O subsidiário do caos e o efeito borboleta.
Assim que deixamos a liteira mágica, o céu começou a dar sinais de luminosidade lentamente, como se não quisesse que uma nova manhã chegasse. As árvores da floresta, em sua maioria, estavam com os galhos desnudos e secos. Não precisava ser um gênio para saber que isso não era um bom sinal. Na época do ano em que estamos, as folhas alaranjadas deveriam estar em abundância, rodopiando no ar junto ao vento ou caindo sobre nós enquanto andávamos. O ar deveria estar impregnado com o odor do outono, no entanto, tudo o que meu nariz conseguia captar era o cheiro da terra molhada e inverno.
Quando a subida até o penhasco tornou-se íngreme, soube que estávamos no final daquela jornada. As dores que sentia na perna estavam se tornando grandes empecilhos e meus passos ficavam mais lentos a cada distância que percorria. Sehun olhou para mim, como havia feito em outras passagens difíceis. Ele comprimia os lábios e apertava o polegar com os outros dedos da mão que estava mais próxima a mim, mas algo sempre o impedia de oferecer ajuda. Talvez por achar que faria papel de bobo na frente do grande amigo, Kyungsoo. Ou talvez por ainda ter as palavras que disse durante nossa viagem, nítidas em sua memória, remoendo-as com desgosto.
— Professor Byun, você está nos atrasando! — O nefilim virou-se para gritar.
— Sabe, sou um bruxo, mas tenho a resistência física de um professor humano. — falei sincero enquanto me escorava em uma árvore para poder sentar ao pé dela. É como se tivesse esquecido de respirar durante a subida e agora estivesse enfrentando as consequências.
— E você, Sehun? Por que não ajuda o Byun? — indagou, com o olhar escarlate a cintilar.
— Pensei que todos nós aqui tivéssemos nossas próprias pernas para andar. — respondeu, sem se dar ao luxo de olhar diretamente para o nefilim.
— Ah, não. Não está me parecendo isso. — Kyungsoo sussurrou, cínico como de costume. — Sabe, eu queria muito que alguém me dissesse o que aconteceu enquanto eu estava dormindo. Pelo que eu me lembro, antes disso vocês discutiam como duas velhas sobre absolutamente tudo, mas agora, passei horas sem sequer escutar uma mísera palavra.
Sehun olhou-o profundamente, e em seguida, veio em minha direção e se agachou, deixando as costas curvadas. Quando entendi o que ele queria que eu fizesse, meus lábios partiram-se em surpresa.
— O que você acha que está fazendo? — perguntei, tentando descobrir se meu coração ainda estava acelerado por causa da caminhada ou por causa dele.
— Precisamos chegar ainda hoje no topo, e você fazendo corpo mole não vai ajudar nisso. — Ele falou rispidamente, sem olhar para nenhum ponto em específico. Algo me dizia que bem lá no fundo, o caçador estava fazendo isso de bom grado, e não como uma obrigação, como ele queria me fazer acreditar. Bem, se o que havia dito para mim na noite passada fosse verdade, temia estar certo. — Não torne as coisas mais difíceis do que elas já são, suba logo.
Coloquei minhas pernas em torno da cintura de Sehun, e agarrei seus ombros com minhas mãos trêmulas de um sentimento que ainda não conhecia. Quando ele levantou, senti uma estranha vontade de deitar meu rosto na curva de seu pescoço, e por conta desse pensamento senti meu rosto corar. Minha sorte era que o caçador estava ainda mais envergonhado que eu, e aquilo o fez subir pelo caminho tão rápido que não tive a oportunidade de olhar a expressão divertida no rosto de Kyungsoo.
As árvores da floresta ficaram para trás quando chegamos ao topo. Havia apenas grama e a imensidão de um céu cinzento a nos rodear. Avistei redemoinhos passarem, tão distantes que não chegariam à sombra de nossas preocupações.
— E agora? — perguntei, descendo das costas do caçador num pulo.
— Há algo de errado. — O nefilim falou mais para ele mesmo do que para nós. — O teleporte deveria ter acontecido quando deixamos as sombras das árvores.
— Mas não aconteceu. — Sehun disse, falsamente impressionado. — E agora estamos aqui, a milhas de distância de qualquer outro portal ou qualquer outro ser vivo. Esse plano, isso digo com toda a certeza, foi a pior coisa que nos acometeu.
— E qual seria seu maravilhoso plano, Sehun? — indaguei, exausto após tanta acidez vinda do caçador. Se ele achava que poderia desprezar quem ele bem entendesse, estava muito enganado. — Porque eu acredito que se não fosse pelo Kyungsoo, não teríamos a mínima ideia de como começar e ainda estaríamos naquela porcaria de Jardim.
— O quê? Agora você o defende? — Riu sarcasticamente. — Inacreditável, Baekhyun. Há não muito mais do que algumas horas você não conseguia confiar em alguém que se beneficia de magia de sangue e, de repente, está defendendo ele. Eu perdi alguma coisa?
Fiquei alguns segundos apenas o encarando, sem entender, de fato, o que ele estava dizendo. É inacreditável que um homem-feito esteja tendo um ataque de ciúmes, ainda mais por alguém que mal conhece, como eu. Foi quase impossível segurar a risada que estava, a todo custo, tentando sair.
— São os meus princípios, Sehun. Não costumo passar a mão sobre a cabeça de uma pessoa que está errada.
— Eu realmente não estou a fim de atrapalhar a discussão do casal. — Kyungsoo falou, calmo, e só então percebi que estava na beira do penhasco, distante de nós. — Mas acho que sei para onde o portal foi.
Me aproximei da beirada. Olhando para baixo consegui vê-lo, trêmulo e disforme, na direção que nos levaria a uma queda mortal caso não conseguíssemos cair dentro do portal. Não mentirei; aquilo me deixou profundamente incomodado. Nunca exibi nenhum medo de altura, no entanto, é no mínimo sábio ter receio sobre algo que nos levaria à morte.
— Não existe outra opção, não é? — perguntei, ainda apreensivo.
— Essa é a ideia do seu querido Kyungsoo, achei que fosse gostar.
— Sinceramente, como você consegue ser tão infantil?
— Ei, vocês dois, chega disso! — O nefilim disse, colocando as mãos em nossos ombros. — Ou eu juro que jogo vocês dois lá embaixo.
Tinha a intenção de retrucar, dizer que, de qualquer jeito, teríamos de pular se quiséssemos chegar até a cidade de sangue e ossos, mas o som suave das asas negras se abrindo me deixou sem palavras. Depois disso, foi tudo rápido demais para que meus olhos acompanhassem. Ele nos puxou e, quando vi, estávamos caindo — ou voando, não sei dizer tamanho o desespero — em alta velocidade, para baixo.
Rolei por um asfalto áspero como uma pedra-pome. A ardência veio imediatamente em meu rosto e nos braços, e erguendo a mão até minha bochecha, não me surpreendi ao senti-la úmida e quente de sangue. O desconforto da queda me desconcentrou, mas não por muito tempo. Ergui metade do torso para mirar o que fosse que havia ao meu redor, a cidade misteriosa que pretendia encontrar.
A primeira coisa que percebi era que nevava, e a segunda, que aquilo não se tratava de neve: eram cinzas. Elas estavam em todo o lugar, e a princípio não soube dizer de onde o vento as trazia. Pilastras, tão grandes quanto as da arquitetura grega, faziam a frente de todos os prédios, que apesar de tentarem esbanjar algo próximo ao luxo e requinte, estavam sujos de manchas vermelhas e marrons.
Sehun estava jogado próximo aos meus pés e resmungava pelos arranhões, mas o que me chamou a atenção, foi o rastro de sangue que havia próximo a ele e que levava até Kyungsoo. Senti meu coração se comprimindo dentro do peito ao entender o que isso significava. Centenas de penas pretas estavam espalhadas pelo chão e o lugar de onde as penas caíram estava sangrando, caindo os pedaços, como se fosse carne apodrecida.
— Kyungsoo! — Me levantei, e ajoelhei próximo a ele, o erguendo como podia. Fiquei assombrado pelas veias secas do rosto e do pescoço terem triplicado de número, e pelos olhos, que antes estavam mais escuros, estarem tão claros. — O que aconteceu com você?
Ele abriu a boca na intenção de me dizer algo, no entanto, seus olhos desviaram dos meus e, assim como ele, olhei ao redor. As ruas desertas de pedra-pome agora estavam cheias de nefilins. O terrível cheiro enferrujado de sangue preencheu o ar, e senti como se fosse desmaiar. Eles, em sua grande maioria, vestiam trajes gregorianos, banhados em sangue e decorados com ossos pequenos, provavelmente de animais. O que realmente me preocupou, foram os poucos — sete, talvez oito — nefilins que estavam mais próximos de nós. Tinham a pele coberta de lascas de sangue seco e trajavam o mesmo pano, todavia, na cor negra. A cabeça deles eram cobertas por capacetes de crânios humanos e, acima destes, folhas de oliveira douradas estavam coladas como um adereço.
— A ordem dos Asas Celestiais. — Kyungsoo sussurrou, aterrorizado.
E, novamente, os acontecimentos passaram diante de meus olhos na velocidade da luz: Kyungsoo me pegou em um braço, e de algum jeito, pegou Sehun no outro e disparou pelas ruas de concreto branco e vermelho. Penas negras se esvoaçavam para todos os lugares e diversos nefilins gritavam para nós, revoltados. As Asas Celestiais estavam em nosso encalço, voando com suas asas douradas e peroladas tão rápido que, se não fosse a força de vontade de nos tirar dali de Kyungsoo, estaríamos acabados.
— Impedimenta!* — bradei para os três nefilins mais próximos, que caíram no chão com as asas paralisadas. Minha adrenalina estava tão alta que nem percebi quando tirei a varinha do bolso do sobretudo, apenas me dei conta quando Sehun olhou para mim, surpreso e com a sombra de um sorrisinho.
Os demais nefilins que estavam atrás desses, passaram a nos perseguir com mais cautela. Kyungsoo desviava com maestria de outros nefilins que tentavam atrapalhar nossa passagem, e mesmo que estivesse sofrendo e com dor, seu desempenho no voo de nossa fuga era esplêndido.
— Confringo!* — Sehun disse, e um clarão saiu de sua varinha em direção a dois nefilins que se aproximavam pela esquerda.
Por um segundo, achei que tínhamos nos livrado dos três Asas Celestiais restantes. A sensação boa me preencheu por poucos segundos, quando estávamos entre uma fileira de prédios estreitos onde Kyungsoo, finalmente, chegou ao seu limite. Caímos junto com ele, e imediatamente virei seu corpo para cima, checando se ainda estava vivo depois de perder tanto sangue.
— Eu vou sobreviver, professor Byun. — Ele sussurrou, sorrindo em seguida. Fez uma careta de dor quando Sehun puxou sua asa esquerda para analisá-la melhor.
— Mas, suas asas…
— Estava condenado desde o momento em que nasci. — confessou. — Um nefilim nasce com a obrigação da escolha. Se escolher a humanidade, estará sentenciado, e se optar pela magia do sangue, condenado.
— Você poderia ter escolhido não vir. — Sehun falou por mim, sôfrego, e à beira das lágrimas.
— Estaria apenas adiando o que aconteceria de qualquer maneira. Entre morrer bêbado de trevas em minha própria casa quando eles viessem me pegar e morrer ajudando Baekhyun a salvar o mundo bruxo, acho que a segunda opção trará mais dignidade ao meu túmulo.
— Não vamos deixar você morrer, Kyungsoo. Tem minha palavra de bruxo, minha palavra de Byun. — falei, deixando cair uma lágrima solitária pelo rosto.
Soube que não estávamos tão seguros quando os homens a minha frente desviaram o olhar para a rua que estava atrás de mim. As sombras de seres de asas enormes estavam no chão, intimidadoras. Se eu olhar para trás, estarei perdido.
Levantei rapidamente, virando-me com a varinha em mãos para observar meus inimigos. Estavam os sete lá, dois com o rosto e parte dos braços queimados e os outros machucados pelas quedas. Ergui a varinha, dando alguns passos para trás calmamente. Sehun e Kyungsoo não se mexiam. Se eu olhar para trás, estarei perdido.
Um lampejo vermelho saiu de minha varinha, mas foi movido para a parede pelo poder de telecinese de um dos nefilins. Mais alguns passos para trás. Se eu olhar para trás, estarei perdido.
A adaga fria no meu pescoço foi o que precisava para saber que estávamos derrotados.
. . .
Vi meus amigos serem acorrentados no chão como se fossem animais, e quando chegou a minha vez, evitei olhar diretamente para o meu carcereiro. Tudo o que eu poderia fazer naquele momento era ficar em silêncio e pensar em algum plano, contudo, ia perdendo as esperanças enquanto mapeava o local com os olhos. A única saída, era pelos portões que havíamos entrado, e ele estava lotado de nefilins. E mesmo que por um milagre conseguíssemos nos soltar das correntes, a ordem das Asas Celestiais estava nos vigiando de perto, com seus olhos lilases presos em nós.
O nome desse lugar é Basílica da Punição. Uma faixa enorme era erguida, com bastante orgulho, com esse nome nas portas de entrada. Por dentro, não existia um mísero centímetro que não havia sido folheado a ouro, até mesmo os assentos onde os demais nefilins assistiriam às audições reluziam. Além de nós, mais três nefilins renegados estavam ali, acorrentados sob a desculpa de serem réus.
— Já era. — falei, quando a Basílica começou a comportar os nefilins que seriam nossos espectadores. — Não consigo pensar em nenhuma maneira de nos tirar daqui. Tiraram nossas varinhas, Kyungsoo desmaiou e tem centenas de anjos de sangue e ossos aqui.
— Nem tudo está perdido. — Sehun falou, se arrastando para perto de mim. — Se você conseguir pegar o diário e fugir daqui, terá cumprido seu objetivo.
—Nunca. — neguei veemente, achando uma afronta essa possibilidade ter passado por sua mente. — Eu nunca abandonaria vocês à própria sorte neste lugar.
— Você não tem escolha. — Ele voltou a dizer, com mais convicção que antes. — Tem que salvar o mundo bruxo, esqueceu? Não pode se dar ao luxo de fracassar por causa de nós.
— Que tipo de bruxo seria eu, Sehun? — perguntei, magoado por ele ter me sugerido algo assim. — Teria merda no lugar de honra por ter sacrificado meus amigos.
— Qualquer um no seu lugar faria o mesmo.
— Você faria? Me abandonaria aqui, com Kyungsoo desacordado, à espera de um julgamento injusto que nos levaria à morte?
Ele ficou em silêncio, me olhando tão profundamente que podia jurar que apreciava o que via. Ergueu a mão para me tocar, mas como ela não me alcançou por causa das correntes, ele se aproximou, deixando com que nossas testas se encostassem.
— Nunca seria capaz. — Sehun sussurrou, sorrindo minimamente para mim. — Pode me chamar de hipócrita, sei que você adora me xingar, mas eu não te deixaria. Diria foda-se ao mundo bruxo e morreria te defendendo, como estou disposto a fazer agora.
— Não acha que seria uma atitude extrema por alguém que mal conhece?
— Acho que seria a atitude mais aceitável, considerando que eu estou, pela primeira vez, perdidamente apaixonado.
Eu sorri, como há muito tempo não sorria, e senti tanta felicidade naquela mísera fração de segundos, que o som das trombetas foi como um choque. Nos afastamos, e vi que não estávamos mais sozinhos no salão dourado. Os tronos, forrados com vermelho carmesim e incrustados de pedras preciosas, eram ocupados por rostos similares aos que já tinha visto por ali. O que me chamou a atenção foi o único ser sem asas, além de mim e Sehun, que adentrava o salão em seus trajes magistrais, tão diferentes dos demais. Ele carregava uma caixa dourada, e demorou alguns segundos até eu sentir a conexão entre eu e aquele mísero objeto. De algum jeito, soube que o diário estava ali.
Fiquei boquiaberto quando o homem se virou, pois o reconheci de imediato. Aquele era ninguém mais e ninguém menos que Luhan, meu aluno que deserdou o mundo bruxo no ano passado. Estava tão surpreso, que não consegui falar para Sehun.
— Primeiramente, gostaria de me desculpar pelos problemas que essa gente causou a vocês esta manhã. — Ele disse, colocando minha varinha em sua própria garganta e usando um feitiço para que a voz saísse mais alta. — Nós poderíamos tê-los matado, assim como a opinião pública pedia, mas descobrimos que eles são os escolhidos que por tanto tempo ansiamos! — Sorriu, cada vez mais próximo de onde nós estávamos. — O último dos Byun, senhoras e senhores, e mais um bônus: um Oh, da dinastia mais nobre de caçadores mágicos! E de brinde, ainda trouxeram um renegado para nossa companhia, não é esplêndido?
O impacto daquelas palavras, me trouxe de volta memórias que eu nem sabia guardar. Era óbvio que alguém como Luhan — que vivia dizendo o quanto era melhor que todos e com delírios de grandeza que vão além das expectativas — terminaria assim, caso houvesse uma interferência na sua formação. Por um momento, fiquei desapontado comigo mesmo. Deveria ter procurado Luhaeng, seu pai, para tentar ajudá-lo, tentar fazer com que trilhasse um caminho melhor.
Já por outro lado, quando o sentimento de culpa passou, fiquei revoltado.
— Luhan, que merda você pensa que ‘tá fazendo?! — gritei quando a ficha finalmente caiu. O motivo principal para que meu aluno fugisse no ano passado e condenasse toda a magia, era tão banal que quase cheguei a rir.
— Senhoras e senhores, gostaria de apresentar Oh Sehun, o caçador de criaturas mágicas e Byun Baekhyun, professor e bruxo guardião do diário mágico!
Luhan nem ao menos fingiu ter me escutado. Fomos levantados dali para a parte alta do salão, para nos ajoelharmos perante ele. Jogaram Kyungsoo ao nosso lado como se ele já estivesse morto. Repreendi minha raiva, que me dizia para tirar satisfação contra aquilo, e me limitei a ir até ele, checando seu pulso. Estava vivo, e naquele momento, era o que importava.
— Senhor Byun. — Luhan disse, tirando a varinha do pescoço para analisá-la. — Trinta e dois centímetros, feita de Pilriteiro e fibra cardíaca de dragão.* Nunca pensei que fosse ter essa beleza em mãos.
— Foi feita de Nogueira, não de Pilriteiro. — respondi, vendo-o dar um sorriso sarcástico logo em seguida. — Então, foi esse o caminho que escolheu trilhar?
— Foi o único lugar que me deu o valor merecido. — Ele ergueu a voz. Continuava o mesmo adolescente temperamental de sempre. — E também, quando me propuseram isso, pensei que seria uma ótima oportunidade de me vingar de você, professor.
— Você é mesmo inacreditável. — Eu ri, surpreso por ter chegado àquele desfecho por ter reprovado um aluno em minha matéria. Chegava a ser patético. — E também incrivelmente fraco.
— Como se atreve?! — berrou ele. Tive que me arrastar para trás, pois a cada passo que ele dava, mais medo sentia do que ele faria àquela varinha, que me foi passada como a varinha da família. — Estou com seu maldito diário, te tenho acorrentado aos meus pés como o verme que você é, vou destruir aquele castelo de gelo e o Ministério da Magia, e ainda ousa me chamar de fraco?!
— Não há outro jeito de chamar alguém que escolheu trilhar o caminho das trevas por um motivo tão fútil. — Cuspo as palavras, e elas o atingem como se fossem um soco. Ele ficou visivelmente abatido. — Não pensa em seu pai? Como acha que ele se sentirá quando te enviar a Azkaban?*
Luhan vinha de uma família de bruxos humildes, no entanto, com valores tão fortes quanto qualquer outra. Seu pai foi o primeiro auror* da linhagem, e pelas poucas palavras que já troquei com ele, esperava grandes coisas também do filho único. É uma pena que as isso tenha terminado desse jeito.
— Ele não vai me enviar se não houver magia. — Riu, parecendo orgulhoso dos próprios feitos. — A vida é mesmo surpreendente, não é? Um Byun, que deveria ser o protetor do livro mais importante do mundo, será o responsável por fazer justamente o que os antepassados evitaram, lutaram e morreram para impedir. — Ele disse, ficando cada vez mais animado com suas reflexões egocêntricas. Se saísse vivo daqui, alguém teria que me segurar, caso contrário, o faria engolir cada uma daquelas palavras.
— É surpreendente sim. — concordo, balançando a cabeça. — Quem diria que acabaria assim, acorrentado, por causa de um aluno fracassado que se recusa a escutar seus mestres? Olha, geralmente eu tenho a impressão de que sou um bom professor, mas vejo que não chego nem perto disso. Sou terrível por ter me dado ao trabalho de ter te educado, passado meus conhecimentos e esperado que, em troca, se tornasse um bruxo tão bom quanto seu pai!
— Crucio!* — Ele gritou, e a última coisa que vi antes de sentir uma dor dilacerante cortar minha linha de raciocínio, foi a luz vermelha sair da varinha. Aqueles poucos segundos, para mim, pareceram uma eternidade. Quando terminou, eu estava encolhido no chão, ainda sentindo parte da dor, enquanto Sehun me segurava em seus braços. — Agora que está mais… controlado, vamos voltar à audição.
— Culpado! Culpado! — Os espectadores ergueram os punhos e bradaram em uma só voz.
Kyungsoo recobrou a consciência e me viu, deitado ali, em uma situação tão pior quanto a dele. Sinto em seu olhar que ele está à procura de algo, alguma falha que permitiria algum tipo de vitória. Eu já havia feito aquilo, então me limitei a sorrir, triste.
— Culpado. — Enfim, Luhan deu seu veredito. — E eu já pensei em uma penitência pior que a própria morte. Ele irá ler o livro dourado — Ergueu ao alto a caixa, para que seus seguidores pudessem ver. — e destruirá a magia dos bruxos pelos feitiços aqui escritos. Só que antes disso, temos algo a tratar com um velho amigo de nossa ordem, Do Kyungsoo.
— Cara, eu sempre soube que você terminaria como o lunático que sempre foi, mas nunca pensei que fosse arrastar com você toda a sociedade de sangue e ossos. Pelo visto, o conceito para ser aceito como um líder aqui caiu por terra. — Kyungsoo falou enquanto se levantava do chão com dificuldades, alongando os braços em movimentos simples. As Asas Celestiais entraram em posição de ataque, mirando para ele lanças de quase dois metros de comprimento. — E pede para os seus… amigos baixarem as armas. Não quero que ninguém saía machucado daqui.
— Imaginei que o capturaria após a destruição do mundo bruxo. — Luhan disse, seguro de si, e deu alguns passos até estar cara a cara com Kyungsoo. — Já que se esconde lá como se fosse o lugar mais seguro deste mundo.
— E é. — Riu, sarcástico. — E sempre vai ser.
Aquele momento não durou muito. Um membro das Asas Celestiais o forçou a ficar de joelhos e abaixar a cabeça, como se fosse um gado prestes a ser morto no matadouro. Me levantei, pronto para lutar — mesmo que tivesse apenas meus punhos —, mas Sehun me impediu no caminho. Ele olhou para mim, frustrado, e me abraçou. Poderia ter desfeito esse contato se pudesse, porém havia entendido o recado. Não tinha nada que pudéssemos fazer. O machado negro que sibilava ruídos terríveis, foi passado de mão em mão até que chegasse a Luhan, que sorriu com deleite enquanto o levantava com as duas mãos. Estava tudo perdido.
Em um estrondo, todo aquele cenário foi desfeito. Demorou um pouco até perceber o que tinha acontecido. Pedaços de concreto e vidro caíam do telhado da basílica, e a poeira, junto com a claridade, me deixaram cego por alguns instantes. O relinchar de cavalos foi o que precisei escutar para me forçar a abrir os olhos, e não fiquei arrependido de tal decisão.
Meu tutor, Kim Junmyeon, sobrevoava o local montado em um cavalo alado selvagem, e além dele, os pais de Sehun vinham atrás, com dezenas de cavalos sendo montados por caçadores mágicos. Essa visão foi o suficiente para instaurar o caos. Os nefilins que vieram para a audição — ao menos a grande maioria — se desesperaram, e começou um tumulto em volta das portas de saída. Quando as portas abriram, mais caçadores entraram, e entre eles o auror, Luhaeng, liderava.
No meio daquela confusão, Luhan estava disperso, apenas observando todo seu reinado sendo destruído diante de seus olhos. Me aproveitando daquela distração, tentei tirar minha varinha de suas mãos, e por pouco quase consegui. Ele me deu uma chave de braço e encostou a ponta da varinha debaixo do meu queixo, e Sehun e Kyungsoo, que também o atacariam no intuito de me ajudar, ficaram paralisados pelo medo.
— Não se aproximem. — mandou Luhan, desesperado. A essa altura, Junmyeon já havia desmontado e estava ali, ao lado de Sehun, com o coração na boca. — Posso ter perdido tudo, mas não hesitarei em lançar a maldição mortal em meu querido professor.
— Escuta, Luhan, não é? — Junmyeon disse. — Vou ser direto e claro com você. Abaixa essa varinha, você já perdeu.
Ótimo! Se eu fosse contar com a habilidade de convencer do meu padrinho, é mais provável que acabasse morrendo mais cedo do que imaginava.
— O que eu ganho com isso? — Ele riu de desprezo. — Nada. Matando ele, pelo menos acabo com o último dos Byun.
— Isso não seria uma vitória sua, mas sim, deles. — Apontou para os poucos nefilins que ofereciam resistência. — Eles que decidiram acabar com o mundo bruxo, você ter aparecido com uma informação que facilitaria esse ato, foi só um golpe de sorte.
— Está errado! — Luhan teimou, como uma criança. — Eles precisam de mim!
— Você que está errado, Luhan. — Me arrisquei a dizer, aproveitando aquele momento em que ele estava em negação. — Eles te colocaram no poder por saberem que é o único que consegue tocar na caixa do diário, por ser totalmente humano. Te garanto que depois que acabasse com a magia, te chutariam daqui de cima. Não é um deles.
— Calado!
— Ele está certo, Luhan. — Luhaeng falou, se aproximando de nós em seu cavalo alado. Ele tinha os mesmos traços faciais do filho, tirando o fato de seu cabelo ser quase totalmente branco pela idade. Trazia a dor de todo aquele transtorno no semblante. — Essas criaturas não o conhecem, o chamam de irmão e confiam em você como a qualquer um que viesse em seu lugar.
Talvez por ter sido seu pai ali, o dizendo a verdade, ele ficou mudo. Aproveitei seu estado pensativo para pegar, rapidamente, a varinha. Dessa vez, quando me virasse, teria vencido a guerra, foi o que pensei, mas não foi o que pareceu, pois não haveria honra alguma em sentir triunfo ao ver uma criança que vi crescer, chorar, parecendo tão vulnerável. Me limitei a me afastar, deixando com que Luhaeng se aproximasse.
— Garoto, puta merda, porque você veio aqui sozinho?! — Junmyeon perguntou afobado enquanto me puxava para um abraço de urso, afagando meu cabelo como se ainda fosse um garotinho. Sorri, pensando no quanto era irônico ser salvo pelas intervenções heróicas de meu padrinho, que antes eu tanto odiava. — É nesses momentos que vejo que ainda é jovem demais, imaturo demais. Como nos vales de fogo e vento, você apenas foi sem ninguém ter te permitido!
— Eu me lembro de você ter se recusado a vi-
— Não interrompa meu esporro, Byun Baekhyun! — Ele se afastou, segurando meus ombros com força. Tinha o rosto úmido e vermelho como um tomate cereja, quase fui capaz de sentir pena daquele pobre homem velho que existia por baixo daquela carcaça jovial. — E pensar que eu poderia ter te perdido... — Fez uma pausa dramática, desviando seu olhar para Sehun, que estava ao nosso lado. — E você, Oh Sehun. Foi tão responsável por essa loucura quanto Baekhyun, o que tem a dizer?
— Eu precisava de uma desculpa, senhor Kim. — falou, se aproximando com aquele sorriso ardiloso que eu bem conhecia. Depositou uma das mãos em meu ombro, me puxando para mais perto. — Seu protegido é duro na queda, e não parecia disposto a aceitar nenhuma de minhas investidas. Peço perdão pela falta de profissionalismo.
Minha reação imediata foi corar, e em seguida empurrá-lo para longe. Fiquei constrangido como um adolescente, pois Junmyeon nunca havia sido apresentado para ninguém com quem eu tivesse envolvimento. Vi que ele também ficou envergonhado, pois levantou as sobrancelhas em descrença, do jeito que ele fazia quando eu era pequeno e fazia besteira na sua coleção de poções. Foi impossível não ficar curioso pelo que se passava em seus pensamentos.
— Bom… — Começou, após uma longa pausa repletas de olhares que iam de mim para Sehun. — Falta de descrição é algo que estou acostumado, vindo de vocês, grandes famílias nobres. Não o culpo por isso, mas sim por isso tudo. — Abriu os braços, nos mostrando a basílica destruída. — É péssimo para a reputação de vocês dois. Eu daria uma bronca, mas acho que já irão escutar demais da senhora Oh.
Junmyeon se afastou, caminhando em direção aos pais de Sehun, que estavam lidando com os nefilins que se recusaram a deixar o local. O cenário, tanto do lado dos anjos de sangue e ossos quanto dos caçadores, estava caótico. Eram muitas pessoas para apreender e levar até Azkaban, sem contar com os que haviam conseguido escapar.
— Ele tem razão. — Sehun diz, parecendo chateado. — Minha reputação como caçador mágico nunca mais vai ser a mesma depois de hoje.
— E eu vou precisar mudar de profissão. — falei, encarando o olhar confuso do caçador. Sorri, me aproximando timidamente. — Sei que parece exagero, mas nunca mais vou conseguir dar uma reprovação depois de toda essa loucura.
Sehun riu audivelmente, e eu me pergunto como ele consegue continuar tão lindo, mesmo fazendo da nossa desgraça motivo de piada. Acho que, pela primeira vez em minha vida, também estou apaixonado. Não entendia antes o que eram borboletas no estômago, e muito menos, ter o coração na garganta, como se fosse vomitá-lo a qualquer instante. Agora essas sensações são tão palpáveis que chegam a ser clichê. Isso me assusta um pouco, para falar a verdade, pois sou um homem com quase trinta anos na bagagem e me sinto como um adolescente novamente. Mas não pretendo me abalar pelo receio, não quando tenho a chance de amar alguém, e esse alguém é Oh Sehun, o homem que me conquistou da maneira mais inusitada possível.
— Me daria a honra de ser meu companheiro nas próximas aventuras? — Ele pergunta, sabendo da dualidade de suas palavras, enquanto afaga a parte intacta de meu rosto. — Não vai ser fácil, mas a gente pode dar o nosso jeito.
— Se me prometer que não vai me esconder mais nada, nem mentir e nem me levar mais para aquela porcaria de jardim dos espíritos. — falei, tentando ser sério. Pela sua expressão, julgo que terei que lembrá-lo de todos esses detalhes e mais alguns tópicos adicionais quando estivermos sozinhos. — Aceito sim.
Por mais que saiba o significado de minha declaração, me recuso a olhá-lo, pois sei que nossos rostos estão a meros centímetros de distância e ele provavelmente me beijaria. Estou tão nervoso que meu corpo se enrijece, ainda que seu toque consiga deixar algumas partes mais moles. Fico nisso por alguns segundos, até ter coragem suficiente para, enfim, encará-lo. Fico sem ar diante da expressão de desejo em seu olhar. E, finalmente, aquela distância torturante e toda a tensão causada por pura ansiedade, se dissipa quando ele pressiona os lábios contra os meus, lentamente. Esperava que aquele contato terminasse apenas naquele selinho, por estarmos diante de tantas testemunhas, mas Sehun não dá qualquer indícios de querer se afastar, muito pelo contrário, ele desliza a língua para meus lábios suavemente.
Um pigarro alto me faz afastar Sehun bruscamente. Kyungsoo, com mais da metade das asas depenadas — muito semelhante a um frango que não terminou de ser preparado para uma refeição, se me permitem a piada anti-vegetariana —, tinha um sorriso ensanguentado enfeitando os lábios, como quem diz “eu sempre soube”. Não teria dado a mínima para ele, caso não fosse a imponente figura da matriarca Oh, com seu semblante fechado, e do senhor Oh, sorrindo por não saber como se portar diante de tais circunstâncias.
— Papai, mamãe, esse é Byun Baekhyun. É meu namorado. — Sehun falou, como se eles não tivessem acabado de nos pegar em flagrante.
— Sei. — Ela murmurou, não muito feliz. — Depois conversamos sobre isso, agora, Junmyeon, acaba com essa porcaria.
Meu tutor, já com o diário em mãos, executou um feitiço em latim com a ajuda do senhor Oh. No fim, nada sobrou do caderno velho, além de uma pilha de pó. E lá se foram séculos de trabalho duro e tradição. Fiquei dividido entre o alívio pela ameaça extinta e a tristeza, por saber que a única lembrança de minha mãe não existia mais. Nós deixamos a cidade de sangue e ossos em cavalos alados, tão dóceis que não pareciam ter sido selvagens nunca em vida. A morada dos nefilins definhava e transformava-se em pó a medida que nós nos afastamos, já que era sustentada fundamentalmente pela constante presença deles.
. . .
Seis meses depois
Minha casa, antes apenas uma construção abandonada no meio do mato e do grande céu azul, agora era o lar de três pessoas. Sim, isso é uma mudança significativa na vida de um homem que viveu, praticamente, a vida toda na própria companhia. Mas, felizmente, me descobri imensamente feliz após isso.
Convidei Sehun para morar aqui após três meses de pegação sigilosa na mansão Oh. Para os pais dele e para Junmyeon — e para a grande parte das pessoas que ficaram sabendo — foi um choque termos dado um passo tão grande em tão pouco tempo. Já eu, penso que foi algo necessário, considerando que o nosso relacionamento é um tantinho diferente dos demais, já que passou por muitos problemas logo no início e que, agora, decola em direção ao desconhecido.
Apesar disso, o que realmente tirou as estruturas de todos, foi ver que não muito tempo depois, Do Kyungsoo também se mudou para minha casa. Não os culpo por não terem entendido, não é convencional convidar um amigo para morar com você justo na fase mais ativa — sexualmente falando — da relação. Acontece que o nefilim morava de favor em uma estalagem para bruxos, e depois de ficar farto de tanto trabalho, bateu em nossa porta. Como nós éramos os únicos amigos dele, não hesitei em aceitá-lo, mesmo contra a vontade de Sehun, que hoje em dia prefere dizer por aí que nós o adotamos.
— Ele mereceu isso, Baek. — Ele diz. Nós estávamos ao lado da liteira mágica, que agora ficava sempre estacionada na frente da casa e ao lado da grande oficina de Sehun. Ele me abraçava por trás, apoiando o rosto no meu ombro enquanto conversávamos. — Não pode sair ileso do crime hediondo que cometeu por ser apenas um garoto, você sabe.
— Sinto que uma parcela da culpa é minha. — digo, cabisbaixo. — E também que não fui lá um grande professor.
— Como é que é?! — Jongin falou, após soltar nossos equipamentos de trabalho dentro da liteira mágica. — Senhor Byun, ele era péssimo em transfiguração, e tinha reprovado em poções também. Na verdade, a única coisa que o Luhan tinha potencial era em falar, porque ele falava pelos cotovelos.
— Assim como você tá fazendo agora? — Kyungsoo, que vinha trazendo uma caixa de ferramentas atrás dele, disse mal humorado. Se antes já o achava implicante, era porque não havia apresentado Jongin. Agora, quase todas as horas de trabalho de verão do meu ex-aluno eram recheadas de conflitos e discussões. — Não tá vendo que essa é uma conversa particular, garoto? Vai andando, a gente vai sair daqui a pouco para a cidade e se faltar alguma coisa pra capturar aqueles leprechauns, você me paga caro.
— ‘Tá, tá, já tô indo! — falou, enquanto era empurrado pelo nefilim. — Porque você sempre pega no meu pé, hein?
— A culpa não é sua. — Sehun sussurrou em meu ouvido, alheio aos desentendimentos dos nossos dois colegas de trabalho. — Algumas pessoas só são mais suscetíveis que outras a fazer o mal.
— Acho que tem razão. — falei, virando o rosto para encará-lo, bem de pertinho. Mesmo que acordasse todos os dias tendo essa visão, ainda sinto meu coração quentinho em momentos assim.
Me inclino minimamente, o suficiente para que meus lábios encontrem os dele. Aquele contato simples precisou de míseros segundos para se tornar um beijo ávido e quente o suficiente para me fazer virar e apoiar minhas mãos em seu pescoço. E, como sempre acontecia, uma alteração a mais na briga dos nossos dois amigos foi o suficiente para nos separar.
— Senhor Byun, ele vai me matar! — Jongin gritou dramaticamente pela abertura da liteira, tentando se colocar para fora.
— Eu vou fazer você limpar o chão com a língua, olha o tanto de poções que derrubou!
Sorri, enquanto via Sehun disparando para dentro da liteira, na esperança de impedir que Kyungsoo torturasse o jovem bruxo. Essa vida, definitivamente, me cai melhor que a anterior.
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