"ㅡ Vamos sair? ㅡ Milena me pergunta assim que entra na biblioteca e me acha enfiada em um dos livros. ㅡ Você precisa sair um pouco de cima dos livros, se não eles vão ficar cansados de você.
ㅡ Milena, livros não se cansam. ㅡ Eu digo simplista, sem tirar meus olhos do livro que eu estava lendo no momento. ㅡ E me deixa em paz.
ㅡ Ah não… Por favor, vem em uma festa comigo, por favorzinho. ㅡ Ela diz manhosa e eu olho pra ela. Milena está com um biquinho e os olhos piscando. Ela acha que eu não resisto a essa cara dela. Mas ela só acha mesmo, porque não tem nenhum efeito em mim. ㅡ Eu não quero ir pra essa festa sozinha.
ㅡ Arruma outra pessoa pra ir com você, então. Não é como se nos conhecêssemos por muito tempo. ㅡ Eu digo, voltando a minha atenção pro meu livro. Milena havia se mudado pra Seul a pouco tempo e nos conhecemos no meio do primeiro ano do ensino médio. Já estamos no começo do terceiro, ou seja, somos amigas a apenas alguns meses, portanto ainda não somos tão grudadas. E não é como se ela tivesse só eu pra ir com ela a festa.
ㅡ Não, tem que ser você. ㅡ Minha amiga fica emburrada e senta na cadeira ao lado da minha.
ㅡ Por quê? ㅡ Pergunto curiosa, de novo a olhando.
ㅡ Porque você é a minha amiga mais próxima. ㅡ Ela diz toda sentimental.
ㅡ Próxima da sua casa? ㅡ Qual é. Eu não fico melhor amiga de uma pessoa por apenas alguns meses.
ㅡ Não, você é próxima do meu coração. ㅡ Seus olhos brilhavam enquanto ela dizia essa frase.
ㅡ Tá bom… Eu vou. ㅡ Falo já cansada. Ela me convenceu com a sinceridade no seu olhar. Milena realmente precisava de mim lá."
Vou folheando um álbum que achei no meu antigo quarto, eram fotos da época que eu estava no ensino médio. E vendo todas essas fotos, acabei lembrando de vários momentos daquele tempo. Principalmente de quando eu conheci o Tae. Eu abro um sorriso involuntário.
" ㅡ Não parece cheio demais pra você? ㅡ Eu pergunto um pouco aflita, afinal, tinha tanta gente naquela festa que parecia que a casa era pequena demais pra tantas pessoas. ㅡ Vamos pra outro lugar?
ㅡ Não, Minjae. ㅡ A Milena fala começando a ficar emburrada. Acho que tinha uma razão a mais pra ela querer vir até essa festa. Nunca vi ela tão insistente sobre alguma coisa antes. ㅡ Já estamos aqui, então não compensa ir pra outro lugar agora.
ㅡ Sei. ㅡ Eu falo, começando a me arrepender de ter cedido ao seu pedido. Eu nem curto lugares barulhentos. A biblioteca é muito mais a minha vibe.
Entramos na casa e eu observo as pessoas dançando animadas no centro da sala, que estava com uma iluminação escura, com só algumas luzes em tons de azul piscando. Era realmente difícil reconhecer alguém nesse escuro todo. Tão difícil que logo eu perco minha amiga, assim que ela soltou a minha mão. Fala sério, pra que ela me queria aqui, se depois vai me abandonar?
Logo avisto uma estante de livros na parede daquela sala e embora obviamente seria complicado ler alguma coisa aqui, eu corro para aquela direção, é como se os livros fossem me proteger desses bêbados loucos.
Estava tão focada naqueles livros que esbarrei em uma pessoa e caio de bunda no chão. Além de sentir minha roupa molhada. Droga, alguma bebida caiu na minha roupa.
ㅡ Você tá bem? ㅡ Uma voz grossa pergunta, me fazendo arrepiar. Olho pra cima e encontro um par de olhos escuros me olhando preocupado.
ㅡ Acho que sim. ㅡ Respondo saindo do transe que seus olhos me prenderam. Era a primeira vez que eu reparava nesse garoto, embora me recordo vagamente de já o ter visto no colégio antes.
Olho pra trás dele e vejo alguns garotos me olhando curiosos, julgo ser seus amigos, que pareciam ter me notado pela primeira vez também e olho na direção que aqueles rapazes estavam olhando, dando de cara com minha blusa transparente, mostrando meu sutiã preto de rendas. Acho que a bebida que caiu em mim molhou minha blusa branca, a deixando transparente.
ㅡ Precisa de ajuda? ㅡ O garoto a minha frente, aquele que havia derrubado a bebida em mim, pergunta. Eu o olho incrédula e nego com a cabeça, morrendo de vergonha, por ter todos os olhares da festa sobre mim, e corro o mais rápido possível dali."
Me lembro daquele dia como se fosse ontem. E como eu me enganei, pensando que o Taehyung daquela época era amigável. Ele era bipolar, isso sim. Na frente dos amigos dele, me maltratava e longe dos seus amiguinhos, ele me provocava.
Só sei que depois daquela festa os amigos do Tae começaram a pegar no meu pé. E logo as patricinhas da escola também. Tae nunca me machucou, como seus colegas faziam. Ele só ficava quieto, observando. E eu peguei raiva dele por isso. Por ele nunca fazer nada pra me defender.
Até que um dia o Taehyung veio me pedir desculpas. Depois disso, sempre que ele estava sozinho, dava um jeito de me provocar. E essas provocações deram efeitos, porque logo eu estava caidinha por ele. Meu ódio virou amor.
Estava passando as fotos do álbum e vi uma foto do Tae olhando pra uma lado qualquer. Eu tinha tirado aquela foto escondida dele. Sorri com as lembranças.
" Eu passava correndo entre as pessoas do corredor, estava cheia de livros nas mãos e precisava chegar rápido até o meu armário na sala, antes que eu não aguentasse mais o peso e todos os livros caíssem no chão.
Supirei aliviada quando cheguei até a sala e coloquei os livros em uma das mesas para descansar minhas mãos um pouco. Olhei para a janela que dava para o corredor e me assustei com o Taehyung encostado ali, do lado de fora da sala.
Eu não sei se era o reflexo do sol que estava ajudando, mas naquele momento o Taehyung parecia a pessoa mais linda que eu já havia visto até agora. Ele estava com os olhos fechados por conta da luz do sol no seu rosto e tinha um pequeno sorriso no seu rosto. Seu olhar estava despreocupado e seus braços estavam pra trás do seu corpo, encostados na janela.
Não resisti aquela imagem tão bela e peguei meu celular, logo tirando uma foto dele. Porém, eu esqueci que meu celular estava com som e o som do "click" saiu ecoando naquele corredor vazio. Pois é, quando eu preciso, cadê aquele monte de pessoas que estavam no corredor?
Surpreso, o Taehyung abre os olhos e vira seu rosto pro lado de onde veio o som, ou seja, o meu lado. Eu abro um sorriso amarelo e corro pra dentro da sala de novo, mas logo sinto uma mão no meu braço, me parando.
ㅡ Onde a lindinha acha que vai? ㅡ Ouço aquela maldita voz grossa de novo, e, como o esperado, logo eu me arrepio.
ㅡ Eu vou guardar meus livros. ㅡ Digo na cara de pau, enquanto solto mais um dos meus sorrisos amarelos.
ㅡ Para de evitar aquilo que eu quero que você me responda. ㅡ O Taehyung puxa fortemente meu braço, fazendo eu ficar de frente pra ele. Ele abre um sorrisinho falso. ㅡ Você tirou uma foto de mim?
ㅡ Não, eu tirei uma foto da paisagem que dá pra ver daquela janela. ㅡ Aponto pra janela do corredor que dá a visão do campo da escola. Aproveito e faço minha cara de inocente.
O Taehyung olha desconfiado pra mim e aproxima seu rosto do meu, seus lábios ficando a centímetros dos meus. Eu começo a sentir meu rosto ficar quente. É, parece que eu corei mais uma vez com as provocações desse garoto.
ㅡ Tudo bem… Eu finjo que acredito… ㅡ Ele se afasta de mim e solta meu pulso, logo em seguida sorrindo e piscando pra mim. ㅡ … E deixo você ter uma foto minha pra você olhar sempre que sentir minha falta."
ㅡ Filha? ㅡ Escuto minha mãe chamar e volto pra realidade. ㅡ Você tá bem?
ㅡ Tô sim. ㅡ Fecho o álbum e olho pra minha mãe com carinho. Depois que meu pai morreu, minha mãe sempre tentou o seu melhor pra cuidar bem de mim e da minha irmã. Sou muito agradecida por seus esforços em manter a gente feliz. ㅡ Só estava olhando um álbum de fotos antigo.
ㅡ Se é só isso, então eu fico mais aliviada. ㅡ Ela sorri alegremente pra mim, dando pra ver claramente as linhas de expressão em seu rosto, marcados pela velhice. ㅡ Parece que você não dormiu ontem a noite.
ㅡ Não consegui. Sabe, pensando na minha vida de casada. ㅡ Respondo com um sorriso triste.
ㅡ Espero que você faça as escolhas certas. ㅡ Minha mãe acaricia minha cabeça levemente. ㅡ Vem comer o café da manhã, antes que seus sobrinhos não deixem nada pra você.
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"Descobri que você brigou com seu marido. Deve ser por isso que ele está com essa cara de cu a alguns dias aqui no trabalho."
Li a mensagem que o Jin me enviou hoje, no horário do almoço e ri. Esse deve ter sido o único momento que ele achou pra poder fofocar comigo. O Kim Seokjin, mais conhecido como Jin, trabalha na mesma empresa que o Tae e por isso, ele meio que é o meu agente disfarçado lá. Ele me conta tudo o que meu marido apronta no trabalho. Por isso estranhei o Jin não me falar nada sobre a vadia e o Tae.
Aparentemente ele descobriu alguma coisa que o deixou intrigado o suficiente pra vir desabafar comigo.
MJ: "Espero que seja mesmo. Mas me diz, a cara dele piorou hoje?"
J: "Vixi, como você sabe? Ele tava com essa cara de azedo pro seu lado também?"
MJ: "Não, é que eu saí de casa ontem."
J: "Saiu? Por quê?"
Foi aí que eu expliquei tudo pro Jin meio resumidamente, e prometi falar sobre os detalhes mais tarde.
J: "Minjae! Não acredito que você tá brigada com o seu bofe só por causa disso."
MJ: "Não foi só. Isso é mais sério do que parece."
J: "Então olha essa pérola que eu tenho aqui e me diz se ele ainda tá te traindo. P.S.: Me agradece depois."
Leio a última mensagem do Jin meio confusa. Como assim "pérola"? Jin nunca usa essa palavra à toa. Provavelmente é algo valioso mesmo. Escuto o som de quando uma mensagem chega. Desbloqueio meu celular e vejo que é um video. O Jin me enviou um video? Desconfiada apertei o play.
No video mostra o Tae na sua sala e a vadia na sua frente, do outro lado da mesa. Pelo video dá pra perceber que ele foi filmado escondido. Não acredito que o Jin me enviou meu marido fazendo coisas com a vagabunda que trabalha com ele.
Pauso o video, respirando fundo. O Jin disse que era pra provar que o meu marido não está me traindo, então acho que não vai mostrar nada demais. Despauso e volto a ver com atenção o conteúdo do video.
Ela se aproxima do Tae, porém ele levanta e escuto o que ele diz. Lágrimas escorrem dos meus olhos. Eu não acredito que eu estava o culpando por um mal entendido. Tudo por causa daquele maldito abraço. Levanto da minha cama e corro até a cozinha, pronta pra almoçar o mais rápido possível e me despedir da minha mãe para voltar para os braços do meu anjo que eu tanto amo.
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P.O.V. Taehyung
ㅡ Você tá bem? ㅡ Jungkook pergunta pra mim ao me ver entrando na empresa. Por algum motivo, ele estava na recepção e acabou pegando eu despreparado, com a pior cara do mundo. A Minjae não dormiu ontem em casa e como resultado, não consegui dormir direito. Resumindo estou com cara de acabado, com profundas olheiras e um cansaço que está escrito na minha testa.
ㅡ Eu pareço bem pra você? ㅡ Eu respondo irônico. Vamos dizer que não é só a minha cara que está péssima. Meu humor também não está aquelas coisas.
ㅡ Calma, amigo. ㅡ Jungkook diz surpreso. Acho que ele não esperava que eu estivesse tão mau ao ponto de responder de forma grosseira pra ele. Afinal, pode não parecer, mas Jungkook é meu amigo desde sempre. Ele me conhece melhor que eu mesmo. ㅡ Só queria ter certeza. Mas… Por que está assim?
ㅡ Vem pra minha sala. ㅡ Eu digo passando por ele e entrando no elevador. ㅡ Eu te conto tudo lá.
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"Toc, Toc."
Escuto o som de batidas na porta e logo lembro que pedi pra Jungkook passar na minha sala pra mim desabafar um pouco. Já que não é só mulher que precisa por o papo em dia. O ataque de desconfiança da minha mulher está me matando e preciso que alguém escute minhas reclamações. É difícil ficar sem carinho só porque sua mulher acha que você não merece, tá?
Estava tão desesperado por alguém pra ouvir meus problemas que eu nem perguntei quem era.
ㅡ Pode entrar. ㅡ Eu estava sentado na minha mesa, olhando uns papéis, portanto não olhei quem estava entrando na sala, até porque já deduzi que seria o Jungkook. ㅡ Jung…
ㅡ Oi, Tae. ㅡ Yurin diz manhosa e eu a olho surpreso, eu não estava esperando ela aparecer na minha sala sem avisar minha secretária. ㅡ Eu estava passando por perto e resolvi fazer uma surpresinha.
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