Pareciam não ter nenhuma sorte; quase todo o primeiro período foi tomado por tentativas frustradas de aperfeiçoarem pelo menos "She Will Be Loved”, mas sempre acontecia algo na ponte da música que fazia com que perdessem a concentração e errassem o último refrão por completo. Estava ainda pior que no primeiro ensaio.
Mesmo com Yeonjun surpreendentemente tentando motivar o grupo, apesar de estar claramente perturbado pelas falhas, não parecia funcionar. E, se fossem discutir sobre, Soobin ganharia facilmente como o maior culpado.
Estava errando mais do que da primeira vez que tinham tocado juntos e isso fazia os outros quatro desandarem, mas o que poderia fazer? Sentia o olhar do baterista ocasionalmente em si sem nem precisar se virar para Yeonjun, e o frio na barriga consequente disso era tão intenso que não conseguia controlar nem depositando toda a atenção no violão.
Para si, a ação do mais velho só podia ser uma reafirmação de que era ele o centro do problema. Se não conseguisse oferecer a base que Taehyun precisava, todos os outros se perdiam e não conseguiam nem pensar em progredir para as próximas músicas. Era claro que estava no radar de Yeonjun pela sua evidência nas falhas da canção.
Tinha que se recompor.
Huening Kai ainda estava um pouco esperançoso, assim como Soobin tentava se manter, mas era notável que Taehyun se sentia levemente desgastado e Beomgyu perdia a paciência aos poucos. O clima só não estava pesado pela música que soava tão apaziguadora, mesmo quando não era terminada.
— Puta que pariu, Yeonjun! Tu não escuta a gente parando? — Beomgyu disparou, parecendo preparado para bater no amigo, que só parou de tocar o instrumento quando ouviu a reclamação.
— Vocês param do nada, porra! — rebateu, sem o tom áspero que o outro usava, mas parecendo tão estressado quanto.
Era a oitava tentativa que poderia ser considerada integralmente fracassada, todos estavam tensos. Soobin se forçava a se manter focado ao máximo para evitar os próprios erros e, naquele ponto, Yeonjun era o mais impreciso dentre os cinco, o que parecia deixar o próprio baterista cada vez mais frustrado.
— Quando o refrão termina, a gente dá mais duas voltas com o Taehyun cantando o final e para, caralho! Não é difícil! — o baixista esclareceu, mais irritado que disposto a realmente orientar o outro.
— Nas de antes vocês deram quatro! — se pôs defensivo, parecendo nem entender a mudança.
— E depois a gente decidiu dar só duas! Se tu prestasse atenção no que a gente fala, tu ia saber!
Apesar de ver os dois mais novos assistindo à discussão atentamente e se sentir tentado a os acompanhar, Soobin não conseguia. Percebia a irritação de Yeonjun apenas por sua voz e seria martirizante demais observar a cena.
— O Huening também errou nessa. Não faz sentido tu brigar só comigo! — Yeonjun apontou para o tecladista, que afirmou com a cabeça. O mais novo estava claramente intimidado, mas parecia disposto a contribuir como conseguisse para o fim da discussão.
— Mas ele não fica tão óbvio que nem tu! — Beomgyu continuou, em tom um pouco menos agressivo, como se estivesse tentando controlar a irritação, mas ainda rígido em sua reclamação.
— Eu... também errei. — Huening Kai se manifestou em volume baixo e Soobin se sentiu péssimo. Tinha se convencido de que o clima seria melhor a partir da primeira vez que ensaiaram todos juntos, e aquela manhã parecia tão distante de sua expectativa que era doloroso.
— Eu também não terminei bem depois do segundo refrão... — Taehyun, que também parecia incomodado pela briga, tentou tirar um pouco da responsabilidade de Yeonjun pelo erro.
— Tu foi perfeito. — Beomgyu se referiu ao vocalista de maneira apressada, como se nem tivesse o direito de se explicar. — O problema é o Yeonjun não prestar atenção e ficar errando pra caralho.
Soobin sentiu quase necessidade de direcionar o olhar ao baterista, mas julgou que isso só pioraria a situação. Apenas o fez quando percebeu Yeonjun resmungando algo sobre ir respirar um pouco e saindo de perto da bateria tão de repente que nem deu tempo de o impedir.
Assistiu ao outro descendo do palco e sentiu um aperto acentuado em seu peito quando Yeonjun sumiu para fora da porta grande do teatro. O baterista parecia realmente abstraído e aquilo deixava o Choi infinitamente mais preocupado do que os erros que cometiam na música.
— Alguém... vai... — Huening Kai permaneceu sentado, mas parecia ter a vontade de ir atrás do mais velho. Todos estavam tão comprometidos a ter êxito no ensaio que a preocupação era inevitável, por mais que ainda se conhecessem tão superficialmente.
— Eu não sei porquê, mas ele tá péssimo hoje. Deixa ele respirar um pouco que ele volta melhor. — o baixista comentou, suspirando. Estava claro que não gostava de discutir genuinamente com o amigo, apenas quando ambos se divertiam com as provocações, o que definitivamente não era o caso.
Taehyun e Huening Kai direcionaram a atenção para Soobin, que nem se preocupava em esconder a inquietação que sentia. Encarava a porta como se Yeonjun fosse voltar a qualquer momento, mesmo sabendo que isso provavelmente demoraria a acontecer.
— Tu não quer ir ver se ele tá bem?
Se surpreendeu com a pergunta em volume baixo de Taehyun, que se aproximara discretamente. Não tinha planejado ficar nervoso quando falasse com qualquer um dos mais novos naquele ensaio, mas um dos seus receios sobre as reuniões do grupo se apresentou um tanto antes do esperado.
Estava tão óbvio que era fascinado por Yeonjun ao ponto de até mesmo os outros que nem o conheciam perceberem?
— Porque... eu? — tentou não soar defensivo, mas a hesitação em sua dúvida era evidente.
Apesar de ver Huening Kai e Beomgyu conversando do outro lado do palco, não conseguiu relaxar completamente. Pelo menos os dois pareciam não ter percebido, mas Taehyun tinha uma postura tão segura à sua frente que o Choi não soube dizer se o vocalista já tinha alguma noção de sua atração por Yeonjun ou se só estava antecipando o seu medo.
— Vocês são do mesmo ano. Pode ser que tu consiga entender ele melhor. — Taehyun respondeu como se fosse óbvio e Soobin se sentiu aliviado apesar de fazer o seu melhor para não demonstrar.
Cedeu sem pensar muito. A verdade é que nem conseguiria ficar naquele palco sem fazer nada, independente de qual dos meninos saísse daquela forma. Ser Yeonjun só aumentava a sua preocupação, mas iria atrás de qualquer um dos outros quatro.
Taehyun se encarregou de responder Beomgyu quando o baixista perguntou o que Soobin faria e o Choi se aligeirou para procurar por Yeonjun mesmo sem saber se deveria.
Não tinha a mínima ideia de onde o mais velho poderia estar, o que era acumulado à preocupação de saber que o intervalo estava perto e que as chances de perder completamente a oportunidade de conversar com o outro eram altas.
Procurou pelos banheiros do primeiro e segundo andar do prédio principal, sem sucesso. O baterista também não estava no pátio, nem nas áreas de convivência perto do teatro. Soobin estava quase desistindo quando foi até o último lugar que conseguia pensar.
Suspirou em alívio ao ver Yeonjun sentado em uma das cadeiras da sala de música, mas, depois, foi consumido por uma agitação agonizante ao ser percebido pelo baterista. Estava tão preocupado em o encontrar que não tinha nem pensado no que dizer. Não tinha a mínima ideia de como começar um diálogo e, quando e se conseguisse, não sabia se deveria tentar conversar sobre o ensaio ou agir como se nada tivesse acontecido.
— Desculpa por ter saído assim. Foi dramático pra caralho e eu sei que não precisava disso... — Yeonjun exprimiu, parecendo impaciente consigo mesmo.
O baterista estava jogado na cadeira e não parecia fazer nenhuma questão de se manter cordial, mas, só por não ter que quebrar o silêncio ele próprio, Soobin se sentiu grato.
— Não foi. — negou com afobação, tentando tranquilizar o outro e sem saber se deveria se aproximar ou continuar exatamente na porta da sala. Yeonjun ainda subiu o olhar, quase tentando convencer o Choi a concordar consigo, mas Soobin se manteve firme.
Não considerava drama. Sentia que, se ele próprio estivesse sendo abordado daquela forma, teria fugido sem nem se importar em dar explicações e não conseguiria voltar mesmo se quisesse. Nem se atreveria a julgar a atitude do mais velho.
Yeonjun sorriu infimamente como um agradecimento e indicou uma das cadeiras com a cabeça. Soobin entendeu o convite, mas demorou mais que o esperado para finalmente se juntar do outro.
Sentiu sua boca secar. O coração estava acelerado desde o momento em que encontrara Yeonjun na sala e, caso o nervosismo não estivesse claro, não conseguia manter o contato visual por muito tempo, como de costume. Se sentia tão estúpido por não conseguir agir normalmente e nem entendia a ocasional falta de sensos.
Sentou na fileira à frente de Yeonjun, sem coragem de sentar ao seu lado. O baterista riu soprado e se escorou com os braços no acostamento da cadeira ao lado da escolhida por Soobin. Parecia tão descolado o tempo todo.
— Tu tá quase conseguindo tocar a música inteira sem errar, eu to impressionado. — mudou o clima do diálogo de repente, esboçando um sorriso sutil que complementava o tom presunçoso.
Soobin sabia que a constatação alheia era uma mentira suja, mas ouvir Yeonjun enunciando que tinha o impressionado causou uma inquietação ridiculamente positiva em si. Quase não conseguiu conter o sorriso.
— Eu... acho que a gente consegue. Se a gente continuar... ensaiando. — desviou o foco de si mesmo, apenas por saber que não conseguiria controlar o rubor nas bochechas se Yeonjun o elogiasse. Ao mesmo tempo, poderia ver como o outro reagiria a ideia de voltar ao teatro.
— Se eu acertar a merda do tempo no final. — pareceu introspectivo e irritado ao se desescorar da cadeira, o que fez Soobin se arrepender. Não queria que o mais velho continuasse a se culpar.
— Tu não... — iniciou determinado a aliviar a responsabilidade do outro, mas não conseguiu concluir ao perceber o baterista levantando da cadeira. O seguiu com o olhar, receoso que Yeonjun sairia da sala pela frustração, e ficou confuso quando o mais velho parou na frente da parede que expunha as guitarras da escola.
— Vem cá, Choi. — chamou arbitrariamente, fazendo Soobin hesitar sobre obedecer ou só se convencer de que o outro não estava realmente querendo que se aproximasse.
Sentia as suas pernas fracas e tinha plena noção de que não conseguiria se manter composto se ficasse tão perto de Yeonjun. Mesmo assim, a expressão convincente do baterista pareceu incontestável naquele momento, e o Choi se sentiu obrigado a aceitar, quase que só para poder fugir da tensão que era causada por ser o foco da dedicação do outro.
Parou de frente para as guitarras que eram seguradas pelos suportes da parede e Yeonjun apontou para os instrumentos, como se estivesse esperando que o Choi tomasse uma atitude. Soobin imaginou que deveria escolher uma das guitarras, mas, se fosse sincero, não saberia nem mesmo tirar a selecionada do suporte.
— Tu vai ter que tocar em algumas das músicas. — o baterista discorreu, cessando qualquer dúvida que Soobin tivesse sobre a sua movimentação inesperada. — Escolhe uma.
Sem muita resistência, analisou as guitarras rapidamente, só por curiosidade. Eram seis no total, todas do mesmo modelo. Duas pretas, uma marrom em degradê, uma branca, uma laranja e uma azul clara. Soobin nem entendia porque a escola tinha tantas opções, mas eram agradáveis de se ver.
— Eu acho que... — tentou formular algum pensamento, mas se interrompeu. Seria pretensioso demais escolher, considerando que nem mesmo sabia como manusear o instrumento propriamente. — Não faz diferença. Todas são iguais, só mudam a cor.
— Sim. — Yeonjun respondeu, como se a constatação do outro fosse justamente o motivo pelo qual deveria escolher.
— Qualquer uma tá bom. — continuou, sem fazer muita questão de reavaliar o seu posicionamento sobre o dilema. Não faria diferença afinal de contas.
— Tu vai mesmo me fazer escolher pra ti, Choi? — o mais velho soou desacreditado ao perguntar e Soobin não respondeu.
Não conseguia entender. Queria acreditar que Yeonjun estava apenas brincando, mas o seu tom de voz fazia parecer que realmente se importava ao ponto de tomar a responsabilidade sobre aquilo para si.
Yeonjun riu soprado e interpretou o silêncio como uma afirmação, se ocupando pelos segundos seguintes a fazer as suas considerações sobre os instrumentos e escolher por Soobin.
O Choi se sentiu bobo ao gostar daquela situação e agradeceu pela distração do outro por nem conseguir ocultar o olhar encantado que a cena recebia. Pouco se permitia reparar em Yeonjun enquanto ensaiavam e já estava sentindo quase necessidade de finalmente abençoar seus olhos com aquela visão privilegiada.
A maneira como a franja repartida do cabelo intensamente escuro do baterista cobria o canto dos seus olhos e a energia despreocupada o deixavam cruelmente bonito naquele momento. Mexia as sobrancelhas de uma maneira espirituosa enquanto analisava as guitarras uma a uma, e Soobin sentiu seu coração acelerar mais uma vez.
Qualquer mínima novidade sobre o outro despertava algo prazeroso em si. Parecia perigoso que continuasse a deixar isso florescer, mas não se sentia capaz de rejeitar a própria reação.
— Eu acho que a azul ia combinar contigo. — apontou, fazendo Soobin seguir a direção com o olhar instintivamente, como se estivesse analisando as guitarras desde o princípio, e não o próprio Yeonjun que as escolhia.
Teve que controlar o sorriso que quis se formar pela maneira que o baterista se expressara antes de realmente analisar a guitarra, mas, quando o fez, constatou que, se tivesse que escolher, talvez a azul de fato acabaria por ser a sua preferida.
O sinal que indicava o intervalo ecoou antes que Soobin pudesse responder, o que o fez querer amaldiçoar a passagem de tempo como um conceito que funcionava independente da vontade das pessoas. Era frustrante ser interrompido em um dos únicos momentos em que poderia ficar sozinho com Yeonjun.
Se preparou para deixar a sala, mas se manteve parado quando percebeu que o mais velho parecia nem mesmo se importar com o som.
— Pode ser? — perguntou em tom calmo. Apontou a guitarra novamente antes mesmo do Choi demonstrar a confusão e esclareceu. — A azul?
Soobin concordou com a cabeça por impulso, mas tentou guardar a informação. Quando fosse tocar, pegaria a azul independente de qualquer coisa, mesmo que só para ver Yeonjun sorrindo como fez no momento em que recebeu a afirmação.
As vozes dos estudantes nos corredores começaram a ser impossíveis de se ignorar, e houve um consenso nos olhares dos dois de que deveriam sair da sala.
— Tu... quer voltar? Tudo bem por ti? — conferiu, apenas porque quase precisava daquela confirmação naquele momento.
— Eu não quero gastar mais tempo. — o baterista dispôs um riso abafado enquanto trilhava o caminho para fora da sala. — Porquê? Tu não quer voltar?
— Não, é só... — se sentiu exposto pela pergunta alheia. Medir a porcentagem que dividia ambas as situações: voltar a ensaiar e ficar sozinho com Yeonjun, era algo que provavelmente não o deixaria em paz consigo mesmo. Apesar de sentir uma realização absurda enquanto tocava com os outros quatro e saber que ensaiar era definitivamente uma das suas atividades favoritas, o outro terceiranista deixava o seu emocional desbalanceado. — Eu... entenderia se tu não quisesse voltar. Eu provavelmente não voltaria depois... daquilo...
— Por causa do Beomgyu? — virou para o Choi e parou o deslocamento por um instante, quase que só para ver a afirmação de um Soobin um tanto hesitante. A medida que o guitarrista se perguntava se deveria ter exposto a dúvida ou não, Yeonjun dissolveu em um riso confortante antes de continuar, que apaziguou o peito de Soobin junto da resposta mansa. — Não fica com essa impressão ruim dele. Ele só tá desesperado pra dar certo e fica nervoso quando eu não to tocando bem.
Soobin apenas aceitou a palavra do baterista como verdade absoluta, afinal, Yeonjun e Beomgyu eram os únicos que realmente se conheciam no grupo, e ele não questionaria o relacionamento dos dois daquela forma. Seria até mesmo injusto da sua parte, já que ele próprio conseguia perceber quanto se importavam um com o outro de qualquer maneira. Ansiava o momento em que ele mesmo aprenderia aquele tipo de coisa sobre cada um dos outros quatro.
Os dois seguiram o caminho até o pátio em silêncio. Soobin mantinha um sorriso tímido que praticamente denunciava o conforto que a companhia de Yeonjun estranhamente o causava naquele momento, e o baterista andava exalando confiança, como sempre. Seria viciante caso se perdesse na movimentação do corpo alheio, e Soobin tinha que se controlar para não o fazer.
O Choi não tinha nenhum indicativo de que o trio que tinha incomodado ele e Yewon na semana anterior voltaria a o perturbar, mas, por algum motivo ingênuo, se sentiu mais seguro ao passar perto dos garotos com Yeonjun. Era como se estivesse seguro.
Quis segurar o ombro do outro antes de entrarem no teatro, para indicar que iria se juntar de Yewon durante o intervalo como tinha planejado, mas não teve coragem de provocar o contato físico por algum receio que sua mente inventou. Acabou por apenas chamar pelo baterista, que assentiu quando o Choi expôs seu plano, e procurou rapidamente pela amiga.
Precisou se preparar mentalmente antes de se aproximar da mesa em que Yewon estava com outras meninas da sua turma, só por não saber como agir naquele cenário inesperado.
— Bin! — chamou ao perceber o amigo, fazendo gesto para que se aproximasse. O Choi se reuniu, disparando um sorriso envergonhado para as outras meninas. — Porque tu tá aqui?
— Eu... vim ficar contigo. Durante o intervalo. — nem entendeu a dúvida da amiga, mas tentou manter o volume baixo ao explicar, para não virar o centro da atenção das outras três meninas. O esforço evidentemente não valeu de nada e Soobin quase conseguiu ouvir os sussurros que trocaram entre si sobre ele próprio.
— Tu não vai ficar com os outros pra continuar ensaiando? — soou surpresa ao largar seu lanche na mesa para dar a atenção completa para o amigo.
Yewon estava legitimamente animada sobre a banda e o Choi se sentia sortudo por ter seu apoio. Mesmo assim, não tinha nem cogitado passar o intervalo sem a companhia da garota, e responder a sua pergunta com uma negação pareceu lógico para Soobin.
— É que a gente nem conversou sobre isso, então eu pensei que vocês iam usar o intervalo pra ensaiar também.
A suposição de Yewon fez o Choi perceber que ele e os quatro meninos tinham discutido muito pouco sobre os horários como um todo. Inconscientemente, imaginou que os outros também iriam se ocupar de outras maneiras durante o intervalo e nem pensara que considerassem aquele tempo como parte do ensaio também.
— A gente... nem falou sobre isso na verdade. — anunciou quase indefeso.
— Então vai lá! Eles devem estar te esperando.
Conhecia Yewon bem o suficiente para entender que estava sendo sincera, e se apressou até o teatro depois de prometer contar sobre o ensaio para a amiga, tentando não pensar muito. Nem sabia se algum dos outros estariam lá, mas não escondia a animação. Ter o apoio da garota era importante demais para si.
Huening Kai era o único ausente no teatro quando Soobin entrou. Os outros se viraram para conferir o Choi se aproximando e recebeu um sorriso de Yeonjun antes de cogitar subir ao palco. Taehyun e Beomgyu estavam sentados nas cadeiras da primeira fila da plateia e o baterista estava sozinho perto do seu instrumento.
— O Huening Kai foi comprar lanche, mas ele disse que já volta. — Beomgyu relatou ao recém chegado, tirando apenas por um segundo o olhar do celular que segurava mais perto de Taehyun do que de si mesmo e que parecia reproduzir um vídeo.
Soobin afirmou com a cabeça e se aproximou da dupla, se escorando no palco, de frente para os dois.
— Nenhum... nenhum de vocês vai... — o Choi apontou para a porta, sem saber ao certo como pedir se os outros ficariam ali durante o intervalo. Taehyun deu de ombros e Beomgyu negou com a cabeça. Soobin se virou para o baterista, que devolveu o olhar, sem responder.
Não soube explicar o motivo do contentamento que o atingiu de repente e se sentiu um pouco bobo por isso. Pareciam quase indiferentes a passarem o intervalo na companhia do grupo, mas, mesmo assim, estavam ali.
Subiram ao palco quando Huening Kai voltou, mas pareciam hesitantes a propor a continuação do ensaio. Taehyun e Beomgyu estavam sentados no chão, com o segundo testando seu instrumento no volume mais baixo possível. O tecladista observava Yeonjun como se estivesse tentando adivinhar se já estava pronto para voltar a ensaiar e Soobin tentava entender a expressão pensativa do baterista.
— Tá. — levantou subitamente, passando por Soobin e descendo do palco até as poltronas da plateia. Os dois sentados se levantaram com pressa e todos acompanharam o baterista com o olhar atento. — Toquem "She Will Be Loved" e "I Don't Know You" pra eu ver uma coisa.
— A gente nem começou a ensaiar "I Don't Know You" ainda. — o baixista respondeu afobado. Os outros três também estavam confusos, mas ainda não se sentiam à vontade o suficiente para questionar Yeonjun.
— A gente vai ter que ensaiar uma hora. — alegou casualmente, como se soubesse que nenhum dos quatro negaria.
Beomgyu respirou fundo quando o amigo sentou despreocupadamente na poltrona do meio da primeira fileira, mas cedeu ao pedido depois de alguns segundos. Taehyun se posicionou no microfone quando recebeu um olhar do baixista e Huening Kai arrumou a postura, se preparando para acompanhar os outros. Soobin não sabia dizer se era pior quando Yeonjun estava junto de si no palco ou o observando da plateia. Qualquer um dos cenários era extremamente intimidador.
Começaram a primeira música apenas com o Choi e Taehyun, como combinado, e os outros dois entraram nos momentos definidos previamente. Soobin tentou manter o olhar no vocalista o tempo todo, evitando Yeonjun a qualquer custo e se esforçando para se manter consciente sobre o que tocava.
Era apenas usar a lógica. Se ele não errasse, os outros também não errariam.
Erraram. Inclusive Soobin, quando não conseguiu controlar a vontade de espiar o baterista e o fez quase sem querer. Era assustador receber a atenção de Yeonjun daquela forma.
Mesmo depois de tantas tentativas, chegar perto do último refrão era um pesadelo para os garotos. Parecia até mesmo mais difícil sem Yeonjun no palco. Beomgyu quase parava de tocar durante a ponte e Huening Kai ainda errava os acordes. A única parte boa foi conseguirem terminar quase ao mesmo tempo em que Soobin passou o dedo pelas cordas uma última vez, com um mínimo atraso do tecladista, que parecia ficar mais nervoso a cada tecla pressionada de forma errada.
Não tiveram nem tempo de discutir ao finalizar "She Will Be Loved", já que Yeonjun insistiu para que apenas tocassem a próxima. Soobin procurou os acordes no celular e conversou rapidamente com Beomgyu sobre enquanto Taehyun conferia a melodia e a letra com o tecladista.
Foi ainda pior que a primeira. Nenhum dos garotos além de Huening Kai conheciam a música o suficiente, e a ausência da bateria tão presente na canção original fazia falta para que conseguissem ter algum sucesso. Além disso, o som do violão de Soobin não fazia jus a guitarra que deveria conduzir a música, apesar de o Choi fazer o seu melhor para sustentar os outros.
A tentativa não teve nem mesmo um fim decente, já que o pouco que sabiam era que a bateria começava e encerrava a canção. Soobin tentou finalizar tocando o acorde que dava o tom da música, mas se sentiu estúpido imediatamente. Todos no palco estavam frustrados.
— Tá, foi muito ruim. — Yeonjun confessou da poltrona, depois de alguns segundos tentando encontrar uma forma de expor a sua opinião e absolutamente falhar em tentar o jeito mais delicado de expressar aquilo. — Mas dá pra arrumar, eu acho.
Subiu ao palco na frente de Beomgyu, sem se importar em usar a escada, antes mesmo que os mais novos pudessem se manifestar sobre sua fala, e chegou perto do tecladista. Nenhum dos outros se movia.
— Huening, tu tem que focar em qualquer um de nós três em vez de se guiar pelo Beomgyu. — apontou para ele próprio e para os outros dois que não o baixista, que era quem ficava mais perto de Huening Kai. O mais novo prestou atenção em Yeonjun como se sua vida dependesse daquilo. — Esquece que ele tá aqui, porque se não, tu te perde. Tenta focar no Kang que eu acho que vai ser o melhor.
Huening Kai assentiu determinado e Yeonjun sorriu pela aplicação do tecladista a se demonstrar receptivo à sugestão.
O baterista tinha uma atitude quase mandona, mas sem soar arrogante ou prepotente. Estava claramente disposto a ajudar como conseguisse, da mesma maneira que pareceu responsável no primeiro ensaio quando ninguém sabia como começar, o que encantou Soobin sem muita novidade.
— Tu tem que controlar o teu nervosismo. — disse brincalhão para Beomgyu, que fingiu estar pronto para socar o mais velho. O baixista acabou por concordar, revirando os olhos. Evidentemente, já tinham tido aquela conversa anteriormente, o que poupou uma necessidade de explicação detalhada do mais velho.
O clima descontraído deixou os outros três aliviados. A última coisa que queriam naquele momento era que Yeonjun e Beomgyu discutissem novamente.
— Tu foi perfeito, Kang. — continuou as constatações, dessa vez, para Taehyun, que sorriu agradecido. Era verdade; entre os quatro, o vocalista era normalmente o mais estável. — Tu só precisa decorar a letra direito, mas foi bom.
Soobin ficou muito nervoso. Sabia que era o próximo; só faltava ele. Seria o último a receber a opinião do mais velho e, nesse tipo de situação, ser o último não parecia ser uma boa posição.
Não soube interpretar a expressão de Yeonjun conforme se aproximava, o que só piorou a sua inquietação, mas tentou se manter inalterado depois de se permitir a respirar fundo para receber a opinião do baterista.
— E tu, Choi... — começou, com um olhar intenso em Soobin. Era quase como se fosse uma pessoa completamente diferente de quem tinha pedido para escolher uma das guitarras anteriormente, e Soobin não sabia se isso era bom ou ruim. — Tu que dá a base da música.
Manteve o olhar fixo no outro, tanto pela ansiedade de querer saber o que seria dito quanto por sentir que talvez nem tivesse o controle necessário para desviar a atenção.
Não conseguia entender como se sentia razoavelmente confortável quando estava sozinho com Yeonjun e ficava tão nervoso quando estavam em grupo. Era para ser o contrário, e o fato de estarem acompanhados de outras pessoas deveria fazer o Choi se sentir menos intimidado, mas Yeonjun parecia tão menos amedrontador quando estavam sozinhos que Soobin se questionava sobre o pouco que achava que sabia da personalidade do baterista.
— E tu faz uma coisa estranha no fim, como se tu tivesse avisando que vai terminar a música. — franziu as sobrancelhas ao tentar encontrar a melhor forma de explicitar o que tinha observado. Antes que o Choi pudesse ficar preocupado, Yeonjun disparou um sorriso compreensivo e continuou rapidamente, soando descontraído. — Faz isso pra mim.
Assim como Soobin, que finalmente descobrira o que a expressão "borboletas no estômago" significava, os outros também pareceram não entender o que Yeonjun queria dizer, mas não era como se fizessem alguma diferença naquele momento. O baterista estava de costas para os garotos e Soobin não conseguia nem mesmo lembrar que estavam acompanhados.
— Quando a música tiver terminando, vira pra mim e avisa. Eu acho que isso vai ajudar.
Yeonjun continuou exalando o ar responsável e confiante que impressionava o Choi, e Soobin percebeu que, apesar de nem saber se conseguiria responder de maneira consistente, o outro esperava que o fizesse.
— Eu vou... tentar. — fez o seu melhor para não gaguejar. O frio na barriga, tanto por receber a atenção do outro quanto por pensar em ter que interagir com o baterista ativamente no final das músicas parecia insuportável.
Antes de voltar para a bateria, Yeonjun sorriu ao assentir, como quem estava satisfeito pela resposta, e Soobin se viu estático por longos segundos até ter que lembrar dos acordes quando Taehyun pediu se poderiam começar "She Will Be Loved" pela décima vez naquela manhã. Se conseguisse controlar a frequência sonora na qual o seu coração batia, nem seria necessário que Yeonjun tocasse a bateria.
Manteve os olhos fechados até a ponte da música, agradecendo a memória muscular que tinha de conseguir tocar perfeitamente se não estivesse distraído por nada. Quando se arriscou a voltar a observar os outros, reparou em Huening Kai tentando manter a atenção em Taehyun e Beomgyu legitimamente parecendo mais concentrado que nas outras vezes. Ainda erravam alguns detalhes, mas definitivamente soava melhor que antes.
Soobin ouviu a bateria de Yeonjun se juntando ao último refrão e um arrepio percorreu o seu corpo. Se manteve focado no seu próprio instrumento até a última frase que o vocalista cantava, apenas para não ter o perigo de se distrair ao visualizar o mais velho e arruinar a canção que tocavam consideravelmente bem até então.
Virou para Yeonjun, que devolvia o olhar antecipadamente, e, passando a mão gentilmente pelas cordas uma última vez e indicando com a cabeça, fez o seu melhor para avisar o fim da música, o que causou riso no outro.
E terminaram ao mesmo tempo. Pela primeira vez. Os cinco juntos, em uma harmonia quase perfeita.
Beomgyu não conseguiu conter a animação, assim como Huening Kai, que sorria de orelha a orelha quando o som dos instrumentos cessou. Taehyun pareceu aliviado e até mesmo suspirou alegremente ao perceber a tentativa praticamente bem sucedida do grupo. Era como se tivessem tirado um peso dos ombros.
Soobin se sentiu tão entusiasmado com o sucesso da música que demorou a perceber os outros. Estranhamente, se sentia parte de algo naquele momento, como nunca tinha acontecido antes. Se ele não tocasse direito, Taehyun se atrapalharia e, consequentemente, Beomgyu e Huening Kai perderiam o ritmo. Se não avisasse Yeonjun sobre o fim da música, o mais velho poderia estar distraído e não finalizar simultaneamente ao grupo. Era verdadeiramente importante.
Mais uma vez, parecia difícil encontrar uma forma de expor o que sentiam, mas todos entendiam que estavam orgulhosos do empenho.
— Agora só falta as outras quatro. — Yeonjun brincou, fazendo o Choi finalmente ter coragem de voltar a olhar para o baterista. Tinha um sorriso aberto no rosto que fez Soobin sentir seu peito em chamas.
— Vai se foder, Yeonjun! Porque que tu é assim? — Beomgyu brigou, mas também em tom divertido. Estava animado demais para começar uma discussão, mesmo se Yeonjun tivesse falado sério.
Se apressaram a tentar tocar a música mais algumas vezes até que realmente precisassem parar. Erraram menos, mas ainda precisariam ensaiar muito para que tivessem segurança tocando. Independentemente da quantidade de vezes que tocassem, Soobin não sabia se eventualmente se acostumaria à sensação boa de participar daquilo, nem se conseguiria lidar com o sorriso que recebia de Yeonjun quando avisava o fim da canção.
A coordenadora chegou no meio da última passagem, só para avisar que o período estava quase terminando. Estava pronta para brigar com os garotos por ainda não terem guardado os instrumentos, mas ficou tão animada com o resultado da última tentativa de tocar "She Will Be Loved" que poupou o grupo de repreensões.
Diferente do que tinha sido combinado previamente, os mais novos também ajudaram a levar as partes da bateria, que, dessa vez, estava quase completa, o que quase fez com que se atrasassem minimamente para o último período. Mesmo assim, a parte mais pesada ficou por conta de Soobin e Yeonjun, justamente por serem os mais velhos.
— Foi bom. — comentou, sem tirar a atenção do caminho que percorriam. O bumbo era mais pesado com os dois tons presos nele, o que exigia mais força e atenção de ambos. — Tu me avisando. E tocando também.
O sorriso se formou tão facilmente em seu rosto que Soobin não conseguiu acreditar. Tentou não deixar o outro perceber, mas não fazia questão de negar a si mesmo. A companhia de Yeonjun definitivamente o fazia bem, mesmo que reagisse como um adolescente besta.
— Obrigado.
Seria uma tentativa frustrada se procurasse uma maneira de agradecer com mais profundidade, mas lembrou de ter sido interrompido na tentativa de elogiar Yeonjun anteriormente e sentiu quase um dever de o fazer naquele momento, precisando reunir todas as forças para organizar seus pensamentos.
— Tu também. Se não fosse por ti, a gente ainda não... teria terminado. Ao mesmo tempo.
— Eu tava errando mais que vocês, era a minha obrigação ajudar. — deu de ombros, com um tom quase distante. Soobin se sentiu tão mal que quase não conseguiu responder.
— Todo mundo tava errando. — não sabia ao certo como fazer Yeonjun perceber que a culpa não era dele e quis brigar consigo mesmo por não ser bom com palavras quando recebeu um sorriso apressado do outro antes de largarem a bateria e voltarem para o teatro.
Prometeu a si mesmo que, quando conseguisse encontrar uma forma de o fazer, explicitaria tudo o que achava sobre o mais velho. Não era justo que Yeonjun não soubesse como qualquer mínima coisa que fizesse era encantadora. E, mesmo se soubesse, queria ele próprio poder garantir aquilo. Queria mostrar ao baterista como o percebia e como era incrível aos seus olhos.
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