Cinco, dez, quinze minutos. O tempo parecia não passar, mas Soobin não estava tão incomodado quanto seus colegas. Aproveitava aqueles minutos extras para reler, pela terceira vez, o parágrafo que não conseguia compreender pela falta de concentração.
Mesmo com o professor impaciente interpretando o conteúdo das intermináveis páginas da apostila e com a explicação objetivamente resumida de Yewon, que era quase um privilégio, não conseguia digerir aqueles exemplos por nada. A culpa, além da vontade inexistente de absorver aquele conteúdo, era em parte, é claro, do novo álbum do Troye Sivan.
Sua mente parecia se recusar a dar atenção para qualquer outra coisa que não fossem as músicas recém-lançadas de um dos seus cantores favoritos. Já tinha decorado a letra da grande maioria e, se fosse falar a verdade, estava quase obcecado pelo álbum. A sua disposição mental estava totalmente focada em cantar mentalmente as canções e contemplar as letras tão adoradas por si, o que, consequentemente, tirava qualquer chance de que entendesse o exercício que deveriam concluir para a próxima aula.
— Tu conseguiu, Bin? — nem ouviu a garota à sua frente e, mesmo se tivesse ouvido, era provável que não subisse o olhar para tentar alguma resposta verbal. Também não quis tirar a atenção do livro ao ouvir a porta da sala sendo aberta.
Depois de tanto esforço, acreditava estar conquistando alguma linha de raciocínio e chegando perto de pelo menos começar a entender o exercício.
O que poderia ser mais importante que isso?
Aquilo era. E, avisado pelo universo, por forças sobrenaturais ou mesmo por perceber que todos os colegas tinham parado completamente o que estavam fazendo para descobrir o que interrompera a aula, Soobin sentiu que era.
Realmente não acreditava em destino ou intuição, nunca foi do tipo de dar atenção para esse tipo de coisa, mas pareceu nem ter escolha senão espiar por cima do ombro de Yewon, ainda que estivesse pronto para voltar o olhar para livro em sua mesa. Contudo, ao ter a visão clara do que tinha causado o fim de sua concentração, não conseguiu seguir o plano inicial de recuperar o foco.
Como uma recompensa divina, a porta aberta revelou o rosto mais bonito que o Choi se lembrava de ter vislumbrado. Não tinha o visto antes, com absoluta certeza, e considerou até mesmo estar criando aquilo em sua mente pela improbabilidade de ter o dia iluminado por uma figura tão irreal.
Esperou que os segundos pudessem passar em câmera lenta para reparar em cada detalhe sobre o garoto, se convencendo de início que sua reação era apenas pela surpresa de ter aquilo acontecendo, e se perguntou em seguida se a sua situação pioraria caso conseguisse o ver de perto ou se conseguiria disfarçar a dedicação com que analisava a imagem extraordinária.
O incomum uniforme desajustado fez Soobin ficar curioso sobre o garoto, como já era esperado. A camisa branca por fora da bermuda, a gravata levemente frouxa e o cabelo bagunçado, dividido ao meio e tão preto quando o All Star cano alto que calçava tornavam aquela visão quase inconcebível. A figura de rebelde já tinha sido instaurada na cabeça do Choi quando parou de estudar o corpo alheio e ficou preso reparando nos lábios desenhados.
Tão lindo.
Sabia que aquilo era teoricamente errado, mas seu cérebro não o deixava se importar naquele momento. Sabia que deveria parar de encarar o garoto antes que qualquer um percebesse, mas nem se quisesse conseguiria desviar o olhar daquela figura magnífica. Sabia que precisava respirar normalmente, mas parecia ter perdido o controle do seu próprio corpo tão de repente.
Paralisado por completo, Soobin agradeceu mentalmente ao professor por impedir que a visão mais absurda que tivera na vida desaparecesse sem oferecer uma explicação.
— Sala errada. — o garoto exprimiu baixo, sem fazer muita questão antes de fechar a porta.
E assim, foi embora. Sem reparar em qualquer um dos estudantes cansados dos quais havia atraído a atenção. Sem se importar com a impaciência do professor que resmungou algum xingamento por ter sua aula interrompida. Sem fazer questão de ouvir os suspiros das garotas que provavelmente também o viam pela primeira vez. E, claro, sem perceber a completa fascinação no olhar de Soobin.
O Choi esperou alguns segundos, apenas para garantir que não tinha sido um delírio, e se inclinou em direção à Yewon, com a voz do garoto que recém criava um espaço em sua mente ecoando em seus ouvidos. Era tão bonita quanto ele próprio.
— Yewon... — chamou em um sussurro para não assustar a garota, mas demorou a continuar por não saber ao certo como esconder a curiosidade. — Tu sabe... quem é? Eu nunca tinha visto. Ele.
— Claro, tu não repara em praticamente ninguém dessa escola.
Apesar do tom brincalhão da garota, era a verdade, e Soobin nem conseguiu contestar. Apenas se rendeu sem nenhuma demora, tendo que concordar com a alegação.
— Mas... tu sabe... quem é? — sua pressa ficou explícita quando tentou retomar sua própria dúvida, e Yewon sorriu, se ajeitando na cadeira para que pudesse oferecer toda a sua atenção.
— Yeonjun. Choi, se eu não me engano. Eu acho que ele é do nosso ano, e ele deve ser do Segundo "B" já que ele não é da nossa turma. — afirmou, depois de alguns segundos pensando. A voz calma, como sempre, mas Soobin quase nem ouviu o resto da especulação da garota. — Eu tenho quase certeza de que ele entrou esse ano, então tu pelo menos tem uma desculpa por não saber quem ele é.
— Choi Yeonjun. — repetiu por impulso, no mesmo volume baixo proposto no início do diálogo, e sorriu sem perceber.
Não deveria sorrir.
Yewon riu soprado antes de virar para frente de novo e Soobin quis agradecer pela compreensão que a garota tinha consigo apesar da falta de uma grande intimidade. Era um alívio saber que Yewon não faria grande caso daquilo mesmo que fosse "errado" em senso comum para qualquer um dos seus outros colegas.
Não tinha possibilidade alguma de que a garota não tivesse percebido, mas Soobin se questionava se sua reação tinha sido tão clara, apesar de que, naquele ponto, era possível que até mesmo o professor soubesse do seu encanto inesperado pelo garoto. Se qualquer um dos seus colegas espiasse em sua direção saberia que aquele mísero evento tão rápido tinha o afetado de forma tão inesperada.
Afundou a cabeça entre os braços cruzados sobre a mesa, tentando se convencer a deixar aquilo de lado. Não lembrava da última vez que tinha reparado daquela forma em qualquer pessoa e compreendia que seria melhor se continuasse assim.
Focar nos estudos. Era só isso que precisava fazer, assim como todos seus colegas, inclusive Yewon. Ir para a faculdade, se formar, dar orgulho para a família e, só depois, pensar em romance. Com uma garota, é claro.
Era simples seguir esse plano. Deveria ser.
O problema era que seu coração batia tão rápido naquele instante que ficou com medo de algo estar fisicamente errado consigo. E, por mais que quisesse negar para si mesmo, sabia que aquilo não se repetiria com garota nenhuma. Talvez com nenhum outro garoto também.
Choi Yeonjun, pensou novamente. Não conseguiria esquecer.
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