Quando Kiki acordou, sua irmã já havia saído.
Mesmo assim ela ainda continuou ali, deitada na cama de Gina, encarando a parede verde-escuro coberta por pôsteres de bandas de rock e discos de vinil.
Ainda sonolenta, caminhou até o banheiro onde encontrou sua mãe Laura recém saída do banho:
-Oi mãe, cadê a mamãe? – Ela perguntou em meio a um bocejo
- Ela já foi pro escritório. –A mãe respondeu – E a Gina também já foi pro trabalho! E eu já to indo também, pra entregar esses currículos!
Assim, que chegou na cozinha, logo após fazer sua higiene e se vestir, pôs- se a preparar seus cupcakes. Logo que sua mãe Laura perdeu o emprego de professora, Kiki queria ajudar nas contas da casa. Ela já havia tentado trabalhar algumas vezes, e acabou falhando miseravelmente, afinal, não era uma pessoa de muitos talentos.
Com os cupckaes não foi diferente. Não funcionou nas primeiras 27 tentativas, mas ao longo de tantos fracassos acabara realmente aprendendo a fazer os bolinhos que logo após o preparo, vendia na rua, acompanhada de seu vizinho Nando.
-E aí Kiki? – O rapaz sentou na janela, balançando cabeleira ruiva – Passou um furacão na cozinha?
Kiki suspirou ao olhar a cozinha coberta de farinha, chantily e com colheres e potes sujos espalhados pelo balcão.
-Oi, Nando! –Ela sorriu ao ver o amigo – Na volta eu limpo! Já to tirando do forno!
Nando era o filho do meio da dona Amélia da rua de baixo, da rua debaixo e havia estudado na mesma escola que Kiki e Gina, onde se conheceram.
Havia sido expulso de casa quando a mãe descobriu sua homossexualidade, e passou a alugar um quarto na casa ao lado de Kiki.
- Prontinho! – Ela tirou os bolinhos do forno e passado alguns segundo, cobriu com chantilly e estrelinhas de confete.
Com a ajuda de Nando, posicionou os cupcakes delicadamente em uma cesta de vime e saíram para vender.
-Eu me sinto tão mal em não te pagar! – Kiki lamentou
-Não se preocupa, boba! – Ele riu – Você me pagando com bolinho grátis já ta bom, e você sabe que suas mães jamais deixariam você sair sem acompanhante
-Não entendo o porquê! – Ela bufou
-Talvez porque você se perdeu no mínimo,umas 7 vezes! – Riu o jovem
.....
Aquele foi um dia de boas vendas, sobrando apenas dois cupcakes sem vender, que foram dados á Nando como pagamento.
Voltando pra casa, ele se ofereceu para ajudar ela com a bagunça, já que tinha um tempinho sobrando antes de ir trabalhar como ajudante na oficina de carros da esquina.
Kiki pegou o dinheiro da venda e pôs na gaveta da cozinha, separando alguns trocados pra si e guardando em um pote de vidro.
-Porque você junta esse dinheiro, Kiki? – Nando ficou curioso – Eu bem sei que você não pode ver um sapato sem querer comprar...Tá guardando pro velório? – Ele riu
-Que velório? Como eu iria pagar o velório se eu já estivesse morta? Esse dinheiro eu to juntando pra faculdade! Desde que a mãe perdeu o emprego as coisas ficaram mais difíceis, não posso nem comprar um vestidinho... – Ela fez cara de tristeza
- Você quer ir pra faculdade, Kiki? E que jeito vai dar pra conseguir passar em um vestibular?
- Oque é vestibular?
-É disso que eu to falando... Não pensei que você quisesse investir nessas coisas acadêmicas
-Eu to falando de faculdade e não de academia, Nando! – Ela puxou ele pelo braço – Vem aqui, eu vou te mostrar uma coisa.
Levando ele até seu quarto, ela puxou em meio a suas coisas na escrivaninha, uma pasta lilás coberta de adesivos, e abriu para que Nando visse. Dentro da pasta estava amarrotado de desenhos de roupas, feitos por ela, de vestidos chiques, até roupas casuais, todas com muito glitter e cores claras.
-Foi você que fez? – Ele se surpreendeu
-Sim! Eu vou ser estilista!
-Uau, amiga! – Ele olhava cada desenho com a boca aberta de espanto – Você é muito talentosa!
- E aí ? Já pode imaginar minha formatura? – Ela sorriu, exibida
-Ah posso, desde que você não seja a oradora da turma
-E por que eu iria fazer oração na formatura?
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