As últimas duas semanas tinham sido um verdadeiro teste para minha sanidade. Desde o momento em que Ymir e sua família se mudaram para a casa ao lado, a paz que eu costumava sentir dentro do meu próprio lar desapareceu por completo. Meu pai e o Coronel Karl se tornaram inseparáveis, e a senhora Flitz, sempre tão cortês e educada, parecia estar presente em todas as refeições e eventos que meus pais organizavam.
E Ymir? Bem, a presença dela era a mais perturbadora de todas.
Ela estava lá em todos os momentos, seja sentada à mesa de jantar com aquele sorriso presunçoso, seja no quintal da minha casa, conversando com meu pai e meus irmãos como se fosse parte da família. Toda vez que ela me olhava, eu sentia meu corpo enrijecer, como se uma corrente elétrica passasse por mim. Aquela sensação de estar sempre sendo observada, sempre sendo provocada, estava me consumindo lentamente.
Eu não sabia como lidar com isso. Desde que ela havia chegado, era como se meus dias girassem em torno de evitar aqueles olhares intensos, aquelas investidas sutis que me faziam questionar até a realidade.
E hoje, enquanto eu me arrumava para a festa de Jean Kirschtein, meu coração estava acelerado, e não de uma forma boa. Eu sabia que Ymir estaria lá. Jean havia se aproximado dela de uma maneira surpreendentemente rápida, e agora eles pareciam inseparáveis, o que significava que eu teria que passar a noite toda dividindo o mesmo espaço que ela.
"Respira fundo, Historia. Não é nada demais", repeti para mim mesma enquanto terminava de ajustar o vestido. O tecido azul escuro caía suavemente sobre meu corpo, destacando minhas curvas de maneira sutil, mas elegante. Deixei meus cabelos soltos, algo que Reiner sempre dizia gostar, e coloquei apenas uma maquiagem leve, destacando meus olhos.
Olhei para o espelho, tentando me convencer de que tudo ficaria bem. Eu estava indo para essa festa com meu namorado. Eu tinha meu grupo de amigos. Eu iria me divertir, e não havia motivo para me preocupar com Ymir. Mas a verdade é que minha mente insistia em voltar para ela, para o desconforto que sentia sempre que estávamos no mesmo lugar.
Quando finalmente cheguei à festa, a casa de Jean já estava lotada. As luzes piscavam em tons de azul e roxo, e a música alta reverberava nas paredes. Reiner estava ao meu lado, rindo com seus amigos — Annie, Galliard, Bertholdt e Pieck — enquanto eu tentava me enturmar, mas me sentia estranha, fora de lugar. Eles falavam de coisas que não me interessavam, riam de piadas internas que eu não entendia. Era como se, de repente, eu não pertencesse mais àquele grupo.
♡
Em um momento, Reiner estava tão envolvido numa conversa com Galliard que mal notou minha presença ao lado dele. Senti a necessidade de escapar, de respirar um pouco. Fui até a varanda, onde o ar fresco da noite me recebeu com um abraço gelado.
E foi ali que a vi.
Ymir estava sentada em uma cadeira no canto da varanda, e em seu colo estava uma garota que eu não reconhecia. A menina estava de frente para ela, com as pernas em volta da cintura de Ymir, os braços ao redor de seu pescoço. Elas estavam se beijando. Não era um beijo qualquer; era um beijo profundo, carregado de uma intensidade que me fez sentir uma pontada de ciúme no peito. Meu estômago revirou.
Eu sabia que Ymir tinha uma reputação de ser mulherenga, mas ver aquilo, presenciar com meus próprios olhos, me abalou de uma forma que eu não conseguia explicar.
Sem pensar muito, me aproximei delas, interrompendo a cena.
— Não tem lugar melhor pra fazer isso, não? — soltei, minha voz soando mais irritada do que eu pretendia.
A garota pareceu um pouco envergonhada e rapidamente saiu do colo de Ymir, ajeitando a roupa antes de desaparecer pela porta da varanda sem dizer uma palavra. Fiquei ali, parada, sem saber o que fazer, e Ymir me olhou com aquele mesmo sorriso provocador de sempre, como se estivesse se divertindo com minha reação.
— Ah, Reiss... com ciúmes, é? — ela perguntou, se recostando na cadeira, os olhos fixos em mim.
— Não seja ridícula, Flitz — rebati, cruzando os braços na tentativa de parecer mais firme do que me sentia.
Ela riu suavemente, um som baixo, que me fez arrepiar.
— Não precisa mentir pra mim, Historia. Eu sei o que você está sentindo. — Ela se levantou, caminhando lentamente até mim. — Você pode fingir que não, mas desde que nos conhecemos, tem alguma coisa entre nós, e você sabe disso.
Dei um passo para trás, mas Ymir já estava próxima demais, o suficiente para eu sentir o calor do corpo dela. Antes que eu pudesse reagir, ela estendeu a mão e, com uma leveza inesperada, tocou minha cintura, me puxando para mais perto.
— Ymir, para com isso... — tentei protestar, mas minha voz soou fraca, quase um sussurro.
Ela ignorou minhas palavras, os olhos brilhando de desejo, e antes que eu me desse conta, já estava sentada em uma cadeira próxima, e de alguma forma eu havia sido puxada para o colo dela. Senti suas mãos em minhas coxas, firmes, segurando-me no lugar.
Meu coração estava batendo tão forte que parecia que ia explodir.
— Ymir... — tentei falar, mas as palavras morreram na minha boca quando ela se aproximou, seus lábios tocando os meus.
O beijo foi intenso, profundo. Era como se todo o ar ao nosso redor tivesse sido sugado, e o único som que eu conseguia ouvir era o da minha respiração entrecortada. A mão dela subiu lentamente, tocando minhas costas, e eu senti meu corpo ceder ao toque, como se eu estivesse em chamas.
Foi só quando senti algo sólido e grande pressionando contra mim, abaixo de mim, que a realidade me atingiu como uma onda gelada. A excitação de Ymir era palpável, e a sensação me fez abrir os olhos de repente, minha mente tentando processar o que estava acontecendo. O que eu estava fazendo? Como eu deixei isso acontecer?
Eu me afastei rapidamente, meu rosto queimando de vergonha. Me levantei do colo dela, ajeitando meu vestido enquanto tentava recuperar o controle de mim mesma.
— Eu... Eu preciso voltar. — Minha voz saiu apressada, e sem esperar por uma resposta, me virei e voltei para dentro da casa.
O ar parecia mais pesado quando entrei de novo na festa. Reiner e o resto do grupo ainda estavam no mesmo lugar, rindo e conversando como se nada tivesse mudado, como se o mundo ainda estivesse normal. Mas para mim, nada mais fazia sentido.
Sentei-me ao lado de Reiner, forçando um sorriso enquanto ele passava o braço ao redor dos meus ombros, mas meu corpo ainda estava em choque, meu coração batendo descontrolado. A culpa me corroía por dentro. O que eu tinha feito? Como pude perder o controle daquela maneira?
Eu sabia que aquilo não deveria ter acontecido. Eu sabia que aquilo era errado. Mas o pior de tudo é que, no fundo, uma parte de mim não conseguia parar de pensar no que acabara de acontecer... e no quanto eu queria que acontecesse de novo.
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