O sol estava forte naquela tarde, lançando seus raios sobre o campo de treino. Meu corpo já estava quente e cansado, mas como capitã das líderes de torcida, eu tinha que me manter firme, coordenar os movimentos com precisão, sempre perfeita. A quadra aberta estava cheia de ruídos, risadas e conversas. As meninas se preparavam para mais uma sequência de coreografias enquanto o time de futebol americano treinava ao fundo, seus gritos ecoando ao longe.
— Vamos, pessoal! Mais uma vez! — gritei, batendo palmas para chamar a atenção.
Nós começamos a sequência novamente, cada movimento sincronizado, cada salto perfeito. Mas no meio do meu giro, algo me desconcentrou. Um par de olhos fixos em mim. Eu sabia exatamente de quem eram antes mesmo de olhar na direção certa. Não precisava, já sentia o peso daquele olhar. Ymir Flitz estava nas arquibancadas, sentada com uma postura relaxada, mas seus olhos estavam cravados em mim, intensos, curiosos... quase predatórios.
Senti meu coração acelerar, minhas mãos começando a suar. Por um breve momento, meu passo falhou, e eu errei o tempo do movimento. "Droga", pensei, tentando me recompor rapidamente. Mas a sensação de que ela estava me observando não sumiu, pelo contrário, parecia crescer a cada segundo. Eu sabia que não devia me importar, que aquilo não era nada. Mas era como se toda vez que Ymir me olhava, algo dentro de mim reagisse de uma maneira que eu não conseguia controlar.
Assim que a sequência terminou, Pieck se aproximou, os longos cabelos escuros presos num rabo de cavalo balançando suavemente enquanto ela me encarava com um olhar suspeito. Ela sempre percebia quando algo estava errado.
— O que foi isso, Historia? — ela perguntou, apoiando as mãos nos quadris. — Não é normal você perder o ritmo.
Tentei disfarçar, ajeitando a franja que havia caído nos meus olhos.
— Só distração — murmurei, olhando para qualquer lugar que não fosse Pieck.
Mas ela não deixava barato, sempre tão perspicaz.
— Distração? Ou talvez tenha algo a ver com aquela garota nova que não tira os olhos de você desde que chegou? — Pieck apontou com um leve movimento de cabeça na direção de Ymir, que continuava sentada, observando a cena com aquele mesmo sorriso arrogante nos lábios.
Meu rosto imediatamente esquentou, e eu sabia que estava corando. O pior é que Pieck percebeu na hora.
— Ahá! Então é isso. — Ela riu, cruzando os braços. — Não acredito que você está nervosa por causa dela.
— Não é nada, Pieck. Para com isso. — Eu tentei soar casual, mas minha voz falhou levemente.
Pieck apenas sorriu, balançando a cabeça.
— Só cuidado, Reiss. Ela tem uma fama... — Pieck hesitou, escolhendo as palavras. — De ser intensa, se é que você me entende. Não acho que você queira problemas.
Fiquei em silêncio, sem saber o que responder. Pieck não estava errada. Ymir parecia exatamente o tipo de garota que causaria confusão onde quer que passasse, mas algo nela... algo me atraía de uma forma que eu não conseguia ignorar.
Depois que o treino acabou, me despedi das meninas e decidi que precisava de um tempo para mim mesma. Fui até a biblioteca da escola, que geralmente estava vazia naquela hora da tarde. O silêncio era exatamente o que eu precisava para acalmar meus pensamentos. Sentei-me num canto afastado, abri meu livro, mas a verdade é que não conseguia me concentrar em nada. As palavras dançavam na minha frente, e a única coisa que eu conseguia pensar era em Ymir e no jeito como ela me olhava.
Foi então que senti alguém se aproximar. Meu corpo reagiu antes mesmo de eu levantar os olhos. Aquela presença inconfundível. Quando olhei para o lado, lá estava ela, se sentando ao meu lado como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Lugar ocupado? — ela perguntou com um sorriso brincalhão, mas já se acomodando antes que eu pudesse responder.
Meu coração começou a bater mais rápido, e eu fechei o livro com força, tentando ignorar o fato de que o perfume dela era inebriante e que sua presença tão próxima estava me deixando nervosa.
— O que você quer, Ymir? — perguntei, tentando soar firme, mas o nervosismo transparecia na minha voz.
Ela inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa e me olhando com um brilho divertido nos olhos.
— Eu só queria aproveitar a vista de novo. — Ela sorriu de lado, seus olhos me percorrendo sem vergonha alguma.
Engoli em seco, tentando manter a compostura, mas era como se o ar ao nosso redor tivesse ficado mais denso. A cada segundo que passava, eu sentia meu autocontrole desmoronando, e o pior era que Ymir parecia saber disso. Ela estava brincando comigo, se divertindo com meu desconforto.
— Não tenho tempo para seus jogos, Ymir — murmurei, olhando para frente, tentando ignorar o calor que subia pelo meu pescoço.
— Quem disse que é um jogo? — ela respondeu, a voz baixa, soando quase provocativa.
Eu não sabia o que fazer. Minha mente gritava para que eu me afastasse, mas meu corpo parecia travado, incapaz de obedecer. A proximidade dela era intoxicante, e eu estava prestes a dizer algo quando a porta da biblioteca se abriu com um rangido alto.
— Historia! — A voz de Hitch ecoou pelo corredor, e eu nunca me senti tão aliviada de ver alguém.
Ela se aproximou rapidamente, os olhos passando de mim para Ymir, avaliando a situação com um sorriso malicioso.
— Achei que você estava estudando sozinha. — Hitch olhou para Ymir com uma sobrancelha arqueada. — Mas parece que já encontrou companhia.
Ymir deu de ombros, levantando-se lentamente da cadeira.
— Acho que vou deixar vocês duas a sós. — Ela sorriu para mim de novo, aquele sorriso cheio de segundas intenções. — Mas a gente se vê por aí, Historia.
Antes de sair, ela deu uma última olhada, e então foi embora, deixando-me com o coração disparado e as mãos suando.
Hitch se sentou no lugar que Ymir havia deixado vago e me olhou com um sorriso cínico.
— Então... você e a novata, hein?
Eu bufei, jogando a cabeça para trás e cobrindo o rosto com as mãos.
— Não me provoca, Hitch. Não estou no clima.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Não vou dizer que estou surpresa. Essa garota parece ter um jeito de mexer com as pessoas. Mas, honestamente, Historia, você devia tomar cuidado.
Olhei para Hitch, tentando entender se ela estava falando sério ou apenas brincando. Mas, dessa vez, ela parecia mais cautelosa do que de costume.
— Você está mesmo preocupada? — perguntei, curiosa.
Hitch suspirou, apoiando o queixo nas mãos.
— Só estou dizendo que, com Ymir, as coisas podem ficar... complicadas. E pelo que vi hoje, você já está entrando de cabeça sem nem perceber.
Eu sabia que ela tinha razão. Algo em Ymir me atraía de uma maneira que eu não conseguia controlar. Mas, ao mesmo tempo, a intensidade dela me assustava. E se eu não fosse capaz de lidar com tudo isso? Eu mal conseguia lidar com meus próprios sentimentos.
Olhei para Hitch, tentando encontrar alguma resposta nas palavras dela, mas no fundo, eu sabia que essa era uma confusão que eu teria que resolver sozinha.
Porque, de alguma forma, Ymir Flitz já estava sob minha pele, e eu não sabia se conseguiria tirá-la dali.
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