Com o tempo eu já estava bastante familiarizada com as corridas, o suficiente para já estar me preparando para começar a competir, mesmo que Kris simplesmente odiasse a ideia. Mas claro, teve um pequeno acordo para que eu pudesse começar, eu iria correr com o carro dele uma vez, se eu conseguisse ganharia o meu.
— Nós vamos correr agora — Kris falou entrando no carro pelo lado do passageiro. — Mas se eu fosse você deixava eu correr nessa.
— Ué por que disso?
— Porque aquela garota ali vai correr pra me matar — apontou para uma garota distante de nós que entrava em um carro preto.
— Kris, o que você fez dessa vez?
— Com ela nada, mas digamos que eu causei um acidente com o namorado dela — falou e então eu passei a prestar atenção no rapaz cadeirante que era ajudado a entrar no carro por outro homem. — Sim, é ele.
— Eu não quero saber qual foi a cagada, eu vou correr.
— Tudo bem, mas qualquer palpite que eu der, você faça o favor de ouvir.
— Não garanto nada disso — falei antes de colocar o cinto. — Mas posso garantir que nós vamos ficar vivos.
Então me direcionei à largada, e dessa vez quem tinha medo era Kris, como na primeira vez que corri com ele.
— Tá com medo?
— Não, eu só acho que vou morrer.
— Se você morrer, pode voltar pra me puxar pro inferno.
— Não vale me copiar.
Ri e tornei a prestar atenção na largada, e assim a luz acendeu eu e a garota largamos ao mesmo tempo, mantendo uma disputa acirrada por vários metros.
— Toma cuidado, ela vai tentar jogar a gente pro muro — Kris alertou-me e eu acelerei para ultrapassá-la. — E cuidado com a traseira.
— Caralho, cala a boca, eu tô vendo!
— Desculpa! Mas tenta despistá-la, sei lá.
— Kris, eu vou te jogar pra fora desse carro — bufei olhando brevemente pelo retrovisor, avistando rapidamente minha oponente se preparando para acertar meu carro em cheio. — Se tem medo fecha o olho!
— O quê?!
Não o respondi, apenas concentrei-me em entrar naquela rua estreita em alta velocidade, me arriscando o suficiente para que a outra garota não conseguisse fazer o mesmo e tivesse de continuar seguindo seu caminho pela rua em que ela me perseguia antes.
— Prontinho — cantarolei reduzindo um pouco mais a velocidade.
— Acho que eu me caguei…
— Não era você que não tinha medo de morrer?
— Você é mais louca que eu! Você tem ideia das chances que tinha de isso dar errado?!
— Relaxa, meu amor, eu aprendi a correr com o melhor.
— O melhor com certeza não era eu porque eu não ensinei ninguém a se matar!
— Kris, se você não parar de chorar eu vou ser obrigada a te largar aqui — falei voltando para a rua onde realmente acontecia a corrida. — Eu peguei um pequeno atalho, espero que não fiquem sabendo que eu ganhei dessa forma.
— Pelo menos você ganhou, né? Ficaria muito decepcionado de morrer sem ganhar.
Eu apenas ri, acelerando pela rua vazia sem nenhum sinal de minha oponente, até que poucas quadras antes do final ela saiu de uma rua bem no momento que eu a cruzava, e aparentemente, pela primeira vez em toda a corrida aquilo não foi proposital, ela apenas estava saindo de um atalho que tinha pego para terminar aquela corrida logo. Ela tentou frear, mas não conseguiu, acertando em cheio o meu lado do carro, e então tudo ficou escuro.
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Eu acordei vagarosamente, meu corpo doía e às luzes incomodavam meus olhos não adaptados, e ao conseguir acostumar-me notei o rapaz no canto do quarto que ao notar que eu havia acordado aproximou-se de mim rapidamente.
— Cadê o Kris? — perguntei imediatamente virando meu rosto em sua direção.
— Ele tá bem, pode ficar tranquila — sorriu calmamente e eu apenas assenti. — Você se lembra o que aconteceu, não é?
— Vagamente… Ah e como está sua namorada? Você devia estar com ela, e…
— A Natsumi tá bem, ela mesma me mandou vir. Sabe, ela ainda não pode levantar e vir aqui pedir desculpas, então eu vim. E sei que você provavelmente vai querer matá-la, até eu ia querer, mas ela fez isso por minha causa e agora eu acho que ela aprendeu.
— Foi por causa do Kris, não foi? — perguntei já sabendo que ele sabia do que se tratava.
— Não o culpo, se ele tentasse frear poderia ser pior pra ele. Faz falta conseguir andar e correr com os outros, mas eu sei que fazer algo com ele não mudaria nada, já a Natsumi é vingativa demais… Ainda bem que não aconteceu nada pior.
— Tudo bem, depois resolvemos isso. Eu só quero saber do Kris…
— O Kris não se machucou, com isso você pode ficar tranquila. Ele trouxe vocês duas para o hospital ontem, estava aqui até meia hora atrás, mas eu o mandei ir comer algo antes que ele também tivesse que ficar de cama — falou rindo levemente. — Só você e a Natsumi se machucaram, mas pelo que me falaram não há nada sério.
— Dean, pode voltar pra Natsumi, eu cuido dela agora — ouvi a voz de Kris assim que a porta foi aberta e então rapaz - que agora tinha um nome - afastou-se seguindo para a porta que agora estava aberta para que ele saísse. — Tá tudo bem com você, meu amor? — perguntou-me ao se aproximar, inclinando-se para dar-me um beijo na testa.
— Sim, só tô com um pouco de dor… E você, tá bem?
— Tô sim, a pancada foi só do seu lado… Eu só me machuquei na hora de te tirar do carro, mas besteira.
— Eu consegui te provar que eu sei correr?
— Mas você só pensa nisso? — fingiu indignação e eu ri. — Olha, só pelo fato de você ter mais coragem que eu e ser um risco para a sociedade… É, acho que dá pra você correr. Mas sem matar os outros! Acho que você aprendeu com o exemplo daquela japonesa descontrolada, não é?
— Ah, mas nem uma batidinha? Só no carro dela?
— Nenhuma batidinha no carro de ninguém.
— É, acho que consigo.
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