Miyeon
Bebi um pouco do café e suspirei. Estava acabada. Meus olhos ardiam, meu corpo doía e meus sentimentos pela Minnie me causavam o maior dos desconfortos. Aproximei a xicara da boca mais uma vez, porém Soyeon me impediu cuidadosamente. Chegara a esquecer que estava ali. Minha mente estava presa a um loop da Minnie terminando comigo.
— Chega de tomar tanto café. — Disse Soyeon — Me explique o que houve.
Com os cotovelos no balcão, Soyeon me encarava de forma tranquila. Não me sentia julgada por ela, e nem mesmo desprezada. Ela sabia do que ocorrera, era por isso que viera tão cedo para cá, e mesmo assim continuava imparcial, como um juiz aguardando que a defesa e a acusação falassem. O que me perturbava era a possibilidade de ser julgada no fim do relato.
— Você está com um rostinho tão triste. — Disse Soyeon.
Eu imaginava o desastre em que me encontrava. Quando Soyeon chegou havia acabado de acordar, então eu facilmente imaginava meu rosto amassado, os cabelos completamente bagunçados e sem nada para colorir os lábios.
— Vai ficar calada mesmo? — Soyeon puxou a xícara para si e deu um gole no café, fazendo careta. — Puta merda isso está amargo de mais!
— Não gostou? — Perguntei, e Soyeon apenas deixou a bebida de lado.
— Por isso você está nesta bad vibe. — Soyeon disse.— Sua vida já está muito amarga. Um café ruim desses só vai piorar sua situação!
Encarei a cafeteira por alguns segundos e lembrei do momento exato que tudo ocorreu. Foi aí que percebi, nada teria acontecido se não fosse a maldita cafeteira. O entregador interrompeu justamente no momento em que nós beijávamos... Se não fosse por isso, iriamos aproveitar o momento, Minnie não veria mensagem alguma e eu não estaria afogando as magoas na cafeína agora. Segurei a cafeteira e impulsivamente a puxei. Iria arremessar o mais longe possível, porém Soyeon me parou com tamanha agilidade que até me assustei.
— Calma. — Ela disse. — A cafeteira não tem culpa alguma. — soltou uma leve risada.
— Na verdade eu acho que ela tem sim.
— Quebrá-la não vai trazer a Minnie de volta. — Soyeon disse.
Tinha razão. Além do mais, foi uma compra cara. Seria frustrante jogar tanto dinheiro fora. Me recompus e então estufei o peito. Eu iria encarar toda a situação de forma valente. Não precisava afogar as magoas em café. Eu conseguiria me explicar tudo para a Minnie, e tudo voltaria a ficar bem.
— Agora me conta como tudo aconteceu. — Soyeon deu mais um gole no café e fez careta. — Preciso te ensinar a fazer café.
— Eu estava ajudando um colega. — Expliquei. — Ela estava namorando recentemente com a pessoa que considerava o amor da sua vida.
— Entendo.
— Bem. Como qualquer pessoa ela estava bem insegura, ainda mais por que a sua namorada tinha uma fama de... — Parei imediatamente. Como descrever?
— Pegar geral? — Soyeon sugeriu.
— Sim, exatamente isso! Como eu já havia me relacionado com sua namorada e sou boa em flerte, ela acabou me pedindo ajuda. — Soyeon parecia interessada. Bebeu mais um pouco do café e fez outra careta. Apenas prossegui. — O plano era dar em cima... Como um teste de fidelidade. Já haviam indícios de que a garota era sim infiel, nada concreto. Os flertes seguiam uma linha irônica, então era difícil saber se ela falava sério ou se apena brincava comigo.
— E então ela pediu para você continuar? — Soyeon soltou uma curta risada. Me perguntava o que era tão engraçado. — Que café horrível. — Disse novamente depois de degustar da bebida.
— Sim... E eu fui mais direta. — Disse, ficando nervosa com o olhar neutro de Soyeon. Me julgava? Não tinha como eu saber. Ela era imparcial o bastante para nem mesmo mostrar surpresa. — Chegou ao ponto dela me enviar nudes... Porém eu apenas os enviava para sua namorada desconfiada, apagava logo em seguida, os via o mínimo possível.
— E depois, o que rolou? — Perguntou a mais nova.
— Quando coletou as provas, a garota confrontou a adúltera. Pelo incrível que pareça, ela a perdoou. A garota que me enviou as fotos acabou me pedindo desculpas, e decidimos ambas apagar os números umas das outras. Tudo acabou por aí.
Soyeon deu outro gole no café. Dessa vez não disse nada. Sabia que tinha mais história, e apenas aguardava que eu contasse tudo. Engoli o seco e dei continuidade.
— Mas então ela me enviou mais mensagens de repente... Justamente quando a Minnie estava com o celular em mãos. — Senti minha garganta fechar. — Ela pensou o obvio. Pensou que estivesse a traindo. Vai ver eu realmente estivesse... De qualquer forma... Já passou.
— Você se fodeu. — Disse Soyeon. — Foi burra e se ferrou. Mas tudo bem. Você é boa quando se trata de fazer as pessoas te beijarem. A Minnie te ama, vai ser fácil.
— Não estou muito confiante. — Baixei a cabeça na bancada.
— Eu estou... Confio no seu potencial. — Disse Soyeon. — Agora vamos... Vou te ensinar a fazer café... Por que este aqui... Está horrível!
Levantei a cabeça e sorri.
— Como está o seu namoro? — Perguntei.
— Namoro? — Perguntou, como se houvesse esquecido. — Ah sim, claro. Estou ignorando a Yuqi.
— Que? Ela te faz aquela linda declaração e você a ignora? — Perguntei revoltada.
— Sim... Meio que eu estou confusa. — Soyeon disse. — Pensei em terminar com ela 14 vezes só esta manhã. — Soyeon disse. — Porém seria muito cruel. Por isso estou aproveitando meu ultimo dia sem a Yuqi. A partir de agora minha vida vai estar completamente diferente.
— A Yuqi é fofa. — Falei, e Soyeon sorriu.
— É mesmo. — Concordou.
— Não sente ciúmes? — Indaguei um tanto surpresa.
— Não, sou evoluída de mais para sentir algo tão bobo.
— É mesmo? Vamos ver daqui a uns meses. — Sorri.
— Vamos fazer café, isto é mais importante agora.— Soyeon se levantou e começou a agir.
Respirei fundo. Toquei a campainha da casa de Minnie e esperei que a mesma viesse até a porta. O sol já estava quase se pondo. Depois que Soyeon me ensinou a fazer café, acabei procrastinando esta obrigação. Eu estava com medo. A porta se abriu, e eu poderia até imaginar que não fosse Minnie que viesse até a porta. Poderia muito bem ter saído, ou ficado na cama o dia inteiro e não vir abrir para uma visita repentina. Talvez tivesse até pedido para que os senhores Park — nome de seus pais hospedeiros — não me deixasse entrar. Porém... Encontrei algo diferente. Uma garota de cabelos negros. Sua expressão alegre ficou rapidamente séria. Em questão de segundos, fechou a porta em minha cara sem nem ouvir o que eu tinha para falar.
— Mas que... — Resmunguei.
Apertei a campainha mais uma vez. Torcia para que a piranha fosse alguma parente, e não alguma amiga que eu jamais havia ouvido falar... Exato. Não era possível ser apenas uma amiga. Eu conhecia as amigas próximas da Minnie, e aquela não era uma delas. Apertei a campainha mais uma vez. Estava impaciente e nervosa. Insisti por vários minutos até que finalmente a porta foi aberta mais uma vez.
— Quero falar com a Minnie. — Exigi.
— Ela não quer falar com você. — Disse em tom firme.
— Quero ouvir isso da boca dela. — Cruzei os braços.
— A boca dela está bem ocupada... Pode ter certeza disso.
Aquilo foi como um tiro. Um tiro de bazuca.
— O que disse? — Cerrei os punhos com tamanha força que senti as unhas cravando minha pele.
— Que aquela boquinha linda, está ocupada no momento. — Ela disse em tom sério. — Agora Adeus.
Antes que eu esmurrasse aquele rosto sonso, ela fechou a porta. O resultado foi um soco na inocente porta. Meu punho doeu, mas eu fervia em raiva. Não ligava, apenas queria a chance perfeita de matar aquela garota. Ela abriu a porta novamente. Seu olhar esboçava surpresa.
— Ta tudo bem? — Perguntou.
Empurrei a porta e jovem caiu para trás. Entrei dentro da casa e fechei a porta. Eu não sabia se havia algum responsável dentro de casa, mas eu não ligava. O que eu de fato queria era bater nela. Como pôde? Aproveitar-se da Minnie em um momento que a mesma está tão vulnerável? Subi em cima da garota que parecia horrorizada e agarrei o colarinho de sua camiseta.
— Eu sou apenas amiga da Minnie! Não rola nada entre nós, eu apenas tentei ser uma bad girl para te intimidar e fazer você ir embora. — Dizia assustada com as mãos enfrente ao rosto.
Parecia dizer a verdade, mas eu ainda queria a bater. Iria a bater. Mas...
— Parem com isso. — Disse Minnie interrompendo o soco. — Sorn venha. Miyeon por gentileza vá para casa.
Me levantei e larguei a Sorn. Minnie não olhou nos meus olhos em nenhum momento. Tinha um olhar sério, sem muita simpatia, o que me deixou hesitante.
— Minnie... É, escuta. — Falei. A mais velha virou de costas. — Acontece que...
— Vá para casa. — Repetiu. — Não quero conversar com você.
A tal da Sorn que a esta altura já estava bem distante de mim abraçou a Minnie. Era para isso que estava ali? Era o consolo. A única pessoa que eu odiava mais que a Sorn neste exato momento, era eu mesma.
— É melhor... — Sorn dizia me olhando, mas algo a fez parar. Talvez o medo. Ela então respirou fundo e se afastou da Minnie. — Talvez seja melhor que respeite a decisão de Minnie.
Era praticamente outra garota. Não era mais aquela garota ousada, mas sim apenas uma boa amiga que estava tentando reparar os danos que fiz. Era uma causa nobre, mas eu ainda a odiava é claro.
— Minnie por favor... Eu posso explicar — Tentei dizer, mas Minnie com certeza não estava disposta a me ouvir.
— Apenas saia. — Soou firme.
— Tudo bem.
Quando saí e finalmente voltei para casa, desabei no sofá. Por pouco não chorei, por pouco não gritei em agonia. Minnie jamais iria me ouvir, e isto significava que jamais iria conseguir pedir desculpas. Por que tinha de ser tudo tão difícil? A campainha tocou, e eu pacientemente fui até a porta. Não estava nem um pouco feliz com uma possível visita, porém tudo bem. Pedro sorriu quando me viu.
— Ótimo. — Ele resmungou. — Eu tenho o plano perfeito para você pedir desculpas a Minnie.
— Ela não quer me ouvir. — Falei entristecida.
— Sim, mas faremos ela te ouvir. — Disse Pedro. — Está pronta para usar a linda voz?
Ergui uma das sobrancelhas. O que ele estava planejando? O ofereci uma xicara de café e então nos sentamos no sofá para discutir a tal ideia.
— Somos um grupo certo?.— Ele perguntou. Fiz que sim e então o mais novo sorriu. — Somos o (G) I-DLE. E precisamos de musicas.
Só estava enrolando. Bati o pé esperando que ele fosse direto pro assunto, mas ele parecia muito calmo para realmente se apressar. Aparentemente o ritmo daquela conversa seria mesmo lenta.
— No próximo ensaio, vamos apresentar uma musica. — Disse Pedro. — Porém será basicamente o seu pedido de desculpas.
— Não gostei da ideia. — Cruzei os braços. — Dessa forma todos vão ouvir meu pedido de desculpas.
Ele bufou. Deu um gole no café e o deixou sobre a mesa de centro.
— Dê seu jeito. — Falou. — A ideia eu já dei. E não precisa parecer um pedido de desculpa.
— Que saco... — Resmunguei.
— Pois é... Você precisará consertar suas cagadas. — Disse Pedro.
— Obrigada mesmo assim. — Sorri para o jovem.
Pedro se foi e agradeceu pelo café. O que me restou a fazer foi jogar tempo fora nas redes sociais. Minnie não havia me bloqueado no Instagram, porém não me respondia de qualquer forma. O que me restava era ver seus storyes e fotos antigas. Eu pensava que isso poderia matar a saudade, porém apenas me entristecera, e por partes, me deixou com inveja. Ela e Sorn eram próximas de mais. Chegava a ser incomodo toda a proximidade vista em uma mera foto publicada no storye. Me perguntara para mim mesma diversas vezes se Sorn falara a verdade. E se Minnie estivesse afogando as mágoas? Deixei o celular ao lado da cama e soltei um suspiro incomodo. Era de fato, melhor eu dormir e torcer para que a Minnie acordasse curiosa o bastante para ouvir o que eu tinha a dizer.
Soyeon
Quando pude parar de correr e finalmente descansar, foi certamente um alivio. A brisa era boa, e parecia estar tudo perfeito. O sol se pondo, eu tinha suco de maçã gelado e a boa companhia do silêncio. Estava tudo perfeito. Sim, isso mesmo, estava! Alguém sentou ao meu lado e me encarou com tamanha raiva que até senti medo de apanhar.
— Como vai? — Perguntei.
— Como vai? Você é ridícula. — Disse Yuqi cruzando os braços.
— Te fiz algo bebê? — Falei de forma simpática.
— Custava responder minhas mensagens? — Indagou a mais nova.
— Meu celular está com defeito. — Falei, agitando o suco de maçã. — Não consigo digitar.
Aquilo seria o bastante. Espetei a embalagem com a parte afiada do canudo e dei um gole. Era melhor do que eu pensava.
— Mentirosa. Você tweetou a uma hora atrás dizendo que iria correr. — Ela disse. Não era tão boba ao ponto de cair em minha mentira.
— Usei o computador. — Falei.
— Estava escrito “twitter for android.”
Dei mais um gole no meu suco. Yuqi estava me complicando.
— Você é esperta. — Falei encurtando nossa distancia no banco. — Eu gosto de garotas espertas.
— Não parece! Você me ignorou o dia inteiro. — Yuqi disse, encarando meus lábios em seguida.
— É que eu não sabia como agir.
— Conta outra! Aceitou meu pedido por pena? — Perguntou Yuqi. — É o que parece.
Virei seu rosto e lhe dei um selinho demorado. Yuqi corou e deu um breve sorriso.
— É tão fácil mudar seu humor. — A provoquei. Sua expressão fechou, mas antes que pudesse dizer algo, eu fiz meu xeque-mate — Te amo.
— Não consigo ter raiva... — Yuqi suspirou. — Também te amo.
— Desculpa pelo vácuo. É que eu ando nervosa com esse lance de relacionamento...
Yuqi então me beijou na bochecha.
— Te desculpo se dividir o suquinho.
O lindo por do sol que planejei ver sozinha, agora era apenas um detalhe. Eu tinha algo bem mais bonito para ver. Yuqi e eu dividimos o suco, um gole por vez, uma pós a outra. Não era a coisa mais romântica do mundo, mas era divertido — principalmente quando brigávamos por causa de goles demorados.
— Você bebeu mais que eu da ultima vez! — Disse a mais nova.
— Eu posso! Eu comprei. — Falei.
Quando acabou, dividimos carícias. Yuqi passava a mão em meus cabelos enquanto eu descansava em seu ombro. Já eu, passava a mão em seu braço. Me perguntava como Yuqi não se importava com meu suor.
— Suas pernas são bonitas. — Falei descendo minha mão até a coxa da jovem. —Seria legal se você usasse shorts mais vezes.
— Legal é? — Perguntou corada.
— Sim. Legal.
— Acho que... Vou usar mais vezes. — Disse timidamente.
— Seu corpo é bonito, seria legal te ver nua... — Comentei.
— Quê? — Yuqi parou seus movimentos em meu cabelo.
— Ah sei lá... Vai que né...
Yuqi deu risada.
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