Nico on
Deitado no chão ouvia ainda o silêncio tomar conta da Arena. Por sorte eu não tinha perdido a consciência, apenas não tinha forças mais para manter meu corpo em pé. Sentia a ardência das minhas feridas e o meu cansaço extremo.
Ainda de olhos fechados sinto alguém se ajoelhar com rapidez ao meu lado e me tocar levantando a minha cabeça. Era familiar e confortável.
- Nico, ei... Fala comigo Nico – diferente das vozes, essa não me perturbava ou me julgava.
- Percy, Jason e Annabeth: guiem todos os conselheiros até a Casa Grande imediatamente. Isso incluí você Senhor Dylan – ouço a voz de Quíron próxima a mim. Parecia muito irritado com toda aquela situação – Kayla, Will e Frank: ajudem o Senhor Di Angelo a se levantar e se direcionem também até lá. Irei comunicar todos aqui e aos deuses.
Ouço passos se distanciarem de mim e não vejo ninguém discordar dele, acho que ninguém tinha coragem disso.
Confuso com o que estava acontecendo, forço meus olhos a se abrirem devagar e logo vejo me olhando Will com o seu rosto refletindo preocupação e medo. Ao seu lado vejo Kayla e Frank me olhando assustados. Deveria estar em um estado deplorável.
Ok, chega de descansar Di Angelo. Você precisa se levantar.
Forço o meu corpo a se mexer e logo sinto uma dor tremenda em meus braços e peitoral.
- Não se mexe – ouço Will falando comigo – Céus... O que você pensa que estava fazendo?!
- Eu... – minha voz sai baixa e desistindo interrompo a minha fala.
- Vamos para a Casa Grande logo, quanto mais rápido isso acabar vamos poder cuidar dos ferimentos dele – diz Frank se aproximando de mim – Consegue se apoiar na gente?
Balanço a minha cabeça concordando, assim fazendo ele e Will passarem meus braços em volta dos seus pescoços e me apoiando. Tento colocar o mínimo de peso no corpo deles e forço, apesar da grande dor que estava sentindo, meu corpo a colaborar com cada movimento.
Levantado, consigo ver melhor a Arena. Todos me olhavam surpresos e com medo do que tinha acabado de se passar naquele lugar. Via uns cochichar e outros apenas ficarem de bocas abertas. Via no alto Quíron conversando com os deuses possivelmente pedindo desculpas pelo transtorno, mas eles não pareciam se importar com aquilo. Vejo de relance Apolo me encarando preocupado como se soubesse pelo que tinha passado ali e a fonte da minha desconcentração. Se eu o conhecesse bem, certamente iria me perturbar nos meus sonhos mais tarde.
Depois dos primeiro passos serem complicados, consigo obrigar meu corpo a colaborar e logo sou levado para fora da Arena. Vejo Kayla do lado do Will com uma bolsa que se conhecesse bem eram para os primeiros socorros. Eu estava tão mal assim?
Ao estar do lado de fora, ouço Quíron se aproximando da gente:
- Coloque ele encima de mim, será mais rápido – diz ele do nosso lado já abaixando – Venha com a gente Senhor Zhang e Solace. Kayla vá até a enfermaria chame alguém para ajudar e preparem as coisas para os ferimentos.
Com algum esforço consigo montar em Quíron com Solace atrás de mim me ajudando para não cair e me apoiando nele, logo atrás estava Frank. Feito isso, Quíron começa a se movimentar devagar até a Casa Grande.
Depois de alguns poucos minutos chegando ao local todos os conselheiros dos chalés já estavam na espera por Quíron. Ajudam-me a me sentar no sofá. Tinha sorte que meus braços tinham parado de sangrar tanto, única coisa que me preocupada era meu peitoral por ter um corte maior e doloroso.
- Posso saber o que foi o que houve naquela luta? – diz Quíron encarando todos presentes, mas principalmente eu e Dylan.
- Eu... –ouço Dylan começar a falar.
- Não, eu não quero ouvir como: eu não me controlei – diz Quíron nervoso – Não criei essa categoria para ver essa barbaridade. Qual era a principal regra? Não machucar gravemente um ao outro. Foi isso que aconteceu? Posso saber desde quando criei selvagens dentro do meu acampamento?
Todos ficam em silêncio. Nunca tinha visto o centauro naquele estado: furioso.
- Vocês dois tem noção do que poderia ter acontecido se eu não tivesse interrompido a luta? Não quero ver atos heroicos ou demonstração de quem é o melhor daquele jeito. Se vocês dois tem brigas entre si se resolvam sem se matarem ou façam isso fora do meu acampamento. Não irei aceitar isso aqui dentro, entendido? – diz Quíron me olhando – A luta foi adiada para próxima semana. Eu espero que o que aconteceu aqui não se repita mais ou terei que tomar medidas piores. Fui bem claro?
- Sim – ouço todos aos poucos concordarem com ele.
- Agora, vocês conselheiros tomam isso como exemplo do que não deve ser feito em hipótese alguma contra um colega seu. Não ajam como selvagens, a raiva pode ser fatal para vocês – diz Quíron parecendo se acalmar aos poucos – Voltem para a Arena e guiem seus chalés de volta para o circulo, avisem que a luta foi cancelada hoje e que mais tarde esclarecei tudo.
- Quíron eu posso – agora quem falava era Will.
- Primeiro guie seu chalé Senhor Solace como mandei, depois pode – diz ele interrompendo o Will – Frank, poderia me ajudar a levar o Nico para a enfermaria? E Dylan, me espere aqui. Ainda quero falar com você.
Depois da ordem dada por Quíron, aos poucos todos foram deixando o chalé e se direcionarem para a Arena de novo:
- Eu volto depois – fala Will levantando e me olhando.
Consigo apenas encará-lo enquanto saí da Casa Grande.
Em seguida sou colocado encima de Quíron de novo agora com Frank me ajudando e sou guiado até a enfermaria. Tudo o que mais queria naquele momento era poder me jogar em uma cama e dormir para nunca mais acordar. Olha o problema que tinha causado no dia, mais uma vez.
Ao chegar à enfermaria vejo Kayla, Mia e Andrew deixando arrumadas as coisas. Todos me olhavam preocupados e ao mesmo tempo confusos. Sou deixado em uma cama e logo já começam a tratar meus ferimentos. O centauro e Frank deixam meus cuidados para eles.
Como minha camiseta estava totalmente rasgada sou obrigado a tirá-la. Minha palidez fica mais em evidência agora e céus, os ferimentos olhando realmente pareciam pior do que eu imaginava. Os dos meus braços pareciam ser os menos preocupantes, tirando os dois cortes profundos neles. Agora o meu corte em meu peitoral estava horrível, não tinha sido profundo como os outros, porém como era maior ardia mais e escorria mais sangue.
Vejo Kayla guiar Mia sobre o que ela deveria fazer e a vejo se aproximando de mim para limpar meus ferimentos. Ao encostar-se aos ferimentos sinto uma ardência incomoda e enrijeço meu corpo:
- Não se mexe... Você merece coisa pior – ouço a voz de raiva e ao mesmo tempo de preocupação dela – O que você ouviu de novo lá?
- Como você...? – digo em meio às dores.
- Eu percebi que algo te perturbava – diz ela com a voz baixa e percebo sua mão tremendo – Pensei que você realmente ia se entregar...
Sinto um aperto no meu coração ao vê-la daquele jeito. Mia era uma pessoa muito especial para mim, tinha estado do meu lado todo o tempo e foi a que mais ouviu minhas lamentações sobre minha vida ferrada. Tinha um carinho enorme por ela. E ver agora a dor e preocupação que tinha causado para todos fazia minha vontade de sumir aumentar. Eu era uma pessoa desprezível. O que tinha passado na minha cabeça ao me entregar tão fácil? Não era assim que livraria todos daquele beco sem fundo. Isso era algo que eu deveria resolver sem ferir ou envolver alguém.
- Desculpa... Eu – digo pausadamente – Não sei ainda direito o que houve.
- Depois a gente conversa melhor, o furacão de verdade vai chegar depois – diz Mia terminando de limpar meus ferimentos.
- Você poderia...? – digo sem terminar a frase na esperança que ela entendesse o meu pedido.
- Tudo bem Nico – diz ela me encarando – Céus, eu to tão feliz que você esteja vivo.
Sem aguentar mais a abraço com as forças que ainda me restavam. Queria poder voltar no tempo e reverter toda aquela situação ou pelo menos evitar com que isso terminasse assim. Eu deveria ter aceitado a proposta de meu pai. Certamente cogitaria isso da próxima vez.
- Eu também estou feliz que ainda estou vivo – digo por fim me desfazendo do abraço.
Antes que pudéssemos falar mais algo vejo Hazel adentrando na enfermaria desesperada e imediatamente se direcionando para mim:
- Nico! – vejo ela agora se jogando em meus braços e me abraçando forte – Eu achei que você... – ela não completa a frase e sinto em sua voz uma pitada de vontade de chorar.
- Eu sei... Eu também pensei – digo retribuindo o abraço – Desculpa te preocupar...
- Não peça desculpas. A gente fala sobre isso depois. O que importa é você estar vivo agora e... Deuses, pare com isso! – diz ela tentando se irritar comigo.
Não respondo nada e apenas aberto mais o abraço. Hazel era o tipo de irmã que não precisava de muitas palavras para explicar o que tinha acontecido. Sabia o tempo certo de conversar sobre tudo e de me dar bronca. Tinha um dom incrível de controlar suas emoções, e ela sabia que se desesperar e querer respostas de mim naquele momento era a hora errada.
- Deixem eu terminar de fazer os curativos nele Hazel, e vai precisar dormir também um pouco – ouço Kayla falando agora. De todos, ela e Andrew ainda que não tinham demonstrado quaisquer emoções fortes. Conheci-os bem e sabia que há minha hora chegaria de levar bronca.
- Bom, eu vou lá então Nico – diz Mia se levantando – Eu volto mais tarde ok? Precisamos conversar sério.
- Quer que eu te acompanhe? – por fim, vejo Andrew falando com ela.
- Não precisa – diz Mia séria – Eu me cuido sozinha.
É, parecia que ela ainda não queria olhar para a cara dele. Ao ouvir a resposta curta e grossa da amiga, Andrew tenta conter sua emoção e apenas concorda com a cabeça faz menção de sair do chalé também:
- Nico – diz ele se virando para me olhar – Minha hora vai chegar viu, mas eu estou aliviado que esteja vivo. Não me mate de susto de novo.
Apenas consigo sorrir antes dele sair da enfermaria. Como eu disse, a vez dele vai chegar, mas sabia que seria o menos bruto comigo. Ele entendia as minhas razões por mais que fossem loucas.
Aos poucos todos acabam saindo da enfermaria. Hazel é a última a sair, dizia que queria ficar ao meu lado até que eu pegasse no sono.
Kayla termina de fazer os curativos em mim e de me dar ambrosia para aliviar a dor e acelerar o processo de cura. E sim, aquilo funcionava muito. Sentia-me muito melhor.
Will não tinha aparecido ainda, deveria estar ocupado com os seus campistas e eu agradecia por isso. Não saberia qual reação ou o que dizer assim, sem preparo, a ele. Dentro todos era o que menos queria dar explicações.
Como estava cansado demais e fraco pego no sono rápido.
(...)
De presente dos deuses por ter quase morrido, tenho um sono tranquilo e sem sonhos. Isso por incrível que pareça era uma dádiva para nós semideuses.
Sentindo as dores aos poucos voltarem sou obrigado a acordar. Abro meus olhos devagar e focando a minha visão.
As luzes da enfermaria estavam acessas indicando que estava de noite, não tinha mais agitação lá o que indicava que todos tinham saído dali me dando paz para poder descansar.
Quando tento levantar além da dor estar me impedindo sinto um peso maior um pouco abaixo do local do meu peitoral que estava ferido. Direciono meus olhos para baixo e vejo uma cena nostálgica.
O tempo tinha voltado? Eu lembrava-me que da ultima vez que estava naquela enfermaria daquele jeito e vendo Will deitado em mim: era quando tinha quase sido consumido pelas sombras. E mais uma vez, a cena se repetia.
Jogo minha cabeça de novo para trás e jogo-a de novo para o travesseiro. Maldição, a cena estava se repetindo. Mais uma vez fiz o Will se preocupar comigo e abandonar suas coisas para poder ficar ao meu lado.
Sem aguentar mais sinto algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto de leve. Depois do choque que tinha sido a batalha era o mínimo que poderia acontecer.
Agora estava refletindo sobre tudo que tinha acontecido. Será que um dia teria noção do que estava fazendo?
Como aquelas vozes tinham aparecido na Arena? Elas estavam longe da floresta e como só eu as ouvia? Pior, por que logo a voz do Will? Quem me conhece sabe que apenas duas vozes poderiam me destruir totalmente: dele e de Bianca.
E eram justas essas que quase me levaram a loucura e a morte. Lógico que o que elas diziam não era verdades, mas era como se elas buscassem nas profundezas minhas piores culpas.
Eu sei que aquilo não era explicação pelo que tinha feito na Arena. Entregar a minha vida fácil daquele jeito? Nem parecia comigo. Estava desistindo sem lutar. Era terrível como aquelas vozes tinham me conduzido a morte. Ou eu que queria poder me entregar a elas por estar no meu limite?
Sem concluir meus pensamentos vejo Will se mexendo indicando que tinha acordado.
Meu coração começa a acelerar por nervosismo e por medo de encará-lo. Eu não estava preparado ainda para isso, então continuo estático olhando para a cena dele acordando.
Imediatamente sem poder acordar totalmente ele me olha e me encara surpreso:
- Will... Eu... – são as únicas palavras de novo que consigo soltar.
Sem dizer nada vejo-o avançar sobre mim em um abraço forte. Só naquele gesto consigo deduzir o quão preocupado estava e como tinha ficado aliviado ao meu ver acordado. Eu nem queria pensar o quanto ele tinha sofrido até lá.
Por necessidade e precisando, retribuo o seu abraço e vejo mais algumas lágrimas se formarem em meu rosto. Uso a força que ainda me restava e intensifico o nosso abraço para ver se naquele movimento pudesse apagar todo o dia e a distância que se formava entre nós.
Aconchego a minha cabeça em seu ombro e sinto em seguida sua mão em seu cabelo para reforçar o movimento.
Podia sentir sua respiração acelerada e posso dizer que conseguia ouvir as batidas em seu coração. Vejo sua outra mão que pressionava o meu corpo ao dele tremeluzir. Ainda estava com medo e preocupado. Alivie isso dele Nico.
Ficamos naquele abraço eterno para nós por alguns minutos, por mim nunca nos separaríamos de novo. Queria poder tirá-lo daquele acampamento e levá-lo para qualquer lugar onde só existisse a gente. Sem perigos, promessas, acordos, problemas com deuses ou um fio.
Sinto suas mãos se direcionarem para o meu pescoço em direção ao meu rosto fazendo com que houvesse uma brecha em nosso abraço. Will agora estava com o seu rosto perto deixando nossas testas coladas:
- Eu achei... Céus... Eu realmente achei – diz ele ainda com os olhos fechados.
- Eu sei... – digo levando minha mão até seu rosto e acariciando-o.
- Não faz isso comigo mais... – diz ele com uma voz triste – Por favor Nico, não faz mais isso.
- Eu não sei o que houve... – digo tentando controlar meus sentimentos – E realmente achei que seria... Seria melhor.
- Melhor morrer?! – diz ele afastando seu rosto do meu agora me olhando furioso. Se prepare Di Angelo, ia começar – Deuses Nico, como assim? O que houve com você lá?! Como você pode fazer isso com você e comigo?
Não digo nada, era a minha vez de levar à bronca e teria que escutar até ao fim.
- Sério eu não te entendo! Você ia mesmo entregar a sua vida por causa de um acordo? Isso é sério Nico? – diz ele já se afastando de mim e levantando de onde estava – Não íamos resolver as coisas juntos? Você é tão... Ah egoísta! Eu juro que quero te bater.
Vejo-o respirar fundo para poder conter as emoções e fúria:
- Diz alguma coisa! – diz ele elevando a voz – Céus Di Angelo que quero entender o que ta acontecendo, mas como eu posso se você decide as coisas sozinho?! Eu não sei quando posso confiar em você ou quando eu vou poder te ver a salvo de novo! Me responde, se coloca no meu lugar pelo menos um vez, você só ta repetindo o que eu fiz um ano atrás indo na missão!
- Eu sei ok Will! Você acha que eu não sei dessas coisas? – digo não me aguentando mais – Eu quero te contar as coisas, mas como posso fazer isso se nem eu mesmo estou entendo o que ta acontecendo? – respiro fundo – Eu não sei ainda o que aconteceu naquela Arena, eu ouvi a sua voz na minha mente! Ela dizia, repetia que eu não deveria estar aqui e que eu deveria cumprir o acordo!
- O que...? – diz ele ficando sem palavras.
- Eu não aguento mais tudo isso! Minha cabeça vai explodir... – digo tentando me acalmar, mas não sendo efetivo – Eu cogitei sim morrer lá dentro, por que eu não aguento mais isso Will! Eu escutei a sua voz agonizante pedir por aquilo, me sinto culpado por tudo isso. Então me diz o que eu devo fazer além de aceitar o meu destino?! – vejo algumas lágrimas de angustia descer pelo meu rosto – Droga... Eu disse para você ficar longe de mim, isso aqui não pode continuar mais... Estou te destruindo por dentro e vou acabar te matando desse jeito. Tem que acabar!
- Mas o que você...? O que?! – diz ele ficando mais confuso e irritado.
- É isso Will, tem que acabar! – digo elevando a minha voz – Você sabe disso, o mundo ta dizendo que isso não vai dar certo...
- Ah cala a boca Nico! – o vejo vir até mim e me beijar.
Eu realmente tinha desistido de entender aquele menino e a situação.
Já me entregando ao momento retribuo ao beijo. Estava no meu limite e sabe-se lá se aquele não seria uma parte do nosso final.
- Eu estou pouco ligando para o que os outros dizem – diz Will interrompendo o beijo, mas ainda se mantendo perto de mim – Entendeu? Não é Parcas, deuses, fio ou acordos que farão eu desistir de você. Vou ficar aqui até que você me manda ir embora para sempre e de verdade. Então se você quer isso fale para mim Nico – diz ele olhando profundamente para mim- Diz olhando nos meus olhos que você quer isso mesmo, e eu prometo sair por aquela porta e nunca mais te perturbar.
Fico estático ao ouvir aquelas palavras. Aqueles olhos azuis profundos me encaravam agora e esperavam uma resposta.
Diga logo Nico, mande ele ir embora. Você sabe que isso vai ser o melhor para os dois, ambos iriam seguir o caminho um do outro. Sabia o quanto aquela relação iria nos afundar com o tempo, do momento que perdi o fio vermelho isso estava decidido. Não tinha como voltar mais. Sim, era a coisa certa a se fazer.
Porém como sempre, meu corpo age contra minha cabeça e quando percebo já estou beijando-o.
Deixo de lado todos os problemas e me concentro apenas em seus lábios. Ignoro qualquer iniciativa de um beijo lento e direciono para um rápido e intenso. Coloco uma de minhas mãos em seus cabelos aproximando o nosso beijo e sinto uma reciprocidade dele ao tocar as minhas costas nuas. Céus, como aquilo me arrepiava.
Peço passagem com a língua e ele permite. A partir dali tudo estava sincronizado: o beijo, os toques, caricia e movimentos com a língua.
Sim, eu o amava e não era pouco. Demorei muito para poder encontrar alguém que não desistisse de mim ou não enxergasse apenas o meu lado negro. Desde o dia que o conheci não conseguia mais pensar em nada a não ser ele e como eu poderia estar sonhando por o ter ao meu lado. Seus olhos, sorriso, lábios, cabelos, toque, abraço e corpo. Sua personalidade e risada... Não conseguia mais viver sem isso.
Por mais que tentasse lutar contra aqueles sentimentos não conseguia. Só de pensar em estar longe dele sentia um vazio e aperto no coração. Assim como ele, estava pouco ligando para o destino. Nasceria ainda uma coisa para nos impedir de ficarmos juntos.
Éramos como imãs. Atraídos sempre um pelo outro apesar dos empecilhos. Will era como uma luz que veio me guiar para o fim do túnel, se eu o perdesse mais uma vez cairia nas sombras. Com ele tinha despertado todas as emoções que um dia pensei ter pedido ao ficar sem Bianca.
Não queria, não podia e não dava para ficar sem ele. Céus, eu estava perdidamente doido por aquele filho de Apolo. Se você sabe como parar isso me avise ou serei levado à loucura.
É Will, nada pode nos separar.
- Entende agora por que não dá? – diz ele interrompendo o beijo por conta que precisava de ar.
- Acho que sempre entendi – digo encarando aqueles olhos que eram minha perdição – Só não queria admitir, é tudo novo para mim.
- Nós que decidimos o nosso futuro, e se for para um dia separarmos os dois vão concordar – diz ele.
Então, percebo o que estava dizendo. Porém apenas concordo com a cabeça e decido não tocar mais naquele assunto especifico.
- Então me deixe te guiar até lá – diz ele dando um selinho – Você só precisa me ajudar nisso também. Conta as coisas para mim Nico, eu quero poder te livrar disso tudo.
- Você aguentar o quão no fundo do poço estou? – digo sorrindo.
- O que? Você não me conhece Di Angelo – diz ele acariciando meu rosto – Aguento o que for por você.
- O que eu fiz para te merecer? – digo já corado.
Não respondendo minha pergunta, ele apenas deposita mais um selinho demorado em meu lábio.
- Você sabe o que fez – diz ele sorrindo – Vai parar de teimosia e me contar as coisas?
- Vou te contar o que houve na Arena Will, calma – digo sorrindo.
- Tem até o final do dia então – diz ele sorrindo – Deixa eu trocar seus curativos antes disso.
Contra a minha vontade ele vai até o armário e pega os aparatos e objetos para trocar meus curativos.
Sinto seu toque leve em minha pele desenrolando as ataduras. Ele era delicado e tinha calma no que fazia, tinha muita vocação para cuidar das pessoas. Chegando perto da ferida vejo-o enrijecer por não querer ver aquilo.
Fico apenas observando e observo ele respirar fundo e continuar com o ritmo e tirar todas as ataduras nas minhas feridas. Ficou por um breve momento dando uma olhada em geral no meu estado, mas logo percebeu que eu o encarava e continuou com os cuidados.
Eu tinha que controlar minha mente e meu corpo por conta dos toques dele, a cada um meu corpo arrepiava e eu era levado a um nível de loucura. Céus, como era complicado me conter perto dele.
Ao fim, quando terminou os curativos e estava voltando para onde eu estava após guardar as coisas quando ficou me encarando:
- Você poderia ser bonzinho assim sempre – diz ele sorrindo e se sentando na cadeira ao meu lado.
- Não provoque – digo rindo de leve.
- Eu só acho que –
Interrompo a sua fala o agarrando pela gola da blusa aproximando-o de mim e mais uma vez o beijando. Eu não estava mais me aguentando em manter aquela distância.
Dessa vez, Will inclina seu corpo até o meu e passa suas mãos pelo meu corpo. Quando percebemos já estava encima de mim e me beijando intensamente, mas ainda tomando cuidado com meus ferimentos. Particularmente eu estava pouco de importando com eles.
Então, ficamos assim pelo resto da noite: distribuindo caricias, sorrisos, beijos intensos e quentes um no outro. Nada parecia mais importar ou querer nos atrapalhar.
(...)
Naquela noite eu tinha mais uma concluído que não conseguiria jamais ficar longe. Buscaria junto a ele alternativas para acabar com tudo aquilo e recuperar o nosso fio de volta.
Deuses, Parcas, vozes e Dylan se preparem: vocês fizeram coisas que não deveriam e estava na hora de vocês pagarem por isso.
Assim, decido acaba com tudo aquilo na próxima luta com o Dylan olhando para Will deitado ao meu lado me abraçando e apoiando sua cabeça em meu peitoral na pequena cama da enfermaria. Fico encarando seus olhos fechados e sua respiração leve... Grave aquela cena Nico, pois ela a partir de hoje, será constante em sua vida.
- Eu te amo meu raio de Sol – sussurro eu seu ouvido.
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