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História Sou Inocente - Cinco - História escrita por SaphiraKane - Spirit Fanfics e Histórias
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História Sou Inocente - Cinco


Escrita por: SaphiraKane

Capítulo 5 - Cinco


Apoiada em uma das bancadas da imensa cozinha do castelo, Mattie cantarolava baixinho, enquanto trabalhava a massa de pão com habilidade. Kagome, por sua vez, estava com os braços mergulhados até os cotovelos em água quente e sabão. A sua direita, achavam-se os pratos limpos; à esquerda, os inúmeros que ainda tinham que ser esfregados. Le­vantando os olhos da segunda pilha desanimadora, de­parou com a figura robusta da sra. Kaede blo­queando a porta. Bastou um olhar para seu rosto para perceber que a governanta estava lívida de raiva.

— Kagome! Venha comigo! — esbravejou.

Ela sentiu um nó no estômago. A velha bruxa, de algum modo, soubera de sua transgressão na biblioteca e pretendia puni-la. Secou rapidamente as mãos e os braços num pano de prato e tratou de segui-la como lhe ordenou. Enquanto atravessava a cozinha, deu de ombros ao ver Mattie arqueando as sobrancelhas. A cozinheira estreitou o olhar e apertou os lábios, mas não disse nada. Kagome sabia que não haveria como contar com sua ajuda.

Seguindo a sra. Kaede pela porta escondida dos criados, ela olhou, maravilhada, para a vista deslum­brante do interior do castelo. Nunca passara por aquela porta à luz do dia e estava boquiaberta com tanto luxo. Atravessando o amplo vestíbulo de entrada, su­biram as elegantes escadarias e percorreram corredo­res com portas intermináveis, onde retratos de família adornavam as paredes. Enfim, a governanta condu­ziu-a ao interior de um quarto.

— Esses vão ser os seus aposentos de hoje em diante. Vou providenciar para que suas... hã, coisas sejam tra­zidas para cá — anunciou uma sisuda sra. Kaede para a garota de expressão aturdida. — Kagome, lorde Taisho decidiu fazer algo totalmente contrário ao que julgo sensato, mas como não nos cabe questionar nossos superiores, devo obedecer. O marquês deu or­dens para que você seja instruída nos refinamentos e traquejos sociais, da exata maneira como seria feito à filha da casa, se houvesse uma. Embora eu ache que ele estará dando a você ares de nobreza que não lhe condizem, deve se empenhar ao máximo para demons­trar que merece a confiança, para provar que os inte­resses dele no seu futuro não serão desperdiçados. Compreendeu bem?

—  S-Sim, senhora... E-Eu devo...

— Vejo que entendeu. Agora deve se trocar e estar pronta para almoçar com o marquês dentro de uma hora. Tomei a liberdade de estender um vestido adequado em cima da cama para você e designei Eri para atendê-la no que for preciso. — Com seu ar mais austero, a go­vernanta retirou-se abruptamente do quarto.

A coragem de Kagome ameaçou deixá-la ante a enor­midade de tudo aquilo. Nada poderia tê-la preparado para isto. O opulento quarto adornado de seda e cetim estava além de qualquer sonho que sua imaginação pudesse ter concebido. O que tudo isso poderia signi­ficar? Quando a porta se abriu para admitir uma criada de quarto, ela virou-se, sobressaltada. Lançou um olhar nervoso para a garota robusta em seu impecável uni­forme preto e aguardou que se aproximasse, tentando recobrar-se o bastante da surpresa para não parecer uma tola. A criada, de uns vinte anos, estatura baixa e ar alegre fez-lhe uma pequena mesura. Abriu-lhe um largo sorriso e deu-lhe uma piscadela jovial. Kagome retribuiu a mesura e mordeu o lábio inferior em incerteza. Já a vira nas dependências dos criados, mas sendo suas fun­ções diferentes, só a conhecia superficialmente.

— Meu nome é Eri, senhorita. E estou aqui para servi-la, se for de seu agrado.

—  Eri? Sou eu... Kagome. — Ela enfatizou o nome e apontou para si mesma como que para escla­recer o óbvio fato.

— Oh, sim, eu sei, mas a sra. Kaede disse que, de agora em diante, devo chamar você de senhorita e tratá-la como tal — sussurrou Eri, com um tenso olhar por sobre o ombro, como se temesse que a go­vernanta adentrasse pelo quarto a qualquer momento para repreendê-la. Abriu mais a porta para dar passagem a dois lacaios carregando baldes de água quente. — Achei que quisesse tomar um banho antes do al­moço, senhorita. Para se livrar dos odores da copa an­tes que se vista.

—  Por acaso, ela lhe disse por que tudo isto está acontecendo?

— Nenhuma palavra. Apenas me falou para deixar você apresentável na próxima hora — admitiu a criada. Vendo-lhe a expressão receosa, procurou tranqüilizá-la. — Não se preocupe, Kagome. O que quer que esteja acontecendo só pode ser a boa ação das fadas. E não há por que ficar questionando o que fazem, não acha?

Enquanto Eri cuidava dos preparativos do ba­nho no quarto de vestir anexo, Kagome andava de um lado ao outro do aposento principal. Que vasta diferença entre o nobre e o servo! Embora os quartos dos serviçais fossem confortáveis o bastante e funcio­nais, eram totalmente desprovidos de ornamentação e luxo. Esses imensos aposentos eram suntuosos, com tapeçarias recobrindo as paredes para bloquear as cor­rentes de ar e espessos tapetes espalhados pelo chão de mármore, de forma que era como estar caminhando sobre travesseiros. O quarto principal era dominado por uma cama alta e imensa, coberta por uma luxuosa colcha de cetim. Aparadores trabalhados e mesinhas de madeira rosada exibiam delicados objetos de deco­ração, e enquanto observava cada detalhe refinado, ela só podia sacudir a cabeça em admiração.

—  Seu banho está pronto, senhorita.

Hesitante, Kagome entrou no quarto de vestir e de­parou com uma grande banheira, envolta pelo vapor da água e posicionada detrás de um biombo oriental. Toalhas bordadas e felpudas aqueciam diante do fogo aconchegante de uma lareira.

— Venha, entre na banheira enquanto a água está quente — disse a criada e, com gentileza, afastou-lhe os dedos hesitantes dos botões na frente do vestido.

— Ei, o que está fazendo? — protestou Kagome em surpresa e recuou um pouco.

—  Ora, Kagome... quero dizer, senhorita. — Pou­sando as mãos nos quadris largos, Eri sorriu para a garota assustada que agora estaria a seus cuidados. — Uma dama nunca se veste ou se despe sozinha. Não há por que ficar encabulada.

— Eu... sinto muito — desculpou-se Kagome e dei­xou as mãos caírem ao longo do corpo para que a criada removesse suas roupas.  Sentiu o rosto queimando quando se viu totalmente despida em frente à outra. Mas faria o que fosse necessário para se tornar uma dama. Entrando na banheira, aguardou pacientemente até que seus cabelos cacheados fossem lavados. De re­pente, lembrou-se de George Hughett; o gentil médico, que fora tão bondoso com ela e mandara providenciar no navio seu primeiro banho decente desde que ficara órfã. Prometera visitá-la no castelo, mas haviam-se passado dois anos sem sinal de seu rosto sorridente. Na certa, uma daquelas promessas que os adultos fa­ziam as crianças, mas sem condições de cumpri-las.

Enquanto Eri enxugava seus cabelos diante da penteadeira, ouviu uma discreta batida à porta.

— Kagome?

Reconheceu a voz de imediato.

—  Mattie! Entre! — exclamou ela, aliviada e fez um gesto amplo, indicando que sua segunda mãe se aproximasse.

— Aproveitei que a ranzinza Kaede se ocupou com outra coisa para dar uma espiada no que estão fazendo com a minha menina.

— Você sabe o que quer dizer tudo isto? A sra. Kaede me trouxe para cá e me disse que devo ficar. E depois apenas saiu! Nem sequer me repreendeu, nem nada!

—  Não sei mesmo do que se trata — admitiu a cozinheira. — Sabe, se o marquês não fosse tão idoso, eu teria lá minhas suspeitas. Mas assim, confesso que não faço idéia.

Graças aos esforços de Eri e a alguma ajuda da própria Mattie, Kagome deixou os aposentos algum tempo depois, pronta para descer as escadarias. O ves­tido de seda âmbar cintilava e adquiria um tom suave de dourado sob a claridade do dia, acentuando a to­nalidade vibrante de seus cachos, rapidamente doma­dos em elegante simplicidade. O decote valorizava a perfeição de seus esplêndidos seios, e, mais abaixo, o modelo destacava a delicadeza de sua cintura esguia.

Sentindo uma súbita insegurança, decidiu seguir um conselho de Mattie e lembrou-se da dignidade de sua mãe no retrato em miniatura. Queria comportar-se de acordo a fazê-la sentir-se orgulhosa da filha.

Assim, respirou fundo e desceu os degraus devagar, a mão apoiada no corrimão, e chegou com a dignidade intacta à entrada do salão de jantar. E ao mesmo tempo de lorde Taisho.

— Pelos céus! — exclamou o marquês assim que a viu. — Você está adorável, minha jovem! — Venha — deu-lhe o braço para conduzi-la ao interior do salão, gesto que a tranqüilizou.

Sentando-se, o marquês observou-a da cabeceira da extensa mesa, posta com todo o requinte. Foram ser­vidos pelo mordomo e cinco lacaios de libré. Durante boa parte das várias trocas de pratos, Kagome man­teve os olhos baixos para sua comida, erguendo-os vez ou outra para lançar olhares nervosos na direção do velho lorde. Tinha consciência da discreta curiosidade dos lacaios ante sua presença ali, mas todos se com­portavam respeitosamente, como devia ser. Um deles ficava postado atrás dela, pronto para corrigir suas maneiras à mesa e o uso dos talheres, como fora ins­truído por Hudson, o mordomo inglês.

Depois do silencioso almoço, o marquês levantou-se devagar e aproximou-se dela, oferecendo-lhe o braço num gesto galante.

— Venha, srta. Kagome. Não vamos continuar tão cerimoniosos nesta tarde. Hudson, por favor, sirva meu vinho do Porto no salão principal. E mande vir um chá para a senhorita.

Kagome deixou-se conduzir pelo corredor e, ao en­trarem no salão, lançou um olhar admirado para a opulência que ali havia. Um verdadeiro mar de tapete azul abrangia toda a parte central da imensa sala e beirava os recantos de mesas e cadeiras nas extremi­dades. Belos sofás de graciosas estampas achavam-se distribuídos harmoniosamente ao redor. Vários retra­tos de ancestrais olhavam sisudos para eles, de suas molduras douradas.

Lorde Taisho indicou-lhe que ocupasse uma poltrona acetinada próxima à lareira e, então, sentou-se numa outra à frente.

— Milorde, todas essas pessoas carrancudas nos re­tratos são de sua família?

Apesar de toda a sua compostura inglesa, Hudson precisou se esforçar para conter o riso, enquanto servia o vinho do Porto a lorde Taisho. Kagome fran­ziu o cenho em irritação, mas, então, aceitou o chá que apareceu como que surgido do nada.

O marquês abriu um largo sorriso e dispensou o mordomo e seus ajudantes.

—- Não, Kagome. Esses aí são da família O'Donnell explicou.

—  0'Donnell? Por que não os Taishos, se esta é a sua casa?

— Os retratos dos Taishos estão em Taishos Hall e Stannisburn, na Inglaterra, onde é seu devido lugar de origem. Blanballyhaven havia sido o domínio dos 0'Donnell desde o século dezesseis. Assim, nada mais justo que eles fiquem pendurados aí, olhando ultrajados para nós de suas molduras, pois somos os intrusos aqui.

—  Como assim?

—  Bem, no século quatorze, County Donegal, que abrange toda uma imensa região, foi dado ao clã 0'Don­nell. Foram eles que construíram Blanballyhaven e criaram suas famílias aqui. Lutaram com outros clãs e protegeram o lugar com suas vidas. De acordo com os antigos diários que meu pai descobriu, este castelo foi construído como uma torre-sentinela, para se prevenirem de ataques pela Enseada de Swilly.

Kagome ouvia atentamente com um brilho interes­sado no olhar. Era isso que queria! Aprender, com­preender a história, as origens daquela terra.

O marquês sorriu e sorveu um pouco de seu vinho antes de prosseguir.

— Sim, vejo que tem sede de conhecimento, minha cara. Mas primeiro, antes da lição de história, quero lhe falar sobre meu plano. Estou muito impressionado com você. Vejo algo especial em você que seu... bem, passado sofrido não conseguiu apagar. Uma linhagem que nem mesmo a vida na miséria pôde destruir. Gos­taria de ajudá-la na sua busca por conhecimento, no seu aperfeiçoamento.

—  Oh, deseja mesmo fazer isso? Fico-lhe imensa­mente grata!

—  Não me agradeça ainda tão depressa. Vai ser necessário um grande empenho de sua parte. Está dis­posta a enfrentar o trabalho árduo?

— Oh, sim! — Kagome exibiu um sorriso radiante. — Não vou desapontá-lo.

—  Ótimo! Deste dia em diante, vou tratá-la como se fosse a filha da casa e instruir a todos aqui para fazerem o mesmo. Assumo, com muito gosto, a tarefa de instruir seu intelecto pessoalmente e admito que será uma bem-vinda distração nestes meus dias tedio­sos. E quanto a uma preceptora...

—  Uma preceptora? Devo começar tudo de novo como se fosse um bebê, então?

— Claro que não! Isso não seria possível. Mas pre­cisará de uma preceptora, alguém que deverá ensiná-la a andar, a falar e a agir exatamente como uma dama. Instruí-la a se vestir, a fazer bordados, a lidar com a criadagem e... bem, em todas as outras coisas que uma dama faz. — O marquês estudou-lhe a expressão de puro contentamento e os olhos brilhantes. Era como um botão de rosa frágil e belo que lutara para sobre­viver num canteiro de ervas daninhas. E ele esperava ainda poder viver o bastante para assistir a seu de­sabrochar. — Será uma tarefa árdua. Acha que con­seguirá levá-la adiante?

— Sim, milorde! — assegurou-lhe Kagome com uma determinação que o convenceu de que seria capaz de quase tudo que seu coração desejasse. — Trabalharei noite e dia, se for preciso. Ficará orgulhoso de mim. E minha mãe também.

—  Acredito em você, minha jovem. Tenho certeza de que conseguirá.

— Agradeço-lhe de coração. — Sem poder conter as lágrimas de felicidade, ela rapidamente colocou-se de joelhos diante da poltrona dele e pousou a face na mão enrugada do velho e bondoso homem em gratidão. A outra mão afagou-lhe os cabelos negros. A ternura naquele gesto trouxe novas lágrimas, e ela caiu num pranto convulsivo. Com a sabedoria de seus muitos anos, o marquês deixou-a soluçar de felicidade.

 



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