Soobin não teve muita escolha sobre ser ou não honesto quando chegou no entardecer daquele sábado agitado, e, mesmo se não tivesse se atrasado pela tentativa de ao menos controlar o sorriso culposo que retornava toda vez que lembrava de Yeonjun o chamando pelo nome, provavelmente teria contado a verdade da mesma forma. Estava tão cansado e desgastado pelas mentiras que deixara o incentivo do baterista se unir à sua própria vontade de acabar logo com aquilo e finalmente ser sincero com o pai.
A justificativa sobre o atraso para a janta saiu completamente hesitante e incerta, com Soobin se empenhando a deixar as lembranças sobre os eventos da tarde um pouco de lado para dar a atenção que aquilo merecia quando o pai pediu o que tinha acontecido. Por mais que quisesse cultivar apenas as sensações boas que o contagiavam até aquele momento, não queria que o assunto ficasse não resolvido por mais um dia sequer. Seu pai não merecia isso.
Mesmo sabendo que não conseguiria se expressar assertivamente pelo olhar preocupado do homem que causava ansiedade em si, seguiu por mais tempo que o necessário garantindo que ainda estava focado na escola e que não deixaria nada atrapalhar isso antes de enfim tentar recapitular o que queria dizer de fato para o homem. Não soube se o pai ficou aliviado ou ainda mais apreensivo com a afirmação sobre seus estudos.
Os longos minutos da tentativa de preparar o diálogo sobre suas mentiras, contudo, não foram nada efetivos, já que Soobin ainda estava tão nervoso ele próprio que o patriarca também não conseguia disfarçar a antecipação negativa sobre o assunto que ainda nem compreendia direito. O Choi não sabia nem por onde começar e, por definição, já parecia tão difícil estabelecer qualquer discurso que fosse que levou ainda mais tempo do que imaginara para se manifestar.
— A banda da escola que... eu te falei. — a voz saiu levemente trêmula, o que garantiu que não seria nada fácil concluir aquela conversa. — Tem a ver com... isso.
Seu pai assentiu com tanta pressa que fez parecer que quanto antes terminassem o diálogo recém iniciado, para que não precisassem falar sobre aquilo, era melhor, e Soobin parou para realmente pensar em como o conduzir por consequência.
Queria ir direto ao ponto, mas sabia que estava nervoso demais para formular qualquer argumento válido sobre seu comportamento sem certa dedicação. Apesar disso, sentia que precisava ser o mais honesto possível para que ele próprio pudesse ficar bem resolvido quanto ao tópico.
— Quando eu... — tentou redefinir a linha de raciocínio, pensando que parecia menos difícil recapitular em alguma ordem cronológica. — Quando eu disse que eu ia almoçar na casa do... menino da banda, pra depois ajudar ele a estudar...
Perdera qualquer segurança que sentia anteriormente e que o permitia encarar a sobriedade nos olhos do pai. Sabia que recuaria se tentasse decifrar como o homem se sentia naquele instante.
— E no final de semana passado e... hoje também... — continuou de forma inconstante, ainda na tentativa de não alarmar o homem sentado no sofá.
A televisão que o pai assistia assim que chegara já estava mutada há algum tempo e a sua voz baixa era o único som que preenchia a sala pouco iluminada. Era o foco completo do pai e isso aniquilava qualquer sentimento tranquilo que tentasse manter.
— Eu... sai com eles. — sentiu como se estivesse confessando algo pelo peso da sua própria voz, de forma involuntária, ainda que soubesse que essa não era a pior parte do queria externar. — Com os meninos da banda.
A expressão de resposta do homem estava entre surpresa e confusão, e Soobin não soube interpretar o gesto por completo, o que apenas agravou a sua ansiedade ao ponto de sentir que dizer qualquer coisa mesmo que impulsivamente seria melhor que o silêncio que se instalou.
— Na semana passada foi pra ensaiar e hoje foi pra combinar algumas coisas sobre a apresentação e... Eu juro que eu tentei recuperar os conteúdos da escola de ontem também e durante a semana eu estudei, mas... — a explicação em um mesmo fôlego saiu tão rápida que Soobin nem soube se o pai entendera toda a fala. Sentia que quanto antes se justificasse, seria melhor compreendido, mesmo que já nem soubesse mais qual era o seu objetivo com aquela conversa direito. — Mas...
Supôs que o pai só estava o deixando se manifestar sem interrupções pelo seu estado tão inquieto e se sentiu mal por isso. O olhar sério que enfim se aventurou a espiar fazia parecer que o homem só esperava que concluísse o seu relato para decidir como reagir propriamente, o que era quase assustador.
O Choi demorou mais uma vez para conquistar a bravura de abrir a boca novamente e enunciar o que queria nunca precisar dizer.
— Eu... menti, pai. — declarou baixo, deixando clara a vergonha de ter que admitir aquilo. Não era a maneira mais leve, como gostaria de expor, mas não tinha como colocar de outra forma. — Eu não tava estudando, eu tava... com eles.
As sobrancelhas do pai levantando de repente foram a única reação perceptível, e Soobin sentiu quase necessidade de tentar se explicar mais uma vez, de forma incontrolavelmente desajeitada. Estava agindo inteiramente por impulso naquele ponto.
Afirmou de novo que os seus estudos ainda eram prioridade, que sabia que o pai não gostava da ideia dos ensaios porque acreditava que aquilo atrapalharia nas aulas e que esse era o único motivo por não ter contado a verdade antes, no entanto acabou desistindo de se justificar eventualmente, sabendo que estava errado e que não fazia sentido se defender da culpa que era legítima.
Até então sem uma resposta própria do pai, Soobin tentava lidar com os pensamentos pessimistas enquanto considerava se fazia sentido ir para o seu quarto como se nada tivesse acontecido ou se deveria esperar pela manifestação alheia com a mínima esperança de que o homem não seria muito duro consigo por ser a primeira vez que aquilo acontecia.
Mesmo se quisesse, acabou não tendo tempo para escolher o que seria a melhor opção, mas, quando acompanhou com o olhar o pai levantando do sofá e parando à sua frente, teve quase certeza de que seria melhor nem ter iniciado aquela conversa.
— Soobin. — o suspiro do homem causou um arrepio no Choi, que se intensificou depois do pai repousar a mão no seu ombro. — Eu nunca me importaria mais com os teus estudos do que com o fato de tu sentir que precisa mentir para mim.
A voz abafada do pai só não doeu mais que o profundo olhar desapontado que Soobin recebeu antes do homem se afastar à caminho do seu próprio quarto.
Não tinha criado nenhuma expectativa sólida sobre uma reação do pai, mas aquela era com certeza a pior que poderia existir. Um discurso de horas sobre como mentir era errado ou qualquer castigo que fosse seria melhor que a resposta tão soturna e que deixava evidente como o pai estava sendo sincero no pesar com que expusera aquilo. Como se estivesse decepcionado com o Choi só de pensar nisso.
Soobin segurou as lágrimas que quiseram cair até que enfim conseguisse dormir naquela noite, o que não aconteceu tão cedo. Nem no dia seguinte e nem no próximo. A semana estava fadada a ser a mais pesada que experienciara na vida.
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O súbito tempo fechado que alternava entre o sol sendo escondido por dias nublados e a chuva leve que decidiu cair aleatoriamente durante a semana combinava com o que Soobin sentia e fazia tudo parecer ainda mais denso. Era o universo compactuando com a melancolia que o tomava aos poucos.
A relação que já não era excepcional antes, agora parecia quase inexistente, e o desapontamento do pai que o Choi sentia quando conversavam ou, mais precisamente, não trocavam uma palavra sequer durante as refeições, o deixava destruído. Era como se o homem não estivesse nem reconhecendo a sua existência quando estavam juntos e, consequentemente, o próprio Soobin não tivesse nem a possibilidade de tentar se expressar melhor sobre o que sentira pela ausência de qualquer diálogo entre os dois.
Não sabia como aguentava até aquela quinta-feira, mas tinha a ciência de que poderia ser ainda pior se estivesse passando por aquilo completamente sozinho.
Estar em casa era inegavelmente angustiante, mas pelo menos as manhãs na escola eram amenizadas pela companhia dos quatro garotos e da amiga que o faziam esquecer os problemas por alguns minutos, nos encontros durante os intervalos e no final das aulas. Não era como se o sentimento desaparecesse, mas conseguia ao menos controlar o aperto no peito quando estava com o grupo, o que já era um alívio de certa forma.
Apesar de saber que provavelmente tinha essa abertura, ainda não havia conversado com nenhum dos cinco sobre o que o atormentava por sentir que seria pior provocar a preocupação dos outros além de ter que lidar ele próprio com aquele fardo. É claro que isso não mudava o fato de que o seu estado era visível para todos, mas Soobin pensava que seria melhor esperar que o sentimento fosse menos intenso para falar sobre aquilo.
Os dias que se seguiram depois da confissão ao patriarca ao menos fizeram o Choi ter a certeza de que não iria mais mentir para o homem. O tratamento silencioso e todo o arrependimento que sentia eram o suficiente para que só cometesse aquele erro uma vez. O único problema era a insistência da sua mente a lembrar que teria que lidar com isso quando voltasse para casa, e que impedia que ficasse totalmente presente nas conversas com o grupo por vezes.
— Soobin? — Taehyun chamou sutilmente, despertando o Choi do estado introspectivo em que se encontrava. Só então que percebeu que recebia o olhar de todos da roda.
— Os teus colegas também? — Huening Kai perguntou um tanto hesitante, como se estivesse tentando ajudar o mais velho a se recuperar na conversa que tinham.
— Também... o que? — Soobin não conseguiu adiar por muito tempo a clarificação de que não tinha ideia do que os outros cinco falavam. Até porque a única pessoa que imaginava que poderia o ajudar na resposta, Yewon, também parecia esperar pela sua manifestação.
— Se eles também tão...
— Tá, o que que houve contigo, porra? — Beomgyu perguntou de forma direta ao Choi antes que o tecladista pudesse elucidar sobre a discussão anterior, soando ligeiramente preocupado. — Tu tá assim desde o ensaio de terça! Parece que tu nem tá...
— É que a gente já tem atividade avaliativa de biologia e... ele tá estressado com isso, eu acho.
A intermissão de Yewon, muito provavelmente por perceber o Soobin desarmado e sem resposta para a pergunta do mais novo, não estava nem perto de relatar alguma verdade, mas foi intensamente apreciada pelo Choi quando entendeu que a amiga tentava o ajudar.
Não sabia bem o motivo porque algo daquela natureza nunca tinha acontecido consigo ou com a garota, mas Yewon oferecia tanto apoio para si durante aquela semana, sem ser intrusiva questionando o motivo de estar evidentemente abatido e apenas dando o tempo que precisava para lidar com aquilo, que Soobin se sentia mal por não ter a energia necessária para desabafar com a amiga. Ainda assim, não queria afligir Yewon e muito menos os outros quatro que absolutamente não precisavam fazer parte daquela bagunça.
Enquanto agradecia à garota mentalmente, mantendo um lembrete para que o fizesse direito depois, o Choi percebeu a visível expressão confusa de Yeonjun, que era compreensível naquela situação, já que o mais velho definitivamente sabia que aquilo era uma mentira.
Os professores sempre davam as mesmas atividades para todas as turmas da mesma série e os seus trabalhos avaliativos ainda demorariam um tanto a começar, o que não dava nem uma dúvida razoável para que o baterista não suspeitasse da fala de Yewon, e Soobin só conseguiu torcer para que Yeonjun não a desmentisse e levantasse ainda mais atenção desnecessária para o tópico.
A argumentação de Beomgyu de que era inútil se estressar com aquilo no início do ano e como o estado de Soobin apenas confirmava isso saiu em um tom de voz irritado, puramente causado por preocupação, e fez o Choi ficar levemente acuado, o que se intensificou quando recebeu o olhar apressado de Yeonjun, como se o mais velho estivesse tentando entender o motivo da invenção. Para a sua sorte, o baterista não demorou muito para ao menos perceber que não queria que o assunto continuasse a se estender com os comentários de Beomgyu, por mais bem intencionados que fossem.
— É que ela dá uns bagulho impossível de fazer. Mesmo. — Yeonjun adicionou à fala de Yewon sobre a professora de biologia e continuou bem-humorado para alertar o amigo e desviar o foco do Choi. — Tu torce pra ela ser demitida porque, se tu passar, ano que vem tu tá fodido.
A existente ou não probabilidade de que ambos Yeonjun e Beomgyu passassem de ano foi o foco da discussão cheia de provocações que aliviou o clima parcialmente, enquanto o Choi fazia mais um lembrete mental para mais um agradecimento que devia, mas a verdade era que nem se quisessem os mais novos conseguiriam ignorar o abatimento que Soobin exalava sem querer.
Nenhum dos três sabia como tocar no assunto, desconsiderando a investida indiscreta de Beomgyu, mas sabiam que algo estava errado e queriam tentar ajudar de alguma forma. Especialmente Huening Kai, que, assim que se dividiram para voltar para as salas no fim do intervalo, acompanhou Soobin e Yewon enquanto subiam as escadas, na tentativa de oferecer algum tipo de conforto ao mais velho.
— Antes a gente tava falando que os colegas do Beomgyu e do Taehyun pediram pra eles da apresentação hoje. Porque falta uma semana.
O esclarecimento do tecladista fez o Choi sorrir pela consideração do mais novo a não o deixar desinformado sobre a conversa que perdera pela desatenção no intervalo.
— O Yeonjun falou que os colegas dele também “encheram o saco” dele sobre isso e a gente queria saber dos teus. — empregou um tom divertido para repetir o termo que o baterista utilizara, mas uma certa ansiedade sutil se manifestou na continuação da sua fala. — Se tu tá preocupado... com isso.
A visível apreensão de Huening Kai fez Soobin querer brigar consigo mesmo por ter alarmado até mesmo o tecladista, e nem conseguiu dedicar muito investimento a encontrar uma resposta por se sentir culpado pelo mais novo estando tão sem jeito sobre mencionar aquilo e saber que não podia fazer nada.
— Eu acho que eles nem se importaram muito com isso. Os meus colegas.
— Tu tá brincando, né? — Yewon proferiu instantaneamente em um tom quase indignado pela alegação do amigo, que, apesar de estar sendo questionado, sentiu um certo alívio pela garota se manifestar. Sempre parecia mais fácil lidar com esse tipo de situação com Yewon por perto. — Caramba, mas tu não presta mesmo atenção nessas coisas!
Apesar da fala acusativa, a garota também tentou utilizar um tom brincalhão tanto na pergunta quanto na explicação que ofereceu em seguida a Huening Kai e ao Soobin confuso ao seu lado.
— Desde que vocês começaram a ensaiar, todo mundo da nossa turma fica tentando entender o que tá acontecendo. — relatou de forma segura, surpreendendo genuinamente ao Choi, que não lembrava de ter ouvido sequer uma conversa sobre isso entre os seus colegas. — Todo mundo vem falar comigo sobre vocês. E eles tão falando disso toda hora.
— Eu... não vi eles falando nada. — justificou para a amiga, sem saber como responder a sua afirmação, e Yewon riu soprado como se aquilo fosse óbvio ao parar na frente da sala de Huening Kai.
— Que bom. Porque vocês só tem que se concentrar em ensaiar e fazer um show incrível semana que vem. Com o resto, não precisa se preocupar.
O comentário cuidadoso teve sucesso em fazer ambos os garotos se sentirem apreciados, com o mais novo até mesmo agradecendo Yewon de forma desajeitada antes de disparar um olhar empático ao Choi e se separar dos dois para entrar na sua sala com pressa.
Soobin manteve um sorriso inibido enquanto observava Huening Kai se ajeitando na carteira e, assim que a amiga se preparou para dirigir o caminho até a sala dos dois, sentiu como se nem conseguisse controlar o agradecimento que saiu por conta própria.
— Obrigado por isso. — proferiu baixo, fazendo a garota voltar a atenção para si e oferecer um sorriso doce, que acabou por o encorajar ainda mais a deixar as palavras se manifestarem sem que lutasse contra. — E por antes, no intervalo, e por... tudo.
— Não precisa agradecer, Bin. — respondeu em um tom delicado que, acompanhado do olhar incerto que não conseguiu disfarçar, fez Soobin perceber que Yewon não sabia direito qual era a sua abertura para falar sobre aquilo. — Sempre que eu puder ajudar, eu vou tentar. Em... qualquer coisa.
O Choi sabia que não seria o melhor momento para ser honesto, especialmente por terem apenas minutos para o início do próximo período, mas sentia que não seria justo deixar a amiga sem uma explicação naquele contexto. Mesmo que de forma breve e oscilante, se sentia praticamente obrigado a pelo menos esclarecer a sua gratidão para Yewon.
— É que... — hesitou de início, mas acabou por permitir que a manifestação saísse. — Essa semana tá sendo complicada pra mim e eu só queria agradecer. Por tu me fazer sentir um pouco melhor. Tu sempre faz, mas nessa semana tá... Tá sendo muito importante.
— Bin... — enunciou em um tom de voz lastimoso quando parou ao lado da porta da sala dos dois, que quase fez Soobin se arrepender. — Eu to te dando espaço porque eu não sei se tu quer falar sobre o que tá acontecendo, mas tu sempre pode falar comigo. Eu só não queria te pressionar, mas não quer dizer que eu não to preocupada.
— Eu sei. — garantiu à amiga, que expressava na voz um certo receio que Soobin raramente via. — E eu quero falar, mas...
— Tá tudo bem, não precisa ter pressa. Fala quando tu estiver pronto, tá bom? — foi o que Yewon conseguiu assegurar com calma antes de serem os dois levados para dentro da sala pela professora que não tinha muita tolerância mesmo com segundos de atraso.
Se dirigiram às mesas em silêncio, com o Choi tentando entender a impulsiva negação a dividir o que sentia, mas, antes de começar a prestar atenção na aula, Yewon virou e repousou a mão por cima da sua na mesa, como uma forma de oferecer amparo sem poder manifestar aquilo verbalmente, e Soobin esboçou um sorriso mínimo transmitindo que entendia a sua intenção e era grato também por aquilo.
O período inteiro de geografia serviu basicamente para Soobin pensar com dedicação na ideia de contar para a amiga sobre ter mentido ao seu pai e sobre como a reação do homem estava acabando consigo. Yewon era sempre muito compreensiva e receptiva com esse tipo de coisa e oferecia ótimos conselhos que verdadeiramente ajudavam na maioria das vezes, além de que não fazia mais muito sentido querer poupar a garota de preocupações depois da própria atestar que poderia sempre falar consigo sobre o que quisesse, e considerando que o próprio Soobin gostaria de saber se amiga estivesse passando por algo parecido e precisasse de apoio emocional.
Tirar aquele peso de si compartilhando com Yewon era possivelmente a melhor alternativa, que foi impulsionada quando a próxima aula começou e foram liberados a se dividirem em duplas para realizar as atividades de química, com a garota ajeitando a mesa ao lado da sua de imediato e se dispondo a realizar os exercícios sozinha se o Choi não estivesse bem o suficiente para ajudar.
Foram necessários alguns longos minutos da aula, mas Soobin chegou à sua conclusão, e estava quase conquistando a confiança necessária para atrapalhar a amiga quando ouviu a batida na porta e teve todo o plano que tinha construído mentalmente arruinado em segundos.
— Yeonjun. — o professor anunciou em um tom interrogativo, como pra saber o que o garoto estava fazendo ali no meio da aula, e Soobin nem tentou ir contra o instinto de subir o olhar para o baterista escorado tranquilamente na porta.
No meio dos sussurros dos colegas que talvez só conseguira perceber pela menção anterior de Yewon, o Choi sentiu o seu coração se manifestando violentamente quando reparou que o mais velho olhava para si. E como a tendência era sempre piorar, o gesto com a mão que Yeonjun fez em seguida, chamando Soobin sem se importar com a interrupção da aula alheia, só não deixou o professor e o resto da turma mais confusos que o próprio Choi, que nem acreditou na cena em um primeiro momento.
— É sobre a apresentação de semana que vem. — a explicação despreocupada de Yeonjun foi direcionada ao professor, que aguardava a justificativa da sua intenção de tirar Soobin da sala, mas acabou servindo também para elucidar o próprio Choi sobre a aparição inesperada.
Não lembrava de terem combinado algo em grupo para aquela manhã e era estranho não terem falado nada enquanto estavam juntos, mas, pelo seu estado desatento, não se surpreenderia se os quatro tivessem marcado até mesmo um ensaio, o mencionado durante o intervalo inteiro, e ele tivesse simplesmente esquecido do compromisso. Também não era como se fosse se negar a encontrar os outros quatro independentemente do motivo.
— Ah, sim. Sobre “a banda”. — o professor utilizou um tom caçoador, que só deu mais espaço para a continuação dos comentários indistintos da turma até que precisasse pedir por silêncio.
À certo contragosto, o homem autorizou Soobin a sair da sala desde que não demorasse muito, mas o Choi quase precisou que Yewon o empurrasse da cadeira para seguir até a porta onde era aguardado. O apoio da amiga foi o que o permitiu relaxar um pouco, mas, por algum motivo, ser buscado na sala daquela forma por Yeonjun o deixou mais nervoso que as outras circunstâncias que envolviam os encontros da banda.
O baterista disparou um sorriso ameno antes de fechar a porta atrás do Choi que quase fez Soobin esquecer tudo o que se passava anteriormente pela sua cabeça. Precisou se esforçar para não ficar imóvel e conseguir seguir Yeonjun pelo corredor depois de espiar a sala vazia da coordenadora, que aparentemente não faria parte da reunião.
Os dois não tinham conversado muito durante a semana toda, praticamente por opção de Soobin, que sabia que a sua mente não teria a capacidade de lidar com tudo relacionado ao seu pai e mais todo o caos que Yeonjun causava em si, mas estar sozinho com o mais velho, mesmo que apenas por alguns segundos, e se sentir tão distante fez o Choi se arrepender de ter se afastado mais uma vez. Era outro erro que com certeza não iria cometer de novo se conseguisse evitar.
Sem muita surpresa, não trocaram nenhuma palavra até passarem pela sala de Beomgyu, em que Soobin esperava que o mais velho resgatasse o amigo para que se reunissem os cinco, mas que Yeonjun apenas continuou a rota, deixando o Choi ainda mais confuso.
— O que... houve? A gente não vai...
— Não é nada da banda. — negou sem nem deixar Soobin terminar a pergunta e parou no meio do corredor, um tanto à frente do outro, para continuar a fala com a mesma casualidade com que começara. — Eu só não aguentava mais a minha aula.
— Yeonjun! — também parou no caminho, mas o tom de voz, diferente da conformação alheia, deixava clara a descrença confusa pela explicação.
— O quê? — se defendeu no meio de um riso. — Eles já sabem que a gente tem a “autorização” da coordenadora e eles nem pedem mais, tu viu. Dá pra dizer até que tem ensaio agora e eles nem vão saber.
— Mas isso não quer dizer que... tu pode usar isso como desculpa pra sair da aula! — rebateu o discurso descontraído do outro, cruzando os braços no meio da fala, que saiu em um tom ligeiramente revoltado.
Aquilo era tão óbvio para si que se sentia estúpido por ter que discutir daquela forma. Não era possível que Yeonjun esperasse que estivesse de acordo com aquilo. E também não era possível que estivesse tão entregue ao ponto de que, ao perceber que o baterista achou graça da sua argumentação, precisasse legitimamente se esforçar para não ceder ao sorriso que a risada disfarçada do mais velho quis provocar em si.
Por mais errado e inoportuno que pudesse ser considerado, pelo menos discutir sobre algo tão bobo com Yeonjun era melhor do que a incerteza que o dominava segundos atrás.
— Tá bom, eu prometo que eu sofro sozinho da próxima vez. — Yeonjun cedeu brincalhão, se referindo à aula que desgostava tanto, e demorou alguns segundos para se manifestar novamente. — Só... vem. Por favor.
O olhar convincente que o mais velho sabia muito bem como usar, junto do receio de que alguém os encontrasse no meio do corredor e tivesse que voltar para a sala sem nem entender o que motivara o baterista a procurar por ele, não deixou muito espaço para Soobin se negar a seguir Yeonjun até o banheiro daquele andar. Sabia que era mais uma decisão inconsequente que tomava pelo outro, mas a experiência que tinha com isso o fazia acreditar na probabilidade de que valesse à pena.
Yeonjun encostou superficialmente a porta que costumava ficar aberta assim que entraram e se ocupou pelos segundos seguintes conferindo as cabines para ter certeza de que estavam sozinhos enquanto Soobin tentava não voltar atrás e apenas aproveitar que se sentia estranhamente menos tenso só de estar com o outro mesmo sem entender ao certo a sua intenção com a reunião imprevista.
— Eu vinha com o Beomgyu direito aqui no ano passado. — relatou tranquilamente quando voltou para perto do Choi e se sentou desajeitado no canto da longa bancada que dispunha das pias ao centro antes de continuar. — É o melhor lugar pra ficar quando tem uma aula merda.
Soobin ainda estava parado perto da porta e não sabia muito bem o que fazer, mas tinha convicção de que perder mais um período sem precisar absolutamente não estava nos seus planos, envolvendo ou não o baterista e o inconveniente sorriso tão bonito que o deixava ainda mais persuasivo.
— Eu não quero matar aula, Yeonjun. — a sua voz saiu de modo quase enfezado pelo pensamento alheio que considerava descabido.
— Tu não precisa matar aula, Soobin. — devolveu o tom de voz em uma provocação, de forma mais bem-humorada, que fez o Choi ter que apenas aceitar o riso frouxo que contradizia a pose decidida que queria passar.
Alguns segundos de silêncio perpetuaram com apenas o contato visual conectando os dois, mas, antes que o nervosismo consideravelmente positivo pudesse se desenvolver em Soobin, o mais velho desceu da bancada para enfim se explicar, tendo o sorriso relaxado substituído por uma expressão sutilmente atordoada que não parecia ser indicativa de que algo bom se seguiria.
— Eu só queria falar contigo. E eu não queria esperar até o final da aula pra te perguntar porque eu acho que tu não quer falar disso com os outros e eles iam saber que alguma coisa tá estranha se eu te chamasse depois.
A mudança inesperada do clima e a leve hesitação de Yeonjun na declaração fizeram Soobin ser tomado pela ansiedade que, apesar de não saber ao certo o motivo, tentou disfarçar enquanto os diversos cenários, alguns sem nem fazer um sentido real, passavam pela sua mente na busca de decifrar sobre o que o baterista se referia.
— Perguntar... o quê?
Mesmo levando algum tempo para se manifestar, não conseguiu soar tão seguro quanto tentara, o que imaginou ser a razão da também demora do mais velho, que só conseguiu articular a pergunta depois de titubear um tanto, contribuindo para a inquietação do Choi se intensificar.
— Tu... tá bem? — proferiu da maneira mais delicada que conseguiu ao parar na frente do outro, surpreendendo Soobin.
De certa forma, esperava que fosse algo mais sério e específico pela abordagem urgente que Yeonjun empregara, mas também não foi impossível entender o que se passava pela mente do baterista com aquela pergunta. Provavelmente o suspense se originava apenas do costume involuntário de ambos tratarem as conversas com muito mais importância do que o normal sem que nem percebessem direito, e aquilo só serviu ao Choi como mais uma lembrança de que a sua tentativa de esconder como estava não era nem um pouco eficaz.
A resposta para aquele questionamento era óbvia e Soobin não queria mentir, mas também não conseguiu controlar a certa incerteza quanto a forma de reagir à pergunta inesperada, já que dividir seus sentimentos naquele contexto e naquele momento não era exatamente o que tinha planejado para aquela manhã fria.
— Eu não queria perguntar assim, mas é que... Tu parece meio mal. Desde segunda, eu acho. — Yeonjun continuou um pouco sem jeito e, talvez por perceber o dilema alheio, aliviou o tom de voz para concluir a fala. — E como eu sei que não é nada de biologia que tá te estressando...
Soobin sorriu com a entoação brincalhona do mais velho para mencionar o ocorrido durante o intervalo e até quis agradecer pela ajuda que tivera do baterista a escapar daquele diálogo, mas, para isso, teria que explicar para Yeonjun o motivo de não querer que soubessem que estava mal enquanto o mais velho era justamente a pessoa que menos queria perturbar quanto a isso.
— Eu to bem. — apesar da tentativa de soar o mais firme possível, imaginou que provavelmente não conseguiria sustentar aquela mentira por muito tempo. — Tu não precisava ter me chamado... no meio da aula só pra isso.
— Eu queria conferir. Porque eu fiquei... Eu achei que tu tava mal. — repetiu a explicação, mas soou mais atencioso que oscilante dessa vez. — E eu também não tava mesmo aguentando histologia, então não custava nada.
Yeonjun se esforçando a aliviar o peso da conversa com as colocações divertidas era sempre apreciado por Soobin, que sentia uma espécie diferente de desafogo pela dedicação do baterista a não o deixar desconfortável. Apesar disso, quase como uma opção para o caso do Choi querer se prolongar na resposta, o mais velho mantinha um olhar permissivo que beirava a curiosidade de entender o que o outro estava sentindo, e que fez Soobin ao menos tentar encontrar algo que não fosse uma invenção completa para quebrar o silêncio súbito.
— Eu só não to dormindo muito bem. Porque... eu... to tentando estudar direito e recuperar as aulas que eu perdi. — justificou, torcendo para o tom de voz impreciso não evidenciar que nem mesmo ele acreditava no que falara. — É isso.
Sentiu imediatamente como se precisasse desviar o olhar pela expressão contrariada do baterista, que se aproximou ainda mais de si depois de alguns segundos o analisando.
— Tu não precisa mentir, Soobin. — afirmou assertivo com as sobrancelhas franzidas, como se não entendesse o motivo da desculpa alheia, mas, assim que recebeu de volta o olhar surpreso do Choi, recuou vagamente na certeza com que se expressara. — A não ser que seja só isso mesmo e eu esteja viajando, mas tu... não precisa mentir pra mim.
O impasse que não tinha abandonado o Choi desde a possibilidade de desabafar com Yewon sobre o que o importunava se acentuou excessivamente com agora Yeonjun certificando que poderia compartilhar aquilo consigo, em especial daquela forma tão capciosa que sempre deixava Soobin se perguntando se a fala do mais velho realmente carregava um afeto especial por si ou se era louco por cogitar algo assim.
— Tu também não precisa falar só porque eu pedi, mas... — declarou com pressa quando percebeu o Choi pensativo que tinha provocado. — Eu queria que tu soubesse que tu pode falar. Comigo. Se tu quiser.
Soobin legitimamente acreditou que precisaria de mais tempo para tomar qualquer decisão sobre o assunto, como era costume para si e como teve de fazer quando considerou a ideia pela primeira vez, mas, na verdade, não foi muito difícil para o Choi se decidir. Sabia que não era uma conversa urgente e também não era como se sentisse pressionado pelo mais velho, mas algo sobre a sorte de estarem sozinhos sem nenhuma interrupção até então, somada à postura tão absurdamente atenciosa de Yeonjun naquele cenário inacreditável para si e à segurança que o outro o fazia sentir naturalmente, fez com que suspendesse o medo bobo e se rendesse à necessidade que sentia de enfim conversar sobre aquilo. Mesmo porque Yeonjun já sabia de parte do que compunha aquele relato e o Choi não teria que explicar muito do que acreditava que faria o diálogo ser complicado demais.
— Eu... contei pro meu pai. — confessou em um tom inibido apesar da coragem construída. — Que eu menti e...
— Tu contou? — a pergunta do mais velho foi mais um indicativo da sua surpresa do que uma dúvida real, mas, mesmo assim, Soobin afirmou timidamente com a cabeça.
— Depois que a gente conversou no sábado, eu senti que eu precisava contar. — a justificativa relacionada ao que tinha discutido com o próprio Yeonjun no parquinho saiu quase espontânea. — Porque ele merecia saber e eu não aguentava mais mentir também.
O baterista estava visivelmente tão incerto sobre como reagir ao diálogo quanto Soobin, e esse presumivelmente fora o motivo de se afastar um tanto do Choi, como uma maneira de não invadir o seu espaço mesmo que não intencionalmente. O contato visual, contudo, não foi interrompido por Yeonjun, que parecia saber que aquilo atenuava a ansiedade de Soobin sobre se abrir e o fazia focar mais no presente do que na angústia de pensar sobre aquilo.
— E ele? — perguntou ao se escorar na bancada das pias, com uma ínfima apreensão na voz além da certa expectativa aparente.
— Ele... — o Choi começou disposto, mas, à medida que se aproximou de Yeonjun sem nem perceber, foi tomado por uma hesitação desmedida na tentativa de escolher as palavras certas para descrever o cenário que se passava na sua casa. Não queria expor quão horrível se sentia ao ponto de preocupar Yeonjun, mas não era como se pudesse aliviar muito do relato se quisesse ser honesto. — Eu não sei direito como...
Antes que Soobin decidisse qual seria a melhor forma de se expressar, foram ambos surpreendidos pela porta do banheiro abrindo de repente para revelar um garoto que, mesmo sem intenção, interrompeu o diálogo reservado que tinham.
O Choi acionou uma das torneiras impulsivamente e fingiu lavar as mãos pelo receio inconsciente de serem delatados, já que sentia que estava fazendo algo errado por deixar o seu professor pensar que estava em uma reunião monitorada enquanto apenas perdia mais uma aula para ficar com Yeonjun. O baterista, por outro lado, nem se deu o trabalho de disfarçar que estava ali porque queria quando o garoto recém chegado passou pelos dois para ir até uma das cabines, mas não obteve muito sucesso justamente no que tentou acobertar; o riso suave que a preocupação evidente de Soobin provocou em si.
— Tu quer continuar a falar disso? — perguntou delicadamente em volume baixo, se aproximando do Choi como se esperasse que o olhar fosse correspondido.
— Não é nada demais. — devolveu em um sussurro enquanto secava as mãos e se proibia de espiar o sorriso de Yeonjun para que não se sentisse ainda mais bobo pela ação afobada. — E a gente... tem que voltar pra aula.
— Soobin. — o mais velho quase nem emitiu som ao chamar, fazendo o Choi precisar subir o olhar sem querer para os lábios alheios, o que definitivamente não foi uma boa ideia. A junção disso com o fato de ainda não estar totalmente acostumado com Yeonjun o chamando pelo nome e de quão investido e atencioso o baterista se apresentava naquele momento fez o calafrio que tomou o seu corpo ser impossível de se controlar. — Tu quer? Falar sobre isso?
Depois dos segundos que demorou para voltar a si, Soobin não foi contra a vontade de afirmar com a cabeça que se manifestou por conta própria. Tinha noção de que precisava falar sobre aquilo e talvez se abrir com Yeonjun não fosse tão difícil no final das contas.
— Mas... eu preciso mesmo voltar pra aula. — disse baixo, mas com segurança, se obrigando a colocar a razão acima de querer ficar ali até que fossem obrigados a sair. — Eu... perdi muita coisa e eu não quero... ter mais isso pra...
— Tá, não tem problema. — Yeonjun anunciou compreensivo e se pôs pensativo por um instante, apoiando as mãos na bancada para a qual estava de costas antes de voltar o foco para Soobin. — Eu... te espero no estacionamento quando a aula acabar, pode ser? Ai a gente conversa.
A tentativa de parecer inalterado foi completamente inútil, tanto da parte de Soobin, que mal conseguiu afirmar com a cabeça sem deixar a ansiedade o paralisar completamente, quanto por Yeonjun não conseguindo mascarar muito da sua hesitação a sugerir a sua ideia. A sorte de ambos foi o garoto que poderia ser considerado quase um intruso saindo da cabine e se aproximando das pias, o que tomou a atenção dos dois em vez da falta de jeito mútua de lidar com o adiamento da conversa.
A nova interrupção foi considerada pelo Choi como o momento certo para que voltassem às salas, mas o baterista não compartilhou do pensamento, voltando a se sentar na bancada exatamente quando o terceiro garoto saiu apressado pela porta sem nem arriscar um olhar para os dois terceiranistas.
— Tu... vai ficar aqui? — de certa forma já sabia a resposta, mas teve que perguntar quando percebeu que Yeonjun nem se importou com a sua movimentação até a porta.
— Histologia, Soobin. — silabou, como se o conteúdo fosse a pior coisa do mundo, e o Choi não conseguiu evitar um sorriso pela crença do mais velho de que isso era um argumento válido para perder o período. Quis ele próprio conseguir dar tão pouca importância para as aulas ao mesmo tempo em que agradeceu pelo seu lado racional se sobressair dessa vez. — Aproveita o resto de... química, né?
— É. E... obrigado. — respondeu totalmente desajeitado e se obrigou a sair com pressa quando recebeu mais um sorriso sereno do mais velho, que só o deixou mais ansioso.
Não admitiria nem para si mesmo por imaginar que estava exagerando ao interpretar aquilo, mas o cuidado ocasional de Yeonjun a demonstrar que prestava atenção em si com aquele tipo de comentário despretensioso mexia consigo de uma forma diferente de tudo o que já tinha sentido.
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O que restava do período de química pareceu demorar mais do que o normal para passar, mas, diferente do que esperava, Soobin se sentiu catastrófico quando a aula finalmente terminou. Primeiro pela clara expressão de pena que recebeu de Taehyun quando o mais novo ofereceu a sua ajuda para qualquer coisa que precisasse, o que o Choi entendeu como a forma do vocalista de expressar que percebia que ele estava mal e que também estava preocupado, e segundo por suspender a ideia de desabafar primeiro com Yewon, que, apesar de não ver problemas em esperar, parecia genuinamente disposta a sair do seu planejado para apoiar o amigo.
As duas tormentas somadas à preparação que construía mentalmente para descrever o acontecimento com o pai o deixaram ainda mais desatento do que já estava, mas foi impossível não perceber Yeonjun escorado em seu carro quando chegou na área externa da escola, quase fazendo a sua perturbação perder a importância por inteiro.
Se aproximou com calma, ignorando o receio sobre a quantidade de pessoas no estacionamento, e fazendo esforço para manter a expressão séria que obviamente foi desmontada com facilidade pelo baterista reclamando mais uma vez da aula que nem tinha assistido e pedindo desculpa por não ser o estudante exemplar que Soobin tinha fé que poderia ser, para aliviar o clima já de início.
Assim que o Choi se escorou ao seu lado, por não saber muito bem o que fazer, Yeonjun fez menção a retomar a conversa que tinha sido interrompida anteriormente e Soobin até tentou questionar se não faria o outro se atrasar e acarretar problemas para si, mas o mais velho nem deixou que essa discussão se criasse enquanto garantia que não precisava se preocupar com isso e insistia para que o Choi apenas focasse no relato sobre como estava se sentindo.
Adentraram o carro por Soobin concordar que seria provavelmente a melhor maneira de ficar confortável o suficiente para dividir aquilo de verdade, e Yeonjun se pôs totalmente virado para si quando se ajeitou no banco do carona.
— Tá, como que foi? — o baterista perguntou cauteloso, como se não soubesse se deveria ele começar a conversa ou deixar o Choi se manifestar primeiro.
Soobin tentara planejar tudo o que queria falar durante o final do período, mas pareceu tão difícil seguir o que tinha organizado que demorou a proferir qualquer coisa para responder Yeonjun. Ainda assim, já estava decidido e não queria nem dar a chance para a sua mente de voltar atrás na ideia de compartilhar aquilo com o mais velho.
— Eu... falei que eu menti sobre estudar pra sair com vocês e que... eu não sabia como contar a verdade pra ele. — constatou baixo, tropeçando um tanto nas palavras à medida que tentava não reviver o momento mentalmente para não se perder na conversa. — E que eu ainda to tentando estudar e me dedicando na escola, mas... eu não consegui... me expressar muito bem.
Olhar para o baterista estava fora da capacidade de Soobin naquele instante, por saber que não era nem de longe uma boa ideia, mas sentia Yeonjun prestando atenção em si com toda a dedicação e levou isso como o seu norte para que não recuasse no desabafo. Poder falar sobre aquilo depois de quase uma semana inteira sentindo sozinho era um alívio que nem conseguia medir.
— E eu sei que foi errado e que não tem desculpa pra isso, mas...
— Soobin, tu mentiu pra ele pra sair com os teus amigos. Tu não matou ninguém. — Yeonjun interrompeu a fala cheia de culpa do outro em uma entoação que não era tão carregada quanto a do Choi, mas que também não era o costumeiro tom bem-humorado e descontraído de quando não encarava as conversas com aquela seriedade, quase que só para não deixar Soobin se afundar no sentimento ruim.
Agradecendo pelo mais velho não o deixar seguir por aquele caminho pesado que não saberia como contornar, o Choi concordou vagamente com a cabeça e respirou fundo enquanto procurava a melhor forma de continuar de uma maneira não tão densa.
— É só que ele... ficou decepcionado comigo. — constatou no tom conformado de quem já tinha previsto aquilo para o próprio baterista, apesar do aperto na garganta que resultou em sua voz saindo um pouco instável. — Deu pra ver no jeito que ele me olhou quando eu contei.
Buscou o contato visual com Yeonjun por um segundo sem nem entender o motivo, mas o mais velho afirmando com a cabeça na garantia de que estava ouvindo o fez continuar sem medo de soar emotivo demais. Por alguma razão, o Choi sentia que se tinha alguém que poderia o entender naquele tipo de sentimento, era Yeonjun.
— E ele falou que ele nem se importou com a parte da escola. Foi mais sobre... eu ter mentido. — continuou só para concluir o relato e se pôs levemente afobado para enfim expor como se sentia sobre aquilo. — Eu sabia que isso ia acontecer, eu só não imaginei que ele ia ficar tão...
— Ele... fez alguma coisa? Contigo? — Yeonjun se manifestou quando percebeu que Soobin não sabia como terminar a frase, soando como se também não tivesse coragem de supor que o pai do outro tivesse sido violento de alguma forma.
— Não! Não. — negou com pressa por saber que seria um absurdo deixar Yeonjun com aquela impressão do seu pai. Por mais que a reação do homem estivesse o machucando emocionalmente, sabia que o patriarca nunca agiria de forma física consigo. — Ele só... não fala comigo desde sábado. Ele nem olha pra mim direito.
Se sentiu bem por poder enfim expor aquilo ao ponto de praticamente nem reparar na surpresa de Yeonjun, mas o medo de ser tomado pela desolação que pensar naquilo gerava em si fez com que levasse mais algum tempo para completar o pensamento.
— Não é como se a gente fosse muito próximo e conversasse muito antes, mas ele... Eu acho que eu preferia se ele brigasse comigo ou me colocasse de castigo do que isso.
O silêncio que tomou o carro foi insuportável para Soobin apesar de entender o motivo do mais velho também não conseguir contribuir para que aquilo não soasse tão profundo. Teve que aproveitar o último suspiro de coragem para espiar Yeonjun mais uma vez e se render a completar o que queria externar mesmo que da forma mais desajeitada possível.
— É como se ele tivesse... vergonha de olhar pra mim. Como se eu não fosse... — a voz começou a ficar trêmula e o Choi engoliu em seco ao se conter para que não agravar ainda mais a sua situação. — Eu não sei. Só foi... bem ruim.
O fim da manifestação de Soobin provocou uma certa condolência na expressão de Yeonjun, que ficou nitidamente indeciso sobre como reagir antes de se ajeitar no banco e ceder a apoiar a mão no ombro do Choi, o deixando ainda mais estabanado do que antes.
— Desculpa. Por ter te dito pra falar com ele. — apertou o ombro de Soobin delicadamente com o polegar ao afirmar de modo inibido, o que fez o Choi demorar a se manifestar com uma resposta.
— Eu que... não devia ter mentido... desde o início. — negou com a cabeça de forma involuntária, tentando parecer certo do que dizia apesar da inconsistência na voz.
Se ainda restava alguma dúvida até então, foi naquele momento exato que teve a certeza de que sua cabeça realmente não conseguia lidar com ambas as emoções que a indiferença do pai e a atenção extrema de Yeonjun causavam em si. Eram muito conflitantes e exigiam muito mais empenho da sua mente do que seria capaz de oferecer naquele contexto.
— E... me desculpa por pesar o clima de novo. Eu odeio fazer isso, mas...
— Tá tudo bem. Não precisa pedir desculpa por isso. — o mais velho constatou com a voz firme ao se inclinar para recuperar o olhar que Soobin desviou sem querer. — Não deve ser fácil lidar com essas coisas e nem tem como tu não... pesar o clima. Eu imagino que deve ser uma merda.
— É... complicado.
A intenção de brincadeira que o Choi manifestou com a força que ainda tinha para isso causou um riso abafado que o baterista tentou controlar para que não parecesse insensível, mesmo com o próprio Soobin se permitindo a esboçar um sorriso tênue pelo clima denso sendo minimamente aliviado.
O estacionamento que ficava cada vez menos movimentado pôde ser reparado pelo Choi quando Yeonjun se pôs pensativo encarando o para-brisa do carro por alguns segundos, e fez Soobin se perguntar se deveria mencionar isso como uma deixa para que o outro fosse embora caso estivesse esperando um tipo de permissão.
— Bom, se piorar muito, tu pode se mudar lá pra minha casa. — o baterista comentou como uma brincadeira, mas parecia verdadeiramente querer oferecer algum tipo de suporte por meio da fala. — Eu acho que a minha mãe não ia se importar de ter mais alguém. E é capaz de ela gostar mais de ti do que de mim.
— Isso é impossível, mas... obrigado. — enunciou baixo sobre a segunda parte da afirmação alheia, oscilando entre manter o olhar fixo no mais velho e precisar de algo que o salvasse da feição doce que Yeonjun direcionava a si naquele instante.
Não era como se fosse realmente considerar a proposta, mas achou tão gentil que nem lutou contra o sorriso que se formou em seu rosto e foi complementado com a resposta do mais velho, que saiu tão baixa quanto a sua, mas em uma entonação óbvia que quase nem podia ser percebida.
— Não é impossível, Soobin. Nem um pouco.
Até tentou não pensar demais no que a alegação do baterista significava, mas, se não fosse por Yeonjun se manifestando mais uma vez, teria se perdido nos pensamentos que não sabia julgar se eram frutos da ilusão que crescia em si ou se eram justamente a intenção do mais velho com aquele tipo de fala.
— Eu sinto que se eu tentar te ajudar mais só vai piorar tudo... — comentou em um tom divertido pela certa culpa que sentia de ter incentivado o Choi a se colocar naquela situação, e continuou assim que Soobin riu abafado da fala. — Mas... Ele é o teu pai. E ele provavelmente te ama mais que tudo.
A constatação em tom certeiro do baterista, que apesar disso, estava claramente desajeitado ao tentar criar uma linha de raciocínio enquanto o Choi se mantinha atento a si, atingiu Soobin com uma certa clemencia inesperada, por estar tão afetado pelo cenário atual que nem se apegava àquele fato óbvio.
— E quando ele perceber que tu tá... feliz com isso, os ensaios e tudo mais, e que tu só não contou porque tu não sabia como... Eu acho que ele vai te... Que vai melhorar. Pelo menos um pouco.
— Eu... acho que faz sentido. — foi o melhor que conseguiu proferir no meio dos tantos pensamentos que a conclusão do mais velho causara em si. — Obrigado. De verdade.
Se sentiu bobo por enunciar mais um agradecimento depois de longos segundos em silêncio, mas, ao mesmo tempo, sentia que nunca conseguiria agradecer Yeonjun o suficiente por tudo o que queria expressar.
— Eu to falando sério sobre tu ir lá pra casa se precisar, tá bom? — apesar da afirmação, o tom de voz era mais uma vez bem-humorado, o que nem deu escolha para o sorriso frouxo de Soobin se revelar. — Se tu quiser almoçar lá ou qualquer coisa, me avisa. Eu sei fazer massa e ovo frio e...
Yeonjun interrompeu a própria fala para analisar o que dizia, e a sua expressão de leve arrependimento e certa vergonha da tamanha disposição expressada fez Soobin rir antes de se deixar ser tomado pelo clima sereno que retornara por conta do mais velho.
— Tu já pode quase ser um chefe de cozinha. — constatou como se estivesse impressionado, aliviando o embaraço alheio.
Não soube direito o motivo da sua mente apelar mais uma vez para uma brincadeira, mas, de certa forma, era grato por conseguir ajudar o baterista no humor que tirava o peso da conversa.
— Tu acredita demais em mim, Soobin.
A fala seria apenas mais um motivo para um sorriso tímido do Choi se não fosse pelo gesto simultâneo que Yeonjun realizou sem nem pensar, escorando a mão direita na coxa de Soobin por um segundo para complementar a afirmação antes de a recolher com pressa.
O toque sendo interrompido quase que de imediato não mudou o fato de Soobin não conseguir disfarçar o choque que aquilo causou em si e que fez com que precisasse de algum tempo do silêncio razoavelmente confortável para voltar a reconhecer conscientemente a presença de Yeonjun. Seu corpo enrijeceu e suas pernas pareceram mais pesadas que nunca antes de enfim conseguir voltar a se deixar relaxar no assento.
Permaneceram ambos em silêncio e quase imóveis nos bancos pelos minutos seguintes e, apesar da inconsistência nos poucos olhares trocados e da fome que já sentia se manifestar vagamente, Soobin concluiu mentalmente que poderia passar o resto do dia ali pela segurança singular que sentia com a presença do baterista. Não queria ir embora e muito menos que Yeonjun fosse.
A maior frequência com que dividiam momentos como aquele fazia com que o Choi se convencesse de que aprendia a lidar com mais naturalidade, mas a verdade era que espiar Yeonjun daquela distância ainda era difícil para si considerando o coração agitado no peito. Ainda assim, pelo menos já conhecia as reações que aquilo provocava em si, e não era como se o nervosismo fosse o impedir de atender a vontade absurda que tinha de admirar Yeonjun e aproveitar aquela proximidade por cada segundo que pudesse.
Na tentativa de não se perder na especulação sobre o motivo do baterista ainda estar ali, como se soubesse que o fazia sentir cada vez mais tranquilo sobre o fato de ter que voltar para casa, Soobin enfim percebeu o estacionamento praticamente vazio quase no mesmo instante em que Yeonjun reparou que estava sendo observado com tanta dedicação, provavelmente pelo impulso que o fez desviar o olhar para os únicos dois carros que ainda estavam estacionados além da scooter alheia assim que o mais velho se virou para si.
— Eu... — o baterista anunciou apressado, se agitando no banco ao acompanhar o Choi conferindo ao redor pela janela, e só concluiu depois de buscar o horário no celular. — Eu acho que eu preciso ir. Desculpa, eu até...
— Tudo bem. Desculpa eu por te fazer se atrasar.
Soobin quase nem conseguiu concluir a fala antes de Yeonjun negar com a cabeça junto da expressão contrariada que deixava claro que não fazia questão daquele pedido de desculpa.
O mais velho ainda pareceu um pouco incerto sobre sair do carro enquanto fitava o para-brisa em uma certa preparação para enfim terminar a interação e Soobin não conseguiu controlar o leve suspiro que a imagem arrancou de si. Yeonjun realmente tinha se atrasado quase uma hora na tentativa de o fazer sentir melhor por qualquer que tivesse sido a razão. Provavelmente era um exagero de sua parte, mas não conseguia conter que se sentia um tanto especial por isso.
Um último olhar de Yeonjun foi direcionado ao Choi, ainda de dentro do carro, mas, quando o mais velho mordeu o lábio inferior superficialmente ao tentar conter um suspiro, Soobin teve que voltar a atenção para o volante à sua frente e só conseguiu voltar a reparar no outro quando já estava emoldurado pela janela da porta do carona. Sabia que não tinha cabeça para aquele tipo de coisa naquele momento, mas se contemplasse mais uma vez os lábios alheios talvez não conseguisse mais esconder os pensamentos que tanto reprimia.
— Até amanhã, Choi. — Yeonjun se apoiou na porta do lado oposto de Soobin e observou ao redor antes de se curvar para expressar em um quase sussurro a brincadeira. — Dirige com cuidado que eu acho que vai ser impossível de tu sair daqui com esse movimento.
Soobin riu frouxo ao localizar apenas um dos dois carros que ainda persistiam até pouco no estacionamento, sendo ele a única companhia do seu carro e da moto do mais velho.
— Soobin... — o baterista chamou baixo mais uma vez e recuperou toda a atenção do Choi de imediato. — Desculpa não conseguir te ajudar tão bem, mas... se tu precisar de alguma coisa, me avisa, tá bom?
O Choi concordou por não ter outra alternativa, mas a verdade era que ele precisava mais que tudo de algo que Yeonjun não conseguiria dar. Uma paixão que não fosse unilateral.
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