As pessoas julgam umas as outras de loucas, quando estão presenciando alguma situação que não esteja totalmente de acordo com o seu cotidiano. Atualmente, não sei o que os demais podem estar pensando de mim, na verdade, talvez até já chegaram à conclusão que a Noods aqui está com um parafuso a menos. Um não, na verdade, uns quantos. Essa tempestade que não nos permite nem, arredar o pé de casa, têm me feito atrocidades no cérebro. É a única explicação que eu encontro.
Pra começar, eu nem tinha certeza do que estava sentindo pelo 2D e de repente, lá estava eu no quarto dele, o encarando, talvez dando uma de Murdoc babão pra cima do mesmo, porque cá entre nós, ele tava muito sexy recostado na parede. E enfim, eu apenas o beijei pra testar minhas emoções, sem sequer saber se ele concordava com isso ou não. Sei lá. Eu tô me sentindo muito idiota depois daquilo. Tudo o que falei. Credo. Vontade de sair correndo, mas não dá. A única parte boa que dá pra aproveitar dessa situação toda, é que sim, a caverna escura, antes titulada como ‘meu coração’ ganhou uma nova chama.
Isso é bom? Não sei. Talvez sim. No entanto, as coisas só mudaram pra pior quando veio aquele imbecil do Murdoc pra cima de mim. Eu não faço ideia do que ele tem pensado. Se também atingiu o nível máximo de loucura por causa da chuva ou o que. Todo fresco querendo ficar se esfregando em mim a qualquer custo. Ele realmente não me conhece e confesso que fui bem descontrolada em relação à minha auto resposta, pra infelicidade dele. O mesmo nem deu bola, porque tenho certeza que me agradeceu mentalmente por ter feito 2D se juntar ao show na sala.
Fiquei bem empolgada de ver o Del, talvez ele consiga me pagar, finalmente, mas a controversa da história é que Russ não tá nada bem. Fica agindo como se fosse um ‘Walking Dead’ e todo estranho com as coisas. Isso deve mexer com todas as lembranças dele. De qualquer forma, o motivo que ocasionou o aparecimento do rapper, é desconhecido, eu julgo a tempestade como principal culpada, novamente. Apesar disso, tocamos super bem. Percebi que estávamos sendo gravados. Não gostei nenhum pouco, me senti incomodada. Logo após, sentamos todos no sofá a ouvir as ideias do Murdoc para o novo álbum.
Sendo bem sincera, eu gostei delas. Só que existem alguns detalhes que ele fez questão de dizer que são elementos surpresa e por causa disso, não revelou nenhum pra gente. Em seguida dessa conversa paranoica, 2D se retira. Ele parecia conturbado com as coisas que ouvira. Decidi averiguar o que estava acontecendo. Vai que era mais um indo a loucura. No meu ver, a culpada ainda é a mesma.
- 2D, tá tudo bem? – falo enquanto o sigo. Era pra parecer intrusiva mesmo, não queria que ele se assustasse com a minha presença.
- C-claro! – diz todo trêmulo pegando um punhado de remédios.
- Claro que não, né? – impeço-o de colocar tudo aquilo na boca.
- Noodle, agora não é o momento. Por favor, me deixa sozinho. Eu tenho que pensar... – insiste com as duas mãos na cabeça.
- É o momento sim. Eu não vou sair daqui até saber o que houve?! – bati o pé no mesmo lugar que estava, ao mesmo tempo que peguei todos os frascos de pílulas que eu via na frente e os guardei comigo.
- ... – ele se cala. Logo vejo seu rosto se demarcar com as lágrimas escorrendo. Cheguei bem perto dele e sequei-as com a minha mão. Num súbito suspiro ele me abraça muito forte. Nem sabia que esse esquelético tinha tanta força assim.
- Pode contar comigo. Sempre – digo com voz ofegante, estava apertado mesmo.
- Isso tudo me reporta ao álbum anterior – ele fala já me soltando e me olhando muito entristecido.
- Plastic Beach? Mas por quê?
- Sim, começou tudo bem simples, como agora. As ideias dele pareciam inofensivas. Quando me dou por conta, estava preso num quarto submerso, vigiado por uma você robotizada e uma baleia – torna a esconder o rosto com as mãos.
- Se acalma. Aquele caos não vai voltar mais – toco em suas mãos, abaixando-as, me permitindo ver suas feições.
- Quem me garante que não?! – fala seriamente, preocupado e ainda lacrimejando.
- Eu te garanto! Da outra vez, conseguiram se livrar de mim e eu também tive que lidar com vários carmas, mas agora, tô aqui. Pra ficarmos unidos – falei sorrindo amarelo. A tentativa frustrada de reconfortá-lo parecia tão desesperadora que eu mesma não pude suportar, as memórias vieram à tona, num flashback horrível.
- Eu sei, mas ninguém te torturou.
- Na verdade 2D, você não sabe nem da metade da história. Eu voltei bem mais amadurecida quando nos reencontramos, porque tive de ver coisas que não consigo apagar mais, fazer coisas que eu não queria, totalmente fora da minha vontade, sem qualquer sentimento ou emoção. – levanto da cama e fico de costas pra ele, já estava cedendo ao choro e não queria demonstrar isso – Se hoje eu sou assim, é porque desde El Mañana, não consigo mais voltar a ser o que era. A menininha sorridente, que amava todos ao seu redor, que via o bem até onde não existia, morreu com aquela ilha flutuante. Eu nunca explicitei nada do que ocorreu pra ninguém, porque vocês não têm de preocupar com isso ou sequer imaginar essas situações. Não são merecedores de saber isso. Nenhum de vocês... Desculpe. – abro a porta pra sair do cômodo, mas sinto ele me segurar pelo braço.
- Teríamos dado outro jeito se estivéssemos juntos. – esclarece limpando as minhas lágrimas.
- Agora estamos e vamos fazer do nosso jeito. – o abraço.
Eu não queria que ele soubesse disso. Nem ninguém. O que passei ou tive de passar pra voltar era um problema meu. O único porém era que tudo isso ficava voltando à minha mente. Inclusive aquele sonho que eu tive, também tinham partes de situações que eu tive de vivenciar. Pra sobreviver. Aquilo tudo era muito injusto, ainda mais pra mim, que na época, não passava de uma criança. É uma grande tormenta. 2D acha que sofreu bastante, nas mãos de Murdoc e Cyborg, sem revidar pra não piorar, só que na verdade, eu fui na mão de vários. Uns eu revidei, mas a maioria não. Ficar pensando nisso ainda me deixa pior. Minha sanidade que resta vai a zero e eu fico descontrolada, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Nem sempre ser forte ajuda. A melhor coisa é chorar nos braços de quem nos entende, ou que pelo menos, seja louco na mesma proporção.
E talvez, dessa vez, as coisas sejam diferentes.
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