— Acho que isso é tudo. – Peter olha mais uma vez pelo apartamento do loiro para ter a certeza de que não se esqueceu de nada. – Bom, obrigado. Ou de nada, no caso.
— É. – Wade dá uma risadinha de canto, com o fim de mais uma de suas muitas aulas, ele havia passado a se sentir mais à vontade na presença de Peter.
Não só se sentir à vontade, mas agora conseguia segurar seus instintos que o mandavam pular em cima do anjinho a cada segundo. Ele também não ficava duro com tanta facilidade e, quando era impossível, ele conseguia sempre correr até o banheiro para se aliviar. Talvez Peter teria percebido se sequer passasse por sua mente que Wade o visse daquela forma, mas o anjinho era muito inocente...ou muito cego.
— Precisa que eu te leve? – Wade ofereceu.
— Não, eu consigo voltar sozinho. – Agora que Peter sabia o caminho para a casa do loiro de cor, era mais difícil eles se verem fora dali.
— Vou indo. – Peter se despede e Wade coloca a mão na maçaneta, avançando a porta, porém é parado pelo sapato branco e sempre limpo de Peter.
— Peter? – O loiro abre a porta mais uma vez.
— Eu esqueci uma coisa. – O castanho dá um sorrisinho enquanto entra na casa novamente deixando o loiro confuso.
— O qu... – ele não tem a chance de terminar de perguntar quando os lábios de Peter s encostam em sua bochecha.
Ah, claro. Havia se tornado uma rotina Wade receber um desses sempre que Peter estava indo embora e, por mais que já devesse ter se acostumado – era só um beijo na bochecha pelo amor de Lúcifer –, ele não havia.
Seu rosto fica branco, porém quente. Ele pragueja por seu próprio corpo não conseguir se controlar ou reagir direito com algo tão bobo quanto um beijinho desse.
Com sua visão periférica, ele consegue ver os fios castanhos de Peter, assim como se olho fechado acompanhado de uma quantidade exagerada de cílios castanhos e longos, como uma boneca. Sua boca em biquinho para lhe dar um beijo estalado e o melhor, o cheiro sempre doce que se apossava das narinas de Wade.
Antes o cheiro característico do anjo aparecia somente quando eles se cruzavam, mas agora, parecia estar se espalhando pela casa inteira. Quanto mais tempo Peter ficava em seu apartamento – normalmente com as janelas fechadas para não matar o anjo de frio -, mais ele passava a mesclar o cheiro do demônio com o do anjo e, Wade simplesmente não resistia a isso.
A ponta de seu nariz se aproxima da cabeça de Peter pronto para cheira-lo como um lobisomem faz com os lobinhos para conseguir diferenciar seus filhotes. Wade inspira e só então percebe que havia se movido sem sequer perceber.
— Ah, e-eu... – Ele não sabe nem como concertar essa situação.
Ter se acostumado a presença de Peter não havia melhorado em nada a afastá-los dessas situações sem explicação lógica ou que levava um ou o outro a gaguejar e não saber o que dizer ou agir.
— Wade? – Peter se afasta minimamente, seus olhos castanhos angelicais o mirando com curiosidade e uma porção de fascínio. Wade sente o coração quase sair do peito.
Peter abre um sorriso pequenino com o fato do loiro não conseguir reagir e então, com os dedos pequenos e finos, passa a enrolar uma mecha do cabelo neles. Ele assiste a expressão hipnotizada do loiro, Wade realmente era apaixonado por cada cantinho de Peter.
— Você é muito, muito bobo. – O castanho dá um risinho e então avança.
Os lábios se chocam com força, mas Peter não parece se importar, feliz por isso finalmente estar acontecendo. Os braços deixam a mochila cair ao chão e se enrolam no pescoço do loiro que, por alguns segundos fica se olhos abertos e sem reação, mas logo se entrega a Peter.
As mãos grandes e firmes de Wade passam pela cintura do anjo, o trazendo para perto enquanto o mesmo sente Peter abrir a boca lhe dando mais chance de passagem. Wade não perde a chance e aprofunda o beijo.
Ambas as asas batem em alegria e êxtase, pois o momento finalmente chegou. Há uma certa urgência no beijo, não somente pela pressa, mas também pelo sentimento de que aquilo, exatamente aquilo é uma das maiores proibições que estão fazendo.
Como se sua mente o lembrasse disso, Wade tenta se afastar de Peter antes que a situação piore, porque Deus, ele está a um segundo de perder completamente o controle.
— C-Calma, você tem certeza? – O loiro questiona olhando para o rosto sedento e os olhos entorpecidos de Peter.
— Cala a boca e continua. – Peter não lhe dá a menor chance de fugir daquilo, ele volta seus lábios para a boca de Wade e os conecta novamente.
O demônio joga toda e qualquer racionalidade pela janela fechada e sua mão escorrega pelas curvas de Peter até chegar a sua perna, o impulsionando para cima. O castanho age rápido, como se já tivesse treinado esse tipo de cena mais de cem vezes em sua mente, suas pernas são do tamanho exato para segurar na cintura de Wade.
As línguas se enrolam e o loiro pode sentir um gosto forte de maçã-verde na boca do castanho. Podia não ser a fruta favorita de Peter, mas com certeza ficava ainda mais deliciosa na boca dele. Wade podia sentir seu interior tremendo de antecipação e ansiedade, o ar a sua volta havia ficado pesado e quente, muito quente, ao ponto que, quando consegue colocar Peter sentado em cima da mesa de jantar, ele precisa se afastar o suficiente para retirar a camiseta.
Peter recupera o ar dos pulmões nesses poucos segundos e seus dedos voam para o peitoral de Wade, o desejo exposto em seus olhos anteriormente inocentes. Desde quando ele se sentia dessa forma por Wade? O loiro imaginava enquanto podia sentir os dedos quentes percorrendo se corpo.
Os dedos só param quando tocam o volume extremamente aparente nas calças de Wade e o loiro acha que vai morrer ou gozar precocemente somente por assistir Peter engolir em seco ao tocá-lo.
— Pelo amor de...
Ele deixa a frase flutuar no ar enquanto ataca o castanho novamente, ambos se deitando na mesa, Wade perde a paciência e rasga o uniforme do colégio que cobre o peito de Peter. A visão do anjo com os braços ao lado de um rosto vermelho, lábios inchados e olhos suplicantes para que Wade continue seu trabalho parecem como uma maldita obra de arte.
“Não acredito que eu esteja realmente tocando uma obra-prima dessa.” Wade pensa, antes de seus dedos deslizarem pelo peitoral magro de Peter e seus lábios se concentrarem no pescoço do castanho. Seus dedos chegam a bainha das calças de Peter e ele pode sentir o rosto do anjinho ficar ainda mais vermelho. Seus braços envolvem a cabeça loira como em uma prece para não deixa-lo enxergar seu estado lastimável.
Wade solta um breve riso sob a pele marcada em tons vermelhos pelos beijos, mordidas e lambidas do pescoço, fazendo o corpo inteiro de Peter tremer. Suas pernas apertam a cintura de Wade com ainda mais força, fazendo seu pênis ser pressionado contra a bunda de Peter. O loiro sente uma carga poderosa atravessar todo seu corpo. Aquilo era só excitação ou talvez ele estivesse com muito tesão? Seu membro parecia doer só de expectativa em adentrar o pequeno.
— Ah, Deus, você vai ter que me perdoar por essa. – Wade clama, enquanto sua mão adentra a calça de Peter fazendo o anjo gemer em sua orelha e por Deus, é o som mais bonito que o demônio já ouviu.
A mão de Wade adentra cueca, mas Peter o para por um segundo.
— J-Juntos... – O castanho reúne toda a coragem do mundo para pedir, é quase visível uma linha de caracol se enrolando em suas pupilas, como se toda aquela cena o deixasse fora de órbita.
Wade acha que vai desmaiar quando os dedos quentes do anjo entram em contato com a pele pouco abaixo de seus últimos músculos e então, ele tem certeza de que vai desmaiar quando os dedos adentram a calça e a cueca de uma vez. Peter não precisa ir muito longe para acha-lo e quando seus dedos rodeiam o local o trazendo a liberdade, Wade precisa se segurar para não fazer besteira na mão do castanho ali mesmo.
Peter o encara por breves momentos que parecem uma eternidade e testa o dedilhar para cima e para baixo, seus olhos saem do instrumento de Wade para se encontrarem com os olhos azuis e Wade pode ver o desejo, a súplica e a fome que o anjinho sente no momento, ele queria e muito coloca-lo em outro lugar que não fosse suas mãos pequenas demais para segurá-lo por inteiro.
Um leve grunhido passa pela garganta de Wade, ele ia morrer ali, mas pelo menos morreria feliz. Peter abre a boca com a intenção de pedi-lo exatamente o que queria.
“Isso é demais pra mim.” Wade tem a consciência de pensar ao sequer imaginar como seria estar dentro da boca do anjinho.
— VANESSA CHAMANDO! – Um grito agudo sai da garganta de Peter. – CHAMADA DE VANESSA! VANESSA CHAMANDO!
Wade acorda em um pulo, as mãos presas em punhos no lençol, ele suava bicas e tudo a sua volta estava molhado de suor – e pensar que nem mesmo estava no verão – o celular realmente chamava.
“Desde quando eu mudei o toque dessa porcaria?” E então ele se lembrou de Vanessa fazendo isso na última festa, pois segundo ela “é mais fácil a mansão cair na sua cabeça do que você acordar quando a gente precisa.”
Ele rola os olhos e estica o braço pegando o celular e atendendo:
— Que foi, caralho?
— Acordou estressadinho? – Ela zomba. – Não gostei desse tom.
— Eu não ligo. Eu estava dormindo. – ele checa as horas do relógio. – Puta que pariu Vanessa, é oito da manhã em um domingo, o que raios você quer?
— O sonho devia estar muito bom para você agir desse jeito. – Vanessa continua a zombar sem se importar com o acesso de raiva do amigo. – Ah, já sei, mais um daqueles sonhos que você contou semana passada?
Wade suspira. Porque ele havia fumado tanto pó de anjo na última festa? Havia chegado ao ponto de contar para a sua turma que, desde que havia se encontrado com o tutor Peter pela primeira vez no seu apartamento, sonhos cada vez piores estavam adentrando sua cabeça. Toda noite era uma luta.
— Só uma suspirada? – Vanessa analisa. – Deve ter sido intenso.
— Cala a boca. – Wade pede, mas paralisa quando tira os pés da cama.
“Meu Santo Lúcifer, não, não, não.” Ele sente seu membro tão duro ao ponto de parecer dormente. O loiro chora em sua mente, aquilo estava ficando insuportável. Ele toca a si mesmo com a ponta do dedo, só para constatar o que ele conseguia sentir: seu pau não ia amolecer tão fácil, ele literalmente doía ao simples toque.
— Enfim, - Vanessa o trás de volta a ligação. – Não vai esquecer de vir a casa do Dopinder hoje, você é o único que não aparece a semana toda.
— Hm. – Wade não se dá ao trabalho de continuar a conversa, preocupado demais com o que fazer com seu “Wadezinho”.
— É sério, Wade. – A garota toma um tom mais sombrio. – O Dopinder foi chamado para a Avaliação.
— Perai, que? – O loiro questiona. – Quando?
— Ontem.
— Ninguém pensou em me ligar? – Seu tom é bravo, aquilo era sério.
— Era o horário que o Peter devia estar ai. – Ela esclarece. – Você precisa se concentrar nas suas aulas, e o que você ia poder fazer? Ele foi convocado, não tem como voltar atrás. Só... aparece, ok?
— Tudo bem. – Ele concorda, pois ela tem razão, o que ele poderia fazer?
— Até mais.
Eles se despedem, Wade joga o telefone do outro lado do quarto, logo se arrependendo, ele não ia ter grana para comprar um novo se esse quebrasse.
— Droga. Droga. Droga! – Ele murmura e pega o travesseiro, gritando contra ele.
Os chifres antes negros, se tornando uma coloração irritada de verde escuro.
A “Avaliação” era a única coisa que poderia fazer um aluno do Colégio Sobrenatural ser convocado antes da hora de sua formatura para a guerra. Dopinder passaria por uma bateria de exames para atestarem se, o que for que eles estavam procurando, realmente era uma das habilidades do lobo.
Dopinder não tinha uma bolsa acadêmica para se proteger, assim como Wade havia conseguido uma. Ele não tinha pais influentes como os pais da Ellie, que fariam qualquer coisa para sua filha não ser jogada na guerra nesse instante. Ele não era um pacificador como Colossus que nunca seria convocado para a guerra, muito menos tinha um futuro realmente promissor em alguma área operacional da guerra como Vanessa tinha.
Dos cinco, Dopinder era o mais provável a ser mandado para a guerra logo que se formasse. Mesmo que estivessem de olho em Wade, o grande cavaleiro promissor na luta contra o anti-cristo, eles manteriam sua melhor carta escondida até que tivessem a certeza de que poderiam atacar o anti-cristo para acabar com ele.
Dopinder era um dos muitos peões desperdiçados nessa luta com o outro lado.
Wade se irritou mais ainda.
A guerra já havia lhe tirado seus pais, seu lar, agora um dos seus amigos? Até quando ele não poderia fazer nada para evitar essas perdas? O loiro passa as mãos pelos cabelos se levantando, o que poderia fazer? O que poderia fazer?
“Perder é algo que você precisa aprender a aceitar, Wade. Todo mundo perde algo em algum momento, mas na guerra, na guerra perdemos mais do que gostaríamos. ”
As palavras de seu pai cortam a mente de Wade em um instante. Os braços presos aos cabelos caem ao lado do corpo. Perder. Ele já devia ter se acostumado a isso. Perder. Ele sabia exatamente como esse sentimento era. Perder. Ele fecha os olhos, desejando não perder o melhor amigo para a morte. Perder. Se ele desejasse com força o suficiente, talvez, talvez conseguisse perder mais coisas para o esquecimento do que para a inalcançável morte.
Com a morte não havia escapatória.
Seus olhos se abrem e focam no quadro pequeno e quase invisível em sua bagunça acima do armário. Os olhos azuis de seu pai tão parecidos com o seu, o cabelo loiro de sua mãe. Perder. Ele sabia exatamente como esse sentimento era.
— Melhor para o esquecimento do que a morte. – Ele desejou em nome de Dopinder.
Era verdade, ele não podia fazer nada pelo amigo. Não agora.
Ele sabia que não importava o quanto adia-se, seu final era na guerra.
Em algum momento sua bolsa acadêmica não ia importar, sua contribuição ou não seria o de menos, ele era a promessa contra o anti-cristo, assim como outros já haviam sido, ele seria só mais um a ver sua vida terminar nos destroços de uma guerra ao qual ninguém sabia quando havia começado ou quando iria terminar.
Com mais um olhar para o quadro dos pais, Wade balançou a cabeça e se mandou para o banheiro. Construindo novamente a armadura fria e gelada que o havia protegido por tantos anos. Perder. Ele podia se acostumar o quanto quisesse, mas a perda nunca deixaria de doer.
Esse era o problema de ser parte de algo, de pertencer. Sempre haveria a chance de perda e, não importava o quão grosso fosse a casca de sua armadura ou quantos anos passasse se acostumando, a perda era o pior dos sentimentos para ele.
Perder. Ele pensou enquanto a água caia sobre seu corpo. As memórias embaçadas de um velório vazio para seus pais, a primeira vez que havia falado com Dopinder, o primeiro dia em que ele realmente entendeu o que era guerra...um dia, no futuro, onde a presença de Peter realmente seria só um sonho. Perder.
As cicatrizes em corpo pareciam mais pesadas. Ele já havia perdido tanto, era isso que significava viver? Uma coleção de momentos ganhos somente para assisti-los se perderem aos poucos? Um lar, os pais, a paz, os amigos... algum dia isso teria um final ao qual chegar?
Ele balança a cabeça, jogando água de um lado para o outro, só para então segurar os próprios chifres. Ele precisava se concentrar, ele sabia. Ele sabia. Todos os seus passos estavam desenhados em uma linha simples até seu destino final. A perda fazia parte dela, ele sabia. Ele sabia e não havia nada que pudesse para evitar isso.
— Só fique vivo até eu chegar. – Ele pediu em um sussurro.
Se Dopinder pudesse aguentar até sua chegada, seria o fim para todo aquele sofrimento. Ele se encarregaria disso.
Wade estava determinado a parar de perder.
{...}
— O que eu tinha que levar mesmo? – Wade questiona a Vanessa no telefone.
— Mas eu te falei por mensagem. – Ela ralha.
— Eu apertei para excluir sem querer.
— Ah, Lúcifer.
Wade nunca admitiria que na verdade não havia sido sem querer. Bem, se pensar muito seriamente sobre o assunto, havia sido mesmo. Ele não tinha culpa que, após seu banho e sua decisão de não pensar mais no assunto do Dopinder até que ele pudesse fazer alguma coisa para ajuda-lo, ele voltou para um quarto que cheirava a sonho erótico com um anjo adolescente.
O que isso tem a ver com uma mensagem de texto sobre o que ele tinha que levar para a reunião deles? Tudo.
Wade se incumbiu de arrumar a cama molhada de suor antes de sair de casa. Com o banho já tomado, essa seria a última tarefa antes de tomar um café da manhã assistindo meninas superpoderosas e então partir para o supermercado mais próximo.
Ele havia passado pela tarefa nauseante de ter que mexer na própria rouba de cama encharcada. Havia conseguido deixar o colchão pendurado na janela para secar a luz do sol (teve que gritar para pelo menos dois vizinhos demônios que ele não tinha feito xixi na cama). Mas a tarefa de seguir para a cozinha foi interrompida pelo o que ele achou no estrado da cama.
Uma foto, muito gasta e não tão antiga, do seu anjinho preferido.
Dominó, a vampira já formada do grupo, havia descolado a foto do anjinho para o demônio pelo preço de 50 dólares. Wade deixou de almoçar quase por uma semana para poder juntar o dinheiro pela foto. Ser amigo da vendedora desse tipo esquisito de contrabando não trouxe nenhum desconto amigável para Wade, mas ele preferia passar fome por alguns dias no horário do almoço, mas pelo menos ter algo de Peter para se lembrar além de suas próprias memórias.
A foto consistia no anjinho meio virado na lateral, com uniforme do colégio e uma cara de paisagem por detrás dos seus óculos de grau. Claramente ele nem sabia que estava sendo fotografado naquele momento da foto, o que seria considerado preocupante por qualquer um, ainda mais que aquela foto seria vendida para um demônio que tinha a fama de que queria mata-lo.
Wade tinha a foto a pelo menos seis meses, mas jurava que tinham lhe roubado – já que ele jamais perderia uma raridade daquela – já que ela havia sumido a algumas boas semanas. Para sua surpresa, ela estava embaixo do colchão esse tempo todo. Não se lembrava de tê-la colocado ali, mas ele conseguia imaginar como aquilo havia acontecido.
A foto não só o acompanhava no bolso do uniforme do colégio, ou no bolso da calça quando ele ia sair, mas também lhe fazia companhia na cama, por muitas e muitas noites. Wade não se sentia o homem mais orgulhoso do mundo por se masturbar por uma foto de um garoto que nem sabia que aquela foto existia, mas não era muito diferente de comprar uma revista de pornô e fazer o mesmo, era?
Não importava a desculpa que tentasse criar em sua mente e prometer a si mesmo que não faria mais isso enquanto limpava os dedos repletos de gozo, quando a noite caía, a foto fazia melhor uso para manter seus pensamentos vívidos.
Wade olhou para a foto. Depois que a perdeu, passou algumas semanas sem se tocar, finalmente entrando em um túnel da vergonha por tudo o que havia feito aquela foto e aquele anjo na foto, passar. Porém, do túnel da vergonha, ele havia se jogado ao túnel da tortura.
Antes, a mente que não conseguia se focar direito em uma imagem concreta do corpo de Peter sem a ajuda visual da foto, estava produzindo sonhos repletos de detalhes, sons e sensações que ele nunca havia experimentado antes.
Será que ele estava a muito tempo sem transar? Wade sabia que era um tipo misto de demônio, mas nunca imaginou que teria problemas nessa parte específica de si.
Sua primeira aula havia sido a uma semana e, assim como no sonho daquele domingo, sua casa realmente cheirava a Peter em qualquer cantinho daquele sofá ou da cozinha. Aos poucos, se tornava difícil não associar uma caneta que ele sempre mantinha na mesa a boca de Peter, ou as suas mãos sempre que ele olhava para a caneca de gatinho.
Ele suspirou sôfrego. Boca e mãos. Era só isso o necessário para levantá-lo daquele jeito?
Wade abaixou o olhar para seu corpo.
— Como você pode fazer isso comigo? A gente já estava quase saindo! – Ele pragueja e sabe que se falar um tom mais alto, seus vizinhos vão poder ouvi-lo.
Wade se aborrece e decide acabar com aquilo de uma vez.
A longos passos, ele chega ao sofá e pega a almofada que sempre fica mais próxima a Peter. Ela já não cheira a ele de modo tão forte, porém se o loiro aproximar seu rosto do local, pode sentir a fragrância doce na ponta de seu nariz.
Ele volta ao quarto – já que era muito difícil fazer isso no sofá, agora que ele sabia que Peter poderia se sentar ali na segunda-feira – e se arrasta pela parede. Seu cinto se solta com rapidez e sua mão encontra seu membro logo em seguida, passando os dedos em seu entorno e com uma leve pressão passar a se acariciar de cima para baixo.
Para um cara que já havia transado com quase metade da Escola Sobrenatural, se contentar com usar os dedos era realmente frustrante. Ele inspira sobre a almofada e quase pode fingir que Peter realmente está ali.
As imagens do sonho voltam a sua mente. Um beijo na bochecha, que evolui para um beijo e que, com pressa se torna em uma dança certa e certeira até a mesa de jantar, a pressa, a pressão das pernas de Peter contra si. A imagem da obra-prima que ele havia sonhado.
Peter com os braços ao lado do rosto, os olhos cheios de desejo, o corpo exposto para si. O convite a se esbaldar naquela refeição, o olhar luxuoso num rosto inocente. O cheiro doce, o ar pesado e quente, as batidas altas de seu coração, os dedos quentes e a boca convidativa de Peter.
A pressão em seus dedos aumenta, os olhos que vagavam sem rumo pelo teto se fecham, um vinco formado em sua testa. Ele está quase lá, quase lá. O cheiro doce ainda presente. Para cima e para baixo, uma sequência que não para. Ele só precisa, ele só precisa... seus olhos se focam na foto que segura com tanta força entre os dedos.
A obra de arte que é Peter Parker, parece ficar mais forte em sua mente. A sensação se alastra por seu corpo, o calor sobe e Wade pode sentir como seus chifres queimam com o preto os colorindo. Suas asas se esticam ao máximo com o torpor. Um arrepio passa pelos seus ossos e então, tudo termina com uma lufada de ar sendo solta de sua garganta.
Ele olha para a foto, enquanto sente seus dedos pegajosos na outra mão. A sensação de culpa maior agora que o desejo havia cessado. 50 dólares por uma foto. Um sonho pior a cada noite. E, tudo o que ele conseguia pensar agora, era na vergonha que era fazer isso sabendo que ele nunca poderia transformar sonho em realidade.
Anjos e demônios nunca teriam uma chance.
Wade Wilson com Peter Parker? Pff, menos ainda.
Seu telefone vibra, ele o abre sem pensar e quando a foto quase cai de sua mão limpa para a outra não tanto, Wade pressiona o celular com tanta força, que todos os botões são apertados, inclusive o de excluir aquela mensagem.
A lista do supermercado podia estar perdida, mas pelo a foto, a única que Wade teria pelo resto de sua vida, estava salva.
— Então, é isso? – Ele confirma as coisas no cestinho que segura para a voz robótica do telefone da Vanessa.
— Sim, se você quiser eu tenho um cupom desse mercado. Vou te enviar. Vê se não exclui dessa vez. – Ela avisa, já mandando o cupom de desconto.
— Eu não quero caridade, Ness.
— Quem disse que é? Metade dessas coisas é para mim, então considere isso como se eu estivesse pagando minha parte.
— Ok. Tchau.
Wade se despede. Jamais explicaria para Vanessa porque havia excluído a lista de compra sem querer, mas isso não aconteceria dentro do supermercado, a não ser que Peter aparecesse em sua frente de forma mágica.
O que não ia acontecer.
Ele caminha até o caixa, mas passa pela fileira de bebidas antes. Ele não se atenta pela primeira vez, mas quando percebe, está voltando para dar uma olhada na bebida que gosta. Eles têm maçã-verde, mas também tem tangerina doce.
Wade abre a carteira e depois olha o valor do cupom de Vanessa. Dava para levar algumas garrafinhas. Wade faz a matemática e então vai para o caixa.
Além dos produtos para a reunião, agora suas sacolas estão cheias de suco de tangerina doce e nenhuma maçã-verde. “Quem não gosta de maçã-verde?” Ele se questiona meio encabulado, mas espera que Peter se sinta melhor sabendo que agora eles têm a opção de tomar tangerina doce.
O loiro anda pela calçada, o peso das sacolas não é nada para si, mas a sensação de estar consciente de que a primeira coisa que fez quando recebeu o auxílio assistencial pelas mortes de seus pais foi comprar a bebida preferida de Peter, mexe um pouco consigo.
Aquilo não devia significar nada, certo? Peter não pensaria nada, certo?
Comprar aquele tipo de bebida era só uma forma de agradecer por todo o esforço de estar ensinando a ele. Era isso. Se Peter perguntasse, era isso que ele falaria. Perfeito. Isso.
Wade não sabia explicar esse sentimento. Ele sabia que se sentia muito atraído por Peter, por todos os motivos que pudesse dizer, mas isso não queria dizer que Peter ia aceitar esse tipo de coisa vindo de um demônio. O anjo era de uma das famílias principais e para preservar o bem da aliança, ele tinha que ser legal com Wade, era simples. O loiro era um dos casos mais promissores para a guerra, e apesar de todo o envolvimento da morte dos seus pais e da forma como havia conseguido suas cicatrizes, ele ainda era a melhor arma que aquele colégio cultivava. Peter devia saber disso, ele devia imaginar que Wade comprando sua bebida favorita com seu pouco dinheirinho e que, quase ter uma síncope tentando inventar um motivo para isso, não passava de um gesto de amizade.
“Grande amigo. Me diz, quantos amigos se masturbam pensando no outro?” Wade suou frio. Ele jamais poderia deixar Peter descobrir sobre sua foto, sobre o real motivo de estar ali comprando sua bebida favorita, ou simplesmente porque seu coração batia tão forte ao vê-lo.
Peter nunca perdoaria Wade por sequer pensar em si dessa forma. Não, Peter nunca poderia saber. Wade precisava continuar sendo o demônio que jamais se aproximaria de qualquer anjo, especialmente de um Parker.
Um rumor de vingança realmente era o melhor que Wade já havia se apropriado em toda sua vida.
Desconcertado, o loiro abre uma das bebidas favoritas de Peter para experimentar. Realmente, era doce. Ele faz uma careta assim que termina de toma-la, só para então perceber para onde seus pés os trouxeram.
— Quando...
Ele consegue ver as flores secas da última vez que veio visita-los. Ele para a frente das lápides.
“Thomas Winston Wilson e Martha Winston Wilson, soldados de guerra. Vítimas do Anti-Cristo.”
Nenhuma menção a pai e mãe amados, muito menos a existência de Wade. Um órfão deixado para trás ainda tão jovem. Soldados de guerra, vítimas. Os olhos azuis se prolongam sobre outras escrituras, nenhuma menciona família, amigos ou qualquer frase. Somente que eram soldados, cientistas ou espiões, agora mortos e vítimas de uma guerra contra o anti-cristo.
Os dedos do loiro se firmam nas sacolas. Aquele cemitério em particular, assim como suas asas, se escondia dos olhos humanos. Um local neutro para a habitação de anjos, vampiros, pacificadores, lobos e demônios que vinham se despedir ou lamentar as perdas que sofriam.
Um lugar neutro, eles diziam. Wade olhou para trás, um pouco mais ao longe, onde era possível ver grandes capelas e túmulos, até mesmo lápides muito melhores.
— Neutro o caralho...
Até mesmo no cemitério, anjos eram enterrados com ouro. Não havia sinal de flores secas, velhas ou de musgo ou pó sobre suas construções. Diferentemente de outros túmulos, separados dos locais dos anjos.
Wade balançou a cabeça negativamente, era possível até mesmo cheirar a hipocrisia dos anjos no ar. Ele volta seu olhar para a lápide dos pais e se abaixa, limpando ela da melhor forma que pode.
— Prometo trazer flores da próxima vez, mãe. Suas favoritas. Sinto falta de vocês, espero que estejam juntos e bem.
Ele sorri e sem lágrimas nos olhos, parte dali.
Ele voltaria, traria flores. A muitos anos estava se acostumando não só com a perda, mas com falar com o vazio. Com o estar solitário, o que era diferente de estar sozinho.
— Wade!
Se sentia menos solitário com os amigos, era verdade. Mas mesmo não estando sozinho, seu coração ainda se sentia solitário.
— Wade!
Talvez fosse por isso que gostasse tanto de Peter. Ele não se sentia sozinho, muito menos solitário quando tinha o anjo a seu redor.
— Wade!
Ele riu, tinha que parar de pensar naquele garoto. Não querer ficar solitário não justificava passar a ouvir sua voz num cemitério quando estava sozinho.
— Wade! – Peter finalmente o alcança, tocando em seu braço.
O loiro é parado e se vira, encontrando aquele que havia passado a semana em seus sonhos, as noites em sua casa e as manhãs em sua vista. Ele precisa conter um sorriso enorme que se forma em seu rosto assim que percebe que Peter sorria para si.
— Peter?
— Oi. – O garoto arruma os óculos no rosto, como se só então percebesse que não sabia o que ia falar. – Hum, tudo bem? O que veio fazer aqui?
— Hã, tudo. Eu vim... – Ele aponta para as lápides, não tinha como dizer aquilo de maneira não agressiva.
Como se percebesse a pergunta idiota que havia feito, o anjinho fecha os olhos por alguns segundos, enquanto suas orelhas esquentam.
— Ah, claro. Porquê...é, faz sentido. Sinto muito. – Sua voz some em um fio e Wade precisa se concentrar para não rir do quão atrapalhado Peter consegue ser as vezes.
— E você? – Wade questiona. – Não sabia que tinha...
— Ah, não. – Ele corre para cortar o pensamento de Wade. – Eu não. Eu vim com o...
— Hey, Pet, porque você correu...ah, ora, ora, ora, o que temos aqui.
Wade reluta em tirar seus olhos de Peter, mas o desprazer em ouvir aquele timbre em específico é maior do que ele pode aguentar. Seu rosto levanta, tirando os olhos de Peter e se focando em outro anjo.
— Wade Winston Wilson. – Ele dá um risinho sobre o nome do demônio. – Veio visitar a família?
As sacolas nas mãos de Wade são a única coisa que o impede de avançar sobre o homem de imediato.
— Quentin Beck. – Wade sente o amargo em sua boca ao pronunciar aquelas palavras. – Me diga você, você com certeza sabe mais da minha família do que eu.
— Hum, gente. – Peter tenta intervir.
Por um momento, o castanho pensa que foi muito precipitado correr até Wade quando o viu, já que ele claramente não havia pensado muito bem naquilo.
Um cemitério neutro seria o suficiente para impedir Wade, o demônio, de atacar Quentin Beck, protegido da família Parker e também, o motivo pela morte dos Wilson?
Pela rivalidade já presente no olhar de ambos, Peter tinha a plena certeza de que aquilo tinha sido uma péssima ideia.
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