— Entro, não entro, entro, não entro...entro. – Peter, que segurava uma flor sem pétalas em sua mão, percebe que seu joguinho de escolhas havia chego ao fim.
Primeiramente, ele não queria desrespeitar algo que Vanessa lhe disse, ele jurava que não queria. Segundo, se o destino escolhesse para ele, ele não estaria trapaceando nada, certo? Terceiro, a quem ele queria enganar? Como o destino ia ter trazido o menino até a porta da mansão dos demônios?
O aviso de Vanessa ainda ressoava em sua mente, “Não vá a casa dele”, foi a única coisa que ela pediu e também a única coisa que Peter não conseguiu cumprir.
Era verdade que ele nunca tinha desrespeitado uma regra antes, muito menos um pedido, mas quando Wade parou de responder suas mensagens de texto desde quinta-feira à noite, Peter se viu obrigado a fazer algo. E com “fazer algo” ele queria dizer, entrar em pânico, pesquisar no google o que poderia ter afetado a saúde perfeita de Wade e quase desmaiar quando todas suas respostas terminavam em morte.
Peter, que não dormia direito a quase uma semana, debateu e muito consigo mesmo se devia fazer aquilo. Ele se sentia péssimo indo contra um pedido de Vanessa, mas nada disso se comparava a não ter notícias de Wade. Ele nunca havia sido tão dependente de uma resposta quanto aquela que ele esperava.
Com uma sacola de mantimentos na mão e uma bolsa do colégio nas costas, Peter verificou o celular pela última vez. Sua última pétala, de umas flores que havia colhido pelo caminho, lhe indicava que ele devia entrar pelo portão. A falta de uma resposta a sua mensagem “Wade, estou preocupado, você está ai? Se você não me responder em até uma hora, eu vou até sua casa, estou avisando” Lhe deixava ainda mais inquieto.
1h01.
O castanho se deu por vencido e abriu o portão. Uma hora havia se passado e Wade não havia lhe respondido, no pior dos casos, estaria incomodando um demônio que provavelmente o odiava mais do que antes agora e que queria mata-lo. No melhor dos casos, a bateria do celular teria acabado ou Wade estava em um sono muito profundo para sequer atender suas ligações.
O anjo caminhou pela estrada de pedra que bem conhecia. Alguns demônios já o reconheciam de outras visitas, mas porque todos estavam lhe olhando com caretas e sobrancelhas franzidas? Talvez Wade houvesse contado a todos sobre o incidente do cemitério e agora todos o odiavam. Peter engoliu em seco com o pensamento.
“Perfeito, agora eu sou o Parker mais odiado desse lugar.” O castanho pensa e entra no hall da mansão. O lugar parecia mais vazio do que o normal, como se de alguma forma todo mundo desejasse evitar estar ali dentro naquele momento.
Peter sentiu uma pressão em seu corpo conforme se aproximava da escada, era quase como se sua energia estivesse sendo drenada. Ele balança a cabeça, se recompondo, talvez fosse culpa de não estar comendo direito.
Ele pisa para frente, mas um vulto o assusta fazendo suas asas o puxarem do chão, batendo em retirada.
— Ora, ora, ora, estranho te ver por aqui, Peter. – A voz de Eddie Brock toma conta do vulto que tinha assustado Peter. – Desculpe pelo susto, mas não achei que te veria hoje.
Peter estranha, era como se Eddie estivesse a espreita, pronto para evitar que qualquer pessoa tentasse subir as escadas pela esquerda.
— Oi, Eddie. Está tudo bem, eu meio que vim sem avisar. – O garoto volta ao chão envergonhado pela forma como reagiu e por admitir que não tinha sido convidado.
— Achei que anjos eram quase proibidos de entrar na casa dos outros sem serem convidados.
— Esses são os vampiros. – Peter esclareceu e Eddie bateu a mão na testa, como se estivesse se lembrando agora que vampiros existiam.
— Veio ver o Wade, eu presumo. – Eddie continua, enquanto ronda Peter como um animal selvagem. Essa não era a primeira vez, mas parecia uma inspeção muito mais detalhada do que das outras vezes.
— Hum...sim. – Peter admite. – Eu fiquei sabendo que ele está...hm...doente. Então achei que podia dar uma passadinha, ele não tem me respondido.
— Doente é? – Eddie dá um riso encabulado, mas quando Peter o olha com interrogações nos olhos, o homem cerra os próprios olhos. – Quem lhe contou isso?
— Hum, a Vanessa. – Ele revela. – Ela só me respondeu, eu que queria saber na verdade.
— Ah, é? E qual o seu interesse na saúde de Wade? – O senhorio ronda Peter mais vez, passando a enchê-lo de perguntas. – Achei que anjos não se importavam, ou você bateu a cabeça quando era criança? Bom, acho que não talvez ele só seja realmente ingênuo e preocupado. O que você acha? Hum, devíamos? Bom, sim, está na cara, mas ainda é perigoso. O que você tem ai, Peter? Camisinhas? Comida? Ah, balas! Sanduiches, que gentil.
Peter não sabia como reagir primeiro. Ele devia responder? Se sentir envergonhado por Eddie ter falado sobre camisinhas tão casualmente? Ou ele devia correr para longe, já que o senhorio da mansão estava claramente falando com Peter e sozinho ao mesmo tempo?
O garoto sabia que Eddie havia sofrido uma contusão tão grave em guerra, que seu corpo nem mesmo conseguiu se curar apesar de ser um demônio. Por isso, Wade o alertou que não estranhasse caso ele parecesse conversar sozinho. Era como se Eddie tivesse uma outra voz dentro de sua cabeça, ao qual ele passava muito tempo conversando e para quem estava de fora, era como ver alguém conversando sozinho.
Os moradores estavam claramente acostumados, porém isso era novo para o anjinho.
— Eu...hum...eu estou... – seu cérebro tão inteligente não conseguia encontrar a resposta certa naquele momento.
— Ok! Decidido! – Eddie declarou. – Você pode entrar, mas tem que sair muito rápido, antes que qualquer um te veja, ok?
— Mas...você está me vendo... – Peter não sabia nem como reagir direito.
— Sim e não, agora eu te vejo... – Ele cobriu os olhos. – Agora não. Entendeu? Vou esquecer isso em alguns segundos, por isso se eu fosse você se apressaria.
Peter ainda ficou parado por alguns segundos, antes de perceber que Eddie realmente ia ficar com os olhos tampados até que ouvisse Peter sair dali. Ele voou antes que o senhorio mudasse de ideia.
Tudo aquilo parecia tão esquisito, Peter teria que perguntar a Wade novamente sobre Eddie e se podia de algum modo ajuda-lo. E por mais preocupado que estivesse com Eddie, tudo pareceu sumir quando Peter parou a frente da porta de Wade.
Wade precisava mais dele do que outras pessoas agora.
— Wade? – O anjo bate na porta.
Ele espera e espera. Não há qualquer sinal de algum barulho dentro do apartamento. Peter olha pelo corredor e para as outras portas, de alguma forma, tudo parece muito silencioso para uma sexta-feira.
Peter acha tudo aquilo ainda mais estranho, o que lhe dá a energia para bater de novo e de novo.
Quando já se passam 5 minutos e Peter começa a imaginar que Wade está desmaiado dentro do apartamento ou que ele saiu e deixou o celular lá dentro, sua energia parece cair ainda mais ao ponto que Peter precisa se segurar na porta para não cair.
“Mas o que...”
Antes de sequer completar seu raciocínio, a porta se abre um pouquinho. Peter não tinha percebido o próprio barulho que fez ao dar um encontrão com a porta. A fresta quase não faz diferença no corredor escuro, já que, mesmo sendo de tarde, a casa de Wade se encontra no completo escuro.
Peter sobe o olhar, imaginando que talvez ele tenha quebrado a fechadura, porém o azul dos olhos de Wade são a única coisa que brilha no meio de tanta escuridão. Peter não sabe como se sentir.
Ele estava feliz por Wade não estar morto ali dentro, feliz por poder vê-lo, mas também apreensivo. O que Wade ia pensar agora que a pessoa que menos queria ver estava ali? Ele realmente devia estar odiando aquilo, certo? Porque se não, qual seria o motivo de seus chifres estarem tão negros que pareciam se destacar mesmo na escuridão?
— ...Oi. – A voz de Peter é um fio. – Eu...
— Você está bem?
— Hm?
— Você bateu sua cabeça na porta, não foi? – Wade questiona.
— Ah. – Peter pode sentir seu rosto esquentar, então Wade só havia aparecido porque Peter tinha caído de cabeça na porta. – M-Minhas pernas ficaram meio m-moles. Eu bati, mas estou bem. Eu...
— Então o que você está fazendo aqui? – Wade perde o tom “amigável” que Peter podia detectar em sua voz, agora ele parecia irritado, como se fosse realmente difícil olhar para Peter agora.
— A Vanessa me disse que você estava doente, lembra? Eu achei que algo tinha acontecido...porque você não me respondia.
Por algum motivo, dizer isso em voz alta deixou Peter ainda mais envergonhado. Era só uma mensagem não respondida e olha o caos que Peter estava criando.
Wade suspirou tão profundamente, que foi audível mesmo do outro lado da porta. Com sua mente girando e gritando que Peter tinha que fugir dali, o garoto recua um passo a um segundo de decidir se corria dali ou se forçava a ficar.
— Hm...eu já vou então, você parece...inteiro. – Seria blasfêmia dizer que Wade parecia bem. – Eu...eu trouxe umas coisas, só em caso de você precisar, você pode abrir só para pegar?
— Você não pode deixar ai no chão?
Sim, Peter podia. Sim, Peter devia, mas não, ele não queria. Mesmo com a força sendo drenada de seu corpo novamente e sua mente girando e um grande sinal de alerta soando em sua cabeça, ele ainda não podia negar que desejava ver o rosto de Wade, pelo menos por um segundo. Um segundo e tudo teria valido a pena.
Ele formulava uma desculpa ou uma maneira de trazer Wade para fora quando o trinco da porta foi ouvido. Seus olhos saltaram com a expectativa, seu coração bombeou mais rápido e suas asas quase tiveram força o suficiente para puxá-lo voando dali, se suas pernas quase não tivessem sido puxadas para o chão quando a porta foi aberta.
Foi questão de segundos, mas assim que o interior do apartamento foi colocado em sua vista, Peter percebeu que essa “força” sendo puxada sugando sua energia, definitivamente vinha daquele apartamento e, agora, olhando para os olhos febris de Wade, ele tinha certeza que Wade era o culpado.
— Wade, o que-
— Você está bem? – Wade foi mais rápido, esticando os braços para amparar Peter de encostar seus joelhos no chão.
O contato foi rápido, mas a energia devolvida ao corpo de Peter foi gigantesca. O castanho não sabia dizer o motivo, mas recobrou suas energias em segundos, o que era bom para si, mas não para Wade.
Como se tivessem trocado de lado, a força que Wade estava reunindo para conseguir abrir a porta e não atacar Peter, some e ele perde o controle de suas pernas, indo em direção ao chão. Logo, Wade está esmagando suas asas contra o chão frio, enquanto seu corpo quente e febril ampara um corpo morno acima de si.
— Ai, ai, ai. – Peter reclama de susto com o impacto, apesar de não ter se machucado. Ao ver Wade estatelado no chão abaixo de si, ele se desespera. – Ai Deus, eu sinto, muito! Muito mesmo! Você foi me segurar, mas então você perdeu a força e eu não consegui te segurar a tempo e nós dois caímos.
Wade sentiu toda a vida saindo de seu corpo enquanto Peter falava.
Se em um dia normal o loiro já estaria surtando pela proximidade gritante que estavam compartilhando, hoje era um dia ainda pior. A temperatura já quente de seu corpo, sobe. Sua visão turva fica quase negra, ele sabe que se ficar ali por mais alguns segundos vai perder o controle. Ele sabe, mas mesmo assim deseja ficar e perder o pouco controle que ainda consegue reunir.
Peter se apressa a sair de cima de Wade, o que só dificulta as coisas. Os dedos imóveis de Wade roçam nas penas tão macias e sensíveis de Peter, que estremece. Um choque passa por seus corpos, e as asas de Peter se abrem involuntariamente. Ele ri de nervoso tentando fechá-las, sem perceber que ainda está sentado sobre a cintura do loiro.
— Meu Deus, que vergonha. – Peter comenta sobre o silêncio constrangedor em que se encontra, tão preso em seu próprio mundinho de vergonha, que mal nota o cérebro de Wade fritando a sua frente. – E-Elas nunca fizeram isso antes.
Quando o anjo apoia suas mãos sobre o abdômen do demônio e move os quadris para cima, Wade não é capaz de conter o som de um cachorro sendo chutado que sai de dentro de sua garganta. Peter devia estar fazendo aquilo de propósito, não era possível.
O anjo finalmente se levanta e apesar do rosto corado de vergonha, ele estica a mão para Wade, lhe oferecendo ajuda para levantar.
Avance. Sua mente ordena. Tome. Ele deseja. Faça-o seu.
Os dedos de Wade coçam com a sensação ainda presente das asas de Peter sobre sua superfície. Sua visão escurece quase completamente e seus pensamentos estão tão turvos e tão pesados, que é impossível saber o que ele seria capaz de formular nesse momento, a sensação é de que sua mente está derretendo com o calor e vai vazar por suas orelhas. Se pelo menos isso fosse o pior.
Seu corpo inteiro está arrepiado, se suas asas não estivessem abaixo de si, estariam visivelmente tremendo em excitação e, a única coisa coberta por duas camadas de roupas, está tão apertado, que é impossível fingir que Wade controla o pedaço roliço de 30cm de aço que está em suas calças.
“W..a.d..e” Ele pode ouvir o som melódico da voz de Peter mais próximo de si. Ele já não enxerga e seus instintos animais querem tomar conta, ele quer tanto pular em Peter ali mesmo e foder com o anjinho que gemeria o resto daquele ciclo de desejo para aquela parede.
Wade precisava de um buraco e que coincidência, Peter tinha dois. Wade não ligaria de violar os lábios, a garganta e se sentir crescer enquanto goza na boca de Peter, ele só queria se aliviar e depois, comer Peter em todas as posições e cômodos diferentes, deixar tantas marcas naquela pele branca e macia, que seria impossível encontrar algum espaço vazio quando termina-se.
O demônio queria devorar aquele anjo até que não sobrasse mais nada.
Como um comando, garras crescem nas mãos e pés de Wade, e ele não pode deixar de soltar um som alto quando algo rasga sua pele na altura de sua cintura e desliza para fora de seu corpo. Ele se sente, sentindo algo balançar de um lado para o outro, reconhecendo território. Sua visão completamente enegrecida só consegue ver um ponto de luz a sua frente quando caninos brotam de suas gengivas.
— W-Wade, o que está acontecendo-o? – Peter está muito perdido.
Suas pernas antes fortificadas, perdem a força novamente e ele não se preocupa em atingir o chão ao lado do loiro. Peter está com medo, não sabe o que está acontecendo, mas mesmo assim reúne toda a coragem que possui e toca o rosto de Wade.
Os olhos azuis se foram, dando espaço a olhos completamente negros. Peter percebe que Wade está ardendo em febre e por algum motivo, garras cresceram em suas mãos. As asas agora libertas do loiro se esticam para os lados e depois para trás, enquanto Wade abre a boca demonstrando caninos afiados e profundos que ganhou.
Peter engole em seco, o sinal de perigo em sua cabeça já havia pifado de tanto tocar.
— W-Wade, você está com febre. – O garoto se aventura a tocar a testa do loiro.
Um erro, muito, muito bobo.
Wade sente o contato em seus chifres primeiro do que qualquer outra sensação delirante que está tendo no momento. Seu corpo reage sem que ele o controle, sua cabeça tomba para trás, fugindo do toque que joga um choque por seu corpo até seu membro que eclode, manchando todo o tecido de algodão já molhado anteriormente.
Um único toque de Peter Parker foi o suficiente para fazer Wade Wilson gozar.
Um gemido fica preso em sua garganta, enquanto dá lugar a um rugido. A casa treme e as garras de Wade perfuram o chão. Sua mente ordena que ele agarre Peter e o arraste para baixo de si mesmo que o anjo se rebele e tente se soltar. Seus instintos ordenam que ele viole Peter até que tenha se saciado. Sua calda recém-saída de seu corpo, desliza entre os dois e Wade sente aquela eletricidade gostosa e viciante que sempre sente ao tocar Peter.
Ele não consegue ver ou ouvir Peter agora, ele avança seguindo seus instintos, ele sabe que está sorrindo e quase babando como um animal, tão próximo aos lábios de Peter, sua calda se enrolando na perna do anjo que implora para que Wade não faça nada, mas que também não tenta lutar para sair dali.
Suas garras acariciam o rosto macio de Peter e só isso lhe traz um prazer enorme de satisfação e ele pode sentir seu membro pulsar quando seu dedo encosta nos lábios de Peter, ele pode imaginar como aquilo vai ser magnífico e o quão forte e fundo ele deseja ir, o quanto ele quer ouvir Peter gritar o nome de Deus enquanto é Wade que está sobre ele.
Ele deseja isso mais do que tudo, deseja tanto, mas ao sentir a única lágrima de medo que escapa dos olhos castanhos de Peter, sua visão fraqueja e seu coração bombeia a única decisão que Wade pode tomar nesse momento: correr dali.
Peter agora sabe. Agora sabe o que eles queriam dizer com “doente”. Aquela devia ser a primeira ou seguida transformação de Wade em íncubos. Agora o silencio sepulcral dos apartamentos fazia sentido. Não havia ninguém ali, pois era um perigo imensurável ficar perto de um íncubo em transformação.
Era perigoso, Peter sabia. Ele tinha que fugir, ele sabia. Mas então, porque desejava ficar?
Apesar do medo do desconhecido, da transformação e do perigo, Peter queria ficar, queria estar ao lado de Wade e queria ajuda-lo. Íncubos sempre sofriam em suas primeiras transformações e o pior, eles estavam sempre sozinhos.
Peter não queria deixar Wade sozinho. Peter não queria deixar Wade. Peter queria ficar. Peter queria Wade e agora sabia disso.
O vazio acima de seu corpo se faz em segundos, enquanto Wade luta de alguma forma contra seus próprios instintos e foge para dentro do apartamento. Ele bate em todos os moveis a sua frente, pois sua visão ainda está muito escura, pois ele se sente cego e sozinho. Conforme se afasta, ele se sente fraco e sem controle, suas asas perdem as forças e quase o arrastam para o chão. Wade só se mantem de pé por causa de sua cauda que se enrola no poste de pole do quarto. Ele prossegue para o cômodo mais longe do corredor.
Peter sente o vazio e assiste Wade se afastar. “Não”, ele quer dizer e agarrar a mão do demônio, “volte”, ele ainda o deseja. “Espere”, Peter precisa de Wade e agora sabe disso.
— Não me deixe. – Peter sussurra e sente sua lágrima solitária cair de seu rosto.
Os dedos passam pela bochecha, constatando que foi aquilo, aquele sinal de medo, que parecia desaprovação, que tirou Wade de perto de si.
“Fraco”, Peter pensa, como ele podia ser tão fraco em um momento desses? É claro que ele estava com medo, assistir aquela transformação era assustadora, mas era o que fazia parte de Wade. E apesar de tudo o que havia aprendido, de tudo o que havia ouvido e visto, o coração de Peter ainda o desejava.
O coração de Peter ansiava. Um coração pode amar e temer ao mesmo tempo. O coração de Peter ansiava por encontrar o coração de Wade e parar de temer as consequências de serem vistos juntos. De serem vistos amando um ao outro.
Peter não desejava mais sentir medo.
Seus pés o levaram para onde seu coração desejava ir.
A fumaça de uma ducha escaldante exalava da porta do banheiro aberta. Wade estava encolhido na banheira, abraçando os próprios joelhos. As asas encolhidas, a calda enroscada em seu braço, a cabeça abaixada, os chifres expostos.
Peter tocou a ponta do chifre esquerdo. Wade se assustou e recuou ainda mais para baixo da água quente. Peter quis rir, ele era tão sensível. As asas brancas e macias de Peter se molharam primeiro.
Sem os sapatos, o anjo entra na banheira cheia com uniforme e tudo. Os olhos negros de Wade tentam acompanhar os movimentos do castanho, desconfiado do que ele mesmo poderia fazer, com medo de sua própria transformação. Seu pomo de adão sobe e desce, apreensivo.
— Está tudo bem. – Wade consegue ouvir a melodia próxima a seus ouvidos.
Seus punhos se fecham mais forte, tirando sangue das próprias mãos com as garras. Um choque as atravessa quando Peter envolve suas mãos nas dele.
— Não faça isso. – O castanho pede. – Não quero vê-lo machucado.
— P-Peter... Você não devia... – Wade consegue dizer se controlando para manter os dentes longe do alcance do pescoço de Peter.
— Pois eu não vou a lugar algum.
Wade sente os lábios de Peter tocarem seus chifres com delicadeza, um som quente e abafado escapa de si. Ele pode sentir a testa de Peter sobre a sua. Seus narizes conectados. Ele pode sentir a respiração de Peter em sua pele e pode sentir sua própria respiração ir normalizando.
— O que...O que você...
O loiro não tem a chance de terminar, Peter se aproxima ainda mais e o beija.
O contato inicial é prolongado por segundos de uma surpresa libertadora. Suas mãos se apertam na do parceiro, enquanto Wade processa que aquilo está mesmo acontecendo. Sua respiração para e ele tem quase certeza que seu coração nunca tinha batido tão certo quanto naquele momento.
Sua vida parece ganhar cor e realmente ganha, seus olhos clareiam e ele pode finalmente ver o rosto de Peter e, apesar de toda a água em seu rosto, nenhuma daquelas é uma lágrima dessa vez.
Peter sorri. Ele sorri e Wade sabe que criaria guerras e queimaria cidades por aquele sorriso.
Um riso fino escapa de seus lábios e suas mãos deslizam pelo pulso, pelos braços e ombros de Peter até chegar em seu pescoço e ele poder agarrar seu rosto.
— Porque você... Como...Quando... Eu... Eu não sei o que dizer. – Wade confidencia, não acreditando que aquele momento é real.
Por mais que tenha sonhado – e muito – com tudo isso, é diferente quando realmente está acontecendo. Sua mente em branco não permite que ele consiga criar uma sentença com tudo o que sua cabeça está pensando. Os sintomas do ciclo de desejo parecem aliviados enquanto Peter está perto de si. Como se Peter fosse a resposta para todos os seus problemas.
Mas ele era. Peter era e sempre foi sua resposta.
— Peter, eu...
O castanho envolve o rosto do demônio em suas mãos e o beija mais profundamente agora.
— Está tudo bem. – Ele sorri. – Não precisa dizer nada agora.
— Mas...
— Wade. – Peter encara a íris azul que tanto amava. – Só me beije agora.
E Wade nunca se sentiu tão feliz em fazer isso.
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