Will on
Infelizmente acabo dormindo na melhor parte da noite. Eu realmente odiava o quão facilmente eu pegava no sono.
Fazia um tempo já que os deuses não me perturbavam nos sonhos, porém dessa vez não tive sorte. Estou novamente na praia do Acampamento Meio-Sangue com o Sol forte no céu. Praticamente todas as vezes que me sabia que meu pai iria querer falar comigo era ali.
- Como o Nico está? – ouço uma voz ao meu lado.
Como eu disse, ao meu lado vejo a forma humana de Apolo. Alto, cabelos loiros brilhantes, porte musculoso e pele bronzeada. Era incrível como muitas das qualidades físicas deles eram parecidas com a minha.
- Ele parece bem agora... Mas eu ainda estou preocupado com o que aconteceu na Arena. Fala que ouviu a minha voz em sua mente – digo me lembrando do que Nico havia me falado em meio à sua fúria.
- Eu tive medo que fosse isso – diz Apolo encarando a paisagem.
- Você sabe o que elas são? – digo curioso e surpreso.
- Temo que sim, mas não posso afirmar nada – diz ele me olhando agora – Vai mesmo querer ajudar o filho de Hades a acabar com tudo isso?
- Como você...? Ah sim. Eu preciso ajudar, isso também me envolve – digo.
Apolo não responde de imediato e apenas fica me encarando querendo acredita no que eu estava decidindo. Até parecia loucura.
- Como vai o colar? – diz ele desviando a conversa
Isso era sério? Ele ia desviar a conversa para o colar? Desde quando voltei da missão e o colar não reluzia mais, Apolo me perturbava em sonhos apenas perguntando dele.
- Ainda sem brilho. Por que te incomoda tanto isso? Você mesmo disse que pode ser uma falha de Hefesto – digo.
- Esse é o problema, quem fez foi Hefesto. Ele nunca erraria dessa forma, me garantiu que fez tudo certo – diz ele preocupado – Leve ele com você quando for ajudar o filho de Hades.
- Por quê? – digo confuso.
- Vai ser de grande ajuda, acredite – diz ele se afastando de mim – Will, sobre as vozes: se ouvir algo em sua mente não se deixe entregar e ajude tanto Nico quanto a sua amiga a se livrarem delas.
Antes que pudesse perguntar sobre o que ele estava falando ou pedir respostas mais claras sou acordado do meu sonho. Maldição, ele sempre acaba na pior parte.
Ao abrir meus olhos devagar me acalmo ao ver que ainda estava de noite pois a iluminação da enfermaria estava sendo feita pelas luzes ligadas. Porém não é isso que mais me deixa calmo. Sinto uma mão em meus cabelos os acariciando de leve.
Apenas consigo sorrir ao perceber onde tinha adormecido, sentia um calor leve me aquecendo.
- Te acordei? – ouço então o dono da voz que conseguia me proporcionar aquela tranquilidade.
Se eu ainda estava com raiva dele por ter quase morrido na Arena? Lógico! Eu queria poder abrir a sua cabeça e colocar juízo onde faltava, eu não gostava de pensar o que teria acontecido se Quíron não houvesse interrompido a luta. Ver as feridas em seu corpo foi algo doloroso, cada vez que recebia um golpe parecia que eu sentia no meu corpo a dor. Já vi Nico fraco, pálido demais e inconsciente. Porém nada era pior do que o ver sangrando e caindo no chão de tanta dor.
Gostaria nunca mais ver aquilo, mas Quíron tinha dado mais uma chance e adiado à luta. Pelo que tinha percebido naquela luta, Dylan estava sedento por sangue e não acho que apenas aquela bronca que o centauro havia feito tiraria aquele sentimento dele.
Alias o que tinha acontecido com ele? Não reconhecia mais meu amigo de anos, estava estranho e mais sozinho que o habitual. Apesar de tudo o que estava acontecendo parte de mim estava preocupado com Dylan. Eu sabia que no fundo não era assim, algo de muito ruim deveria ter acontecido para que ficasse cheio de ódio. Eu tinha que acabar com tudo aquilo, não apenas por mim e sim por ele também.
- Will? – diz Nico me encarando e então percebo que estava igual um bobo com o olhar distraído.
- Não, eu que acabei acordando depois de conversar com meu pai – digo olhando para Nico.
- O que ele queria? – diz ele ainda acariciando meus cabelos e me olhando.
Respiro fundo e decido perguntar a ele sobre as vozes:
- Nico, o que você ouviu na Arena? – digo me levantando e me sentando ao seu lado.
De imediato ele não responde e vejo seus olhos olharem para baixo como se não quisesse falar daquilo naquela hora, parecia perturbar só de se lembrar. Porém eu precisava saber o que tinha acontecido na Arena.
- Eu... – diz ele tentando primeiro organizar seus pensamentos – Ouvi a sua voz em minha mente e não era a primeira vez. Aconteceu isso quando fui procurar por Mia na floresta – diz ele pausando e percebo que estava tremendo de leve.
Direciono minha mão até a sua pegando-a e em seguida ele olha para mim. Com aquele gesto parecia que havia se acalmado, queria que ele percebesse que nada aconteceria e que estava do seu lado.
- Da primeira vez escutei você dizendo que eu deveria morrer, em meio a essas ouvi a voz da Bianca também – diz Nico pausando e se recuperando – Ela me culpava por sua morte e me julgava por não estar de luto. Eu sei que não era falando, mas... No fundo eu sabia que era verdade tudo aquilo. E na Arena... Eu só ouvi a sua voz, e ela repetia e repetia para eu morrer, para cumprir com o acordo, uma parte de mim sabia que não era você realmente... Mas eu, como antes, sabia que no fundo era verdade tudo aquilo, e isso foi o limite para mim.
Fico estático ao ouvir aquela declaração. Eu tinha falado aquelas coisas a ele? Eu não, alguém se passando por mim estava falando. O quão assustador e perturbador deveria ser? Nico estava aguentando tudo isso sozinho e ainda por cima levando toda a culpa pelas coisas que estavam acontecendo. Jamais coloquei e culpa nele por isso, eu sabia que era um efeito dominó tudo o que estava acontecendo. A primeira peça a cair foi eu, o resto só me acompanhou.
- Nico eu... – digo ainda paralisado com o que tinha ouvido.
- Não te falei nada por não saber o que estava realmente acontecendo. Não fui o único a escutar, Mia também escutou algo, mas era diferente do que eu ouvia. Ela ficou mais perturbada e desde então não quer falar com o Andrew. Acho que tem algo relacionado... Não sei – diz ele se acalmando aos poucos.
Então me lembro das palavras de Apolo de como eu deveria ajudara, além de Nico, a Mia também.
- Nunca imaginaria isso... Tudo é... Assustador – solto as únicas palavras que consigo pensar no momento – Eu nuca pensei desse jeito. Nico, você não tem culpa de nada disso, entendeu? – digo levando minha mão até seu rosto e aproximando-o – Não se culpe pelo que esta acontecendo e saiba que jamais consideraria você aceitar aquele acordo, vamos resolver isso sem que ninguém precise se machucar.
Vejo ele sorrindo e fechando os olhos para apreciar meu toque em seu rosto. Estava mais calmo do que antes, precisava de algum jeito trazer isso a ele.
- Preciso pensar melhor nisso tudo, só espero que elas não me perturbem de novo na próxima luta.
- Sobre isso – digo desviando a conversa para outra situação – O que você pretende fazer?
- Hades me propôs algo – diz ele abrindo os olhos e mais uma vez ficando tenso – Eu não sei se devo considerar, é arriscado.
- O que é? – digo curioso e preocupado – Por favor, me conta.
Ele primeiro hesita em falar algo, mas lembrando da nossa recém briga sede e começa a me falar da proposta de Hades. Como ele tinha falado: era loucura e arriscado.
- É apostar muito em algo que pode dar errado – digo assustado com o que tinha acabado de escutar.
- Eu sei disso... Mas é a única saída que pode dar certo, estou pensando em aceitar – diz ele me olhando.
Não falo nada de imediato e penso e repenso sobre a proposta de Hades, realmente era a melhor alternativa que tínhamos. Dentro as possíveis coisas que poderiam acontece 98% era que ia dar merda, porém tínhamos que acreditar naqueles 2%. Acreditem, eu queria que tivesse outra alternativa.
- Me leva com você – digo sério.
- O que?! – diz ele surpreso, porém já esperava aquela reação. Conhecia o menino pelo qual estava apaixonado – Não tem como eu aceitar isso já sabendo que vai ser perigoso, nem vem com essa Solace.
- Ah Nico, vai começar? Eu sei me cuidar e eu não vou conseguir ficar tranquilo sabendo que você pode estar correndo perigo lá. Lembra? Nós dois vamos acabar com isso – digo insistindo.
- Will... Isso não. É arriscado você ir – diz ele preocupado.
- Nico, confia em mim – digo olhando fixamente para ele.
Antes que ele pudesse responder ouço a porta da enfermaria abrir com força me assustando. Quando direciono meus olhos até ela vejo Andrew entrando desesperado no local.
(...)
Nico on
Estava disposto a continuar minha discussão com Will para tentá-lo convencer a esquecer a ideia de ir junto comigo caso aceitasse a proposta do meu pai quando vejo Andrew entrando na enfermaria desesperado:
- Nico... – diz ele recuperando o fôlego – É a Mia e a Calipso...
- O que aconteceu Andrew? – digo assustado.
- Elas sumiram! – diz ele demonstrando preocupação na voz.
- Como assim?! – digo nervoso – O que aconteceu Andrew?
- Eu... Eu não sei direito. Eu não conseguia dormir então no meio da noite eu vi a Mia e Calipso andando pelo círculo. Quando eu pensei em ir ver o que tinha acontecido, a Mia correu em direção à floresta e a Calipso foi atrás dela, desde então nenhum delas voltaram.
- A Calipso? – digo baixo para processar tudo aquilo – Por que ela não ta com o Leo?! Droga!
- O Leo já procurou por elas, mas nada! É sério Nico, podem estar em perigo – diz Andrew quase perdendo a paciência de dar tanta explicação.
Só podia estar sendo outra pegadinha dos deuses, como aquelas duas tinham sumido assim? O que a Mia estava fazendo na floresta de novo àquela hora? Se de dia já era perigoso, de noite então era querer enlouquecer. Para piorar Calipso, não sei por que, estava com ela e tinha sumido também. Então, vem a minha mente algo que não queria ter pensado na hora: a garantia.
- Precisamos encontrá-las agora! – digo já me exaltando e levantando da cama.
- Nico seus ferimentos – vejo Will segurar meu braço – Deixa que a gente procurar por elas.
- Eu não posso ficar aqui esperando Will, a Mia pode estar em perigo se ouvir as vozes de novo e Calipso... – interrompo a minha fala para não falar o pior.
- Do que vocês estão falando? Nico o que pode acontecer com a Mia? – vejo Andrew se alterando também.
- Vamos encontrar ela primeiro e depois te conto – digo olhando para ele.
- Toma isso – diz Will tirando o seu blusão e me dando – Você não pode sair assim.
Pego o blusão da mão dele e visto logo, tinha me esquecido que estava sem blusa alguma.
Sem perguntarem mais nada ou hesitarem nos direcionamos para o círculo dos chalés onde já via Leo nervoso provavelmente esperando a gente:
- Nico! – diz ele indo até mim – Eu não... Eu não sei o que aconteceu. Uma hora ela estava no meu chalé e depois sumiu...
- Calma Leo, vamos achá-la. Temos que nos apressar – digo olhando para eles e depois me direcionando até a floresta.
Que os deuses nos protejam e que ninguém ali seja levado pelas vozes de novo.
Ao adentrar na floresta imediatamente sinto o vento gelado dela incomodar meu corpo. Por sorte estava com o blusão do Will que me protegia da brisa gelada, meu corpo ainda estava um pouco fraco, mas por conta da adrenalina não deixo que ela tome conta do meu corpo.
A claridade da manhã já estava se fazendo aos poucos presentes no local. Eu conhecia aquela floresta com a palma da minha mão então os guio até o locar pelo qual da ultima vez tinha visto Mia na floresta. Torcia para que estivesse bem e sóbria.
Após andarmos por alguns minutos via a impaciência de Leo e o seu nervosismo. Ele sabia o que poderia acontecer caso Calipso sumisse assim. Sabia que por dentro estava se culpando pela aquela situação porque eu, como sempre, sabia que tinha culpa junto.
Depois de caminharmos e adentrarmos mais na floresta ouço de longe alguns passos por perto e alguns galhos se quebrando. Alguém estava por perto.
- Mia! – grito na esperança de ser ela.
Nenhuma resposta, o silêncio na floresta estava ficando torturador.
Penso em chamar por ela de novo quando ouço os passos mais perto de onde estávamos. Logo, vejo uma silueta se formando a nossa frente. Quando ela se torna mais visível vejo Mia com uma expressão assustada e de medo:
- Mia! – vejo Andrew indo até ela.
- Não... Não se aproxima... – diz ela se afastando dele.
Parecia assustada com alguma coisa, como se tivesse visto um fantasma ou alguém perseguido ela:
- O que...? – vejo Andrew parando no meio do caminho surpreso – Mia, o que aconteceu...?
- Eu... – diz ela pausadamente e logo vejo lágrimas se formando no rosto dela- Tinha alguém... Minha irmã...
Fico com os olhos arregalados ao ouvir aquelas palavras. A irmã de Mia... Ela tinha me contado apenas uma vez sobre aquela história. Antes de ela ir para o Acampamento Júpiter, Mia tinha uma irmã de cinco anos que em uma noite havia sido levada por uma Fúria. Ela a procurou por anos, mas nunca a encontrou. Como não conseguia usar seus poderes no momento da captura, se culpava até hoje pela possível morte de sua irmã. De todo esse era o pior pesadelo dela.
Penso em falar algo ou até mesmo ir até ela quando sou interrompido ao ver Andrew ignorando as ordens e a abraçando. Mia dessa vez não impede e apenas se desmancha em choro e se apóia nos braços dele. O seu choro e soluço tomavam conta da floresta.
Sinto uma dor enorme em meu peito ao ver aquela cena, eu sabia o quanto uma perda podia ser dolorosa e ser perturbada por ela ainda era incomodo a ponto de ser torturante. Fico estático vendo aquela cena e logo penso em Bianca e em como eu ficaria caso a visse na minha frente de novo, dessa vez sem ser em um sonho. Sinto meu corpo tremeluzir um pouco e tento, sem sucesso, parar com aqueles pensamentos.
Sendo impedido de desabar, sinto Will segurando a minha mão e me olhar. Logo, todos os meus pensamentos vão abandonando a minha mente. Vejo meu corpo voltando ao normal. Aqueles olhos nunca não perdiam o brilho e como das outras vezes tinha trazido a calmaria.
- Onde... – ouço Leo falando baixo – Cadê a Calipso...?
Então, olhando ao redor percebo que Calipso não estava com a Mia.
- Mia... Cadê a Calipso...? – digo pausadamente.
Aos poucos vejo ela se acalmando e recuperando a consciência:
- Ela... Estava atrás de mim, mas quando percebi o que tinha acontecido... Não estava mais comigo – diz ela ainda com a voz tremeluzida – Eu procurei por ela, mas não a encontro.
- Precisamos ir atrás dela logo, não vai ser bom se também estiver vendo ou escutando coisas – diz Will do meu lado, e ele estava certo. Precisávamos andar logo.
Antes que pudesse dar o comando para irmos atrás dela e falar para Andrew levar Mia para longe daqui, ouço mais uma vez passos vindo de longe. Porém dessa vez estava acelerados, pareciam fugir ou correr de algo.
Penso em gritar para a pessoa se identificar quando percebo que os passos estavam ficando mais perto, estava alerta olhando para todos os lados na espera que alguém aparecesse.
Então, vejo ao meu lado alguém esbarrar bruscamente em Leo o derrubando de costas no chão. Olho assustado e surpreso para a cena quando vejo que a pessoa com quem tinha o derrubado era Calipso. O que estava acontecendo ali?
- Ca... Calipso? – vejo Leo a olhando assustada e surpreso – É você...
Logo ele a abraça forte saindo do transe fazendo com que ela retribuísse na mesma intensidade. Sinto um alivio em minha mente, todos pareciam bens na medida do possível e estávamos juntos. Poderíamos sair o quanto antes daquele lugar logo.
- O que houve? Onde você estava? – diz Leo ainda a abraçando.
- Eu... – diz Calipso com a voz tremeluzida – Eu fui atrás da Mia só que acabei a perdendo de vista...
Ia pedir para que resolvêssemos tudo aquilo longe da floresta quando vejo no seu braço direito uma marca roxa, como se tivesse caído ou sido prensada por alguém. Então, acabo me lembrando onde tinha visto aquelas marcas: eram a mesmas que tinham sido deixadas no braço do Will por Dylan.
- Calipso... Quem fez isso no seu braço? – digo interrompendo a cena de alivio de todos.
- O que é isso? – vejo Leo olhando para o seu braço também.
- Foi aquele menino... Dylan? Eu encontrei com ele pelo caminho – diz ela nostálgica- Parecia assustado com algo, e dizia que precisávamos sair da floresta o mais rápido possível. Eu falei para ele que não podia, que precisava encontrar Mia. Então ele agarrou meu braço e me arrastou por aqui.
-Onde ele ta agora? – vejo Will falando ao meu lado, parecia muito preocupado.
- Eu não sei... Ele começou a conversar sozinho, eu aproveitei a brecha e soltei seu braço de mim e saí correndo – diz ela nos olhando.
Ok, isso estava muito estranho. Dylan não era uma das pessoas mais controladas que conhecia, mas agir daquela forma? Querer tirar as pessoas da floresta? O que ele sabia sobre tudo aquilo? Eu não acreditava que tinha alguma coisa a ver diretamente com os seus desejos. Aquela floresta parecia ter algo muito além da nossa compreensão. Não afetava todos, mas quem conseguia a levava a loucura.
- Eu vou procurar por ele – ouço Will falando.
- O que? – digo o olhando surpreso – É perigoso isso.
- Eu não posso o deixar perdido por ai, se essa floresta é tão perigosa assim é cruel fazer isso – diz ele me olhando.
Abro minha boca para contestar, porém sabia que era verdade. Dylan poderia ter feito a pior das coisas com a gente, mas o deixar naquele lugar e possivelmente o enlouquecer era muito pior. Não faça as mesmas coisas que ele faria Nico.
- Tudo bem, mas eu vou com você – digo o olhando firme.
Vejo-o concordar com a cabeça e se vira para olhar aos outros:
- Melhor vocês voltarem, deixar elas mais aqui é loucura – diz ele olhando principalmente para Mia.
Todos concordam sem questionar a nossa opção e me sinto mais aliviado por isso. Deixá-los ali apenas distrairia a minha mente e já não confiava mais nos meus pedidos aos deuses para manter todos a salvo.
Logo, sem hesitar, Will sai adentrando na floresta e eu o sigo alerta. Qualquer que fosse uma mudança em seu andar ou estado eu iria tirá-lo imediatamente dali.
Caminhamos por alguns momentos e percebo que a manhã começa a se tornar mais presente no céu. Que horas deveriam ser?
Quando volto a focar onde estávamos indo vejo que reconhecia mais aquela parte da floresta. Continuamos andando até que minhas suspeitas são confirmadas quando vejo o lugar pelo qual apenas eu, Will, Jason e Percy tinham conhecimento.
Dali, a claridade parecia maior e o vento frio também. No começo ela me incomoda, porém logo normalizo a minha vista e quando isso acontece percebo que Will estava a alguns passos muitos frente de mim. Quando penso em acelerar meus passos sou deixado em estado de transe ao ver a cena em minha frente.
Perto do penhasco a frente via Dylan se auto-abraçando. Estava tremendo e sussurrando algo, parecia muito como eu tinha ficado da ultima vez que estivera ouvindo as vozes na floresta.
- Nico, fique aqui – vejo Will falando comigo, porém olhando para o garoto à frente.
- O que você vai fazer? – digo não tão alto.
- Eu preciso ir até lá, mas você tem que ficar. Se ele te ver as coisas podem piorar – diz ele e depois me olha- Confia em mim.
- Toma cuidado Will, por favor – digo antes de ele continuar caminhando e ir até Dylan.
Will on
Eu não podia negar que estava com medo de ir até Dylan. Parecia mais fora do normal que o habitual, mas eu não podia simplesmente abandoná-lo. Eu ainda queria tirar ele daquele sufoco e o trazer de volta. Conhecia a pessoa por quem convivi por anos, e certamente não era aquele que tinha visto no ultimo ano.
Aproximo-me dele e percebo o quão trêmulo esta. Ainda sussurrava coisas que não conseguia deduzir, apenas via que eram palavras rápidas e curtas.
Ao ficar bem perto dele respiro fundo e me preparo para a situação:
- Dylan...? – digo tocando o seu braço frio.
Assustando-me, o filho de Ares me olha surpreso e na defensiva agarra meus braços com força. Enrijeço meu corpo pela dor e rapidez do seu ataque.
Mantenha a calma Solace.
- Sou eu Dylan – digo olhando firme em seus olhos.
- Will...? – diz ele hesitando um pouco e fraquejando os braços.
- Sim, sou eu – digo tentando demonstrar menos medo possível.
- O que você faz aqui...? – diz ele se acalmando aos poucos – Você não pode ficar, elas vão te pegar também!
- Quem vai me pegar? – digo preocupado – Quem ta fazendo isso com você?
- São... Eu não posso falar... Prometi que ia manter em segredo – diz ele mudando de humor de novo e se desesperando – Tem que ir embora. Tem... Tem...
- Eu vim te buscar Dylan, volta comigo para o chalé – digo tentando trazê-lo de volta a realidade.
- Veio... Veio me buscar? – diz ele mais calmo – Por... Por que?
- Você é meu amigo Dylan, por que eu não te buscaria? – digo o olhando calmo.
- Meu amigo... É... – diz ele olhando para os lados e soltando meus braços – Por que? Eu fiz coisas...
- Não importa isso agora, vem comigo só – digo tentando manter o ritmo da conversa.
Estava quase conseguindo convencê-lo a via comigo quando vejo o seu corpo tremeluzindo de novo e o seu olhar de assustado voltar.
- Não... Ele veio me buscar... – diz Dylan sussurrando – Não vou... Esquecer...
Ele estava falando com quem? Céus, isso estava aterrorizante demais. Tire-o daqui logo Solace.
- Acordo... Sim, sim, sim, sim. Vai cumprir... Vai, vai, vai sim – diz ele sussurrando e repetindo as palavras.
Não aguentando mais ver aquela cena o abraço. Não me pergunte o que estava pensando naquela hora, eu só queria sair daquela floresta e poder nem que fosse um pouco trazer de volta meu amigo.
Por sorte, aquele abraço parece livrá-lo da possível pessoa com quem estava falando. Em seguida, parecendo sair do seu transe sinto-o retribuir o abraço de leve e aos poucos perdendo a estabilidade do seu corpo. Logo percebo que tenho que dar estabilidade ao seu corpo e vejo ao olhar para ele vejo que tinha desmaiado. Dylan... O que aconteceu com você?
Sem precisar chamar por ele, vejo Nico indo até mim com uma expressão de preocupação:
- O que aconteceu...? – diz ele olhando para o garoto em meus braços desmaiado.
- Nico... Você precisa me ajudar a tirá-lo disso – digo ignorando a sua perguntando e não segurando mais meu desespero.
Nico fica me encarando triste. Ele estava absorvendo o que eu estava sentindo naquele momento: desespero, preocupação, tristeza. E eu apenas não conseguia controlá-los.
- Vou tirar vocês daqui primeiro – diz ele se preparando para algo que sabia o que era.
- Tem certeza? Você ainda ta fraco Nico, isso vai piorar a sua situação – digo o olhando preocupado.
- Seja menos preocupado comigo Will, precisamos tirar ele daqui antes – diz ele olhando.
Apenas concordo com ele, havia prioridades aqui e como falava: precisávamos confiar mais um no outro sobre essas coisas.
Em seguida, eu e Dylan somos absorvidos pelas sombras.
Depois de sair da escuridão vejo que Nico tinha nos direcionado diretamente para a enfermaria. Sem falar nada coloco Dylan na cama, parecia estar apenas dormindo me deixando menos preocupado. Porém ainda queria ficar ao seu lado até que estivesse totalmente acordado e demonstra-se uma estabilidade.
- Eu vou ficar aqui com ele – digo olhando para o Nico.
- Acho melhor voltar e avisar aos outros que estamos bem – diz ele tentando levar a situação numa boa – Você vai ficar bem...?
A situação podia estar tensa, mas ver Nico daquele jeito preocupado comigo fez com que parte da minha preocupação fosse embora. Eu realmente me entregava muito fácil perto dele.
- Eu vou ficar bem, te encontro depois que ele acordar – digo me aproximando dele – E você? Vai ficar bem com tudo isso?
- Eu preciso de um longo sono antes, mas vou ficar bem – diz ele se aproximando mais de mim – Foi difícil me controlar antes, mas estou melhorando nisso.
- Te recompenso um dia por isso – digo dando um selinho demorado em seus lábios – Logo tudo vai acabar.
- Vai sim, o quanto antes – diz ele me abraçando forte.
- Nico – digo retribuindo seu abraço e falando baixo – Obrigado por ter confiado em mim naquela hora.
- Você sabe o que faz Will, só preciso deixar mais meu lado protetor de lado. Eu só não quero que nada te aconteça, não aguentaria – diz ele reforçando o abraço.
- Nada vai me acontecer, não vou permitir isso. Tenho uma longa vida para te perturbar ainda – digo sorrindo sentindo deixando a tensão de o meu corpo aos poucos ir embora.
- Não vejo à hora disso acontecer – diz ele se afastando um pouco de mim e me dando um selinho demorado – Preciso ir, devem estar preocupados com a gente.
- Deixa a porta do seu chalé aberto, vou lá depois – digo olhando fixo para ele.
- Vá dormir Solace –diz ele sorrindo- Mas vou deixar.
Sorrio para ele e o vejo saindo da enfermaria. Em seguida, direciono meus olhos para o menino deitado na cama a minha frente e sinto meus sentimentos me derrubando como uma avalanche de novo.
(...)
Nico on
Ao sair da enfermaria vou até a procura de os dois. Ao encontrar Dylan aviso que tudo tinha ocorrido bem na medida do possível. Andrew me falou que antes mesmo de ter chegado ao circulo dos chalés Mia tinha desmaiado e estava agora no novo Argos dormindo, falou que passaria a manhã ao seu lado para se assegurar. Sinto-me mais aliviado por isso, estaria a salvo com ele por perto. Falou-me também que Leo e Calipso estavam junto a eles no Argos e que tinham avisado que tudo estava bem agora, e como não queria atrapalhá-los apenas os deixou sozinhos.
Compreendo a sua ação e depois da nossa conversa vou até meu chalé e sem enrolar muito me jogo na cama e me preparo para ter uma longa e perturbada noite de sono.
Confirmando o que tinha falado, estava agora em um lugar bastante familiar para mim: o Palácio de meu pai no submundo, especificamente na sala do trono.
A minha frente, em pé, estava Hades olhando e me analisando. Ah, eu tinha tantas perguntas para fazer.
- Decidiu se vai aceitar a minha proposta? – diz ele se aproximando de mim.
- Eu vou aceitar – digo firme.
Era perigoso? Sim, muito. Porém não tinha outra opção a não ser aquela. Era pegar ou largar e eu queria acabar com tudo o mais rápido possível, não tinha certeza de quanto tempo todos tinham.
- Então já sabe o que tem a fazer. Vou prepara a sua chegada para assim economizar energia – diz ele.
- E quanto a Quíron? – digo me lembrando das ordens do centauro.
- Não se preocupe, eu vou resolver isso. Mais uma coisa – diz ele organizando as palavras – Traga o filho de Apolo com você.
Ok, aquilo realmente me surpreendeu muito.
- O que?! Trazer ele pra que? – digo curioso.
- Tenho coisas a resolver com ele, não se preocupe Nico. Estará a salvo – diz ele tentando me tranquilizar. E por incrível que tenha parecido, ele conseguiu.
- Você... – digo aproveitando a oportunidade- sabe algo sobre as vozes que tem me perturbado?
- Temo que sim – diz ele me olhando analítico e preocupado – Torça para que eu esteja errado, mas isso não deve ficar martelando na sua cabeça. Precisa focar em uma coisa de cada vez.
- Vai me dizer depois que tudo acabar? – digo garantindo a minha resposta.
- Vou dizer – diz ele concordando fácil demais comigo – Se prepare para a batalha Nico, pode ser a ultima de vocês. Tem certeza que quer arriscar?
- Eu preciso, tem alguém que preciso libertar. E não é como se eu fosse morrer... Eu acho – digo meio confuso comigo mesmo.
- Tentarei fazer o que estiver ao meu alcance para que nada ocorra com você. Precisa se livrar daquela maldição logo – diz ele me fazendo lembrar dos versos – Vá dormir agora, a semana por sorte vai ser tranquila.
Então, com as suas ordens a imagem começa a tremeluzir e sou deixado em uma escuridão profunda em meus sonhos.
(...)
A semana se seguiu assim como meu pai havia falado: calma e sem mais transtornos. Naquele dia em questão, quando acordei assim como Will tinha falado estava do meu lado. Contou-me que Dylan tinha acordado e parecia não se lembrar do que tinha acontecido na noite passada e estava no seu estado mais normal, assim como ele o conhecia.
Quanto a Mia, não toquei no assunto da floresta com ela por motivos de... Você me entende. Revirar as coisas às vezes era péssimo. Calipso desde aquele dia dormia no Argos junto a Leo, assim como Mia e Andrew. Os dois pareciam aos poucos voltarem a se falar e isso me deixava mais aliviado. Seria difícil se Mia continuasse recusando a sua presença.
No resto dos dias passei treinando novamente, não podia deixar de lado a luta que logo aconteceria. Tinha contado ao Will que aceitaria levá-lo comigo, se, e só se, ele tomasse cuidado e não fosse teimoso. Lógico que acabou concordando. Ah e ele tinha voltado a usar o colar de Sol, não perguntei a razão especifica para aquilo. Era estranho como ainda não reluzia e ainda me deixava com uma pulga atrás da orelha, mas era como Apolo tinha falado antes: poderia ser um erro de Hefesto.
E agora, nesse dia específico, era o dia da luta que Quíron havia adiado. Era hoje que tudo acabaria e conseguiria livrar todos do perigo finalmente. Estava na hora de colocar um ponto final nisso e deuses, que dê certo o que eu e meu pai tínhamos pensado. Não via nenhuma saída mais, só me restava confiar.
- É hoje – digo falando olhando para Will que me abraçava deitado ao meu lado.
Na noite passada específica tínhamos decidido ficar no Argos, naquele mesmo quarto onde tinha entregado o nosso fio.
- Sim, é hoje que nós vamos escrever o nosso futuro – diz ele me olhando, sentindo meu abraço, calor e me deixando esconder no meio daquele conforto.
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