lado. Desastrado, catou alguns que voaram cobertas afora, enfiando um com o indicador entre os lábios que insistiam em mordisca-lo.
— Toma. Esse você pode comer à vontade — brincou. Céus... Era inexplicável o quanto se sentia seguro sabendo que ele estava de bem com a situação toda, principalmente quando sua mente repetidamente o cutucava, dizendo que o namorado tinha todos os motivos para estar de cara amarrada uma hora dessas.
Em vez disso ele o puxou, fazendo-o deixar para lá a bagunça que tinha feito e prendendo-o contra seu corpo, pronto para uma réplica.
— Eu não posso comer você à vontade, é isso, Park? — ele desafiou, esperando Chanyeol assentir em brincadeira, antes de sair mordiscando por todo os lugares onde fazia cócegas.
Chanyeol até bateu as pernas e tentou usar os braços para se erguer do colo do namorado, mas com aqueles braços fortes de lutador de boxe ao redor da cintura e as risadas tirando todo seu ar e suas forças, a tentativa resumiu-se apenas à uma tentativa (e ainda terminou sendo “amordaçado” por um marshmallow enquanto Kyungsoo chupava de levinho o lóbulo de sua orelha, o que fez aquele calorzinho excitante voltar a passos lentos a dominar seu ventre.)
Algo pareceu certo na forma como se sentia, então deixou que continuasse. Prensando o doce levemente entre os dentes da frente, sentiu as pálpebras caindo preguiçosamente com a sensação quente da boca do Do soltando o lóbulo molhado e descendo por seu pescoço, a língua resvalando por sua jugular. O corpo estava jogado sobre o de Kyungsoo, de forma que sentia-o perfeitamente moldado ao seu, ainda que as intimidades não se tocassem diretamente. Seu membro estava contra as coxas torneadas e Chanyeol refreava a vontade de mover-se para aplacar aquele formigamento.
Fazia algum tempo que não sentia tanta vontade de se tocar... Achou irônico que estivesse tão sensível quando as mãos de Kyungsoo nem mesmo estavam passeando por todo lugar. De alguma forma, ele parecia ter percebido o quanto estava se sentindo de repente excitado. Talvez sua orelha fosse um ponto fraco? Aquele calor todo aconteceu tão rápido...
Bem, notou que ele sabia, mas estava se refreando um pouquinho para ver onde as coisas iriam dar. Mastigando quietamente, Chanyeol deitou a testa no ombro do Do, deixando transparecer a languidez que sentia quando Kyungsoo firmava um dos braços ao redor de sua cintura.
Ao mesmo tempo, Chanyeol moveu-se muito lenta e sutilmente contra a coxa desnuda, e as pontas dos dedos de Kyungsoo desceram pelo corpo longo e esguio, num incentivo quieto para que continuasse. Movia-se de levinho para um lado e para o outro, os olhos fechados com a sensação gostosa que viajava por seu corpo, concentrada ali embaixo, mas certamente chegando até as pontas dos pés. Especialmente quando Kyungsoo guiou as mãos para os glúteos, passando os dedos entre eles e provocando-o onde era mais sensível.
As mãos firmes em sua cintura e o tecido leve raspando em sua pele deixavam seu corpo queimando. Chanyeol tocou os lábios na mandíbula angular bem marcada, espalhando beijos pela tez lisinha até sentí-lo suspirar, tentado. Estava escuro, mas não o suficiente para impedir que admirasse o rosto relaxado do Do… e tampouco para evitar achar uma imensidão de marshmellows para varrer para longe timidamente, abrindo espaço para só então poder apoiar as mãos no acolchoado negro.
Os doces estavam rolando por aí, em meio a roupas. Nada que impedisse de continuar se movendo timidamente em busca daquela sensação calorosa. Cada pequeno movimento que fazia parecia suficiente para deixá-lo meio eletrizado, mas a necessidade de aumentar o contato começava a torturá-lo.
Kyungsoo o observou calmamente, e Chanyeol até deu um sorrisinho tímido quando notou que estava sendo estudado, corando sem crer que estava tomando a iniciativa. Ainda se sentia um pouquinho como um patinho feio. E ainda aconteceu de finalmente sentar-se propriamente sobre o membro agora mais do que teso do namorado e achar um outro marshmallow intruso antes esmagado entre os peitos.
— Eita — reagiu ele, tendo a ótima ideia de enfiar o doce na boca para resolver o problema. Só percebeu que foi uma ideia besta quando o sorrisinho do Do virou uma risada, mas riu junto para disfarçar e até teve os dedinhos do Do o chamando para perto, para ajudá-lo a morder metade do doce e dá-lo um beijinho na boca, de quebra.
Achou que tinha feito bobagem outra vez, mas o pensamento se perdeu quando Kyungsoo ajeitou o corpo sob o seu, empurrando de leve a ereção contra sua bunda. Pareceu um incentivo e, não que Chanyeol precisasse de um, ajeitou-se nos joelhos, apoiou-se na blusa do Do e rebolou como vinha sentindo vontade, o volume no pijama larguinho tocando o corpo do namorado ao deslizar a bunda contra ele algumas vezes.
A movimentação satisfez aquela ânsia temporariamente. Apenas mover-se devagar contra ele o quanto e da forma que seu corpo pedia era suficientemente bom para fazê-lo esquecer de qualquer outra coisa que não as reações do namorado. Kyungsoo o deixava fazer, as mãos esticadas em sua direção caso precisasse de apoio e o corpo um pouco tenso com a tentativa de conter o efeito do estímulo, afinal, não era todo dia que ele sentava em si daquele jeito e o provocava sem nenhuma dó.
Chanyeol resvalava nas mãos que pairavam ao seu redor vez ou outra, e uma hora o toque mínimo o provocou o suficiente, fazendo-o buscar as palmas quentes para que o tocasse nas coxas e na bunda. Ainda não encontrava coragem para pedir as mãos dele em sua intimidade, ainda que a vontade não faltasse. Contudo, depois que apoiou os braços no colchão, laterais ao rosto do Do, sentiu os dedos dele se infiltrando sobre sua roupa com suavidade e percebeu que talvez fosse melhor assim. Estava bom enquanto não era o suficiente para acabar gozando.
Talvez Kyungsoo não estivesse em uma situação tão diferente. Podia sentí-lo levantar um pouco o quadril, mas com o passar dos minutos, quando as bocas se encontravam e as respirações começavam a se bagunçar, Chanyeol sentiu um gemido subir pela garganta, escapando antes que controlasse e fazendo com que Kyungsoo travasse sua cintura.
Ele mordia fortemente o lábio, os olhos brilhando em uma luxúria que o Park presenciava pela primeira vez com um frio estupidamente gostoso na barriga.
— Eu tô a isso aqui de me gozar inteiro e eu… nem tirei a minha cueca ainda — com a respiração entrecortada, Kyungsoo explicou a parada repentina. — Quer me ajudar?
Ele se referia às roupas, então Chanyeol hesitou um instante antes de assentir, empurrando a vergonha que tentava abatê-lo toda vez que algo novo aparecia. Era a primeira vez que ousava tocar as roupas de Kyungsoo para tirá-las do corpo levemente musculoso, mas a sensação foi... bobamente íntima. Até meio engraçada, quando puxou o corpo dele de novo para cima do seu e o ajudou a afastar a última peça pelas perninhas curtas e torneadas.
— Agora eu estou na mais completa desvantagem — brincou Kyungsoo.
— Você tem o corpão de um grego competidor de olimpíadas, de que forma isso é uma desvantagem?? — balbuciou o Park, causando uma risadinha lisonjeada no Do, mesmo depois de puxá-lo para um beijo. E então, parecendo achar mais uma coisinha para dizer, Chanyeol se encolheu e buscou seu olhar. — Continua me tocando desse jeito?
— Hm? — Sem entender, Kyungsoo desceu os olhos para o corpo do Park, agora espalhado no colchão. A roupa estava completamente amassada e ele via trechinhos da barriga branquinha, as mãos tocavam as curvinhas de seus músculos com interesse tímido, o lábio inferior preso entre os dentes absurdamente alinhados. Chanyeol parecia pequenininho daquele jeito, mas ele era na verdade quase grande demais para caber ali atrás. Kyungsoo quase não conseguia conceber o quanto isso era adorável.
— Sabe... de roupas — ele explicou aos murmúrios, escondendo-se sob seu corpo. — Ou eu também não vou conseguir segurar muito...
A forma como ele desviava os olhos dos seus, buscando ali uma forma de conseguir coragem, era tão fofo que Kyungsoo não conseguiu não puxá-lo de volta e mordê-lo nas bochechas cheias. Chanyeol se queixou, mas os olhos fechados bem apertados tinham um quê de sorridentes.
— Tá gostoso demais para segurar, é? — provocou o Do.
— Hmnm — o Park não negou — eu tô sensível porque é com você.
— Comigo?
— Você é meu namorado, né... — Buscando o rosto entre suas mãos também, Chanyeol dessa vez passou os olhos por cada detalhe no rosto avermelhado e pelos cabelos negros e curtos bem revoltos. — Isso às vezes me deixa meio molenga. Eu realmente amo você... Okay, Soo, você pode me comer todinho...
Kyungsoo soltou um arquejo de pura surpresa, arregalando os olhos já naturalmente grandes.
— Chanyeol!?
Com um sorriso quase mais largo que a boca e os olhos tapados com as mãos grandes e trêmulas, ele ousou continuar.
— ...Só têm que ser com as roupas, mas você pode comer!
Sorrindo também tão largo que era difícil fazer um biquinho, o Do beijou por entre os pulsos a boca fininha e apertada em constrangimento.
— ...e tem que ser com muito amor também — o Park completou, trêmulo.
— Hm, vou cuidar de você com muito amor — certificou, deixando-o esconder-se o quanto precisasse enquanto descia a boca pelo corpo esguio e ainda devidamente coberto. Os lábios molhadinhos cobriram o queixo quadrado e o pomo de adão bem marcado, deixando beijos e chupadinhas mais leves até do que Chanyeol estava com vontade de receber agora.
Notou isso quando a boca alcançou seus mamilos levemente eriçados, molhando o tecido ao circulá-los com a língua. De alguma forma, cada vez que os lábios de Kyungsoo resvalavam em algum lugar de seu corpo, a vontade era que ele impusesse um pouquinho mais de força. Uma vontade incisiva e torturante, que fazia sua pele queimar e o formigamento em sua intimidade tornar-se quase insuportável.
Queria de verdade que ele fosse cuidadoso, entretanto, o fato dos toques começarem a ficar cada vez mais intensos e inconfundivelmente sexuais fazia-o se sentir cada vez menos constrangido e mais excitado. Não era tão fora da curva querer que Kyungsoo o mordesse um pouquinho mais, certo?
Contudo, um pouco alheio às fantasias desejosas que rodeavam sua cabeça, ele continuou a descer com delicadeza. As mãos tocavam primeiro sua pele, por vezes invadindo alguns centímetros do pijama para sentir o calor da epiderme eletrizada, e então ele as seguia com a boca.
Sentir Kyungsoo beijando sua barriga sempre deixou Chanyeol desesperado, mas dessa vez era por outro motivo. Quando os lábios alcançaram seu umbigo e mordiscaram o fim da barriga muito branquinha entre apertos de mão cheia na carne de suas coxas, o Park sentiu um repuxar forte no ventre. De olhos ainda fechados, ele embrenhou as mãos pela própria franja, buscando controle enquanto Kyungsoo brincando com a barra do short, escorrendo a boca pelo interior das pernas num caminho lento até lamber a curvinha entre a coxa e a bunda.
Chanyeol pressionava o colchão com os pés, mas precisou gemer outra vez quando Kyungsoo subiu gradativamente e cobriu sua ereção, salivando contra o tecido fino já molhado mesmo antes que a língua tivesse tocado a pontinha de seu pênis. Sorrindo, ele deixou o calor de sua boca passear por toda a região, descendo a língua devagarzinho até que Chanyeol abrisse ainda mais espaço, as mãos descendo num ímpeto para seu cabelo com um choramingar.
Ele balbuciou baixinho, as sobrancelhas unidas em um contentamento tímido. Chanyeol afundou o rosto no travesseiro, escondendo-se ainda que Kyungsoo tivesse que erguer a cabeça para olhá-lo, coisa que não podia fazer quando o Park o guiava cada vez mais baixo. Pouco a pouco, o tecido começava a ceder e a moldar-se às suas bandas, de forma que, ainda indiretamente, sentia a língua do Do serpentear repetidamente em sua entrada.
Nunca sentiu ali tão quente antes. A vontade era de não parar, mas sua opinião mudava facilmente, bastou que ele voltasse a lamber a extensão de seu pênis. Sem aguentar a provocação contínua e o sentimento interminável de que não bastava, Chanyeol levou as mãos para agarrar o short, e puxou de levinho, só o suficiente para descobrir um pouco da ereção, mordendo os lábios para conter o gemido quando, obedientemente, Kyungsoo escorregou a língua pela glande inchada.
“Eu tô doido para te botar inteiro na boca.”
Chanyeol quase ouviu a voz grave em seus ouvidos outra vez, convencendo-se a deixar o tecido ceder um pouco mais. Centímetro por centímetro, Kyungsoo escorregava a língua para tomar sua extensão o quanto ele permitia mostrar, até que Chanyeol pegou-se livrando o próprio membro completamente e levantando-se um pouco para avaliar a reação do namorado.
Que outra seria? Kyungsoo olhou-o com lascívia, satisfeito, abraçando as coxas agora flexionadas. Deixou que o Park guiasse o membro para dentro da boca quente e molhada com os dedos, a cabeça pendendo logo que o prazer de sentí-lo sendo acolhido entre os lábios fartos espalhou-se por seu corpo.
Eles desciam raspando por sua pele e tornavam a subir muito lentamente, enquanto Kyungsoo descobria o que o dava prazer. Chanyeol sentiu cada segundo enquanto sua mente se anuviava, o corpo cedendo contra as almofadas. Enquanto tentava processar o estímulo, sentiu-se meio torturado pela sensação quase contundente, intensa demais, mas Kyungsoo observava atentamente e repetia sempre que gemia deliciado, meio amolecido demais até para agarrá-lo pelos cabelos.
Cada vez que relembrava da vontade que ele tinha de engolí-lo daquela forma, uma pontada de prazer atravessava-o por dentro, misturando-se a sensação de afundar na boca de Kyungsoo com uma intimidade que o surpreendia. Ele gemia de levinho contra seu membro, subindo e descendo sem muita pressa, as mãos apertando-o na carne.
A sensação tornava tudo muito difícil de segurar, ainda que botasse toda sua energia nisso. O cabelo curto e macio do Do acariciava suas coxas, as mãos firmavam a base de seu pênis para que entrasse o quanto conseguisse em sua boca, os dedos invadiam sua blusa e acariciavam seu tórax antes de brincar com a sensibilidade dos mamilos. Chanyeol segurava a própria blusa por puro autocontrole, porque sequer lembrava muito da vergonha que sentia do próprio corpo.
Kyungsoo o segurou entre as mãos, deixando seu pênis resvalar em suas bochechas antes de soltá-lo uma última vez. Dessa vez, não escorreu a boca pela lateral, cobrindo suas veias como fizera antes, então Chanyeol choramingou, mas deixou que ele puxasse um pouco mais o elástico da parte de baixo do pijama enquanto espalhava beijinhos na lateral de sua bunda. Não tirou a peça completamente, acatando ao pedido, mas deixou Chanyeol segurá-la por entre as pernas, tapando-se bobamente ainda que os joelhos agora altos expusessem tudo o que nunca pensou que mostraria para alguém.
Aí então a vergonha bateu um pouco. Kyungsoo sentou-se, considerando como uma permissão o fato de Chanyeol ter passado para ele o lubrificante. Olhando-o o tempo todo, ele beijou os joelhos quase excessivamente magros, os dedos descendo por entre as bandas até encontrar a entrada. Mesmo sem pressionar muito, a pontinha do dedo escorregou lentamente para dentro, fazendo Chanyeol apertar ainda mais as mãos contra o tecido.
— Está doendo? — ele perguntou, ao que Chanyeol negou.
— Só é... estranho.
— Eu sei, mas... Me diga se achar que tem algo errado.
Chanyeol assentiu, passando alguns segundos absorto no sentido por trás daquele “eu sei”. Kyungsoo pareceu notar.
— É que eu já me dedei horrores pensando em você...
— Kyung... — com o choramingar, o namorado parou, olhando-o preocupado. O Park parecia apenas constrangido, como se não fosse algo sequer possível, mas... — é sério?
— Claro que estou... — Por fim resolvendo deitar-se mais perto, encostou o peito às costas de Chanyeol e calmamente enfiou outra vez os dedos entre as bandinhas pequenas, aproveitando que ainda escorregavam bem. Não era exatamente mais prático nessa posição, mas o Park pareceu mais confortável embalado em seu peito, de onde podia beijá-lo. Com os estalos suaves na boca rosada, acabou sendo mais fácil fazer um dedo entrar. — Tenta relaxar, Yeol. Não vou tirar suas roupas, mas abre os dedos, deixa eu te tocar enquanto faço isso, hm?
— Na verdade....
Chanyeol se interrompeu, deixando os dedos gentis do Do guiarem os seus a soltarem o tecido ao qual agarrava em defesa de toda sua pouca autoestima. Kyungsoo esperou pacientemente até que ele terminasse de falar, pois sabia que se insistisse, automaticamente, Chanyeol diria “não é nada” e desistiria.
Mas nada veio. Ao menos nenhuma palavra. Depois de alguns segundos de silêncio, Kyungsoo viu os olhos de gatinho fechando. O cabelo tão bagunçado quanto ninho de passarinho espalhou-se em seu bíceps, e ouviu o som grave e deleitoso subindo pela garganta do Park.
Não tinha conseguido arranjar uma boa posição para tocar a intimidade, mas seu dedo afundava pouquinho a pouquinho e, parando para perceber, ele mesmo já tinha as mãos embrenhadas nas roupas, circulando o pênis sem se mover. O pouquinho que seu dedo escorregava por entre as paredes que se contraíram fizeram todo o baixo ventre do Park pegar fogo.
Ainda doía, um ardor não muito agudo, mas que ao mesmo tempo era bom. Era excitante como nenhum outro estímulo já havia sido, afetando-o a ponto de querer mover-se logo e mandar o controle pelos ares enquanto se tocava. Se durasse aqueles meros cinco minutos da masturbação diária, já seria satisfação o suficiente. Mas lembrar que aquele ainda era apenas o primeiro dedo e que Kyungsoo ainda pretendia entrar com o pênis que Chanyeol ainda mal tivera a chance de tocar o fez refrear o instinto.
Segurou-se, usando a mão livre para guiar silenciosamente o Do a repetir aquele movimento, para cada vez mais intensamente tocar ali dentro. Kyungsoo enfiou os dedos livres entre os cabelos macios, tirando-os do rosto que beijava com carinho enquanto penetrava-o com mais um. As sobrancelhas finas se uniram um pouco, mas não doeu tanto. A quantidade generosa de lubrificante tornou o estímulo agradável outra vez.
Não que pudesse sentir com exatidão tudo o que acontecia, mas tocava-se com mais avidez sempre que os dedos juntos eram empurrados contra sua entrada. Por vezes, podia sentí-los deslizando em ritmos diferentes enquanto Kyungsoo dedilhava, testando as formas de fazê-lo gemer daquele jeito, como se respirar fosse uma tarefa árdua. E céus, quando ele foi brincar de tocar daquele jeito seu pescoço, levantando seu queixo em algo que se aproximou minimamente de um gesto de enforcamento...
Não que achasse que aguentaria mesmo ser enforcado, mas a mão firmando seu pescoço deixou Chanyeol com a respiração sem passo algum. As mãos perderam o jeito na masturbação enquanto rebolava nos dedos de Kyungsoo, sentindo a pele suada e escorregadia.
Chanyeol já estava quase vendo estrelas quando os dedos escorregaram para fora, deixando um rastro molhado e fresco. Kyungsoo queria colocar um terceiro dedo, e usou aquela mesma firmeza descabida de tão pecaminosa para abrir suas bandas. Dessa vez, não escondeu o rosto no braço dele por vergonha, mas sim porque estava tão excitado ...
Os lábios finos se partiram para deixar um gemido curto, porém mais audível e necessitado do que qualquer outro que já tivesse se permitido soltar. Kyungsoo sentia-se arrepiado, ver o Park perdendo as estribeiras mexia loucamente com seu ego. Era quase estímulo o suficiente para esquecer que também tinha uma ereção entre as próprias pernas, entretanto, soltou um palavrão contra o ouvido de Chanyeol quando ele enfiou a mão entre os corpos, buscando envolvê-la desajeitadamente.
Chanyeol olhou-o tímido de início, mas a sensação do membro quente pesando em sua palma dominou a cena, e seus olhos acompanharam cada expressão, sentindo um prazer indescritível em ouvir Kyungsoo soltar o ar baixinho, retesado.
Nunca tinha feito isso com ele antes, mas já tinha feito em si mesmo incontáveis vezes e repetir o que gostava pareceu surtir efeito. Kyungsoo parecia não conseguir mais se concentrar direito.
Era um pouco difícil de enfiar mais do que a pontinha dos dedos naquela posição, por mais que tanto um quanto o outro quisesse conseguir enterrá-los mais fundo. Kyungsoo empurrou o quadril em direção às mãos do Park, e Chanyeol rebolava um pouquinho, sentindo-se provocado pela pressão ainda um tanto quanto superficial. Depois de sentí-los inteiros se movendo em seu interior, o estímulo parecia simplesmente necessário.
Não, que se danassem os dedos. Kyungsoo estava com o pênis há centímetros de sua bunda, porra, o que custava enterrá-lo logo em seu corpo? Quanto mais arrastava a palma pelo membro molhado, indo e voltando pela extensão pulsante, mais sentia vontade de afastar as pernas e encaixá-lo ali. Queria sentir as veias, o calor, o calibre alargando-o e fazendo-o ceder... Hm, parecia uma boa ideia.
Ainda mais depois de derramar um pouquinho de lubrificante nos próprios dedos, masturbando Kyungsoo entre barulhinhos molhados. O Do também passou a masturbá-lo seguindo o mesmo ritmo com que Chanyeol o tocava, porém, suas mãos podiam se espalhar no vão entre as pernas do Park de forma que as dele não podiam, tocando os testículos e as coxas gostosas de apertar, assim como sua boca alcançava o pescoço alvo em chupadas cada vez menos comedidas.
Não poder tocá-lo tão livremente começava a irritar, Chanyeol também queria espalhar seu carinho por cada canto daquele corpo estonteante. Por isso os braços se encaixaram ao redor de seus ombros enquanto virava de frente para ele. Chanyeol o beijou com pressa que foi se aplacando, aproveitando a sensação dos membros se tocando por entre as coxas e joelhos. Alguns segundos depois, ele sussurrou contra a boca inchada:
— Me ajuda a tirar?
Kyungsoo acatou em silêncio assim que entendeu ao que ele se referia, e sem pressa, dividiu o foco entre distraí-lo com beijos pela pele marcada por pintinhas e retirar devagarinho a roupa fina, escorregando-a pelas coxas brancas até soltá-la em um dos pés.
Depois que fez o mesmo com a blusa, trazendo-a entre toques longos para fora o corpo alvo, o Park exalou alívio. Talvez porque Kyungsoo não o observava, mas escorregava a boca por todo lugar e as palmas por sua bunda e pelas laterais de seu corpo. Quando finalmente se encontrou nu, ele olhou para os olhos muito castanhos, parecendo gostar tanto quanto ele do toque aveludado das peles. Era uma sensação que Chanyeol não teria trocado por segurança alguma, ainda que agora se sentisse muito seguro.
A primeira coisa que fez foi buscar outra vez pelo membro do namorado, ajudando-o com a camisinha e tocando-o enquanto deixava selos sobre a clavícula marcada e o peito quente. Chanyeol circulou a cintura esguia com as pernas, brincando com pênis dele no vão entre seus glúteos, pressionando a glande contra a área sensível. Kyungsoo ajudou-o, movendo-se entre suspiros pesados. Cada vez que ele empurrava o quadril em sua direção, fazia parecer que entraria alguns centímetros, e antes mesmo do que Chanyeol esperava, bateu a coragem para ajudá-lo a entrar.
Na verdade, estava tão excitado com a língua dele chupando seu pescoço e a movimentação sugestiva que enfiou a glande inchada de uma vez, numa bagunça de vontades. A explosão de sensações foi automática, achou que gozaria no mesmo instante.
O ardor e o calor na região o fizeram encolher os pés, as mãos fechando-se nos ombros fortes junto com os dentes enquanto Kyungsoo firmava as mãos no estofado, subindo sobre o corpo Chanyeol, e deslizava os centímetros para dentro com calma; sentiu cada um deles entrar de olhos cerrados fortemente. Um suspiro deleitoso soou por entre as respirações pesadas.
Ambos tinham os rostos e pescoços avermelhados pelo rubor. O carro nunca tinha parecido tão quente, nem mesmo a brisa noturna ajudava a refrescar os corpos. Kyungsoo mirava atentamente, mas o Park não parecia estar sentindo dor. Seu rosto estava relaxado, os lábios partidos, puxando o ar lentamente. Suas mãos estavam mais leves em seus ombros, ainda que os vergões estivessem ali como lembrete do quanto pareceu aflitivo.
Kyungsoo esperaria o quanto precisasse, e não se moveu mesmo quando ele abriu os olhos que derramavam em vontades. Chanyeol estava tão bonito... Uma bagunça, mas uma bagunça bonita. Kyungsoo tocou as coxas quentes. A pele brilhava, orvalhada, avermelhada em alguns lugares por suas mãos.
— Não está doendo? — perguntou, preocupado que ficasse roxo em algum momento. Não pensou que estava botando esse tanto de força... Chanyeol negou com toda a tranquilidade do mundo. — Tá doido, você vai ficar todo roxo.
Ele o puxou com os braços ao redor dos ombros menos largos que os próprios, deixando os rostos a centímetros e as bocas resvalando levemente. Queria tanto puxá-lo para mais perto, mas sabia que doeria se o fizesse.
— Pode apertar mais — Chanyeol não estava só permitindo, como se dissesse que era escolha do Do. Era sua vontade. Puxando os lábios cheios entre seus dentes, ele soava excitado, até um pouco safado. Quem era esse Chanyeol que o namorado enterrava a sete palmos abaixo de sua pele? — Me morde com mais força. Quando você faz isso... eu fico tão excitado.
Kyungsoo se remexeu, afetado, mas lembrou do porquê de estar completamente tensionado quando uma das mãos do Park o seguraram. De início, era para que não se movesse, mas depois que sentiu aquele mínimo movimento fazendo um efeito bizarramente prazeroso em seu baixo ventre... puxou-o contra si, enterrando-o alguns milímetros mais e gemendo entredentes, um “hm” entrecortado pelo nome de Kyungsoo.
Acatando ao pedido implícito no tom necessitado, ele pressionou outra vez o membro na entrada absurdamente quente, sentindo o corpo inteiro responder. O movimento de teste era pequeno, quase sequer movia-se de verdade, mas parecia gostoso o suficiente para Chanyeol se entregar à sensação.
— Você quer que eu me mova? — Kyungsoo certificou docemente, Chanyeol assentiu com veemência, a cabeça ainda pressionada contra as almofadas. Seu aperto voltou a aumentar ao redor dos ombros do Do quando ele se afastou mais dessa vez, voltando com lentidão.
Era torturante. Ele choramingou, os dedos no quadril do Do puxavam-no para ir um pouco mais forte, talvez aquela sensação quase aflitiva não queimaria seu interior com um prazer agudo demais para aguentar, no entanto, quanto mais certeiras aquelas primeiras estocadas eram, mais próximo de gozar cedo demais Chanyeol se sentia.
Agradeceu quietamente que Kyungsoo, atento, policiou-o, segurando seu pulso antes que enfiasse a mão entre os corpos para se tocar. Ele sorriu sacana para sua pressa.
— Eu preciso, Kyung... — ele grunhiu, entredentes. Kyungsoo espaçou ainda mais os movimentos, tornando-os levemente mais fortes. Cada um daqueles trancos pareciam a gota d'água. Chanyeol chorou outra vez. — Eu vou enlouquecer...
— É para isso que eu estou aqui — cantarolou o Do, beijando-o ainda que Chanyeol estivesse puto de vontade de se masturbar. Logo ele amolecia outra vez, tocando os gominhos leves na barriga do Do quando ele ergueu o corpo, colocando-se ereto até que conseguisse ver o que estava fazendo ali entre os corpos. Olhar enquanto Chanyeol engolia seu pênis tão facilmente quase foi sua gota d'água também, então ele fechou os olhos, sem saber o porquê de ainda estar tentando soltar o ar pelo nariz.
Estava bom demais para aguentar, de certa forma entendia o que Chanyeol estava dizendo. Também se sentia meio prestes a enlouquecer. Sentir seu pênis apertado entre as paredes era uma sensação difícil de descrever, ainda mais porque sabia que aquela bundinha gostosa acolhendo-o era a de Chanyeol. Aquela que ele o pegara apertando bobamente em frente ao espelho.
Com um sorriso idiota, Kyungsoo voltou a deitar sobre o namorado, com saudades de beijá-lo. Suas mãos se enfiaram sob o corpo dele, erguendo-o um pouquinho, o suficiente para apertar as polpinhas pequenas e macias.
De alguma forma, depois que Kyungsoo passou os braços por debaixo de seus joelhos, cada vez que enterrava o membro em si parecia atingir um lado ainda mais sensível. Enterrando o rosto na curva do pescoço de Kyungsoo, sentia o estômago afundar em resposta, a pele arrepiada com as mãos dele abrindo sua bunda como se já não fosse suficiente as pernas bem abertas ao redor de seu quadril.
A coisa era que o aperto era bom. Chanyeol começava a sentir-se latejar, tentando conter um pouco a vontade absurda de gemer. Sentí-lo entrando e saindo, escorregando com uma facilidade inesperada por causa do lubrificante, passou a dominar sua mente. Não tinha nada que quisesse fazer, sequer queria mover-se ou tocar-se, só precisava sentir aquele movimento por quanto conseguisse antes de gozar, e foi o que fez.
Segurou o quanto pôde, mas logo a sensação veio com força desmedida e Chanyeol sentiu o sêmen molhar as barrigas, os dedos contraindo contra os ombros do Do. Kyungsoo apenas o segurou mais perto, unindo os corpos enquanto se arremetia mais algumas vezes, provavelmente aproveitando do aperto extra ali embaixo, Chanyeol podia sentir seus gemidos baixos e graves subindo pela garganta.
Uma hora Kyungsoo precisou afastar-se, deixando o corpo amolecido se recompor um pouco. Sua vontade de gozar era clara, os olhos escuros ainda estavam sedentos e Chanyeol se ergueu, ainda que trêmulo, decidido a resolver o problema.
Pensou que era fácil chegarem juntos ao ápice, mas aconteceu de não rolar e até que considerou aquela uma boa oportunidade para tentar outra coisa. A timidez ficou esquecida enquanto empurrava os ombros de Kyungsoo para que ele se deitasse, os olhos descendo pelo abdômen até parar no pênis que ainda recostava à barriga, duro sem ceder nem um pouquinho.
Considerando suas opções, achou melhor livrá-lo antes da camisinha, para depois deitar-se, aconchegado, e segurar firmemente o membro pela base. Podia olhar nos olhos divertidos e safados do namorado, que se fecharam um pouquinho quando seus dedos lentamente exploravam a extensão, massageando-a como antes. Chanyeol só provocou até sentir confiança, e então encostou o membro molhado de pré-gozo em sua boca.
De início, brincou com ele em seus lábios, tocando a fenda no topo quando escorregou a língua ao redor, depois desceu até os testículos, sentindo o peito aquecer quando Kyungsoo gemeu, amolecendo no estofado.
Ouvia a voz grave e controlada enquanto sugava, principalmente depois de atrever colocar um deles na boca. Sentiu uma alegria meio boba, porque sempre teve uma vontade de fazer isso, dessas que vêm em meio a noite. A coisa não era só sentir o volume inchado tomando a boca… Mas fora isso, a sensação do corpo do namorado se retesando em prazer enquanto o chupava trazia um arrepio gostoso.
Não sabia direito o que fazer com a língua, ou como evitar os dentes, mas concentrou-se em fazê-lo se sentir bem, sentindo o coração batendo forte. Quando Kyungsoo botou as mãos em seu cabelo e ajudou-o a subir e descer a cabeça várias vezes enquanto a língua esfregava em seu membro, molhando tudo e incentivando-o a tocar perigosamente a sua garganta, a preocupação de estar fazendo errado sumiu, sobreposta por um transe completamente sustentado por tesão.
Não demorou quase nada para ouvir Kyungsoo grunhir em deleite, movendo minimamente o quadril enquanto Chanyeol fechava os lábios ao redor de seu falo algumas últimas vezes, sugando até sentir o líquido derramar em sua língua, preenchendo o paladar de um gosto amargo que, para ser sincero…
— Pode cuspir, não vou te julgar. — Kyungsoo riu cansado, os braços que suportavam seu peso tremendo visivelmente. Chanyeol engoliu teimosamente, testando se era possível. — Que delícia, hein…
— Vou cuspir da próxima vez —afirmou, rouco com o amargor a vontade de tossir, o que fez Kyungsoo rir daquele jeitinho adorável, trazendo seu rosto pelas bochechas quando finalmente lidou com o engasgo. Sem hesitar, selou sua boca e deixou a língua deslizar pela sua, como que ajudando-o a se livrar do gosto ou ao menos compadecendo-se o suficiente para compartilhar a experiência.
— Desculpa — pediu ele, recostando as testas. Chanyeol negou de levinho, ocupado em mordiscar seus lábios, avaliando.
— Não é lá doce, mas me deixou satisfeito.
— Satisfeito, é? — Sorriu de lado, enquanto Chanyeol olhava apaixonadamente para as bochechas tomadas por um vermelho intenso.
— Você fica tão lindo, Kyungsoo…
O elogio repentino fez o Do calar-se, surpreso e lisonjeado.
— Eu já sinto vontade de te bagunçar tudo de novo… — confessou Chanyeol. — Isso é normal?
— Se não for, fodeu.
Ele desajeitou (ainda mais) seu cabelo, e riu de uma maneira que só fez Chanyeol ter certeza de que sua primeira vez não acabava com ele gozando em sua boca, porque atacou-a com vontade num beijo que calou o Do, chamando-o de volta para o fato de que estava ainda terrivelmente excitado.
Chanyeol nunca tinha se sentido desse jeito, tão sedento. De verdade, cinco minutos sempre foram suficientes para bater a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo a noite inteira. Mas agora podia dizer que a necessidade que tinha não era apenas carnal, Chanyeol sentia-se mexido, agitado por mais, estava gostando da experiência.
Levava em conta que não precisava ser a melhor do mundo, talvez depois descobrisse de mais um milhão de coisas que gostava mais do que aquelas que estavam fazendo ali, mas a segurança que sentia, a confiança, a sensação de que aquilo era sério e era ao mesmo tempo nada muito além de um momento entre os dois o tirou dos trilhos do comedimento.
Como no dia em seu quarto, quando puxá-lo para esfregar-se contra si tornou-se simplesmente confortável e gostoso, Chanyeol beijou seu namorado com propriedade, e nisso ele tinha um monte de experiência. Amava beijá-lo. Amava os lábios grossos moldando-se aos seus, e as mãos que agora tocavam seu corpo livre de qualquer tecido.
As pernas se ajeitaram uma de cada lado do quadril estreito. Chanyeol sentiu de novo em seu interior quando finalmente o tinha entre as coxas, uma ânsia quase insuportável. Deixou os beijos guiarem o corpo do Do outra vez para o conforto do assoalho acolchoado, e depois pediu-o ajuda com a segunda camisinha com um olhar prolongado, as respirações bagunçadas de forma até cúmplice.
Kyungsoo mordeu os lábios já maltratados, observando-o com um certo prazer enquanto Chanyeol erguia o quadril. Os dedos longos o massagearam levemente, aumentando a expectativa, e o Do buscou a cintura larguinha para ajudá-lo quando o encaixe aconteceu, descendo-o por todo o caminho.
Os dedos do Park soltaram a base lentamente, calculando cada movimento e testando para ver como se sentia. De início, quase não sentiu muita coisa, além de uma vergonha repentina e uma vontade de se esconder. Usou as mãos para tapar-se quando notou os olhos de Kyungsoo explorando outra vez, mesmo que conseguisse ver o quanto ele gostava da imagem de um Park cheio de dobrinhas, com as pernas espalhadas por suas laterais, escondendo completamente sua a ereção pulsante no interior apertado, de pele avermelhada e brilhante sob o calor intenso do carro, cabelos revoltos e lábios partidos em busca de ar.
Kyungsoo tocou sua cintura em um carinho, passando os polegares por sua pele, descendo até as coxas, onde partiram para tocar seus dedos, instigando-o a relaxar e esquecer outra vez. Chanyeol sabia que ele talvez não se importasse com o fato de que não parecia em nada um ator pornô desses que não tem um defeito que seja, mas não conseguia conter o medo de parecer meio patético.
Imagina se fizesse Kyungsoo rir com a tentativa? Chanyeol encolheu-se, fechando os olhos para tentar livrar a cabeça daquela imagem horrível, ainda que elas subissem como uma carreira de formigas em sua espinha, mas quando o risinho soprou levemente, não se sentiu mal.
As provocações do badboy e as dos valentões sempre tiveram um gosto diferente, no fim das contas.
E ele tocava sua bochecha com carinho, então isso também amenizava o ardor em seu rosto. Chanyeol assentiu com força quando Kyungsoo buscou sua camiseta em algum lugar e o ofereceu, ajudando-o a vestir-se outra vez. Ele até a ajustou em seu corpo e segurou-a no lugar, depois que tapou sua ereção. E então olhou-o, prestes a palestrar.
— Você sabe que é lindo, não sabe?
— Sei — confirmou Chanyeol, rápido demais e olhando para outro lugar.
— ‘Cê tá mentindo, meu dengo — avisou, como se não fosse já do conhecimento do Park, que gemeu em vergonha.
— Estou.
— Mas vai me deixar te convencer disso, um dia?
Chanyeol não olhou-o por algum tempo, mas notou que ele tinha arranjado uma forma de dizer tantas coisas numa frase só. Basicamente, tudo o que precisava ouvir.
Provavelmente jamais conseguiria ter dito algo assim para confortá-lo, se fosse Kyungsoo o terrivelmente inseguro do relacionamento. Porque Chanyeol podia ler nas entrelinhas que não era sobre usar ou não as roupas, mas sobre sentir-se ou não confortável.
— Você vai se entediar se eu sempre quiser fazer isso com as roupas? — Chanyeol perguntou, olhando para o peito do Do, onde seus dedos brincavam de seguir as marcas avermelhadas que sequer sabia mais as origens. Kyungsoo negou.
— Não vou, Yeollie — e tocou suas bochechas de novo, porque ficavam duplamente fofinhas quando estava preocupado. — Você só precisa me prometer que não vai achar que é porque te acho feio e quero que se esconda. Me promete isso.
— Okay, eu prometo — ele murmurou, buscando apoio na mão que Kyungsoo estendia para si. Entrelaçaram os dedos.
— Então repete tudo para eu ouvir.
Chanyeol resmungou para si mesmo, respirando fundo e olhando através do teto solar.
— Eu, Park Chanyeol, prometo… que não vou achar que você me acha uó de feio e que por isso está okay com o fato de que eu estou… vestindo as roupas que eu mesmo quis vestir porque me acho feio.
— Chanyeol… — gemeu o Do, insatisfeito.
— Okay, — ele se corrigiu — porque eu fico confortável transando com elas.
— Agora assim, amor da minha vida.
Kyungsoo encheu seus dedos de beijos, aproveitando para infiltrar a mão sob a blusa outra vez e masturbá-lo, o que pegou Chanyeol de surpresa, lançando uma pontada de prazer repentina demais para conseguir prender um gemido. As pernas se fecharam um pouquinho contra seu quadril, evidenciando o quanto ele ainda estava sensível. E apesar de querer muito comentar sobre o fato de que Chanyeol agora usava a palavra “transar” tão naturalmente, preferiu manter sua atenção nos toques.
E Chanyeol realmente deixou a conversa e todo o resto dissipar-se agora que sentia o pênis duro fazendo pressão outra vez contra seu interior e o aperto ao redor de seu membro. Apertando as mãos dadas, tentou rebolar uma vez, se deleitando ao mover-se e afundar Kyungsoo em si um pouco mais, e então um pouco menos, só para senti-lo entrar outra vez.
Moveu-se lento de início, seguiu a sensação boa que atravessava o corpo com o estímulo duplo, mas logo precisou deixar de lado a necessidade de sentir os movimentos tão certeiros quando escorregava o corpo para frente e para trás, empinando-se, para então sentir repetidamente , firmando os joelhos no estofado e descendo o quadril contra o colo do namorado.
Chanyeol olhou-o a tempo de ver Kyungsoo jogar a cabeça para trás, esmagando um pouquinho seus dedos com o prazer que atravessou-o. Soube pelo jeito como puxava sua cintura fortemente que era daquele jeito que ele gostava, assim repetiu o movimento, impulsionando-se mais confiantemente para sentí-lo afundar-se em si vezes seguidas.
Fechou os olhos, em algum momento, concentrando-se na sensação enquanto os gemidos saíam muito mais despercebidos do que aqueles que ouvia escapar daquela boca. Kyungsoo precisou soltar seu pênis para segurar outra vez sua blusa no lugar, dando-o liberdade para mover-se, assim como Chanyeol teve que soltar as mãos para alcançar o teto do carro, tentando não bater a cabeça.
Os corpos tornaram-se outra vez aquela bagunça de necessidade e excitação, e Chanyeol rebolava como sentia que devia, permitindo que os sons saíssem quando notou que a sensação parecia só se intensificar quando deixava seu corpo responder. A segunda vez sempre era um pouquinho mais demandante, então não sentia-se perto de acabar o tempo todo. Entregou-se, a mente já completamente tomada pelo tesão quando apoiou as mãos nos bancos da frente para descer o quadril de novo e de novo, deleitando-se no estalo leve das peles suadas se encontrando no caminho.
Kyungsoo segurava sua cintura sob a blusa, os dedos marcando sua carne com firmeza, já que escorregavam por causa do suor. Chanyeol se pegou perguntando a si mesmo outra vez porque diabos sentia aquele formigamento intenso quando ele o segurava daquela forma, mas ele acontecia naturalmente, fazia-o gemer sôfrego e quase perder o passo dos movimentos.
Teria cedido, as pernas trêmulas demais para continuar, não fosse o fato que Kyungsoo também jogava o quadril contra o seu, mordendo tão fortemente os próprios lábios que Chanyeol sentiu-se obrigado a passar os dedos por eles, e então para enfiá-los na boca quente e molhada e olhá-lo chupar até que sentisse necessidade de se mover de forma lenta e perfeccionista outra vez.
As reboladas que o faziam penetrar raspando em algo de fodidamente gostoso em seu interior, o olhar voluptuoso engolindo a cena de Kyungsoo lambendo seus dedos, a sensação daquela mesma boca em seu pênis alguns minutos atrás passando por sua mente até que buscasse uma das mãos dele outra vez para masturbá-lo, agora olhando-o nos olhos profundos e tão lânguidos quanto os seus.
Chanyeol sequer sabia se estava contraindo-se por querer ou não, não conseguia pensar nisso, mas o prazer que sentia em tê-lo dentro de si quando a palma quente escorregava em seu membro molhado de pré-gozo o fazia soltar gemidos baixos, graves, enquanto seu corpo se enrijeceu em alguns espasmos.
Não sabia que seria tão bom dominar a situação, mas a sensação de ver Kyungsoo fechar os olhos e gemer manhosamente, apertando o tecido de sua blusa e arremetendo-se mais algumas vezes espaçadas e firmes enquanto gozava, atropelou todas as suas expectativas, enchendo seus olhos por tempo que nem soube contar.
Assistiu-o fechar os olhos, a boca partida em busca de ar, movimentando agora muito mais lento, ainda que absurdamente necessitado. Kyungsoo penteou a franja curta para trás com o calor intenso, e Chanyeol substituiu sua mão, tocando-se quase sem perceber enquanto ele ainda pulsava em seu interior, e esperou enquanto Kyungsoo retomava o passo da respiração, observando-o com um lamber longo nos lábios e os olhos ainda derramando volúpia.
Chanyeol só precisava de mais um pouquinho. Mesmo que só mais um pouquinho de Kyungsoo olhando-o daquele jeito, fodidamente sexy e pior; satisfeito. Precisou escorregar para entre as pernas abertas do Do, sentando-se no estofado. Já sentia-se perto de liberar aquela sensação que repuxava, pedindo alívio, mas depois de ser tocado, chupado, penetrado e beijado, suas mãos pareceram tão pouco que não conseguiu não olhar manhosamente para o Do, chamando-o para ajudá-lo.
É claro que ele acatou com um sorrisinho sacana, ou Chanyeol pensaria que tinha exorcizado a safadeza toda do namorado. Mesmo meio molenga, Kyungsoo ajoelhou-se à sua frente e beijou sua boca, engolindo seus murmúrios com um prazer enorme.
— ...só um pouquinho, Soo… só até eu… — Chanyeol ouvia-se, ainda que não fizesse ideia do que estava falando enquanto Kyungsoo enfiava três de seus dedos em seu interior, sorvendo também um gemido soprado enquanto Chanyeol se tocava. Os olhos de gatinho se fecharam, a mente mergulhada na sensação de ceder completamente para os dedos do Do o abrindo outra vez, a língua deslizando contra a dele desatentamente enquanto o corpo resistia alguns últimos minutos. Bastou Kyungsoo estalar um beijo em sua boca e descer para penetrar a língua em sua entrada enquanto o masturbava rapidamente. Chanyeol firmou uma das mãos nas paredes do carro, afundando os dedos da outra no cabelo curtinho e gemendo até sentir que tinha expelido, trêmulo, a última gota de sêmen.
O corpo cedeu quase tão rapidamente que só pôde sentir a boca carnuda selar a sua e os braços de Kyungsoo o buscando para deitar, antes de respirar algumas vezes, fechando os olhos um segundo e sentir a consciência indo embora, num torpor que demorou um pouco para tomá-lo. Achou que não era possível que estivesse tão cansado, mas também acordou com uma música completamente diferente tocando no rádio e dez minutos de diferença marcando no relógio digital.
O corpo pesava uma tonelada, assim como as pálpebras que caíam mesmo que quisesse muito acordar, e a fala que saiu embolada. Seu rosto estava dormente e seus ouvidos estavam tampados. Será que tinha caído a pressão?
— Soo, a gente tá grudando… esqueci completamente que não teria uma ducha gostosa depois da história… — queixou-se em murmúrios, incomodado agora que a parte boa tinha sido subtraída da equação. Transar era bom, mas sem os estímulos, a única coisa que restou foi seu corpo melado de suor (saliva e sêmen) sobre a bagunça de cobertores.
Também estava meio doce aqui e ali, por causa dos marshmallows esmagados.
— Você achou mesmo… — Kyungsoo calou-se um segundo, usando de força comicamente sobre-humana para levantar o corpo e ir procurar algo na mochila. — Que o gostoso aqui não veio preparado??
Ele arrancou de lá uma embalagem amarela e barulhenta com bebezinhos estampados.
— Lencinho umedecido — ele anunciou, já que o Park ainda olhava bobamente. — Vai servir, não vai?
Chanyeol assentiu e sorriu com preguiça, já sentindo o sono bater sem dó. Jurou que só iria esfregar um pouquinho os olhos cansados para ver se desembaçavam, antes de levantar para tomar o tal banho de gato, mas no fim das contas…
Kyungsoo terminou de limpar-se e pegou a tarefa para si.
Poderia ter sido desconfortavelmente vergonhoso, mas depois de olhá-lo, avaliando se ele não ligava mesmo, e viu nada além de um semblante calmo enquanto passava os paninhos úmidos atenciosamente por sua barriga e por entre suas pernas, acabou deixando acontecer. Depois que descartou tudo no lixinho, puxou-o para juntar-se consigo aos travesseiros.
Se enfiaram sob os cobertores. Encolhido no peito do Do e ganhando um carinho suave nas costas nuas, acabou relaxando a ponto de sentir-se abater.
Surpreendentemente, só foi acordar no dia seguinte, quando os raios de sol invadiram as janelas e tocaram seus olhos, incomodando-o. Kyungsoo tinha a sorte de estar com o rosto afundado em seu peito, sua mania fofa quando dormiam juntos. Ele ainda ressonava muito calmamente, então deixou que dormisse mais um pouco.
Ainda era bem cedo, o horizonte estava azulado e os dois se encolhiam com o frio que fazia de manhã, ainda mais num monte e no meio do mato. Uma hora ou outra, sentindo o tremor e o bater dos dentes de Kyungsoo, Chanyeol teve que lutar contra seu sono e tirá-lo de seu colo para procurar o short do pijama na bagunça e, ainda grogue, cambalear por entre os bancos para fechar as janelas.
Olhando ao redor, se lembrou de Kyungsoo ter acordado em algum momento para desligar o rádio. Suas roupas estavam jogadas no banco da frente, como se tivesse tentado começar a organizar. Sentiu-se até meio sem graça, porque tudo o que fez foi desmaiar confortavelmente e esquecer do mundo.
Sentou e afastou o sono antes de ir terminar a faxina que Kyungsoo tinha começado. Dobrou as roupas, vestiu o moletom limpo (e terrivelmente largo, agora que tinha notado que também não trouxe cueca), juntou os doces espalhados separadamente dos intocados no saquinho e vestiu Kyungsoo em sua camiseta. Depois saiu para esticar as pernas, puxando o corpo dolorido.
Puta merda, parecia que um caminhão monstro tinha comido seu rabo a noite inteira. Isso era normal?
Enfim, não perambulou sozinho por mais de dez minutos, vasculhando a caixa de sucos. Logo Kyungsoo se sentava, o rosto parecendo o de uma gárgula cansada. Olheiras profundas circulavam os olhos e ele tentava botar ordem em seu cabelo enquanto bocejava longamente, contagiando o Park até os dois rirem um pouquinho.
Ele abriu os braços, chamando-o, e apesar de saber que era uma armadilha, Chanyeol pulou para eles outra vez e sentiu uma pontadinha de prazer em ser aprisionado no abraço pesado. Sua mente encheu de memórias. Os olhos se conectaram numa complicidade tão grande que soube na hora que Kyungsoo também estava repassando a noite passada, e que o apertava com uma nostalgia pra lá de precoce.
Mas logo o monte começaria a ser visitado pela galera fitness e os guardinhas, então...
— É melhor a gente ir — Kyungsoo reafirmou, depois de se olharem por uns minutinhos (apaixonadamente, não que Chanyeol admitisse essas coisas. Era envergonhado demais até para isso.)
— Vamos.
— Mas só para constar… — Chanyeol esperou, vendo o morder de lábios levemente sacana do Do. Já até sabia o que viria por aí. — Você tem um talento, Park…
— Kyungsoo… — o Park fingiu choramingar, tapando os lábios dele entre sorrisos idiotas. — Shh, sem elogios.
— Que sentada sensacional... — ele deu um jeito de falar entre seus dedos, lambendo-os irritantemente. Ele estava decidido a comentar e o fato do namorado estar constrangido só serviu para incentivar.
— Sh shh. — Chanyeol apenas sorriu por alguns segundos e devolveu o elogio contra a boca carnuda, num tom falsamente sério.
Kyungsoo riu entre os selos. Puta merda... Amava aquele garoto muito mais do que uma noite no fundo do fusca poderia resolver.
Mas a mente de Chanyeol às vezes fazia-se de desentendida e fingia não saber desse amor todo. Era aí que morava o problema, e Kyungsoo batia na campainha para jantar o problema no soco sempre que via que ele estava em casa. Foda que de vez em quando ele não estava disponível para defendê-lo, então, vez ou outra, Chanyeol via-se encarando o problema sozinho, com seus bracinhos de vara e suas pernas que não abriam o suficiente para dar um bom chute.
Enquanto Kyungsoo era um belo boxeador, Chanyeol era um Boxer bobo e destrambelhado.
Talvez por isso encarava a mensagem em seu celular com uma maldita dúvida.
“peraí” — Kyungsoo enviara, quatro horas atrás.
Agora Chanyeol começava a sentir algo pesando no estômago. Algo entre preocupação e constrangimento. Era meio da tarde, o Sr. Park estava no trabalho e Kyungsoo tinha dirigido para sua própria casa depois de deixar Chanyeol. Entendia que ele quisesse um banho e roupas limpas, porque foi a primeira coisa que procurou depois de fechar a porta às suas costas, mas os dois conversavam pelo telefone desde que chegaram… Até Kyungsoo sumir.
Agora cheiroso e de cabelos úmidos, sentava (com imensa dificuldade) na poltrona confortável do quarto, no escurinho, jogando algumas partidas com o Byun. Mas com os fones jogando luzes coloridas nas paredes, ele viajava de novo, de olhos fixos no “peraí”.
— Tô esperando, viu? — Baekhyun falou, na chamada de vídeo que faziam entre os dois.
— Esperando o quê? — questionou ele, vendo que o jogo já tinha começado outra vez. Seu bonequinho tomou uma porrada de levar metade do sangue embora, mas não era como se Chanyeol estivesse ligando muito para a quantidade de poções em seu inventário.
— Os detalhes — cantarolou Baekhyun, o fanfiqueiro. — Foi bom?
— Hm — Chanyeol bufou, meio risonho. — Têm hipoglós aí para me emprestar segunda-feira?
— Eita caralho! — festejou o Byun, rindo longamente. Chanyeol sorria de volta, idiota com a animação exacerbada. Seu amigo era mesmo outro safado, estava cercado deles. — Vai precisar mesmo? Eu posso roubar da minha irmã.
— Tá doido? — perguntou, quase sem se afetar com as ideias malucas do Byun. Tinha falado por brincadeira, não chegava a precisar tanto que deixaria a Byun bebê sem nada.
— Nah, minha mãe compra uma montanha todo mês. Ela passa tudo no pé, para deixar lisinho, não sei por quê. E seu pai ainda tá saindo com o farmacêutico, né? É foda comprar hipoglós quando o cara sabe que você não tem neném em casa. É quase anunciar que assou o cu de tanta rolada…
Chanyeol mutou o amigo por alguns segundos, enquanto suspirava, esfregando os olhos. A tentativa falhou em tirar a imagem ou a frase da cabeça, e quando abriu de novo os olhos, ainda via o Byun rindo sozinho e falando bobagem pela câmera, antes de notar que estava silenciado e xingá-lo bem lentamente, para que pudesse ler seus lábios.
Chanyeol aproveitou de sua morte no jogo para ir buscar um copo de refrigerante e um pacote de biscoitos. Já era o segundo hoje. Estava afogando a mágoa em doce, ainda que não quisesse admitir. Quando se atirou de novo na cadeira, o Byun tinha desistido também.
— ‘Cê tá distraído, não tá dando pra jogar desse jeito. Amigo que namora é foda — reclamava ele, quando desmutou. — E aí, os detalhes?
— Você é muito insistente... O que você faz com essas informações? — perguntou, meio borocoxô, apoiando a cabeça num dos braços. Fecharam o jogo para ficar conversando à toa, e o silêncio até pareceu confortável.
— Armazeno — ele respondeu, simplista, fazendo um gesto engraçado. — Uma hora eu sei que eu vou precisar.
— Por quê? — Chanyeol ousou dar corda, mas lembrando de uma coisa para perguntar agora que o assunto surgia, esqueceu a questão anterior. — Baek, você é virgem?
— Não, tá doido? — caçoou. — Já peguei tanta gente… se bobear, já peguei até seu namorado.
Chanyeol sentiu a garganta, o coração, o estômago e o cérebro afundarem no corpo, como se tivesse engolido uma pedra do tamanho de seu punho. Não conseguiu responder. Moveu o mouse lentamente para o x, querendo fechar a aba.
— Tô brincando. — Sorriu Baekhyun, depois fez um biquinho, como que pedindo desculpas. Chanyeol ficou imóvel, olhando-o por quase três minutos inteiros. — Aconteceu alguma coisa. Você tá muito sério.
Mesmo que Baek estivesse afirmando, Chanyeol negou, se encolhendo.
— Só não gostei da brincadeira.
— Desculpa por isso, não achei que você ia ficar mal… — Ele cutucava o teclado, de forma que Chanyeol notou no quanto estava envergonhado. — Nossa, se você ficar neurado, achando que aconteceu mesmo, eu nunca vou me perdoar. Eu tô brincando, okay? Pode ligar para o Kyungsoo e perguntar.
Chanyeol respirou fundo, sem saber se tinha esse direito de estar tão encabulado com a ideia. Não costumava ser ciumento, mas imaginar aquilo deixou-o formigando dos pés à cabeça. Talvez porque já estava se sentindo mal, Baek estava certo.
— Acredita em mim? — ele perguntou. Chanyeol assentiu, envergonhado. — Me conta o que aconteceu. Ele foi rude? Foi estranho?
Chanyeol estava quase balançando a cabeça afirmativamente com um sorriso, quando a segunda pergunta veio e notou que esse não era o sentido da questão.
— Não, foi ótimo! — Franziu o cenho, sentindo a preocupação de Baekhyun manchando sua boa experiência como um suco de uva irritante. — Não teve nada de errado.
Chanyeol procurou as palavras, querendo contar sobre todas as coisas boas que tinham acontecido. Sentia que “nada de errado” não passava nem perto da realidade do que tiveram. Tinha sido intenso, íntimo. Se sentiu confortável na maior parte do tempo, e, acima de tudo, sentiu que Kyungsoo não tinha julgado sua falta de experiência de forma alguma. Nem seu corpo. Seus dois piores medos não se concretizaram enquanto estavam no fusquinha legal, nem atrapalharam a melhor noite de sua vida até então... Era isso que queria poder passar para o Byun.
Mas suas palavras estavam meio entaladas. Chanyeol pegou-se com olhos marejados.
— Eita, Channie… Você tem que chorar perto de mim, para eu poder te abraçar. Chorar aí de longe não dá, eu fico querendo chorar junto — Baekhyun brigou, agoniado por não poder fazer nada. — Tá vendo por que eu tô preocupado?
— Eu tô chorando porque tô emotivo… — tentou explicar, limpando os olhos.
— Tá emotivo com a rolada, Chanyeol? — zoou Baekhyun, fazendo-o rir no momento em que menos achava possível. Chanyeol tomou um gole do refri, respirando fundo.
Passaram alguns segundos em silêncio. Baekhyun digitou algo para outra pessoa, enquanto Chanyeol desbloqueava o celular e contabilizava cinco horas desde o “peraí”.
— Eu tô chateado — admitiu, alguns minutos depois. Baekhyun o olhou, calado e sério, assim ele sentiu que podia continuar a falar. — O Kyungsoo sumiu.
O Byun pareceu chocado, esperando-o explicar. Chanyeol checou de novo as mensagens. O “peraí” ainda era a última delas e isso estava começando a corroê-lo.
— Mas como assim? — ele questionou finalmente, com uma seriedade que só guardava para esses momentos super sérios. Chanyeol deu de ombros, não querendo mostrar-se mais molenga e dramático do que já tinha feito.
— Nós voltamos para casa hoje lá para as sete horas, aí ele sumiu um pouco, depois mandei mensagem para ele… de boa noite — admitiu, sentindo as bochechas esquentarem. — Nós conversamos um pouquinho, eu fiquei meio carente por causa de tudo. Até meio chiclete, para ser sincero, talvez tenha sido irritante.
— Lá vem você se xingando — Baekhyun avisou, apontando o dedo para a webcam. — Se falar assim do meu amigo vai rolar porrada, hein.
Chanyeol riu um pouquinho, frouxamente, enquanto levava a mão para a nuca. Os óculos de grau quase caíam do rosto.
— Aí fiquei conversando com ele. Perguntei se ele tinha mesmo gostado… — Pelo tom que usou e a forma como olhava para baixo, o Byun notou que ele se arrependera de perguntar aquilo. — Ele disse que da próxima vez ele quem vai sentar no meu pau até desmaiar e depois me fazer essa pergunta.
Chanyeol tapou a boca de repente, só então notando que tinha dado os tais sórdidos detalhes.
— Você desmaiou? — perguntou Byun, pausadamente, descrente, o corpo curvando em direção da câmera. Chanyeol agitou as mãos na frente do rosto, negando.
— Esquece isso — gaguejou.
— Nunca vou esquecer do dia que você desmaiou de tanto sentar, isso é impossível.
— Eu não desmaiei, eu tirei um cochilo.
— Depois levantou de novo para outra rodada? — Os olhos do Byun brilhavam de curiosidade.
— Olha para minha cara, Baekhyun. Eu não aguento três vezes, eu não aguento nem duas vezes, imagina três.
— Hehe, eu amo como você vai caindo na minha lábia e me dizendo tudo — riu o Byun, fazendo o Park esfregar o rosto de novo, estressado agora que notara que dera ainda mais corda para ele falar até babar. — Prossiga.
— Chega de detalhes! Eu disse mais algumas coisas… — que não tinha imaginado que seria tão bom e que o amava, ele completou mentalmente. — Perguntei para ele quando ele queria sair, porque eu queria ver ele de novo.
Estava com saudades antecipadas.
— Já começou a rotina alucinada, então? Pimbada noite e dia e por aí vai. — Chanyeol quase ignorou a pergunta, principalmente por notar que Baekhyun estava perguntando sério, mas quis se defender, e protestou:
— Eu chamei ele para sair e comer alguma coisa em algum lugar!
— “Comer alguma coisa”, ele pode muito bem ter interpretado que…
— Eu citei opções, Baek: pizza, um lanche perto da casa do Minseok… — interrompeu, estressado.
— Okay, parei, Yeol, não me muta — Baek implorou, com um biquinho. — Não vou mais falar da sua vida sexual a menos que você me incentive, pode ser? E aí?
— E aí nada… Ele mandou um “peraí” e sumiu.
Chanyeol deu de ombros algumas vezes, tomando um gole do refri para disfarçar os olhos que marejaram de novo. O grande problema não era a palavra em si, era que Chanyeol começava a tentar encaixar as peças sozinho, sem ter todo o contexto...
— E se o peraí não quer dizer “espera aí”, mas “me poupe”? — ele perguntou, encolhendo os pés para cima da cadeira enquanto se escondia atrás da caneca. Baekhyun ainda tentava ruminar a ideia, testando se era possível que aquilo fizesse sentido. — Talvez ele achou idiota da minha parte querer ver ele sendo que a gente passou a noite junto?
— Isso já aconteceu antes? — Baekhyun franziu o cenho, duvidando que tivesse acontecido. Chanyeol não soube responder, mas achava que não. Kyungsoo era atencioso, não costumava responder mal nem quando era idiota. — Lê para mim o que você mandou antes.
Chanyeol pegou o celular, lendo:
— Quer sair amanhã para pegar uma pizza ou ir naquele lugar que você falou antes? Eu quero te ver, é estranho ficar longe de você agora. Não me zoa, por favor.
Baekhyun fez o favor de engolir a frase e passar um zíper na boca, segurando o riso, porque Chanyeol esfregava o rosto já vermelho de novo. Enquanto isso, montava a possibilidade na cabeça. Quais as chances de Kyungsoo simplesmente mandar um “peraí”, sem dizer mais nada, porque achou a ideia idiota?
— Ele não aproveitaria a chance para te provocar, ou alguma coisa assim? Eu quase consigo ouvir ele dizendo “Já tá com saudade, meu cão?” — imitou o Byun, tentando, em vão, fazê-lo rir. — Acho que ele não quis dizer isso que você tá pensando. Não tem por que, ele te ama.
Chanyeol retesou. Baekhyun tinha tocado logo na ferida.
Esse era um sentimento muito difícil de admitir para si mesmo, mas Chanyeol estava passando por uma onda de insegurança repentina que o fazia questionar tudo. De repente, pareceu tudo muito irreal, as coisas não eram mais tão sólidas e os problemas viraram gigantes prestes a pisoteá-lo.
Por isso viu-se despedindo com pressa do Byun, para se jogar de cara no travesseiro e sufocar a vontade de soluçar aos prantos. Pegou o celular, olhou, digitou, apagou e devolveu para debaixo das cobertas mil vezes, desistindo todas elas de mandar outra mensagem ou de ligar para o Do, com medo de incomodá-lo mais do que já achava que tinha feito.
A angústia o afogou por tempo incalculável. A tarde caía solitária enquanto remoía a questão, com medo de que tudo o que passava por sua mente se provar verdade quando o encontrasse, na segunda-feira, ou quando ele finalmente mandasse uma mensagem. Evitou pensar naquilo o quanto pôde, mas e se Kyungsoo estivesse o achando patético? Se tivesse se cansado do quanto era cheio de frescura?
Sabia que amá-lo não era muito fácil, Chanyeol conhecia o quanto era uma pessoa difícil de lidar. Era grudento e emocionalmente instável, era dependente e carente, era estranho, não sabia conversar direito, feio e avoado. Tinha vezes que demorava dois dias para notar que o Do o mandara mensagem, porque ficava absorto jogando. Deus, sequer podia julgá-lo, ele tinha toda razão do mundo para ter se cansado.
Mas a razão por trás de Chanyeol sentir as lágrimas acumulando nos cantos dos olhos e rolando infinitamente, criando marcas largas no travesseiro, não era relembrar essas razões antigas pelas quais sempre sofria. Sempre morreu de medo da hora que Kyungsoo, repentinamente, diria que não o aguentava mais. No entanto, agora tinha uma preocupação nova que o tirou o sossego o dia inteiro.
E se tivesse entendido tudo errado? Repassou todas as coisas em sua mente, cada expressão de Kyungsoo, cada vez que o ouviu gemer, cada vez que o tocou. E se tivesse feito algo que ele não gostou? Algo que foi ruim? Algo que era constrangedor? E se foi chato, repetitivo, se ele realmente já tinha transado com gente muito mais interessante?
Chanyeol se encolheu na cama, sentindo o estômago afundar enquanto imaginava como deveria ser aquilo. Lembrar-se de ex-ficantes e, em comparação com seu namorado… sentir que eles tinham sido tão melhores. É lógico que Kyungsoo não iria querer ficar consigo quando notasse que não tinha graça nenhuma, sabia disso, mas imaginou que talvez conseguisse satisfazê-lo pelo menos o bastante para não ser deixado.
Seu coração doeu quando leu de novo as mensagens e imaginou que ele o achou imbecil por querer vê-lo e por estar carente. Talvez não devesse ser tão grudento, né? Ninguém gostava disso...
Passou seis meses com Kyungsoo. Seis meses de um namoro que achou que nunca aconteceria, mas que aconteceu rápido, invadiu sua vida, conheceu seu pai, conquistou sua vizinhança, firmou combinados, descobriu gostos e jeitos… Kyungsoo tinha o ganhado muito rápido com seus beijos de tirar o fôlego, os lábios que cobriam os seus, quentes, ternos. As mãos o fizeram se entregar num instante também. O jeitinho que ele tinha de acalmar todas as suas neuras...
E se…
E se Kyungsoo fosse assim com qualquer um? Se ele beijasse qualquer um daquele jeito? Se ele pudesse acalmar qualquer um com aquele jeito manso e engraçadinho? Talvez não fosse especial de forma alguma, fosse apenas fácil. E se ele só o quisesse para sexo e agora o interesse tinha morrido? Se nunca mais brincasse consigo daquele jeito, mandando piadas idiotas uma atrás da outras, o chamando de dengo, de fofo, de Yeol…
E se nunca mais o olhasse daquele jeito que fazia tudo em si quase parar no teto de tão forte que era a sensação de estar flutuando? E se nunca mais o pegasse pelo queixo e derramasse uma centena de selos na boca? E se nunca mais o pegasse no colo e o esmagasse contra si como se fosse seu travesseiro favorito? Ou nunca mais tentasse reconquistá-lo, impressioná-lo…
E se Kyungsoo não o quisesse mais para a vida, se achasse que sua utilidade tinha acabado?
Mas isso implicava que Kyungsoo fosse um enganador, e isso Chanyeol não aceitou cogitar, se estapeando até obrigar-se a retirar todas essas coisas horríveis da cabeça. Céus, ele não era isso. Não era. Ele era idiota mesmo, e doido, e o tratava melhor do que qualquer outra pessoa no mundo, não tinha nada de errado nisso. A personalidade dele era linda, não era um defeito. Era o que o fazia ser uma pessoa especial e única, aquele por quem se apaixonou bobamente e tão forte que até hoje ainda sentia o coração dar solavancos.
Sobrava então a explicação de que era uma decepção ambulante, por isso botou os fones e deixou So Sad So Sexy tocar em loop enquanto perambulava no escuro pela casa, vendo a chuva lá fora, organizando as compras que seu pai trouxe do mercado, enfiando secretamente a colher no pote de sorvete, tomando o banho de banheira mais longo e triste de sua vida na suíte do Sr. Park…
É claro que nada o consolava da sensação de que tinha acabado com seu namoro e sem nem saber ao certo como. Até que cansou de sentir aquele medo horrível surrando o coração, já era noite outra vez e já preparava quietamente o jantar. Queria dar tempo para o “peraí” de Kyungsoo, vendo se ele voltava, mas nove horas esperando era o bastante para mandar outra mensagem, não era?
Testou de tudo, apagando e escrevendo e quase queimando por completo o frango que fritava na grelha. O cheiro acabou atraindo o Sr. Park, que o olhou preocupado, ajudando-o a salvar o jantar às pressas antes de notar na conversa aberta em seu celular sobre a bancada e ler sem nem titubear se devia ou não, se seria uma experiência traumática ou não.
— Da próxima vez, eu quem vou sentar no seu pau até desmaiar, e depois te fazer essa questão — ele leu em voz alta, fazendo Chanyeol voltar gritando da varanda onde tinha ido botar a grelha esfumaçada e, ainda gritando em constrangimento e frustração, arrancar o telefone de suas mãos.
Se olharam da forma mais bizarra de suas vidas. Chanyeol estava vermelho dos pés à cabeça, tanto que sentia que passaria mal. Seu sangue pulsava pelo corpo todo, mas principalmente nas orelhas. Seu couro cabeludo pinicava. Seus olhos estavam fixos no rosto do Sr. Changsu, mesmo que o que mais queria fosse gritar para ele nunca mais olhar em seu rosto e bater a porta do quarto.
Mas o Sr. Changsu olhava para Chanyeol de um jeito diferente. Meio inabalado, ao mesmo tempo que obviamente surpreso de pegar esse tipo de mensagem no celular do filho. Enquanto o garoto da sua altura se encolhia com o celular ao peito, ele se recostava na bancada, olhando fixamente, como se buscasse alguma coisa para dizer ou esperasse que ele mesmo dissesse algo.
— Foi boa a noite passada? — ele perguntou, coçando a orelha. Chanyeol sentiu todas aquelas coisas de novo, o calor, o coração bombeando quase ao ponto de dar cãibra, o formigamento na nuca. Não respondeu, com medo de ser uma cilada e ir de castigo caso confirmasse. Changsu respirou fundo. — Se cuidou, né, Chanyeol?
— É lógico — gaguejou — posso ir?
— Ainda não. — Ele não estava tentando dar uma bronca, no entanto, já era um castigo ter que conversar sobre aquilo, Chanyeol estava prestes a ter um desmaio (e não um com as mesmas boas circunstâncias, Changsu presumiu). Mas precisava tirar algumas dúvidas de seu coração de pai. Mesmo que o desse liberdade, não queria dizer que o deixaria sem sua proteção. — Cadê o Kyungsoo?
— Em casa. — O garoto deu de ombros e franziu o cenho, sem entender.
— E você?
— Tô… aqui. — Sr. Changsu deu um tapinha na cabeça oca do Park, rindo. Ele era idiota igualzinho um certo alguém… Felizmente, a lerdeza não tinha sido puxada de sua parte do material genético.
— Tô perguntando como você está. Foi sua primeira vez? — Em resposta à pergunta feita em tom tranquilo, Chanyeol apenas assentiu, confirmando.
— Foi legal. Eu tô bem. — Resumiu, ainda que costumasse falar bem mais do que aquilo com o pai. Não conseguia sequer cogitar falar mais que isso sobre o assunto. Mas imaginar que Kyungsoo provavelmente estaria tagarelando sobre todos os detalhes com sua mãe o fez sorrir, tão automaticamente que sequer notou.
— Tá mesmo? Tá sorrindo agora, mas antes você estava desanimado.
Chanyeol quase respondeu que era simplesmente cansaço, mas primeiro que não mentia para o pai sob nenhuma circunstância, e depois que seria estranho, dado o conteúdo da mensagem que ele acabara de ler.
— Eu não te encheria o saco sobre a mensagem, se você não estivesse igual um fantasma por aí, andando com o fone de ouvido. Então, se tiver alguma coisa errada, me conta. Não vou te deixar sozinho se estiver com algum problema. Mesmo que você não queira que eu faça nada a respeito, me diga — ele reafirmou, dando algumas batidinhas no braço do filho. Chanyeol cedeu à vontade de abraçá-lo por um minutinho, aceitando o conforto ainda que não quisesse contá-lo absolutamente nenhum detalhe.
Nem da noite que teve com o namorado, nem da preocupação enorme que sentia.
Até porque, ainda que uma grande parte de si estivesse convencida de que uma catástrofe estava acontecendo, outra parte, diminuta, lutava bravamente em razão de seu lado lógico. E dizia que talvez estivesse tudo bem.
Assim não quis jogar Kyungsoo aos lobos, dando-o a chance de ter um crédito mesmo que o Sr. Changsu já desconfiasse que ele era a razão de seu pra-baixismo. Deixou a cozinha depois, feliz por fugir da situação desconfortável, e ainda na sala, se deparou com o celular piscando.
Na tela de chamada, brilhava o nome do Do com um monte de corações, macacos e berinjelas (ele mesmo quem tinha registrado seu número no celular do Park). O coração acelerou quase até dar largada e correr sozinho para a varandinha da frente quando atendeu, fechando a porta às suas costas para ter privacidade.
— Soo? — ele chamou, ouvindo uma movimentação estranha do outro lado. O namorado estava... ofegante? — Alô?
— Oi — a voz do namorado foi e voltou, como se ele tivesse afastado o telefone da orelha. Ouviu de longe um choramingar baixo. — Yeol… minha mãe não tá em casa. Vem aqui?
— É o que? — balbuciou, sentindo o coração apertar. Bufou, era pior do que pensava, então. Kyungsoo só o via de maneira sexual agora? Ignorou tudo o que dissera, sumira a tarde inteira depois do que fizeram, e agora “Minha Mãe Não Está Em Casa”?
Chanyeol estava pronto para chorar muito enquanto o mandava para todo lugar feio que viesse à mente, no entanto, ouviu um estrondo do outro lado, seguido de um “tss” e um “PLAFT!”, e então o Do gritando agudamente.
— CHANYEOL, VEM CÁ PELO AMOR DE DEUS — se ele estava clamando aos céus, só uma coisa podia explicar. — ESSA PRAGA VOA!?
Chanyeol ouviu mais um “tssss” longo e outra série de gritos, porque, aparentemente, Kyungsoo estava se jogando para cima dos móveis para fugir do que quer que voasse. Provavelmente uma barata.
— ANDA LOGO, CACETE! ELA VAI VOAR NO MEU CABELO, CHANYEOL… — chorando com toda a manha que existia no mundo, Kyungsoo implorou de forma ininteligível pelo telefone enquanto Chanyeol se dobrava de rir na varanda de casa, tão alto que a vizinha viera espiar pela janela. — Nossa, vai se foder, se fosse — plaft — você — plaft — nessa situação…
— Eu tô indo, eu tô indo… — Pegando ar, Chanyeol tornou a abrir a porta da frente. — Sai e me espera do lado de fora, tô calçando o tênis. PAI, TÔ INDO NO SOO-SOO E JÁ VOLTO!
Queria poder dizer que chegou como um herói botando moral naquela barata, mas por mais que Kyungsoo tivesse pulado em seu colo e o forçado a carregá-lo para longe do banheiro, onde ficara encurralado pelo animal selvagem, passaram quase trinta minutos lutando numa gritaria incansável, pulando de móvel em móvel, abaixando quando a barata dava rasantes. Ela aparentemente tinha um objetivo, e estava pronta para liquidar quem entrasse em seu caminho.
Levou muito spray anti-insetos e vassouradas até que ela tivesse finalmente rendido, branca e de costas no chão da sala revirada. Chanyeol observava para ver se ela ainda não tentaria bater as asas outra vez, enquanto, ofegante, Kyungsoo se escondia atrás da porta do quarto, pronto para fechar caso ela resolvesse que não era ainda seu último golpe.
As patinhas ainda se moviam insistentemente, mas parecia apenas o tal do espasmo residual, algo sobre neurônios, Baekhyun que era bom nessas coisas. Chanyeol levantou o corpo dolorido, estalando o pescoço e respirando fundo. Os dois estavam tão tensos que até ficaram calados um pouco, se olhando com suor na testa, no bigode, nas pálpebras… Kyungsoo tão branco que Chanyeol se questionou se não tinha jogado veneno nele também.
— Não sabia que você era dedetizador — ele caçoou, aproximando-se sem forças para arranjar algo melhor para dizer.
— Não sabia que eu era caça-fantasma também… — alfinetou o Park, sentindo-se o auge do bobo quando, molenga, Kyungsoo se aproximou para abraçá-lo e, boiola, abraçou-o de volta, deixando-o botar a testa em seu ombro e confortando-o com um carinho nas costas até que ele o olhasse confuso, ainda de fôlego desregulado.
— Caça-fantasma?
— Ué você sumiu o dia todo — elucidou, dando de ombros como se não tivesse chorado bicas por causa daquela questão. Kyungsoo riu de levinho, encostando de novo em si.
— Fui coçar o olho e dormi — explicou ele, completamente alheio ao quanto Chanyeol viveu um inferno naquela tarde e ao quanto se achava um completo idiota dramático fazedor de tempestade em copo d’agua agora. — Você me quebrou, Channie... Dormi que nem pedra o dia inteiro e acordei com essa diaba andando na parede, pronta para voar na minha cara. Você não quer varrer a barata para mim?
— Não quero.
Chanyeol cruzou os braços, com raiva de repente. Kyungsoo mordeu os próprios lábios, indo encarar o problema, e enquanto o assistia varrê-la quase sem olhar, notou em como nada mais fazia qualquer sentido.
A primeira pessoa que Kyungsoo chamava para vir matar suas baratas era Chanyeol. E ele dormia inocentemente durante a tarde, enquanto o Park surtava achando que ele estava cansado de si.
No fim da história, estava mesmo cansado por sua culpa, não que isso fosse exatamente ruim . Chanyeol sentiu um arrepiozinho vaidoso, pensando que provavelmente fizera até certinho na noite passada. Se tivesse, talvez, ligado… Às vezes uma única mensagem resolveria aquele mal entendido todo.
Era um mal entendido, não era? Baekhyun estava certo, ele o amava, nunca teria mandado uma mensagem daquelas para caçoar dos seus sentimentos…
Tanto que a primeira coisa que fez quando varreu para longe a sujeira e ajeitou a sala, agora com sua ajuda, foi puxá-lo para ajudar com o jantar. Que tipo de ficante conquistador sem maiores interesses depois de sexo chamava a vítima para temperar a sopa de costela?
Enfim, passaram ali um tempinho retomando o fôlego, conversando amenidades enquanto preparavam o jantar, coisa que o fez sentir estranhamente normal. Kyungsoo perguntava sobre os trabalhos do semestre e sobre o que ele planejava para a amostra de cursos da universidade local. Só não pôde responder porque a sra. Gyuha apareceu de supetão depois de entregar um carro que consertara naquela tarde, dando-lhe um tapão mais que amoroso na nuca e um susto, tudo de graça.
Também bagunçou completamente seu cabelo, o pegou num mata-leão e o perguntou como tinha sido a noite, se Kyungsoo era bom mesmo ou se só tinha pose. Chanyeol presumiu que ela soubesse, então vermelho como um pimentão, deu de ombros e assistiu a reação inesperada: sra. Do arregalou os olhos grandes, passando-os de um para o outro, depois falou que estava brincando e que não sabia que os dois tinham feito, esgueirando-se encabulada para o próprio quarto.
— Você delatou... — Kyungsoo soou abismado, chegando mais perto. Chanyeol tapou o rosto, assentindo enquanto gemia de vergonha.
— Já foi a terceira pessoa que eu contei hoje.
Kyungsoo estalou a língua e balançou a cabeça negativamente.
— Não tem jeito, amor… Tá estampado na sua cara. Você deve ter gostado, então.
Kyungsoo riu sacana, dando puxadinhas amigáveis em suas orelhas depois de um beijinho quente demais na testa. Chanyeol concordou, já que já vinha se abrindo para todo mundo, mesmo. Como não ia se abrir logo para Kyungsoo todo fofo num avental?
E o namorado sorria, satisfeito, porém nada presunçoso. Parecia feliz, mas ao mesmo tempo… Também parecia que nada ia mudar. Chanyeol não conseguia descrever de quantas formas isso o acalmava, mas seu peito descomprimiu como se tivesse finalmente encontrado algum ar. Não precisou nem mesmo arranjar algo para dizer naquela montanha-russa de emoções, porque Kyungsoo encostou-se nas bancadas e o admirou por um tempinho, confessando:
— Eu também gostei, Yeol… Aliás, tô com saudade de você. Vêm cá?
Chanyeol quase negou, birrento por causa do dia que tinha passado choramingando no quarto, mas se pegou cambaleando até o colo do Do, acolhendo a cabeça dele em seu peito num aperto cheio de dengo, a cintura bem presa nas mãos dele, do jeitinho que gostava. Só se separaram porque notaram o molho pingando da concha nas mãos de Kyungsoo.
— Opa — ele disse, limpando a bagunça antes que a fera da sra. Do voltasse para a cozinha. Não que Chanyeol achasse que ela voltaria tão cedo, depois da informação repentina…
— Desculpa ter contado para sua mãe — ele sussurrou, pertinho, vendo Kyungsoo abanar a mão para que não desse muita importância à questão. Depois deu a ele um pouco do caldo para provar.
— Talvez seja bom que ela saiba, aí não vai ficar questionando, nem vamos precisar ficar fugindo para ela não descobrir… — sussurrou de volta. Chanyeol quis beijá-lo, mas estava concentrado em entender o que diabos havia de errado com o molho. De qualquer forma, era impressionante que Kyungsoo sempre conseguia acalmá-lo. Logo o cara que mais o tirava do sério ano passado.
— É bom que eles saibam, — corrigiu Chanyeol, de última hora — porque meu pai também sabe, agora... E o Baekkie. Aliás, vocês já dormiram juntos? Você e o Baek?
— Hã? — Kyungsoo franziu quase a cara toda, não se sabe se por causa da pergunta ou da comida. — Que nojo, Chanyeol… Ele é filho da minha professora de inglês. E já namorou meu irmão e meu amigo. Ele não me encanta em nada.
— Esses são seus critérios? — Falhando em segurar o riso, Chanyeol ajudou-o a temperar de novo aquela gororoba difícil de tragar. Por mais que antes tivesse quase sentido a alma deixar o corpo com a simples imagem hipotética de uma relação entre o melhor amigo e o namorado, agora nada parecia afetar seu humor. Estava tranquilo. Isso era quase mais gostoso do que estar alegre, ainda que Chanyeol não soubesse explicar o porquê. — Então é isso que você vê em mim… Não namorei pessoas próximas, meu pai não é professor…
— Você me encanta, meu príncipe… — cantou Kyungsoo, com um sorrisinho de lado. Depois parou e ponderou um pouquinho. — Você tem olhos lindos também.
Soou como uma brincadeira, mesmo que Kyungsoo tivesse buscado seus olhos para o olhar longamente. Chanyeol negou com a cabeça, sem dar muito crédito, mas notou que ele estava falando a verdade quando Kyungsoo puxou seu rosto com as mãos grudentas.
— Tô falando a verdade — Kyungsoo protestou, ainda naquele tom baixo. Chanyeol assentiu, disposto a aceitar como verdade, de forma que Kyungsoo relaxou finalmente. Como se tivesse trabalhado árduo por muito tempo antes de finalmente conseguir o que queria.
Ele sorriu, deixando o assunto suspenso por enquanto. No meio tempo, Chanyeol respondeu a mensagens manhosas de Baekhyun (que perguntava entre milhões de corações se Chanyeol ainda o amava), mas é claro que não terminaria a amizade por causa de uma piada mal pensada, então foi o quão atencioso podia em meio a colheradas cada vez menos ruins de sopa de costela.
Mas depois de terminarem, Kyungsoo pediu que esperasse, vestiu a jaqueta de couro, passou um gel no cabelo, espirrou perfume nos dois (Chanyeol questionou o porquê do embelezamento todo, mas Kyungsoo apenas odiava sair descaracterizado. Ser um badboy tomava tempo e esforço, segundo ele.) E então puxou-o, entrelaçando os dedos, até o carro.
Chanyeol ocupou o passageiro, como sempre. Não questionou, apenas queria saber qual a grande surpresa, fosse ela um milkshake ou um uma primeira ida a um motel (pegou-se vergonhosamente gostando da ideia). Mas Kyungsoo apenas passou o cinto e ficou olhando-o, por uma dúzia de segundos, depois de ligar o rádio.
— O quê? — questionou Chanyeol, sem achar o problema.
— O cinto — relembrou Kyungsoo, surpreendendo-o que não tivesse vindo puxar ele mesmo com aquela atitude sexy. Chanyeol puxou-o, os olhos captando algo estranho. Não lembrava que o cinto era vermelho.
Olhou para o Do. Outra informação estranha. Letras?
K-Y-U-N-G…
Olhou para seu cinto.
C-H-A…
— Mentira.
Virou o cinto, contorcendo-se até conseguir ler seu nome completo. Sentiu-se um camaleão, pois quando viu-se pelos retrovisores, seu rosto tinha exatamente a mesma cor do painel. Vermelho vivo.
— Gostou? — Kyungsoo perguntou, como se já soubesse muito bem a resposta. Pousava o cotovelo na janela e deitava a cabeça na mão, observando-o como se pudesse ficar ali por horas. E Chanyeol tinha os lábios numa linha retinha, comprimidos para segurar algumas lágrimas bobas. — Tá chorando?
Ele teve que sair da pose para puxar seu queixo, ainda que Chanyeol tivesse virado o rosto para limpar.
— Que doideira, se eu soubesse que você gostava tanto de um cinto… Teria mandado fazer antes. Não precisava do resto do carro, você só queria o cinto? — Chanyeol iniciou os soquinhos e empurrões que trocaram nos próximos dois minutos antes de acabarem se beijando em meio a risos incontidos. Sempre assim, era impossível…
Meu deus, Kyungsoo tinha umas ideias por vezes malucas, mas…
— Vai me explicar o chororô ou terei que te entrevistar? — Por vezes, Kyungsoo tinha que ir chutando até acertar o porquê de Chanyeol estar mortificado de tristeza, então estavam se acostumando a lidar com seus acessos. Mas dessa vez Chanyeol negou, limpando a garganta. Sentia-se pronto para abrir-se.
— Você me mostrou isso em boa hora — explicou, enquanto Kyungsoo por fim ligava o carro e o manobrava pelas ruas úmidas de forma decidida dessa vez, ainda que Chanyeol não soubesse para onde estavam indo. — Pode parecer idiota… Mas às vezes você faz umas coisas que provam genuinamente que eu estou errado.
— Sobre o quê, amor? — incentivou ele, olhando-o sempre que podia, assim Chanyeol saberia que ele prestava muita atenção ao que estava dizendo.
— Hoje, quando não me respondeu, fiquei com medo de não me querer mais.
— Hoje, o Chanyeol doido ganhou voz — Kyungsoo concluiu, brincando. Chanyeol ria quando concordou, sentindo uma alegria boba dominando seu peito. Suas mãos ainda não haviam soltado do cinto de segurança.
— É… Achei que eu tivesse decepcionado você. Ou que tivesse perdido o interesse em mim. — Recebeu um olhar de soslaio do Do que só pode interpretar como um “tá vendo, essa é a razão pela qual eu insisti em te elogiar no final das contas.” Imaginou o desastre que suas emoções teriam causado se Kyungsoo não tivesse dito nada. — Mas aí você me gritou pelo telefone para matar uma barata e me deu um cinto com meu nome… Na verdade, não é exatamente o cinto. É o fato de que você basicamente botou uma plaquinha VIP com meu nome no seu banco do passageiro…
Chanyeol notou que haviam parado numa ruazinha pacata, mas isso não importou mais que o olhar tranquilo de Kyungsoo, fixado em seu rosto com uma atenção que derramava dos olhos escuros.
Era de sentimentos que estava tratando. De segurança. E ele sabia disso, por essa razão tocou seu queixo, trazendo-o para selar sua boca algumas vezes mais, até que esquecessem que precisavam abrir os olhos de novo. Chanyeol, ao menos, não lembrou. Deitou o rosto no ombro de Kyungsoo e se perdeu no cheirinho amadeirado por um tempo mais longo do que talvez devesse.
— Queria dormir aqui. Todo dia. — Chanyeol revelou, sentindo o estômago frio com o receio de estar sendo grudento demais de novo. A faculdade, o fim do semestre, tudo voltou à mente como um flash rápido e cortante, e seus olhos abriram outra vez, preocupados.
— Um dia você vai — prometeu o Do. Diferentemente de quando parecia falar só por falar, dessa vez, ele tinha segurança no que estava dizendo. — Aliás… A gente conversou um tanto sobre o futuro nas últimas semanas. Fiquei meio estranho de pensar em não te ver todo dia… Então fiquei planejando o que fazer também.
Chanyeol olhou-o, tirando a cabeça de seu ombro para poder ver bem seu rosto, tal como se pudesse tirar todas as suas apressadas respostas dali.
— Você está pensando em fazer faculdade?
— Eita, não pisa no meu ego desse jeito, não, meu cheiro… — ele reclamou, manhoso. Chanyeol recuou imediatamente, de forma que Kyungsoo nem precisou que vocalizasse o pedido de desculpas. — Não… Mas vou trabalhar de forma integral com minha mãe. Nós vamos juntar as economias para conseguir atender mais, ela vai me ensinar tudo o que sabe e eu vou tentar investir aqui.
Ele apontou para frente, e Chanyeol seguiu, sem saber para onde olhar. Tinha sido um gesto tão rápido e tímido que mal pudera acompanhá-lo antes de Kyungsoo estar coçando as próprias orelhas, o rosto adoravelmente corado.
Via à frente várias fachadas, algumas casas, outros prédios, algumas lojinhas de bairro…
— Qual, Soo?
Ele apontou de novo, para um lugar bem estreito. Uma casa alta de tijolinhos vermelhos, tipicamente coreana. Uma escada levava ao patamar, onde plantas grandes escondiam a porta de entrada. A janela da frente tinha grades em branco, o telhado era recém-pintado de verde. De todo modo, era uma casa que combinava tanto com ele que Chanyeol sentiu que poderia ter adivinhado sozinho se tivesse tentado mais.
— Tem um porão, eu posso abrir uma porta e fazer uma lojinha de peças. Ou alugar uma da região. Você entendeu…
Era raro vê-lo tão fofamente tímido, como se aqueles planos fossem sonhar alto demais. Chanyeol sabia melhor que qualquer pessoa no mundo o quanto Kyungsoo era determinado. Quando queria uma coisa, esforçava-se com tanta naturalidade que fazia parecer fácil. Tudo era assim para ele. Pegar e fazer. Encheu-se de um orgulho sem tamanho por estar ali, no banco do Chanyeol, sendo a segunda pessoa a quem ele confiava seu plano.
Abraçá-lo de supetão e esfregar as bochechas nos cabelos agora espetados foi simplesmente inevitável, e sentir o risinho alegre de Kyungsoo em seu pescoço quando se abraçaram direito quase derreteu Chanyeol por inteiro, tamanho o calor em seu peito.
— Vou te ajudar com tudo o que puder para fazer isso dar certo, Soo. É mesmo o que você quer?
Kyungsoo afastou o rosto para assentir olhando-o nos olhos, e sorver cada segundo do sorriso largo e cheio de dentes muito quadradinhos de Chanyeol. Assentiu com confiança alargada.
— Então vai vir comigo?
Chanyeol estancou, confuso com a frase.
— Vai vir morar comigo? — repetiu Kyungsoo, pigarreando. A voz parecia presa em sua garganta, como no dia em que ele o parou no monte e o segurou pelos braços, pedindo, por favor, que o deixasse aproximar-se um pouquinho. Eu gosto de você soou outra vez nos ouvidos do Park, que respirou fundo para conter aquele chororô sem nexo. (Chorar seis vezes num dia, vê se pode!) — Você disse que quer dormir comigo agarradinho, eu também quero dormir com você…
Insistente, Kyungsoo cutucava suas costelas até fazê-lo rir, o que era fácil com ele.
— Agora só durmo bem com você me abraçando… — Kyungsoo justificava, sem um pingo de vergonha na cara para mentir tanto. — ...você peladinho com a ereção na minha coxa… ai, capeta!
Chanyeol tinha descido mesmo um cocão fajuto naquele desbocado, não que agora não desse beijinhos na testa dolorida. No fundo, como sempre, tinha sempre uma satisfação secreta por saber que Kyungsoo o queria. Queria que o quisesse, que o tomasse com a mesma confiança que o exibia por aí de mãos dadas em meio aos corredores do colégio, com o mesmo carinho com que personalizava cintos para fuscas e com a mesma paciência com a qual planejava guardar cada centavo de um salário para os dois poderem se ver todos os dias, quando a vida adulta os puxasse pelas orelhas.
Chanyeol desceu os lábios pelo rosto ainda quente, pela testa, pelo nariz, pela pontinha fria e então para a boca macia onde confidenciava todos os seus desejos. Lembrou-se da primeira vez que a tomou, e que Kyungsoo sempre o conhecera como era agora. Ele não se importava de abraçá-lo até a insegurança dar trégua. Nem importava de ter que lutar contra ela. Talvez… talvez para ele não fosse realmente um incômodo.
— Você tem noção de que eu dormi o dia inteiro, Chanyeol? — Kyungsoo comentou, lembrando com espanto do fato. E o Park deu de ombros, timidamente juntando as mãos entre as coxas enquanto rodavam o bairro de carro, olhando tudo.
Ainda estava adorando o fato de que talvez Kyungsoo também pensasse em um futuro em que ainda estavam juntos, o interesse firme e forte seja lá no que houvesse em si para gostar tanto. Bem, de qualquer forma… Fora esses detalhes atraentes, misteriosos, também havia inseguranças que surgiriam aos montes agora que o relacionamento ganhara uma dimensão sexual… Mas teriam tempo.
Agora, neste exato momento, Chanyeol só queria aproveitar a sensação lisonjeira de ter derrubado um esportista de mão cheia com sua sentada sensacional.
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