Abri os olhos lentamente, ouvindo a voz de pessoas desesperadas ao meu redor, e foi então que encarei a mulher familiar de cabelos roxos em cima de mim, passando alguma coisa na ferida aberta em meu peito.
— Kazuha me passe as faixas, ele finalmente parou de sangrar e já desinfetamos a ferida para evitar uma inflamação! — Ouvi a mulher falando e... Mãe?! E-eu... O que estou fazendo na casa da minha mãe...
— M-ma...
— Ele está acordando. — Outra pessoa segurou minha cabeça com cuidado para eu não bater ela na cama. — Quieto, por favor não tente se mover Kuni.
Essa era a voz da tia Makoto, embora eu não conseguisse ver seu rosto nesse ângulo.
Obedeci, ficando em silêncio e observando o desespero de todos ao redor, minha cabeça ainda estava um pouco nublada e foi então que comecei processar tudo o que aconteceu... Eu estou vivo? Que merda.
— Kuni... — Ouvi a voz de Kazuha, juntamente com as mãos pálidas segurando minha mão e a beijando diversas vezes com carinho. — Me desculpe... Me desculpe mesmo, por favor...
— Kazuha, você não fez nada de errado. — Ei disse, enquanto alguém apoiava meu corpo um pouco para cima. — Pelo contrário, você trouxe ele aqui muito rápido e salvou a vida dele e a sua.
— A-agh... — Gruni de dor, e as mulheres enfaixaram meu peito, me deitando novamente.
— Pronto. — Ei e Makoto me deitaram direito na cama, e se afastaram. — Ele vai ficar bem, só precisa de alguns dias de repouso.
— Oh, graças à Arconte Electro. — Kazuha segurou minha mão com força, acariciando.
— Eu estou... Orgulhosa de você. — Raiden tocou o ombro de Kazuha, com o rosto preocupado. — Eu sou quem deveria pedir desculpas por tudo o que você está passando por conta do meu filho.
— C-claro que não senhora... Eu que escolhi não desistir do Kunikuzushi, amar significa cuidar de quem você ama, não é? Passar pelos obstáculos juntos. — Kazuha sorriu para mim, enquanto seus olhos lacrimejavam.
Eu estou vivo, e eu me sinto pior ainda por isso, não, não... Era para eu morrer, eu não mereço ser amado e cuidado desse jeito... Eu lembro de todas as coisas que eu falei para ele...
— Kunikuzushi, você está consciente? — Ei perguntou, tocando meu rosto levemente.
— S-si... Ah...
— Melhor você não falar nada, nem se mexer também, apenas descanse... — A mulher beijou minha testa com carinho. — E Kuni... Me desculpe, quando você comeu o Niwa eu fui muito rígida com você, talvez se eu tivesse sido uma mãe mais carinhosa e presente você não tivesse fugido de casa... Me desculpe, eu te amo.
Eu fechei a cara, mostrando a língua para mulher, essa que apenas sorriu, mãe idiota, isso mesmo que bom que sabe que deveria ter me criado de modo carinhoso.
— Kazuha, você vai ficar aqui supervisionando ele? — A mulher perguntou, e Kazuha concordou com a cabeça. — Eu tenho uma longa conversa para ter com a senhorita Yae Miko sobre pílulas e medicamentos suspeitos.
Ela se levantou, e saiu da sala, mas na minha cabeça eu só pensava: Suspeitos? Yae Miko não estava me tratando?! Aquela vagabunda, se for isso eu vou... Eu vou!
— Seu corpo dói muito? — Kazuha perguntou, acariciando meu braço.
— A-ah... S-sim. M-mas está... M-melhorando.
— Sua mãe disse que o efeito mais agressivo pode ou não ter sido culpa das pílulas que você estava tomando... Desculpe, eu achei na sua bolsa, e depois Yae Miko admitiu tudo... Por que você não contou para Nahida e Ei? — Ele perguntou, e observei Kazuha com atenção, o rapaz tinha os pulsos avermelhados provavelmente de quando eu o segurei com força.
Movi minha mão lentamente, enganchando ela entre os dedos de Kazuha.
— Você queria que eu te matasse, não queria? — Perguntou, me pegando de surpresa. — Você... Até agradeceu...
—... Eu... — Desisti de falar, ficando em silêncio enquanto Kazuha segurava o choro.
— Por favor, não vá embora... — O rapaz acariciou minha mão. — Você me machucou, mas eu não te culpo por isso, você está amaldiçoado e eu não quero que você se afaste de mim...
Acariciei a mão de Kazuha, olhando para meu próprio peito enfaixado, eu não sei porque ele se preocupa tanto comigo, ele pode viver feliz... Eu não quero fazer mal para ele, eu não quero tornar isso um relacionamento abusivo, se for para acabar ruim, que acabe enquanto nós estamos felizes.
* * *
— Yae Miko. — Raiden Ei entrou na cozinha, olhei para trás vendo a mulher brilhando roxo de raiva.
— Oooh! Calma, calma, minha querida! — Yae Miko disse, rindo e se afastando da mulher.
— Você manteve isso em segredo?! Por que você medicou ele e alimentou ele com mais carne humana? Está atiçando o menino?!
— C-claro que não, o remédio diminui a fome dele pelo Kazuha, o Venti disse que...
— VENTI?! Eu já te falei que o Venti é irresponsável, a energia Anemo dele pode ser útil mas ele não vai usar com responsabilidade! — Ei reclamou, enquanto eu retirava a bandeja com biscoitos do forno.
Afinal, o Kuni e o Kazuha passaram por muita coisa, estou fazendo uma sopinha de legumes para o Kuni e alguns doces para tentar animar o Kazuha, espero que eles fiquem bem... Por um segundo eu achei que talvez o Kuni realmente fosse...
Apertei a minha mão contra a bandeja, não Nahida, não pense nisso Nahida, ele vai ficar bem.
— Olha Ei, me desculpe por fazer as coisas pelas suas costas, ok?! Ele estava melhorando, eu juro! O problema é que ele abusou demais do remédio, eu falei para ele parar! — Yae Miko se defendia desesperada. — Eu não entreguei para ele o pote, se estava na bolsa dele... Ele deve ter pego enquanto eu estava ocupada!
— Miko eu... Já é difícil demais lidar com tudo isso! Você sabe que o Kunikuzushi é teimoso e irresponsável, ele nunca escuta o que os outros falam para ele... — Ei se sentou na mesa, colocando ambas as mãos no cabelo e agarrando com força. — Ah... Eu não acredito nisso...
—... Você mandou bem... — Miko falou, coçando a nuca. — Diferente de mim, você treinou o Kazuha bem ao ponto dele salvar os dois...
— Eu só ensinei ele a manusear uma espada, ele que foi responsável o suficiente para acertar um ponto que não matasse o Kuni, embora eu não saiba se aquilo foi planejado... E ele também foi rápido em improvisar um curativo e correr para cá, o Kazuha é um rapaz incrível. — A mulher de tranças roxas comentou, e coloquei um prato com sopa e uma xícara de chá na sua frente.
— Aqui senhorita Ei, coma alguma coisa e descanse, a senhorita Makoto foi ao mercado e a Shogun a farmácia, ambas comprando coisas para cuidar do Kunikuzushi. — Falei sorrindo. — Eu vou cuidar da janta já que estão todas ocupadas!
— Oh... Obrigada Nahida, você é realmente uma benção nessa casa. — Ela agradeceu, sorrindo para mim.
— Não precisa agradecer, vocês são todos minha família, eu só estou fazendo a minha parte! — Me virei para Yae, apontando para as panelas. — Senhorita Yae, não tirei para você porque estou com as mãos ocupadas levando isso para o Kuni.
Falei, levantando a outra tigela de Kunikuzushi.
— Está tudo bem, obrigada Nahida.
— Desculpe também se você não gostar de sopa de vegetais, achei que fosse o mais nutritivo para o Kunikuzushi, ele precisa recuperar as forças! — Fui animada em direção a saída da cozinha.
Subi a escada com cuidado, batendo na porta do quarto onde Kunikuzushi estava, logo foi aberta por Kazuha, o rapaz tinha os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
— Oh... Nahida? — Perguntou, me observando.
— Eu trouxe o jantar do Kunikuzushi, você pode alimentar ele? Eu posso trazer o seu se quiser também, mas se preferir descer comer... — Abaixei a cabeça de vergonha, e Kazuha abaixou pegando a tigela das minhas mãos.
— Muito obrigado, Nahida. — O rapaz me fez um cafuné na cabeça. — Eu vou dar para o Kunikuzushi... Depois eu vejo o que faço.
— Eu fiz alguns biscoitos e chá também, se você quiser depois do jantar.
— Está tudo bem, muito obrigado mesmo.
O rapaz se afastou fechando a porta, e suspirei olhando para os meus próprios pés.
Não é justo o Kazuha e o Kuni passarem por isso, não é justo... Maldições são cruéis, eu não gosto de jogar elas nem em quem "merece", imagine em um inocente.
* * *
— O que aconteceu, Venti? — Alguém me perguntou, enquanto eu olhava as mensagens de Yae Miko e Raiden Ei no meu celular.
— Hmm? Ah... Bem... — Cocei a nuca.
" Venha para Inazuma agora! A Ei está muito brava conosco! "
" O que você fez com o meu filho?! O que tinha naquelas pílulas seu alcoólatra desgraçado?! "
— Eu acho que alguma coisa séria aconteceu... — Falei, me virando para Xiao e Zhongli.
— Como assim? — O homem de cabelos marrons perguntou, e logo em seguida colocou um bocado de comida na boca.
— Eu estava ajudando a Yae Miko a produzir uma pílulas com energia Anemo, sabe... Para conter a maldição do Kunikuzushi, vocês lembram dessa história? — Perguntei, bloqueando a tela do celular.
— O filho desaparecido da Ei? Ele voltou? — Xiao perguntou. — Achei que elas nunca iriam achar ele.
— Acharam, ele estava com a maldição aflorada novamente e por isso a Yae entrou em contato comigo. — Suspirei, me levantando da mesa com o prato em mãos. — Bem, acho que isso significa que eu vou ter que ir para a casa delas por alguns dias.
— Mas o que pode ter dado errado? — Xiao perguntou.
— Remédio em doses altas perde o efeito, é possível que ele tenha bebido tanto que o efeito voltou mais forte do que antes. — O homem de cabelos marrons explicou.
— Entendo... A propósito, de onde vem a maldição do filho da Ei? Vocês nunca me explicaram isso.
— DO QUE ESTÃO FALANDO?! — Hutao desceu as escadas correndo, com os fones de ouvido na orelha. — HAHA PERA.
A menina retirou os fones, enrolando com cuidado e guardando no bolso.
— Perdão, perdão, eu estava de fone, mas o espírito de fofoqueira sentiu alguma coisa, o que aconteceu?! — A menina disse animada.
— Olá Hutao. — Acenei, e a menina me olhou estranho.
— Xiao, você não disse que ia trazer o seu namorado para jantar! — A menina disse animada.
— Ele não é meu namo... — Hutao o cortou, falando alto novamente.
— Venti! Quanto tempo! O que faz na cidade?! — A menina veio saltitando e me abraçou com tudo.
— Haha, você baixinha deveria tirar os fones de ouvido para conseguir saber quando eu venho visitar! — Ri, acariciando a cabeça da garota. — Agora eu já estou de saída!
— Ahhh... — A menina fez bico, e olhou para Zhongli. — Por que o Venti demora tanto para vir visitar? Vocês brigaram?!
— Talvez. — Zhongli revirou os olhos, me observando de modo julgador.
— Não brigamos não, o velhote aí só está muito ocupado cuidando das aulas na faculdade, e eu também com a turnê que fiz recentemente. — Soltei a garota, me espreguiçando. — Ahhh mas enfim, eu tenho que ir, foi muito bom rever todos vocês.
— Oh... Xiao, por que você não me avisou que a visita era o Venti?
— Vocês já são muito insuportáveis separados, imagina juntos. — O rapaz reclamou, e ri piscando para ele.
— Seu irmão tem ciúmes que você é mais legal que ele, querida. — Enfim, adiós mis amigos!
A Yae Miko que vai dormir no sofá hoje, hahaha faz tempo que não vejo ela e a Ei brigadas.
* * *
— K-kazuha... — Ouvi a voz manhosa do rapaz, e abri meus olhos acordando lentamente.
Sorri observando Kunikuzushi se sentar na cama, ele finalmente parece ter acordado de verdade, será que já está se sentindo melhor?!
— K-kuni! — Me levantei da outra cama que eu estava dormindo, e andei até Kunikuzushi. — Você está bem? Dormiu bem? Já consegue falar?
—... Sim, co-co... Agh... — O rapaz colocou a mão no seu peito. — Consigo... Meu corpo está tão... Dolorido...
— Eu imagino... Precisa que eu faça algo por você? Quer ir ao banheiro? Escovar os dentes? Trocar as ataduras? — Perguntei desesperado, segurando o rapaz com cuidado para ajudar ele a se equilibrar.
Kunikuzushi segurou minha mão com força, e sorriu de canto.
— Eu... Só es-estou... F-feliz de que... V-você está bem... Não se importe comigo... — Ele agarrou com força, me fazendo sentir um pouco mal.
Eu deveria ter percebido que o Kunikuzushi não estava bem também, ele estava fingindo estar bem para ficar comigo, mas eu também deveria ter consciência.
É injusto o Kunikuzushi se sentir culpado, eu fazia piadas sexuais, abraçava ele, ficava sempre grudado nele sem pedir permissão, a culpa não é toda da Yae Miko, muito menos do Kunikuzushi.
— Me desculpa. — Beijei sua testa com carinho. — Me prometa uma coisa Kuni...
— O-o que...? — O rapaz perguntou, se encolhendo um pouco.
— Se você sentir QUALQUER tipo de incômodo, me fale, eu estou aqui como seu parceiro e não como uma vítima indefesa, você pode dividir qualquer sentimento negativo que tiver comigo... E você nem tente se livrar de mim, estamos nessa juntos seu idiota. — Sorri para Kunikuzushi, acariciando o rosto do menor. — Eu te amo.
— E-eu... Também te... A-amo. — O rapaz segurou com força na minha blusa tremendo.
— Já amanheceu, eu ouvi as suas mães conversando lá embaixo mais cedo e parece que um tal de Venti está vindo te ver. — Falei, acariciando Kunikuzushi. — Nossas aulas voltam em três dias, então eu vou precisar voltar para a faculdade... Mas eu não quero, eu quero acompanhar a sua recuperação.
— N-não perca aula por... Minha causa... — Falou fraco.
— Então você vai me ligar todos os dias e fazer chamada de vídeo por 1 hora? — Falei, e o rapaz riu um pouco, mas logo parou tossindo.
— V-vou tentar... Babaca.
— É, já está até me xingando, a recuperação está sendo rápida pelo visto. — O provoquei beijando sua testa novamente. — Se recupere logo, eu preciso me gabar na faculdade de como é ter o namorado mais lindo do mundo.
— Eu vou, não se preocupe...
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