CAPÍTULO II:
"Robin Buckley, você é uma fofoqueira."
— disse Steve Harrington, prestes a contar as últimas.
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— Me conta TUDO e me conta AGORA! — Robin apertou o braço de Steve com tanta força que cinco listras vermelhas, dos dedos da menina, marcariam ele pelo resto do dia. Não seriam as últimas marcas que ele teria.
— Primeiramente, eu já tinha uma noção da sua óbvia não-heterossexualidade, mas porquê não me contou?!
— É o que eu estava tentando fazer mais cedo! — Steve bufou, cruzando os braços. Encarou o relógio, faltava pouco tempo para fechar a locadora. — Olha, vamos tomar uns milkshakes e falar sobre tudo, okay?
— Se seu namorado não ficar com inveja...
— ELE NÃO É MEU...
Robin deu uns tapinhas nas costas do mais alto, seguindo na direção da sala dos fundos para trocar a roupa e pegar as chaves para trancar tudo. Steve suspirou, irritadiço. Ela ia ser insuportável com isso.
••••
Por mais que descobrir a existência de uma dimensão paralela e escândalos do governo fosse algo que chocasse a população de qualquer cidade pequena, até mesmo Hawkins precisava se manter. Ou manter a aparência de que iria se manter.
Para a sorte da dupla de amigos, as lanchonetes pela cidade só ficaram mais dispostas a manter as portas abertas, já que durante a crise de Vecna, era abrigo para muitas pessoas, e pessoas ainda precisavam comer.
Lembrar disso dava calafrios em Steve, que ficou sem os pais. Até mesmo durante aqueles momentos. Eles simplesmente não voltaram, e nem voltariam para a cidade. Deviam estar viajando, pelo último cartão enviado a ele. Já não importava mais. Eles bancavam as despesas da casa, por culpa ou pena, e o deixavam em paz. E ele tinha uma família melhor.
— Munson. Você. Fofoca. Agora. — Robin cochichou, batendo palminhas, depois que uma garçonete deixou dois milkshakes e umas fritas na mesa. — E não esconda nada!
— Okay, okay! — riu Steve, encarando ao redor, como se quisesse ter certeza de que não seria escutado. — Bem, a gente já tinha meio que começado a se ver com mais frequência por causa do Henderson, saca?
— Aquele pequeno cupido gorduchinho. — Robin pôs a mão no coração, emocionada. — Eu nunca vou dizer isso na cara dele, mas Dustin está se tornando meu favorito. Bem, depois da Max.
— Ele é incrível. — Steve sorriu, mastigando um punhado de batatas. — mas, ah, continuando. Lá no Mundo Invertido, a gente só foi, sabe, se aproximando mais. Ele ficava me dando umas secadas com os olhos, eu fingia que não entendia...
— De burro você não tem muita coisa, né garotão? — Robin riu, lembrando da careta que fez quando Munson chamou seu amigo daquele jeito pela primeira vez. Heh, tinha sido hilário. E um flerte tão descarado. — Oh, espera! Mas ele ficou em cima de você até quando a gente estava no barco com a Wheeler!
— É. Dia desses ele me disse que tinha ficado com ciúmes por ela estar me encarando enquanto ele estava me encarando....
— Tá, tá. E aí, beleza, vocês ficaram boiolas quando a gente foi pro inferno, literalmente. — Robin resumiu, como se anotasse mentalmente pra si própria. — Meu Deus. E aí?
— Bem, depois daquela merda de Vecna e tal, o Dustin ficava me pedindo pra levar ele naquela coisa estranha de RPG e Hellfire, enfim. — revirou os olhos, entediado. — Eddie e eu trocamos números de telefone, fomos nos falando e um dia ele foi lá em casa junto com as crianças.
— Junto com as crianças. Hummmm. — Robin riu, movendo a sobrancelha. — Não sei se acho mais engraçado o fato de você chamar aqueles marmanjos de crianças, ou o fato de que você e ele parecem pais divorciados do Dustin e daquela galerinha.
— Aí, Robin? Cala a boca.
— Desculpa, meu rei. Continua, vai! E aí?
Steve foi se aproximando e inclinou para perto dela.
— A gente deixou o pessoal jogando na sala por um tempo. Dei a desculpa de que a gente precisava ir pegar uns lanches que eu deixava guardado no andar de cima...
— Que desculpa burra. — interrompeu a Buckley.
— Funcionou direitinho. Provavelmente nem se importaram. Enfim, fui até meu quarto, mostrar a ele que tinha uma fita com as músicas que ele curtia, sabe?
— Sério? Você, escutando heavy metal e rock? Caralho, você é realmente uma vadia, Harrington. Tô com vergonha por você.
— É, bem, não posso dizer que me arrependo. Ele me beijou logo depois. Eu não lembro direito, ele deve ter feito uma piadinha ou sei lá. — Steve se afastou, voltando a tomar o resto do milkshake em silêncio. Robin parecia satisfeita, mas também podia ser pelo lanche, ele não sabia dizer. — E foi isso, a gente tá se divertindo.
— ...Então cê é gay?
— Eu ainda curto umas meninas, sabe, mas é diferente. Antes eu ficava me vidrando em qualquer uma que passasse. Só que com ele é totalmente diferente. Gostar do Eddie me fez perceber que eu não estava completo, entende? É idiota de explicar... Mas, ah. — Steve coçou a garganta. — Bissexualidade existe.
— Alô, menina lésbica aqui? — Robin franziu o cenho, apontando para si. Steve riu, assentindo. — Steve Harrington, bissexual. Deus, eu fico feliz por ter te contagiado com a praga gay.
— Eca. A única praga gay que me afeta vinda de você é a nossa convivência. — Steve debochou, fazendo a Buckley lhe mostrar o dedo do meio. — E aí, vai fazer o que agora? Amanhã, graças a Deus, não temos que trabalhar.
— Posso ficar na sua casa de novo? — Robin pagou pelas fritas, e ele pelos milkshakes.
Steve assentiu, e em um confortável silêncio, eles saíram da lanchonete.
Ele nunca perguntou o que tinha acontecido para ela estar aumentando a frequência de dormidas na casa dele. Suspeitava que, depois de toda aquela merda de Mundo Invertido, os pais de Robin tivessem descoberto que ela é lésbica. Ela costumava ir até a antiga casa, pegar algumas coisas, e ir até a casa de Steve.
Ele já estava a abrigando a algumas semanas, e não o incomodava mesmo.
Robin era a irmã que ele nunca teve, a companhia que sempre quis e não sabia. Se os pais dela eram pedaços de merda, então foda-se, mais uma coisa que tinham em comum.
— Sabe que não precisa pedir para ficar lá em casa, né? Cê já sabe a chave extra no esconderijo secreto e tem o teu quarto. — disse ele, dirigindo sem pressa, tendo em vista as ruas vazias.
Robin apertou no botão do rádio, e o silêncio foi preenchido por I Want to Break Free, da Queen.
— Ele é bi, sabia? O Mercury. Super gay.
— Bacana. — Steve quase sorriu, o canto da boca esticando levemente.
— E valeu, Steve, de verdade. Por me acolher. Tem sido minha salvação.
— Você é praticamente minha irmã, Buckley. Decidi isso hoje? Sim, mas foda-se, você é. Quer dizer, e meus pais nunca vão voltar, então é legal ter uma companhia. — Steve piscou os olhos, focando na estrada.
Talvez fosse bom falar o que sentia, e por quem sentia. Mesmo que isso fizesse uma parte sua achar que ele era uma menininha, e outra mandar a primeira se danar e dizer e daí se eu for?
E embora não visse, Steve tinha uma boa noção do rosto da amiga pela periférica para saber que ela estava emocionada. Robin fungou, limpando o rosto e encarando a lua cheia pelo vidro esfumaçado.
— Robin, sabe o que eu tava pensando?
— Eu vou querer saber? — perguntou, sonolenta.
— Lembra quando eu disse que gostava de peitinhos?
— Ai, puta merda, de novo não...! — ela grunhiu, lembrando do quão insuportável (e secretamente adorável) foi todo o monólogo de suporte lésbico do Harrington.
— Não, não. Pensa comigo. Eu ainda gosto de peitinhos, só que eu também gosto de, adivinha? — Steve a encarou, risonho.
— Eu não quero adivinhar. Minha cabeça já tá associando isso ao Munson, e se eu pensar nele pelado, eu realmente prefiria morrer.
— Não seria um jeito ruim de morrer... — murmurou.
— STEVEN, eu vou te bater!
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