JK
Andar com aquelas muletas era tão desconfortável, parecia que quanto mais eu andava, mais longe eu estava do meu ponto de chegada. Aquelas malditas muletas me fezeram me sentir um idoso.
E o pior, em meio a tudo aquilo, percebi que algo estava errado. Minha mochila esteve aberta todo aquele tempo. Eu tinha quase certeza que alguma coisa tinha caído de dentro dela, afinal eu sou tão sortudo. Eu não tinha outra escolha, tive que parar ali mesmo e concertar a merda que eu havia feito.
Me encostei na parede, e naqueles poucos segundos minhas costas se sentiram tão leves. Consegui até mesmo respirar bem fundo, o que não foi muito bom... Meu corpo estava tão relaxado, que nem mesmo senti quando umas de minhas muletas em que eu estava me segurando, deslizou por aquele chão lentamente, me fazendo cair como numa rasteira.
O pior para mim não foi meu ato de cair como um saco de bosta que sou, e sim, levar além de mim, mais um cara que passeava pela calçada.
Minha única perna boa, escorregou indo em direção ao estranho que passava em minha frente, derrubando ele com tudo, como se ao invés de cair, eu tivesse lhe dando uma rasteira.
— m-moço?— gaguejei assustado ao vê-lo jogado no chão com um olhar nada agradável em seu rosto
— hyun?— disse outra pessoa que se aproximava sem eu nem perceber, aparentemente um conhecido daquele que eu tinha derrubado
Não demorou muito para o cara que estava no chão se levantar me xingando de todos os nomes possíveis. Eu não sei se ele percebeu mas eu era o único fudido naquele lugar, o que não parecia muita fazer diferença para ele
— o que aconteceu aqui?— perguntava aquele que chegou por último
— O que você acha? Esse filho da puta me derrubou no meio da rua— o outro respondeu retorcendo os fatos, o que não seria nada bom para mim...
— na-não foi isso, eu juro que foi sem querer— respondi desesperado tentando manter tudo em ordem
Ele deu uma risadinha bem estranha e logo argumentou— vai dizer que estou mentindo? — disse me olhando nos olhos, me fazendo ter calafrios
Aparentemente meu status de saco de pancada ainda poderia estar de pé.
— olha só...— disse o outro que chegou por último chamando atenção de todos— ele é aluno daquela escola ali da esquina, só podia ser. Vocês adoram chamar atenção não é mesmo?— disse me olhando muito friamente, e eu, sem entender absolutamente nada que acontecia
Eu não estava acreditando que no meio de um simples acidente iriam meter intrigas entre colégios só para terem motivos de me surrar. Por que será que brigam afinal? Somos todos alunos no fim das contas! Eu nunca vou entender... E será que ninguém notou minha maldita perna quebrada?
Eu me perguntava intensamente...
— Você não devia ter vindo sozinho garoto, quis dar uma de valentão?— indagou o tal de "Hyun", que me olhava ainda com mais ódio que o outro
Aquilo sem dúvida não acabaria bem.
— eu não tenho nada a ver com isso, eu juro, eu nunca que te derrubaria de propósito, foi um acidente— eu dizia quase que numa súplica, tentando amenizar a situação
— Será que ele tem pelo menos algum dinheiro nessa mochila? Tá segurando ela com tanta vontade...tá escondendo alguma coisa aí?— disse o outro garoto, que logo arrancou a mochila de minhas mãos a procura de algo valioso por alí, o que eu sabia que seria a última coisa que achariam. Logo eu, ter dinheiro? Pois podiam procurar o resto da tarde que eu ficaria tranquilo
Os dois fuçavam minha mochila como dois ratos que fuçam latas de lixo.
Retiravam meus livros um por um, fazendo questão de jogá-los em mim com toda sua força, como se descontassem a raiva em suas jogadas.
— Não tem nenhum droga de dinheiro nessa mochila, e eu que pensei que se talvez tivesse pelo menos uns trocados a gente ia maneirar nas porradas, é uma pena— disse sínico terminando de jogar minhas coisas no chão
Eu nunca me odiei tanto por ser pobre.
Eu sabia que se eu apanhasse naquele estado em que eu estava, provavelmente eu não conseguiria voltar para casa sem ajuda. Mas quem me ajudaria?
Que dia cansativo...
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