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História Sou Inocente - Tres - História escrita por SaphiraKane - Spirit Fanfics e Histórias
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História Sou Inocente - Tres


Escrita por: SaphiraKane

Notas do Autor


Estou muito feliz com o carinho de vocês e os comentários, obrigada!

Capítulo 3 - Tres


Dois anos depois.

 

Kagome meteu uma mecha errante de seus cabelos negros para dentro do gran­de chapéu de palha. Amarrando as fitas embaixo do queixo, lançou um olhar furtivo por sob a aba larga para confirmar que não estava sendo observada. Em­bora quem a conhecesse não tivesse ficado surpreso com suas inocentes travessuras, não tinha o menor desejo de ser censurada. As desinteressadas ovelhas que salpicavam uma das colinas compunham seu único público, portanto não havia o que recear. Desatando os cadarços, livrou-se das botas pesadas e removeu suas meias. Livre de tais desconfortos, afundou seus pés na grama fresca e soltou risinhos contentes.

— O que diria se pudesse me ver agora, Kaede! — exclamou, divertida.

Tinha consciência de que seu comportamento estava sendo impróprio para uma criada. Deveria estar ocupada na copa, diante da pilha interminável de pratos sujos, mas, oh, como detestava o tempo gasto no cubículo es­curo, abafadiço e impregnado pelo odor acre do sabão. Certamente, devia ser a função mais desagradável em toda a casa, mas a sra.Kaede declarara ser sua intenção que os serviços dela começassem de baixo, para promovê-la pelos cargos existentes, conforme o talento fosse se revelando. E embora Mattie O'Donnell, que di­rigia a cozinha, tivesse argumentado que ela era uma garotinha frágil, fora na copa que havia sido colocada. Erguendo o rosto para o sol, Kagome absorveu o glorioso calor e fez de conta que não estava escapulindo de sua tarefa maçante. Imaginou que fosse uma prin­cesa com a tarde inteira livre para fazer o que quisesse. Levantando os braços, deixou-se cair de costas na gra­ma. Era macia como um colchão de penas de ganso e tinha a fragrância revigorante da primavera. Espre­guiçou-se, arqueando as costas, sem se importar com o chapéu de palha amassando sob sua cabeça. Era bobagem usá-lo, de qualquer modo! Tantas regras e a maioria sem o menor sentido; ou, ao menos, assim parecia para uma menina criada num bairro miserável de Londres. Mas a sra.Kaede fazia imensa questão de impor regras e cuidar para que fossem seguidas. Bem, não queria pensar nisso no momento. Levantou-se e, com um olhar atento ao redor, pôs-se a correr e a saltar por entre a relva alta salpicada de flores da primavera, até que estava fora do raio de visão do castelo e sem fôlego. Parando, abriu os braços e começou a rodopiar. Livre! Uma tarde inteira livre! Não era que não hou­vesse várias tardes livres para passear pelas colinas, pois Mattie nunca a confinava à cozinha, a menos que fosse necessário. E o que Kaede não sabia não preocupava Kagome. Os últimos dois anos haviam diminuído bastante qualquer terror que tivesse da im­placável governanta.

Caminhando com um passo firme, braços balançan­do no ar e aspecto saudável, kagome continuou sal­titando pelas colinas. Os anos de comida farta e amor incondicional da maternal gente irlandesa haviam feito com que a órfã raquítica e quase faminta desabrochas­se numa linda e encantadora jovem. Os braços eram delicados e de contornos suaves, ocultando a verda­deira força que continham. Tinhas as pernas longas e bem-torneadas, firmes de tanto andar pelas colinas da Irlanda, já que todo seu tempo disponível era pas­sado ao ar livre.

Contornando a extremidade de um muro alto de pe­dra, deteve-se a observar o vale verdejante que havia abaixo. Com um riso feliz por ser jovem, saudável e livre numa tarde maravilhosa como essa, ergueu as saias acima dos joelhos e pôs-se a descer a colina ao longo do muro. Deixou que o corpo ganhasse velocidade até que estivesse avançando em disparada.

—  Cuidado!

Como que surgindo do nada, um cavalo saltou o muro, relinchando instintivamente quando seus cami­nhos estavam prestes a se cruzar. Apanhada em meio a sua corrida desenfreada colina abaixo, Kagome não teve outra escolha a não ser virar-se de lado e atirar-se no chão para fugir dos cascos perigosos, enquanto co­lidiam perigosamente no chão, perto de sua cabeça.

— Céus! — gritou, aflita, enquanto rolava pelo res­tante da colina, só indo parar numa poça lamacenta abaixo. Caindo de bruços na lama, esforçou-se para recobrar o fôlego e aguardou que a tontura passasse.

—  Está ferida? — Uma incrível voz possante soou acima dela, parecendo bastante aborrecida. — Você aí! Responda! Está ferida? Oh, maldição! Segure as rédeas, Mike. E melhor eu dar uma olhada. — Entre­gando as rédeas a seu cavalariço, o homem jovem des­montou e aproximou-se. Exasperado por ter sua cavalgada interrompida tão depressa e perguntando-se de onde surgira a garota, que em vez de se levantar continuava estendida na lama, não ocultou o tom de contrariedade da voz.

— Posso ajudá-la a levantar-se?

Sacudindo a cabeça para clareá-la, Kagome ajustou seu chapéu e levantou os olhos. Deparou com pernas musculosas, delineadas por calças de montaria e re­luzentes botas pretas. Continuou a percorrer o estra­nho com o olhar, até notar-lhe o par de ombros largos. Quando, enfim, viu-lhe o rosto, sua cabeça já pendia ao máximo para trás, e não pode evitar de ficar bo­quiaberta ante a magnífica visão diante de si. Ele era mais do que atraente. Extraordinariamente bonito foi a descrição que lhe veio à mente. Mas para mascarar sua beleza máscula, os traços bem-feitos estavam con­traídos em pura raiva, desde o furo no queixo tenso até o cenho que franzia. Sobrancelhas negras e espes­sas encimavam intensos olhos caramelos, que no mo­mento faiscavam.

Mas Kagome estava longe de se sentir intimidada. Na verdade, chegou a soltar um suspiro. Olhou para a mão que lhe estivera estendendo e, enfim, deu-lhe a sua, como que hipnotizada, só notando que estava toda enlameada no momento em que foi puxada com força da poça. Tirando um lenço alvo do bolso, ele ten­tou remover-lhe a lama do rosto. Mas, como tal façanha parecesse impossível, afastou o lenço e tentou limpar a própria mão enlameada em aversão.

— Que tolice a sua, garota! Assustar o cavalo de um homem daquele jeito, vindo de um salto às cegas. Poderia ter quebrado uma pata. Sem mencionar o meu pescoço!

Kagome pousou as mãos nos quadris e o encarou com firmeza. O jovem lorde podia ser bonito, mas não estava demonstrando um pingo de boas maneiras!

—  E quanto ao meu próprio pescoço? — retrucou, zangada e, em sua raiva, desatou a falar no carregado sotaque irlandês que aprendera com Mattie. — Se quer saber, acho que não deveria ser tão descuidado para ficar saltando com esse seu cavalo em qualquer lugar que lhe aprouver! E não ouvi o menor indício de pedido de desculpas da sua parte!

Surpreso, o homem olhou para a postura agressiva dela com as sobrancelhas arqueadas. Impossível dizer muito sobre a garota já que estava praticamente co­berta de lama de alto a baixo, mas mostrava ter uma personalidade forte e possuía belos olhos castanhos, notou. Uma jovem que valeria a pena conhecer se ti­vesse tempo disponível, algo que infelizmente não ti­nha no momento.

—  Oh! Quer dizer que está me acusando de tê-la colocado em perigo? Muito bem, considere-me o seu vilão, se desejar — concedeu ele, curvando-se numa galante mesura. — E posso saber o nome da donzela que coloquei em perigo com meu descuido?

Atônita com a repentina mudança de raiva para di­vertimento naqueles enigmáticos olhos Caramelos, Kagome ficou sem ação por alguns momentos, limi­tando-se a encará-lo. Em seguida, baixou um olhar desconfortável para o vestido coberto de lama.

—  M-Meu nome é Kagome... — balbuciou. Como sempre acontecia quando lhe perguntavam como se chamava, esperou que o desconhecido não quisesse sa­ber mais, pois a vergonha de não ter um sobrenome nunca se dissipara.

— Ah, a lady Kagome é adorável! — exclamou ele. Apanhando-lhe a mão enlameada, levou-a aos lábios. Virando-a como que à procura de um trecho limpo, finalmente beijou-lhe o pulso. Colhendo uma flor sil­vestre do chão, presenteou-a com um gesto galante.

Kagome corou e aceitou a bela flor. Aquele era o homem mais bonito que já vira. Sem dúvida, o mais imponente também. Era alto como uma fortaleza, bronzeado feito um estrangeiro e tinha os cabelos brancos e lustrosos. Possuía ombros largos e um corpo forte e proporcional, trajado com a elegância de um nobre. Um príncipe de uma terra mágica... Exatamente como sempre soubera que um príncipe seria. Avisada pelo sorriso charmoso dele e uma sobrancelha erguida que o estava encarando demoradamente, recobrou-se e fez uma graciosa mesura.

— Fico-lhe grata, milorde.

— E eu também lhe fico... por isto. — Depressa, ele venceu a pequena distância entre ambos.

—  Oh... — De repente, Kagome sentiu os ombros aprisionados por mãos fortes e colidiu com um peito sólido. Ainda pôde ver um sorriso irresistível nos lábios dele um instante antes de se apossarem dos seus. Nun­ca tendo sido beijada antes, sua primeira reação foi a de tentar se esquivar. Mas o contato durou meros se­gundos e, então, ele sussurrou-lhe junto aos lábios, o hálito quente fazendo-a arrepiar-se:

— Oh, minha tentadora irlandesa. Se eu tivesse tem­po... — Com um suspiro de lamento, o jovem lorde soltou-a e começou a se afastar. Lançou-lhe mais um sorriso devastador para o rosto pasmo e enlameado e marchou de volta para o majestoso cavalo. Apanhando as rédeas do sorridente cavalariço, montou com ele­gante agilidade na sela.

—  Cresça logo, lady Kagome! Seu príncipe encan­tado ficará à espera. — Com um galante aceno, ele virou o magnífico cavalo e galopou colina acima atrás do cavalariço.

Aturdida, Kagome deteve-se alguns momentos to­cando os lábios com as pontas dos dedos. As palavras do estonteante desconhecido ficaram ecoando em sua mente no mesmo ritmo acelerado de seu coração. Cres­ça logo. Cresça logo... Seu primeiro beijo! E de um nobre inglês! Sua imaginação fértil tomou asas. Seu príncipe encantado! Era ele! E parecia ter se materia­lizado dos seus sonhos.

Tendo sido mergulhada numa banheira de água quen­te e lavada da cabeça aos pés, Kagome agora estava sentada diante do fogo, escovando seus cabelos molhados. Mattie achava-se diante de uma tina com água, esfre­gando vigorosamente o vestido azul enlameado.

—  Oh, menina! Por que foi tão descuidada? Este é um vestido novo. Além do mais, tendo se afastado da­qui por tanto tempo, comecei a temer que os duendes tivessem levado mais uma criança. Ficar perambulan­do por essas colinas sozinha. Isso é demais, sabia?

— Não há por que se preocupar. Mesmo que os duen­des existissem e tentassem me levar embora, meu prín­cipe encantado viria galopando para me salvar. Ven­ceria a todos e pediria minha mão em casamento como sua merecida recompensa.

—  Bah! Lá vem você com essa ladainha outra vez. Sempre falando sobre príncipes encantados. De onde tira essas ideias, afinal? Pois saiba que não passam de bobagens. Siga meu conselho e não se arrisque por aí. Já vi duendes com meus próprios olhos.

Kagome abriu um sorriso. Já ouvira muitas vezes essa lenda, contada por mães cansadas para assustar as crian­cinhas e mantê-las quietas na cama a noite inteira.

—  E onde isso teria sido?

— Em Glencolumbkille. Eu os vi correndo pelos bos­ques — declarou Mattié, estendendo o vestido lavado diante do fogo. — Aqui está seu vestido. Foi o melhor que pude fazer para tirar toda aquela lama.

Kagome riu, determinada a não deixar a cozinheira se desviar da lenda e voltar às reprimendas.

—  Não acredito em duendes. Mas onde fica Glen­columbkille? — perguntou, em parte devido à sua eterna curiosidade. Não saíra de Blanballyhaven desde aquele distante dia em que, Condor 0'Donnell, o gi­gante cocheiro irlandês de lorde Taisho, de­positara seu corpinho cansado e magro sobre a mesa da cozinha, diante da mãe dele para que a alimentasse, agasalhasse e protegesse. Desde então, a bondosa Mattie era como uma segunda mãe para ela.

— É um lugar distante no alto das montanhas — disse ela, apanhando-lhe a escova da mão. Passou-a pelos cachos negros, encaracolando as mechas que iam secando com dos dedos. — Fui criada lá. Transformou-se num lugar miserável agora. Bom apenas para tentar criar cabras e procurar não morrer de fome. Foi o único local deixado para as pessoas quando os ingleses ti­raram as terras dos 0'Donnell.

Kagome assentiu com a cabeça. Essa era uma outra história que já lhe era conhecida e que gostava de ouvir, com a diferença de que era real.

— Quanta crueldade! Tomar as terras dos outros.

— Foi, sim. Aconteceu depois da grande revolução. Os ingleses vieram para lutar e, ao vencerem, distri­buíram todas as terras para os seus. Os irlandeses saí­ram de suas terras, com fome e desabrigados. Blanbal­lyhaven sempre foi terra O'Donnell e, então, um dia disseram: "Vão embora. Isto não lhes pertence mais".

O coração de Kagome compadecia-se daquela gente bondosa que a havia acolhido de braços abertos, pois, afinal, não era inglesa? E deviam odiar os ingleses, não era mesmo?

— Mattie, como consegue ser tão boa para mim se sou uma inglesa?

— Essas coisas aconteceram há um longo, longo tem­po — disse a mulher com a voz risonha. — E além do mais, você é uma coisinha doce que não faria mal a uma mosca.

— É terrível não ter um lar. E ficou tanto ódio entre irlandeses e ingleses...

— Sim. Há bandos de irlandeses revoltados vivendo no alto das montanhas, apenas à espera do momento de revidar. Nem todos perdoaram, nem se esqueceram da luta pela liberdade. Mas alguns, sim! O que me diz dos olhares que eu vejo o jovem Enus lançando na sua direção? Aquilo, por certo, não é ódio!

— Impressão sua — protestou Kagome, corando. — Além do mais, não vou querer ser cortejada por alguém como Enus O'Malley. Tenho um príncipe à minha es­pera. Algum dia serei uma dama de verdade...

— Oh, esqueça essas tolices, menina — aconselhou-a Mattie, com um suspiro. — Não passam de sonhos que nunca vão se realizar. A realidade são aquelas pilhas de pratos à sua espera. E melhor começar a lavá-los.

Kagome comprimiu os lábios cheios em determina­ção. Crescera aprendendo a ouvir os próprios conselhos sobre seus sonhos e as coisas que apenas ela acreditava serem verdade. Era uma dama nobre! E havia um príncipe que a amaria para sempre! Nunca antes con­seguira imaginar um rosto para ele. Não até aquela tarde. Agora o conhecia. Era alto, moreno e bonito. Tinha os ombros largos... largos o bastante para car­regar o mundo, pensou, romântica. A voz possante con­tinha autoridade; o olhar era misterioso e o sorriso, cativante. Talvez não fosse a primeira a estar em seus braços no futuro, já que alguma outra mulher teria tido essa honra antes, mas seria a primeira em seu coração. Seu príncipe esperaria até que ela crescesse e, então, estaria a seu lado para sempre!



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