Wade sentia uma pontinha de orgulho no peito.
Ele queria poder deixar as meninas o mais longe possível disso tudo, mas vê-las daquele modo, o protegendo e agindo de maneira tão responsável o fazia se sentir orgulhoso como um irmão mais velho. O que era totalmente o contrário da realidade, já que ele - por fazer aniversário em dezembro - era o bebezinho do grupo.
Ellie tinha a cabeça de líder para essas horas, ela os dividiu para lidarem com problemas diferentes e tomou as rédeas da situação firmemente. Ela que sempre foi boa em lidar com conflitos e ser independente. Mesmo ainda tendo os pais vivos, Ellie se dava bem melhor sozinha do que tendo o apoio deles.
Algumas pessoas somente lidavam melhor com a solidão da independência.
Para a surpresa de Wade, a alada até mesmo colocou Steve para trabalhar e eles se conheciam a menos de 2 horas. Tudo andava a milhão dentro daquele covil escuro e em parte era algo bom, já que se mantendo ocupado Wade tinha pouco tempo para se concentrar no caos que sua mente e seu coração estavam.
Wade não lidava bem com o luto e sabia disso. Quanto mais pudesse postergar o menor pensamento sobre o manto da morte, que inconscientemente havia trazido consigo, seria menos um problema para encarar naquele momento. E, Wade estava cheio deles.
— Ok, agora ele é nosso maior problema agora. - Ellie suspira parecendo mentalmente cansada, mas energizada por estar encarando um quebra-cabeça difícil e importante.
Ela, assim como Wade, preferia se manter ocupada e longe das lágrimas de dor pela perda do amigo.
— Tem certeza que não podemos só jogá-lo em uma vala? - Wade questiona olhando a menor.
— Tenho. - Ela murmura reprimindo um riso sem sentido. - Por mais que eu queira muito.
— Eu ainda consigo escutar vocês. - Quentin se faz presente.
As duas horas de descanso dele haviam melhorado a voz ridícula que ele tinha anteriormente, mas parte de seu rosto ainda estava bem quebrada e, se ele não fosse levado a um curandeiro se recuperaria muito devagar, suas pernas não se mexeriam por alguns bons dias.
— Oh, você estava ai? - Wade brinca, irônico. - Nem havia percebido.
— Crianças, se acalmem. - Ellie intervém antes que Quentin possa responder. - Temos uma proposta para você Quentin.
O anjo abre um sorriso torto.
— O que vão tentar fazer? Me dar liberdade em troca de manter o bico fechado? - Ele zomba.
— Não, na verdade não. - Wade nega, sem maiores preocupações. - Por mim, você seria serrado e alimentaríamos os porcos com seus pedaços. Acho que bacon angelical deve ser ainda mais apetitoso.
As asas do anjo estremecem. Pelo histórico dos Winstons, Quentin acreditava que com a motivação certa, Wade seguiria os passos da mãe.
— Mas, - Ellie o olha de forma zangada. - Bacon angelical não é o mais importante agora. Você tem família, Quentin, você é um espião e, agora que o anti-cristo conquistou mais espaço, sabe exatamente o que vai acontecer.
— Alguém deve vir buscá-lo logo, logo. - O espião amedrontado parece se divertir ao concluir isso olhando para Wade. - Você vai resistir? Queria poder ver o que fariam com um “Prometido” indisciplinado.
Wade o olha de cima a baixo, é claro que ele ainda achava que Wade não queria estar ali, ele ainda achava que o mestiço queria se manter longe de problemas como fora a vida inteira. Tentando ficar longe dos holofotes dos anjos, fora dos olhares dos céus e longe das glórias da guerra. Não mais.
Sua feição continua séria enquanto encara Quentin e o mesmo o encara.
— Rá. - O loiro parece finalmente perceber a mudança no mestiço, ele abre um sorriso surpreso. - Você realmente quer ir para a guerra?
Wade se mantém em silêncio enquanto o anjo o analisa, Quentin podia ser uma pessoa terrível, mas era bom em seu trabalho, o que incluía ler até mesmo os mínimos detalhes.
— Oh, é por causa deles. - O anjo conclui, e Wade fica levemente confuso, como ele sabia que seu motivo se estendia a mais de uma pessoa? - Não os amigos aqui, talvez um pouco, mas principalmente porque você não quer que isso aconteça a ele, não é?
Wade desvia o olhar por um momento, como ele sabia? Será que havia sido tão aberto e desleixado quanto as meninas haviam deixado transparecer?
— Você não suporta sequer o pensamento de isso acontecendo. - Quentin pisca lentamente, cada nervo e músculo tenso de Wade lhe contando toda uma história sobre como ele queria desesperadamente usar toda sua raiva reprimida por tantos anos em algo que possivelmente o mataria, mas que não permitiria que aquele manto o assombrasse novamente. - A morte realmente te assusta tanto assim?
O maxilar do loiro aperta, odiava ser lido com facilidade, mas não, ele não tinha medo da morte. Ele temia os sentimentos que vinham atrelados a ela.
Ter a certeza de reencarnação era algo que devia alegrá-los, mas só talvez se seus entes queridos morressem já velhos. Wade não queria saber de viver uma vida inteira sem eles até que sua hora chegasse.
Uma vida inteira sem seus amigos já parecia impossível, mas uma vida inteira sem Peter Parker, o sufocava. Ele era sua paleta de cores favorita e Wade não suportava a ideia de ver essas cores sendo retiradas de si. Agora que conhecia um mundo brilhante e colorido, era insuportável ter que sequer voltar ao cinza opaco em que vivia.
A morte de Dopinder o fez questionar o quão desesperados os anjos ficariam para logo começarem a colocar sua própria espécie em campo de batalha. Talvez aquilo demorasse anos, décadas ou séculos, mas Wade tinha a certeza de que ia acontecer se não interferisse.
Mais do que nunca ele não queria ver o horizonte da guerra chegar aos olhos castanhos vivos e brilhantes de Peter.
Se Peter faria de tudo para retirá-lo da guerra, Wade faria de tudo para acabar com ela.
Por mais vivo que quisesse ficar nos próximos anos, se tivesse a sorte de derrotar o anti-cristo e voltar para casa, seria um sucesso maior ainda. Ele só estaria invertendo suas prioridades. Sem a ameaça do anti-cristo respirando em seu pescoço, Wade só se tornaria um demônio marcado pela história da vitória e então poderia dedicar sua vida a aprender como sobreviver no submundo, como um mestiço como ele poderia ficar vivo por mais alguns anos e achar um lugar seguro para viver com Peter, seu anjo.
Ele queria viver antes de precisar morrer, e até um dia atrás, estava convencido de que isso não aconteceria quando entrasse na guerra, mas agora sabendo o que realmente era, ele confiava que podia realmente sair vivo de lá.
Sobreviver de verdade, e então viver. Acabar com o problema pela raiz e sumir dali.
Se ele tinha uma única chance de fazer isso dar certo, ele teria que aproveitá-la.
— Você acha que tem uma chance. - Quentin realiza ao ver o brilho de esperança de um futuro de verdade nos olhos do mestiço.
— Ele tem uma chance. - Ellie o corrige. - E você pode participar disso ou ficar aqui apodrecendo, sabendo que vai morrer como se fosse um acidente, Phimesters são especialistas nisso, você deve saber.
Quentin a poupa de um olhar descrente, pois sabe que é verdade, e reconhecendo que a garota careca não sabia a verdade sobre a mãe de Wade, ele acreditava que ter somente ambos dentro do covil era um strike de azar para si e violência bem-vinda para os outros dois. Seus olhares, mesmo sobre a escuridão do covil pareciam brilhar com um fogo igual. Eles desejavam vingança, morte e queriam proteção, e fariam de tudo para atingi-la.
— Quando ele vai? - O anjo direciona a pergunta a ambos, estava na hora de tomar uma decisão para si mesmo.
— Quando eu me formar. - Wade responde.
— Isso é muito tardio. - O anjo se enfurece. - Entra logo naquela guerra e acaba com isso, você sabe que consegue e sabe exatamente o porquê.
— Eu só sei que isso vai ser o motivo da minha morte se eu não souber controlar. - Wade rosna entredentes.
Ellie bate os cílios, confusa. O que tinha perdido?
— Então aprende rápido, tudo cai de mão beijada para você mesmo. - O anjo o olha com desgosto.
O mestiço bufa.
— Por Deus, você realmente acha que é tão fácil? Você acha que tudo cai na minha mão só porque eu quero? Que eu fiquei naquele maldito placar que você não consegue esquecer por ser… por ter esses poderes? Cresce, Quentin! - Wade grita. - Eu precisei dar o meu sangue pra ficar naquele lugar porque eu não tinha mais nada! Nada! - O loiro respira fundo, tentando se controlar. - Enquanto você tinha os Parkers para te ajudar, eu não tinha ninguém.
— E de quem é a culpa? - O anjo não se abala e sorri irônico.
— Por Deus, você é impossível. - O loiro dá uma volta no covil, as mãos passando rapidamente pelo cabelo sujo de sangue e bagunçado. - Como Peter consegue conviver com alguém como você?
O anjo o encara sem emoção, como se pensasse o mesmo, como se soubesse o quão difícil era de lidar e ainda assim não soubesse porque Peter o aturava esse tempo inteiro e porque ele o protegia. Ele se lembra da forma defensiva do irmão na porta do laboratório. Estava claro para si agora, Peter não só estava se envolvendo em algo perigoso por curiosidade, ele não era só mais um Parker envolvido com o encanto dos Winstons. Ele estava apaixonado pelo demônio.
“Ele nos tem na palma da mão, não é Peter?” Quentin pensa enquanto fecha os olhos e descansa a cabeça deformada em um tronco. Wade e Ellie sussurram baixo esperando uma reação do anjo. Por fim, ele suspira.
— Você sabe qual é a pior parte de sempre ficar em segundo lugar? Não é a frustração em si, mas é que em segundo lugar, seus olhos sempre estão voltados para o primeiro e ele nunca está olhando para a gente. - O agente fixa seu olhar em Wade. - O primeiro lugar sempre está comemorando mais uma vitória, mais um dia, então ele não se preocupa em olhar a sua volta, mas o segundo lugar olha. Eu sempre era aquele que ficava observando, não importava a ocasião, acho que por isso sou um bom espião também. - Ele dá de ombros e aponta para o mestiço. - Ele gosta de você, gosta tanto que está cometendo erros bobos pelo caminho e eu tenho a ideia, não, eu tenho certeza de que ele vai fazer alguma besteira para te tirar dessa. Acertei?
Wade fica em silêncio. O que podia responder? Ele sabia de quem Quentin estava falando e podia mesmo refutar? Ele estava fazendo o mesmo o tempo todo só para proteger Peter.
— Ok, você pode não concordar, mas eu sei que você não vai querer o sangue dele em suas mãos. - O anjo respira fundo e se endireita da melhor forma que pode. - Então, demônio, se vamos fazer um trato, é só por causa dele, me ouviu? Mesmo que eu não te suporte e você me acha um empecilho, ambos queremos que essa guerra não se prolongue a ponto de chegar nele. Correto?
— Sim. - Wade o observa.
O anjo sorri e tosse, logo em seguida, o sangue ainda preso em sua garganta pela energia demoníaca.
— Então, eu prometo te ajudar a conseguir comprar quanto tempo der para você aprender a se controlar e então, no minuto em que você conseguir, você entra de livre e espontânea vontade naquele campo e vai direito para o coração daquele filha da puta, me entendeu? - O espião encara o rosto do mestiço e se sente abastecido de certeza pelo fogo flamejante que lambe as íris azuis de Wade. Ele ri de medo e excitação. - Você realmente o quer morto. Isso vai ser muito interessante.
Wade não faz mais do que respirar na presença de Quentin, mas o anjo sente toda a pressão do ar mudar diante o pensamento do loiro na morte do anti-cristo. Ele tinha ganhado um aliado poderoso.
O anjo estende a mão, um dos dedos pendendo esquisito por estar quebrado.
— Um trato então?
— Espera. - Ellie intervém desconfiada. - Como eu sei que você não está só nos enrolando e tentando sair daqui e ir direto para os seus superiores nos delatar?
— Você não sabe. Mas porque eu faria isso? Se o Wade concordar, eu estou acabando com o sofrimento de todo mundo adiantado. E bem, se ele morrer, não é exatamente meu maior problema é? - O anjo zomba, mas seu corpo fica frio com o pensamento de tudo aquilo dar errado. - Além do mais, promessas de sangue nunca se quebram.
Wade olha para Ellie, ele podia também ser um anjo, mas era ela quem entendia de tudo isso. Ela assente para ele, Quentin não poderia fugir dos termos do tratado de sangue, nem mesmo se quisesse.
Wade deixa uma das garras de energia demoníaca se soltarem, e quando está próximo a cortar sua palma, Ellie o para.
— Só anjos podem fazer uma promessa de sangue. - Ela explica.
— Oh. - Wade a olha e por um segundo, a palavra mestiço fica presa em sua garganta, ele ainda não está pronto para contar toda a verdade. Ele nem mesmo conhece toda a verdade ainda. - Não existe outra forma de-
— Eu faço. - Ellie se dispõe e não deixa Wade argumentar. - Se ele quebrar a promessa com um anjo, ele vai ser punido. Se tentássemos com o sangue de um demônio, ele poderia burlar as regras.
Wade morde o lábio, aquilo era frustrante.
— Além do mais, - A garota encara o anjo e se agacha. - Eu sei exatamente o que desejar caso ele quebre essa promessa.
Quentin sustenta o olhar da moça e não se deixando intimidar, mas entende o recado, uma chuva de fogo angelical seria só o começo do sofrimento dele se tentasse traí-los.
A palma de Ellie é cortada, o sangue flutua entre os elos e se liga ao sangue de Quentin. Há um brilho e então uma marca brilha em seus pulsos conectados e desaparece. Wade observa tudo com fascínio. O que será que poderia acontecer se ele tentasse uma dessas?
Quando o brilho os deixa em parcial escuridão novamente, Quentin pigarreia.
— Quem vai ser o bonzinho a me soltar agora?
Os jovens se olham e desejam poder não só mantê-lo preso, mas quem sabe amordaçá-lo. Aquela parceria era a única resposta para a segurança de Wade, então teriam que suportar a presença de Quentin por mais um tempo.
“Um pesadelo.” Wade pensa e Steve aparece, atravessando a passagem do covil com um pen-drive.
— Aqui está. - O militarista entrega a documentação a Ellie que solta o anjo preso. - Isso é um sinal de aceitação?
— Fizemos um pacto. - Ellie explica brevemente. - Ele não vai ser nem louco de tentar sair dessa.
Quentin rola os olhos da forma que pode e desdenha.
— Agora quem vai me levar ao curandei-
Não podendo se movimentar direito, é fácil para Steve enfiar seu sangue goela abaixo na boca de Quentin. Ele tosse e tenta revidar, mas seu corpo está muito danificado para sequer se afastar.
— O que você fez com ele? - Wade questiona, preocupado.
— Não precisamos de um curandeiro anjo quando se tem sangue de vampiro a seu dispor. - O soldado abre um leve sorriso.
— Isso não é venenoso? - Wade cerra os olhos.
— No passado, sim, mas o veneno foi erradicado da linhagem dos vampiros a muitos anos atrás. - O capitão informa. - Além do mais, ele vai se curar tão rápido que mal vão notar que estava à beira da morte.
— Talvez você possa dar um pouco de seu sangue a Wade, só para precaução. - Ellie analisa. - Ele poderia se curar se chegasse a ficar muito machucado em batalha.
— Não creio que seja necessário. - O capitão se apressa em esclarecer diante do olhar torto da moça. - Recebi uma ligação dos meu superiores enquanto estava fora, minhas férias estão oficialmente suspensas. Até mesmo um capitão instável como eu está sendo trazido de volta à guerra, eles vão precisar de todas as mãos a obra. E, tenho informações seguras para garantir que quando você for à guerra, filho, estará lutando ao meu lado.
Wade respira fundo, não sabendo se aquilo devia aliviá-lo ou só torná-lo mais tenso.
Steve o queria na guerra como símbolo, como a faísca de uma revolução, mas Wade não conseguia sequer pensar em inspirar pessoas a mudar no momento. Ele queria sair vivo e talvez mais do que isso, ele queria o anti-cristo morto e sua cabeça empalada em uma estaca em cima do campo em que seu melhor amigo morreu.
Ele devia a morte do anti-cristo a Dopinder e garantiria a segurança de Peter e seus amigos junto a isso.
Wade queria morte e vingança e, quando conseguisse isso, ia descansar ao lado de seu amado, ao qual ele já imaginava com perfeição o que estaria fazendo durante esse tempo:
Havia melhor simbolo de revolução do que o rosto de um anjo sendo integralmente apoiado por um meio-demônio? Não e tudo o que faltava agora era perguntar.
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