— O que tá acontecendo? — pergunto, e ela lança um olhar otimista à Hinata.
— A verdade é que não suportaríamos mais uma batendo a porta na nossa cara. E antes que você pergunte, Ino e Konan fizeram isso. — explicou enquanto gesticulava meio entediada.
Não é de se surpreender que aquelas duas as ignoraram.
— E que convite é esse? — me apoio no batente da porta lançando o olhar de uma para a outra.
— Você já leu as normas? — Tenten ignora minha pergunta e empurra a porta, não tento impedi-la de entrar. — Pelo visto não se dispuseram em diferenciar tanto os nossos quartos.
Olho para Hinata que de forma tímida adentra o quarto. Tenho a impressão de que a coitada foi obrigada a sair do quarto para satisfazer as loucuras da aldeã do ar.
— Ela é assim mesmo? Intrometida? — sussurro a Hinata enquanto a outra analisa o banheiro.
A mesma encolhe os ombros e evita contato visual. Agora que está mais perto, percebo que marca dela é quase invisível, mas saliente por linhas em sua tez abaixo dos olhos.
— Eu ia descansar, mas ela praticamente me arrastou para fora do quarto. — revelou, bem como eu havia imaginado.
Depois de sua resposta, percebo rapidamente em como é estranho conversar com a filha do senador da minha verdadeira aldeia. Sinto uma certa empatia e desvelo por ela, mas não necessariamente só compaixão. Há algo estranho que ainda não consigo decifrar, mas tem um toque de indiferença e não quero levar à diante; ela parece ser boa demais para julgamentos premeditados.
— Não, eu não li as normas. — finalmente respondo a pergunta de Tenten, embora eu não deva, já que ela não responde às minhas.
— Bem, então nem perca seu tempo. — ela diz depois que volta. — É um monte de baboseira só para dizer que devemos permanecer dentro dos parâmetros do palácio, sem nenhum contato com o lado externo ou demonstrar qualquer sinal de traição. Quer dizer, precisa mesmo deste último? Quem seria idiota demais para trair a realeza?
Espasmos percorrem meu corpo e temo que minha súbita inquietação tenha revelado demais. Eu, eu seria idiota a esse ponto. A única diferença é que traindo ou não, meu destino seria cruel de qualquer forma. Minha única missão é não demonstrar que eu sou uma traidora, ainda que o rei tenha a certeza de que sou um erro. O me faz achar que ele deve imaginar maneiras de me executar quando tudo isso acabar, mas é muito cedo para me preocupar com isso.
— Talvez eu o leia antes de dormir. — digo, e me arrependo no segundo depois.
— Ótimo! Vamos conhecer mais um pouco do castelo. — Tenten sugere enquanto me puxa pelo pulso para fora do quarto.
— Isso é realmente necessário? — pergunto andando depressa para conseguir acompanhá-la. Hinata vem logo atrás.
— Claro que é! Logo uma de nós será a rainha, então devemos conhecer este lugar de ponta em ponta!
— Acho que teremos a chance para isso quando este dia acontecer. — diz Hinata e Tenten para subitamente, a olhando de forma consternada.
— Hinata, você precisa agir como uma rainha desde o início. Mostre a eles que você está empenhada a reproduzir este papel e eles verão credibilidade em você.
— É muita bondade sua nos aconselhar em como ganhar. — digo meio jocosa e Tenten pestaneja sem parar.
Hinata dar um risadinha e Tenten olha para nós duas um pouco irritada. Até que pigarreia e se omite.
— Ao ver pela apresentação medonha de vocês, não creio que farão isso melhor do que eu. — ela empina o nariz e dar de ombros, ao tempo que volta a andar na frente batendo os pés fazendo o som de seu sapato estalar em casa passo.
Quando está longe o bastante para não nos ouvir, ao meu lado, Hinata desabafa.
— Você foi incrível, tão determinada e independente. Já não posso dizer o mesmo de mim… tão sem graça e completamente perdida.
Odeio o fato do meu silêncio concordar com o que ela diz, mas odeio mais ainda precisar ser tão mesquinha ao ponto de olhá-la como se a sua fragilidade a deixasse menos humana. Não posso comparar a minha sede de sobreviver com o seu medo pelo desconhecido. Eu estou com medo, e se não tivesse ensaiado tanto, eu teria tido a mesma reação que ela.
— Acho que todas nós estamos perdidas. — conclui após provavelmente ela já ter pensado que concordo com tudo que disse. — Mas cada uma tem a sua maneira de demonstrar isso.
— Ino e Konan não parecem nenhum pouco perdida. Tampouco você e Tenten. — sua voz chega a tremer e quando olho para baixo, vejo sua mão fechada em punho; talvez ela não seja tão frágil quanto aparenta, só não conhece a força que tem.
Então me pergunto: quem de fato é Hinata Hyuuga?
— Espere até as simulações começarem. — acrescento enquanto analiso Tenten saltitando de entusiasmo. — Há quem pense que isso aqui é um retiro para a futura esposa do sucessor, mas algo me diz que a queda vai ser alta.
Ela me olha assustada. Não sou muita boa em amenizar situações já tensas, mas tento.
— Acha que vamos chegar a um ponto onde pediremos para deixar o Ritu? — seus olhos amendoados se arregalam e eu sorrio para tranquilizar o terror que causei.
— Não. Eles precisam da gente. — ao menos foi o que Jiraiya e Shizune tanto me disseram. — Além do mais, pense pelo lado positivo, já fomos abençoadas. Estamos na frente.
Consigo arrancar um sorriso de alívio dela além de um olhar agradecido pelo meu esforço em deixá-la sentindo-se bem.
Em todos esses anos, Naruto foi meu único amigo. Nunca me aproximei de nenhuma amizade feminina pois as garotas da minha aldeia nunca eram compatíveis o suficiente com os meus neurônios ou pacientes para tolerar a minha chatice. Entretanto, ali ao lado de Hinata após suprir a necessidade de deixá-la acomodada, vislumbrei uma amizade entre nós duas. Fosse por ser da mesma aldeia que eu, ou talvez o fato dentre as quatro, ela ser a única que me diria as mesmas coisas que acabei de dizê-la caso precisasse.
Tenten nos guia até a escada principal, e o caminho até lá já é um espetáculo, ao passar pelo corredor que possui em uma das paredes uma fileira de enormes janelas do teto ao chão que dão um visual em tanto para o mar, que se expande num infinito manto azul de tirar o fôlego. O ar imaculado da maresia que adentra o castelo traz uma sensação de paz surreal. Preciso me beliscar para ter certeza de que este mundo, é o mesmo mundo da Aldeia de Ferro.
Alguns guardas vigiam a ala dos quartos reais, então essa é uma área que não iríamos conhecer tão cedo. Quando alcançamos a escada, a agitação no lugar antes quieto nos surpreende. Os empregados passam de um lado para o outro rapidamente ou de forma ágil conforme iam segurando alguma coisa, como desde lençóis à flores ou bandejas com comida. O rei havia dito que o jantar seria mais especial, então as coisas ainda não ficariam menos calma até mais tarde.
Nos enfiarmos naquela bagunça é pedir para que algum acidente indesejável acontecesse, mas descemos a escada mesmo assim e contornamos o hall pelas laterais onde parece mais seguro. E ao adjacente de onde provavelmente será o jantar, encontramos uma sala de descanso. Sofás e tapetes, quadros e muitas flores, bem como uma enorme lareira compunha todo o ambiente clássico e confortável, tomado por janelas grandes e lustres de cristais. No entanto, me admiro por até então não ver um quadro da família Uchiha, marcando território.
— Já imagino que aqui é onde passaremos a maior parte do nosso tempo. — Tenten sentou esticando suas pernas em um dos sofás enquanto vislumbrava toda cena. — Lendo livros, fofocando e dizendo o quanto o príncipe é maravilhoso.
Me retraio quando percebo que de fato, ela está mesmo tendo esperanças quanto ao conforto. Imagino se ninguém a contou a verdade, ou se Jiraiya e Shizune que haviam sido tão cruéis comigo ao ponto de me traumatizar.
— Não acho que iremos ficar discutindo sobre este último. — comento enquanto serpenteio as mobílias de decoração. — Pensa em como seria estranho falar sobre o mesmo cara com quem queremos nos casar.
Tenten revirou os olhos e bufou.
— É estranho se estivermos todas apaixonadas por ele. Você precisa agir com razão, e não com emoção! — ela exclama.
— Bem, se envolve só a razão, realmente não há porquê temer.
— Acha que ele irá se apaixonar por uma de nós? Ou uma de nós por ele? — perguntou olhando-me por cima do encosto do sofá.
É uma boa pergunta. Quero responder como Shizune e Jiraiya haviam me explicado, ou como eu acreditara desde sempre o que isso de fato significava. Mas quando olho para Hinata, ela parece temer pela resposta lógica. E embora ela não me pareça uma completa apaixonada pelo príncipe, talvez acredite no amor verdadeiro.
— Iremos passar o tempo que ele quiser aqui. Então uma hora alguém irá de se apaixonar. — proponho e vejo Hinata relaxar.
Tenten faz uma careta de quem acabara de provar algo azedo em minha direção.
— Eca, não será eu. — Depois disso ela volta a se desfrutar do conforto do sofá.
E então, em menos de duas horas, descubro que Tenten não está ali por amor ou pelo príncipe, vendo pela sua apresentação trata-se de algo mais político, e Hinata, possivelmente em busca de um amor verdadeiro. Cada uma tem seu objetivo pessoal naquela competição, e eu achava que a minha seria bem clara. Estou aqui para sobreviver como uma aldeã de Ferro abençoada, mas esse é um desejo pessoal e secreto que ninguém pode saber.
Por isso, se eu quiser parecer uma competidora real, preciso mostrar que quero algo. E querer a coroa é algo supérfluo demais, além de oportunista e repetitivo; e embora seja difícil e contraditório, mesmo sem saber o nível do meu poder, precisarei fazer com que o príncipe me note e goste de mim. É o mínimo.
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Acho que Jiraiya ficaria orgulhoso de mim se soubesse que já tenho captado o jogo em tão pouco tempo. Mas não me importo se dou orgulho ou não a ele, só penso que seria interessante, já que ele adotou o papel da minha única família com toda essa história falsa. Não quero pensar nele. Pensar nele é o mesmo que lembrar de suas mentiras e temer por ele não cumprir com o seu acordo.
E por mais que o resto do dia não tenha sido tão produtivo durante o nosso passeio pelo castelo como Tenten queria (já que, depois da sala de descanso, descobrimos que tal atividade estava proibida durante aquele dia pois tínhamos o dever de descansar e nos preparar para o jantar e o início da semana), foi o suficiente para eu me manter distraída e tentar me adaptar cada vez mais a minha personagem. O que me faz pensar que, se eu me sair realmente bem e o rei poupar a minha vida depois que tudo isso acabar, talvez eu entre para alguma aula de teatro, já que a Aldeia do Sol é conhecida pelo seus diversos artistas.
Mas a noite chega, e o Trio (a forma como resolvo chamá-las, que me soa melhor que criadas) me prepara para o jantar onde seremos oficialmente inseridas nessa competição. E ao meu ver, elas estão mais animadas do que eu, no entanto, é inevitável não me alegrar pela descontração delas que soa tão natural e íntima. Elas me lembram Suigetsu, Mia e Mina. Mas o trabalho do figurino parece ser todo de Lara, o cabelo fica com Kiara e a maquiagem com Meg.
Lara me trouxe um belo vestido preto de detalhes rendados em dourado, com decote V ombro a ombro, dando um visual generoso ao meu colo. As mangas são compridas de voil, quase como uma segunda pele. Kiara prende meu cabelo em um coque com algumas mechas soltas; ela diz que é romântico e sexy, Itachi não iria resistir. Enquanto Meg passa apenas um lápis preto em meus olhos e o esfuma. É uma tarefa difícil, já que pisco muito e lacrimejo, mas ela consegue, e no final, acho que está meio irritada comigo por isso. Mas ela não pode me culpar por não ser acostumada a toda essa produção.
— Você está tão… — começa Lara.
— Sexy! — Kiara a completa e Lara concorda, e as duas começam a rir.
— Espero não parecer tão oferecida. — digo olhando-me no espelho, quase difícil de me reconhecer depois que passaram o batom vermelho sangue em mim.
— Certamente você vai chamar atenção, mas aposto que as outras também farão de tudo para brilharem.— Lara sugere e Kiara concorda. Meg continua calada.
Sorrio para o meu reflexo no espelho na tentativa de aceitar esse meu novo lado. Por mais que agora eu seja a Saky, não estou acostumada a me ver arrumada daquele jeito.
— Obrigada pela ajuda, meninas. — digo a elas que acenam formalmente.
— Estamos aqui para ajudá-la com qualquer coisa, senhorita.
Senhorita. Parece que ouço a risada de Naruto ecoando na minha cabeça após ouvir isso. Ele sabe que tal formalidade não combina comigo, e que rir disso é maneira mais adequada de me constranger ou me irritar.
— Por favor, me chamem apenas de Saky. — peço educadamente.
Elas se entreolham incrédulas. Percebo então que são muito semelhantes, desde as bochechas salientes aos olhos pequenos e serenos.
— Bem, é o nosso trabalho agir como determina as normas. — Lara explica hesitante, com ombros encolhidos de vergonha. — Mas podemos fazer esse esforço quando estivermos aqui, só nós.
Por último ela dar um sorriso ao concluir aquilo, e eu correspondo grata.
— Obrigada por isso.
Em alguns segundos, elas se retiram. E em poucos minutos, também terei que sair e enfrentar os leões, mas sem parecer uma presa fácil. Por sorte não há amarras no vestido, mas sinto como se meus pulmões estivessem sendo estrangulados até eu sentir a falta de ar me pressionando. Odeio essa ansiedade, mas odeio mais ainda não ter forças para lidar com isto sozinha.
Fugaku tinha razão, de certa forma. Agora seremos só nós mesmas, sem o patriarcado para nos representar. A partir deste jantar que seremos testadas, e sem Jiraiya eu temo muito falhar. E é vergonhoso perceber isso; meu orgulho se contrai, mas preciso admitir que com ele ao meu lado as coisas ali pareciam fáceis. Agora, não sei como fazer. Sinto-me de volta à estaca zero, como se ter sido a Sakura com o Trio, me fizesse sair do personagem da Saky. E isso eu devo evitar ao máximo.
Não quero ser a primeira a chegar lá e me deparar com um salão de rostos estranhos. Não conheço as garotas bem o suficiente, mas ao menos sei que perto delas é onde eu deva estar. De Hinata, e até mesmo de Tenten. Por isso, decidi sair três minutos depois do horário combinado. Não é muito, mas também não é pouco. Trata-se da realeza, e imagino que atrasos de pessoas sem nenhum título ali dentro não seja perdoável.
Dado o meu tempo estratégico, deixo o meu quarto vagarosamente, como se estivesse fugindo de fininho durante a madrugada. Coisa que eu fazia vez ou outra para me encontrar com Kiba; e, dentre as pessoas que eu deixei na Aldeia de Ferro, me pergunto se ele é uma das que sentem a minha falta e se pergunta o que de fato aconteceu comigo.
Não há guardas no corredor. Isso significa que a maioria se concentra no andar debaixo. Isso me permite caminhar com mais normalidade, e até mesmo um pouco mais apressada, já sentindo-me uma tonta por ter atrasado. Quando me aproximo ao final do corredor que dá de frente para a ala da família real, não há guardas, o que pode significar também que eles já estão lá embaixo. E meu coração bate mais forte de pavor, e ouço uma voz gritar.
A princípio, acho que é coisa da minha mente. Eu mesma gritando de arrependimento. Mas então, outro grito soa mais nítido e eu paro subitamente, com ouvidos mais atentos. Outro grito e me sobressalto olhando para trás, mas não há ninguém, e as janelas estão fechadas. Mais um grito e percebo que ele vem da ala Real. Dou mais uns passos, amedrontada mas instigada e chego na linha onde os guardas estavam mais cedo. Estico o pescoço como se isso fosse melhorar a minha audição; outro grito, e minha tez se arrepia tanto que sinto um calafrio percorrer pelo meu corpo.
São gritos de verdade, de agonia, de socorro. Gritos de um homem que está sendo machucado. Gritos no fundo, que não devem ser ouvidos, mas soa tão alto que quase posso sentir a sua dor. Meus olhos ardem porque quero chorar, gritar e sair correndo. Dou dois passos para trás pronta para fazer isso, mas sou contida por um braço ao meu redor e viro-me assustada, e então surpresa ao levantar os olhos e me deparar com Itachi Uchiha bem juntinho de mim.
— Perdida, srta. Senju? — ele pergunta com a sua voz aveludada, e então franziu as sobrancelhas quando sente que estou tremendo. — Está tudo bem? Parece assustada.
Não se eu deveria contar, mas, desde o momento em que chegara, os gritos parecem ter se cessado. Olho de volta para onde os gritos pareciam vir, e então para Itachi mais uma vez que parece convenientemente preocupado comigo. Sinto seus dedos envoltos do meu ombro direito e seu corpo muito próximo ao meu. Me afasto sutilmente enquanto me explico.
— Vossa alteza, achei ter ouvido… — hesito, o jeito que ele me olha faz parecer de forma antecipada que estou louca. — Ah, esquece, devo estar nervosa demais.
Quando ele sorri, parece que não tinha muita vontade de insistir e que está convencido da minha desculpa.
— É compreensível. Mas não deve ser a única.
Ele ajusta seu paletó muito bem engomado e arqueia aquele seu queixo arrogante.
— No entanto, será a única que terá o prazer de chegar comigo a sala de jantar. — ele ergue seu braço como um cavalheiro para que eu o segure, mas hesito.
— Isso não causaria um furdunço nas meninas? — pergunto insegura e ele solta uma risada. Não o tipo de risada contagiante, mas do tipo convencida.
— Certamente. Mas não acho que vocês terminarão isso sendo amigas.
— Mas não preciso necessariamente de inimigas. Muito menos logo no começo da competição. — disparo.
— Competição. — ele sibilou a palavra de forma arrastada e fico com medo daquilo ter sido um erro. Itachi estreita seus olhos pulgentes em minha direção e sinto-me acanhada. — Gosto como isso soa. Mas também me faz vê pelo quê você encara essa situação que pode falar muito sobre o que você almeja. Então pelo que está competindo, srta. Senju?
Eu deveria ter pensado nisso mais cedo, de forma mais pragmática e conclusiva. Mas tive apenas as minhas teorias, e agora por pura coincidência, devo ter uma resposta.
Ignoro o fato de estar usando batom vermelho e umedeço os lábios como se isso fosse me fazer ganhar tempo. Mas preciso respondê-lo antes que eu pareça mais perdida que Hinata; ela que me perdoe.
— Estou competindo por algo que acho que conheço, mas que só conhecendo de verdade, saberei pelo quê estou competindo. — respondo encarando-o.
Vejo um brilho atravessar seus olhos de navalha, e então sorrio. Preciso dar credibilidade.
— Isso me deixa muito tentado a ajudá-la. Vamos?
Aceito seu braço e o seguro. E antes mesmo que estejamos descendo os degraus da escada, dou uma rápida olhada para trás, sabendo que apesar de toda a encenação e circunstâncias, eu não esqueceria aqueles gritos.
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Andar ao lado de Itachi me causa um desconforto. Sinto-me como se estivesse andando ao lado do inimigo, mas quando ele desce os degraus da escada meticulosamente enquanto me ajuda para não sair bolando, me corre a ideia de que ele não seja tão ruim assim. Além de que eu preciso confessar que ele tem um bom cheiro que remete a elegância e poder. Seria um erro meu julgá-lo pela imagem do pai, o que é inevitável.
E quando alcançamos o vestíbulo, ele pede para que eu vá na frente, sem a sua companhia. O que significa que seria de fato uma má ideia chegar junto comigo. Isso geraria uma inquietação nas outras garotas, e até mesmo uma espécie de favoritismo. O que me faz questionar se ele realmente se importa com as nossas emoções. Se o amor, no final, poderia vencer qualquer vantagem de poder.
O salão onde acontecem as refeições reais mais parece com um salão de festas. Além dos empregados que estão dispostos pelos cantos, na espera de qualquer ordem, observo que há dois homens estranhos conversando próximos a janela, mas não me demoro neles. Logo me agrupo às meninas quando vejo um borrão passar ao meu lado. É Itachi, e ele pisca em minha direção. Não sei como reagir, mas ao olhar para as outras garotas elas não me parecem muito felizes. Exceto por Hinata, que parece estar em outro mundo. E, ao notá-las, percebo que Lara estava certa; elas também capricharam em seus vestidos. Há fendas, paetês, plumas e decotes.
— Você está linda. — fala Hinata sorrindo timidamente quando me posiciono ao seu lado.
— Obrigada. Você também está ótima. — digo retribuindo o sorriso, mas ela se encolhe nos ombros.
— Estou exposta demais. Não gosto dessa fenda mostrando minha perna. — reclamou.
— Então da próxima vez diga que não quer mais fendas.
Ela dar um sorriso preguiçoso para mim e me olha com desdém.
— Odeio dar ordens. — resmungou e eu tive de compreender. No entanto, senti vontade de contorná-la.
— Rainhas vivem dando ordens. Como resolverá isso? — desdenho como se de fato me importasse. Mas não me importo.
— É questão de adaptação, não é? Serei quem eu precisarei ser. Se eu for a escolhida.
Sorrio para ela e vejo uma faísca ascender rapidamente em si. Afinal, imagino que ela esteja longe de ser uma garota frágil como aparenta.
E por mais que eu tenha forçado o meu atraso, não estou mais atrasada que o rei. E antes mesmo dele chegar, observo os homens que conversam com Itachi de forma íntima e amigável, até. E logo depois Mei Terumi adentrando o salão com toda a sua plenitude. Ela arranca suspiros tanto dos homens como das mulheres, e as meninas ao lado cochichavam a respeito dela; mesmo estando encapuzada pelo seu manto escarlate.
Ela olha em minha direção rapidamente, me estuda com um olhar afiado e então se volta para o seu grupo. Fico feliz que ela tenha me ignorado, agora que sei a verdade sobre Karin, eu não gostaria de ver malícia em seu olhar sobre a minha inclusão ali.
Finalmente, para balancear alívio com desespero, o rei Fugaku chega com todo o seu esplendor e onipotência de rei. Até o seu andar remete ao seu título, e os guardas que o seguem só enfatizam mais ainda a sua importância. O reverenciamos no instante em que caminha até a ponta da mesa, onde é seu lugar de lei. Nos ajustamos à mesa, e sentamos logo depois que ele já está bem acomodado. Fico entre Hinata e Ino, mas todas nós ficamos do lado esquerdo do rei, enquanto Itachi e os outros convidados estão ao lado oposto, esperando a sua primeira palavra.
— Eu sempre sonhei com este dia. — ele começou em um tom sonhador, observando os lustres que pendiam sobre nós. — O dia em que meu sucessor começaria a corrida em busca de sua futura esposa, para que quando chegasse a sua hora, ele já estivesse bem preparado com sua família ao lado. Uma família poderosa. A família Uchiha constituída de Abençoados pela deusa há tanto tempo esquecida.
Cabeças balançam em concordância, sorrisos e olhares de admiração estão sendo direcionados ao rei enquanto dá introdução aquela reunião com um discurso tradicional e sonhador. Parece ser algo fácil de se ouvir, mas cada palavra sua transforma-se em uma interrogação na minha cabeça.
— Desde Madara, fora decidido que apenas mulheres ao nível da deusa teriam o privilégio de entrar para a monarquia. O dever de carregar o nome Uchiha não era para qualquer uma, mas, encontrar no final alguém que fosse de fato abençoada, tornava-se uma tarefa difícil e exaustiva. Ficava a que mais tinha a postura de uma rainha.
Subitamente, Ino aprumou-se ao meu lado. Como se seus ombros bem ajustados e o nariz empinado fossem o suficiente para lhe assegurar um título na realeza. Haja como uma rainha e isso lhe dará credibilidade, disse Tenten mais cedo. E eu a contrariei por causa disso, mas, no final ela estava certa. Ao menos nas circunstâncias do passado.
— E infelizmente, apenas um Uchiha teve a sorte de encontrar uma abençoada. — O rei faz uma pausa dramática e então expressa um sorriso afetado e ao mesmo tempo orgulhoso. — A mulher de meu pai, minha mãe, era uma abençoada. E acreditem ou não, o poder dela era de mudar o humor das pessoas. Há quem diga que isso não era um poder, mas apenas uma habilidade por ela ser uma pessoa incrível. Mas ela tinha uma marca, e isso mudava tudo.
Hinata e eu nos encolhemos quando automaticamente, alguns olhares pairam sobre nós, principalmente o de Itachi.
— E como sabem, durante a minha apuração eu não tive a sorte de encontrar uma abençoada, mas tive a felicidade eterna de conhecer Mikoto. Minha falecida mulher foi uma rainha ímpar. — O rei demonstra emoção ao falar da mulher morta, e então olha para Itachi e se apoia ao ombro dele sacudindo-o. — Agora é a sua vez, e você está na frente. Há duas recém abençoadas, e algo me diz que as outras serão logo em breve.
As meninas sorriem, mas um pouco desconfortáveis. Ser abençoada não é uma certeza a ninguém, e acho que elas têm medo de como pode vir à tona.
— Obrigado, meu pai, por confiar em mim e me apoiar no Ritu. — diz Itachi, completamente abobalhado pelo voto de confiança fraternal. — Não irei decepcioná-lo.
— É bom que não, mesmo. — O rei sorrir rapidamente e se dirige à Mei. — O que me diz dessas garotas?
Ela tosse e se ajeita. Até sentada o seu tamanho é algo espetacular.
— Uma força superior aguça a minha intuição como sopros da natureza da Deusa de que essas meninas não irão os decepcionar. — explica gentilmente.
Me surpreendo com o seu vocabulário apropriado para uma sacerdotisa, coisa que ela não usou quando nos visitou na casa de Jiraiya. Eu não a julgaria se agisse dessa forma em frente ao rei por ele ser o rei, mas me incomoda que o seu verdadeiro lado que vi naquele dia não seja o melhor a oferecer.
As outras parecem acreditar no que ela diz, e logo ficam entusiasmadas.
— Mei será a instrutora de vocês. Qualquer dúvida, reclamação ou uma voz amiga, podem se dirigir à ela.
Não sei se eu conseguiria isso, mas ela nos dar um sorriso receptivo. Não acho que devo contar com isso.
— Ao lado dela está Kakashi Hatake, general da Guarda real.
Ele aponta para o homem fardado, dispensando vestimentas formais para aquela ocasião. Seu cabelo espetado é prateado, mas o que chama atenção em si, é a cicatriz que percorre a vertical de seu olho esquerdo. O mesmo é pouca coisa mais alta que Mei, e ele aparenta desdém por estar ali, o que é uma surpresa. Ele não parece ser tão severo para um general, apenas indiferente. No entanto, uma inquietação surge entre as meninas; o que ele poderia estar fazendo ali?
Itachi dar uma risadinha e assume uma posição desengonçada.
— Não se preocupem, meninas. Vocês não precisarão fazer o mesmo treino da guarda Real, Kakashi só está aqui de enxerido.
Embora não tenha parecido ofendido, o general franze os olhos na direção do príncipe que não se intimida com o mesmo, que não aparenta ser tão velho quanto o sucessor.
— Na verdade, estou aqui para treinar o Sasuke. Ele se manteve ausente a manhã inteira, e quando cheguei para recrutá-lo agora, me puxaram para cá. — explicou placidamente.
De novo o irmão problemático. Não seria uma surpresa caso essas pessoas começassem a falar mal do mais novo.
— Pelo visto o meu filho esteve fugindo de seus compromissos o dia inteiro. — diz o rei. — Mas tenho a certeza de que ele logo irá retomar o foco. Por hoje, é melhor deixar de lado, general Hatake.
— Bom, então tenham um ótimo jantar. — ele faz menção em se levantar, mas o rei o impede.
— Eu faço questão que você fique. É bom que a futura rainha de Andarelly esteja familiarizada com o general da nossa tropa. — insistiu o rei.
Kakashi hesita até que volta a sentar-se novamente.
— Tudo bem, eu fico. — ele aponta o dedo na direção de Itachi, e em um tom amigávelmente ameaçador o diz: — Mas sem gracinhas, Uchiha.
— Não é a minha intenção aborrecer o grande general Hatake. — retruca Itachi de mãos estendidas e um tom sarcástico.
— Estão vendo, meninas? — indagou o rei, sorridente. — O clima aqui é amigavelmente familiar, espero que se sintam em casa.
— Estou começando a me sentir, Majestade. — diz Ino com uma animação radiante. — Com o inverno próximo, mesmo longe a minha aldeia parece bem pertinho de mim.
— Considera-se uma pessoa sazonal, srta. Yamanaka? — perguntou o segundo homem de cabelos cinzas e amarrados, ele está bem vestido, mas seus óculos de aros circulares preto o deixam mais casual.
Um estalar de dedos do rei Fugaku e então um balé começa ao redor da mesa enquanto empregados servem nossas taças com um líquido âmbar, e pelo cheiro, noto que é vinho.
— Não me dou muito bem com as outras estações. O frio certamente é a minha aliada. — ela diz tão naturalmente que não parece se intimidar com rostos desconhecidos.
— Interessante. — avaliou após ajustar o óculos.
— Este é Kabuto Yakushi, responsável pelas simulações do Ritu. — Explicou Itachi sem muitas formalidades.
— Diga-me, Mei Terumi, há uma possibilidade da deusa atender às necessidades daqueles que abençoa, ou simplesmente acontece de forma aleatória? — Kabuto a pergunta.
— São raros os casos de Abençoados para chegar a uma conclusão exata. — ela diz incrédula, olhando de uma para outra, nos estudando.
— Talvez as conclusões não demorem para aparecer, se eu estiver certo do que estou pensando. — ele diz em um tom arrogante.
— E o que você está pensando, sr. Yakushi? — perguntou o rei, parecendo bastante interessado.
Kabuto dar uma risadinha sagaz e mexe mais uma vez na sua armação de óculos enquanto nos olha. Me olha, e então encara a minha marca. Isso está começando a me incomodar; percebo que todo vez que olham fixamente para a minha marca, fico inquieta como estivesse nua.
— Primeiro, Vossa Majestade, precisamos começar o Ritu. — O jeito que ele fala soa assustador, mas eu achava que o Ritu já estava dando início ali.
O rei segura a sua taça e a ergue, fazemos o mesmo enquanto seu sorriso se alarga de algo que não sei ao certo o que é, mas não consegue me afetar.
— Ao Ritu, que será próspero! — ele entona com louvor.
— Ao Ritu! — respondemos, mas não consigo soar tão animada quanto aos demais.
Estou com medo do Ritu.
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