História Sobrenatural - Prólogo

"O maior erro do ser humano, é não querer sentir a dor da verdade"

Com uma velocidade surpreendente, a criatura correu desviando das árvores com extrema facilidade, capaz de sentir tudo à sua volta, sensações variadas em uma mistura de dor e satisfação. Adorava sentir aquilo, servia como um lembrete de quem e o que era.

O cheiro de sangue fresco se tornava cada vez mais forte à medida que avançava, não importava quanto tempo havia se passado, aquele cheiro continuava a fazer seu focinho pinicar. Apesar do quão irritante era o aroma, continuou avançando, pois essa era a pista que a levaria até onde estariam aqueles que ela caçava. Os culpados pelo caos e destruição que ficava para trás por onde passaram.

Culpados pelas mortes.

Tinha em mente que deveria tomar mais cuidado a medida que se aproximava do território inimigo, seus instintos mais primitivos lhe empurravam para o combate de forma imprudente, e foi necessário muita prática e autocontrole para não sucumbir a tais desejos.

Controle.

Como se um alarme tocasse em sua mente, a criatura parou seus passos rápidos e ágeis quando percebeu que ultrapassou a linha de segurança no território inimigo, esperava que seus companheiros espalhados pela floresta não tivessem tido tamanha má sorte. Reajustando seus olhos para conseguir enxergar o melhor possível na escuridão, a criatura expandiu seus sentidos ao máximo, percebendo que não estava sozinha e que havia algo lhe observando no meio das árvores.

Seu olfato capturou o aroma que mais detesta, cheira a morte, e isso foi suficiente para que chegasse a conclusão de quem lhe seguia era um vampiro. Sua audição aguçada denunciou a minuciosa presença em meio a árvores e arbustos, a criatura rondava a sua volta procurando a melhor maneira de atacá-la. Deveria ser um dos mais velhos, recém transformados não teriam paciência suficiente e acabariam sucumbindo ao instinto imprudente.

Ela esperou pacientemente um movimento de ataque de quem quer que fosse o vampiro que estava em seu encalço, atenta a tudo ao seu redor. 

Não demorou muito mais para que o Vampiro atacasse, tentando contar com o elemento surpresa para vencer tal embate. Tudo o que conseguiu foi perder a cabeça no momento em que o imenso lobo negro crava seus caninos no pescoço do Vampiro.

Havia perdido um bom tempo, mais do que deveria, e isso lhe obrigou a voltar a correr ainda mais rápido. Não queria deixar seus companheiros esperando por sua presença para enfim acabar com toda a caçada, matando o grupo de Vampiros que invadiram a cidade que ali próximo ficava e mataram algumas pessoas para alimento.

Ao longe pôde ouvir uma gritaria no meio da floresta, Vampiros, em sua maioria, se resumiram a seres sujos que nem ao menos se davam o trabalho de se esconder, eles costumavam largar os corpos das vítimas atacadas em qualquer lugar sem se preocupar se eles seriam encontrados, o lobo sentia imenso nojo e ódio apenas em pensar na raça que não se importava com o que era certo ou errado. 

No fim, os lobos que tinham que limpar toda a bagunça.

Obviamente, também haviam vampiros que respeitam as leis e a natureza, esses em sua pequena minoria, era raro encontrar vampiros que se contentavam em viver apenas de sangue de animais. Esses eram chamados de vegetarianos e muitas vezes viviam entre os seres humanos sem nunca revelar a sua verdadeira natureza.

Quando chegou próximo o suficiente do local, já havia percebido outros lobos ao redor, seus companheiros rodeavam todo o acampamento sem o conhecimento dos Vampiros bêbados com o êxtase do sangue humano. Com toda certeza aquele pequeno grupo nem mesmo tinha um líder, normalmente recém transformados seguem aquele que os transformou, e apenas Vampiros antigos conseguiam tal feito, pois tinham autocontrole suficiente para não esvaziar o sangue do corpo humano e apenas mordê-los o suficiente para injetar o veneno. Outro indício da inexperiência foi o fato de ao menos conseguir disfarçar seu cheiro por tempo suficiente para fugir, e ao invés disso, montaram um acampamento no meio da floresta, lar natural dos lobos.

Com o local de reunião dos vampiros rodeado, se assegurando de que todos do grupo estavam encurralados, estava na hora de atacar e pôr um ponto final no assunto. O único lobo negro do grupo se ergueu, um sinal óbvio de sua aprovação para início do ataque.

De todos os lados, lobos raivosos apareceram, deixando transparecer o ódio que estavam sentindo encurralando os inimigos que foram pegos de surpresa, com certeza eram recém transformados, totalmente incapazes de sentir a presença de todos aqueles lobos.

Mesmo que a lua estivesse cheia e reinasse os céus, debaixo das árvores, no fundo da floresta, a escuridão era quem governava. As árvores altas dançando conforme o movimento do vento, e uma luta sangrenta se desenrolando abaixo delas.

Os dois grupos opostos se atacaram, a disparidade de força e experiência era clara, e o ódio e desprezo também eram palpáveis no ar e sentido por todos presentes.

Apesar de estarem cientes que só sairiam dali mortos, os vampiros atacam o grupo de lobos que ao menos estavam preocupados com o ataque, idiotas por pensarem que poderiam fazer algo para conseguirem sobreviver quando obviamente não havia saída alguma para suas almas condenadas.

Os lobos eram muito mais experientes em batalha, os recém transformados muito provavelmente nem haviam participado de uma luta de verdade no pequeno período de tempo de suas vidas como Vampiros, e mesmo que eles fossem mais fortes, - o que não era o caso - a inexperiência lhes trariam a derrota de qualquer maneira.

Com sua pelagem tão escura quanto uma noite sem lua, o lobo passava por entre os poucos vampiros, o primeiro a ser morto tentou agarrar a criatura por trás para quebrar suas costelas, era a forma mais eficaz de matar um lobo, porém não foi rápido o bastante, o que resultou em seu corpo jogado longe de sua cabeça.

Agora tinha certeza, aqueles vampiros tinham acabado de serem transformados, sem nenhuma experiência em batalha e sem saber a melhor maneira de usar sua força sobrenatural, o que tornou o trabalho de matar a todos fácil demais, esses lobos já estavam acostumados com aquilo, sentir o gosto de morte cada vez que seus caninos estavam cravados no pescoço de algum vampiro, lidar com aquilo passou a ser fácil depois de algumas décadas caçando as criaturas que ameaçavam quebrar o equilíbrio do mundo sobrenatural e expor suas existências ao mundo humano.

O lobo negro olhou a sua volta, a missão foi rapidamente concluída com sucesso, todos os inimigos foram abatidos e nenhum companheiro estava ferido, no momento, tudo que teriam que fazer, era limpar o local para não deixar nenhum rastro do que pode ter acontecido ali, o segredo do mundo sobrenatural e a segurança da humanidade passou a depender disso.

Um lobo amarelado se aproximou, ele parecia ter por volta dos um metro e meio, todos presentes tinham aproximadamente a mesma altura, exceto pelo lobo negro, que tinha monstruosos dois metros de altura.

— Precisamos terminar de limpar isso, logo irá amanhecer.

O lobo amarelado avisou após voltar a forma humana, dando lugar a um garoto de cabelos loiros e olhos azuis. Os olhos a avermelhados do lobo negro lhe encararam por um segundo antes de acenar, confirmando que o que menor acaba de dizer está correto enquanto voltava a forma humana. 

Era uma mulher, cabelos curtos e negros, sua aura dominadora não diminuiu mesmo após sair de sua forma de lobo.

— Vamos acabar com isso.

Sua ordem foi dada, os presentes não disseram mais nada enquanto faziam exatamente o que lhes fora dito. 

       Continua?