É o dia da minha quarta simulação, e até agora não tive nenhuma evolução. É estranho que mesmo que eu tenha o poder, é como se eu não o tivesse. Um carro que não sei dirigir; embora eu acredite assiduamente de que este poder da cura sempre esteve comigo. Mas acho que ainda não é um bom momento para revelar isso a Kabuto ou a qualquer outra pessoa.
Já estou quebrando barreiras demais só de estar ali mesmo não devendo. Mas ao menos nem todo mundo sabe disso, ou se sabe, não dá muita importância pois não sinto que este detalhe me torne uma estranha no ninho. Os empregados e guardas me tratam como se eu fosse de fato uma abençoada “original”, e a Família Real tenta mascarar isso da melhor forma possível. Eu gostaria muito de saber o que o rei Fugaku acha que fato disso, mas acho que por ora é melhor não.
Quando dá o horário certo, às nove da manhã, me dirijo até o Complexo. Estou devidamente uniformizada, e minhas botas afundam na grama ainda molhada da chuva que começou a cair desde o dia anterior. O cheiro de terra e mato me hipnotizam; me faz lembrar um pouco de casa, da campina… e também tem o cheiro de chuva e frio. Está muito frio esta manhã, o outono sem dúvida está mais presente hoje do que antes.
O céu está nublado. A última vez em que esteve tão límpido fora duas noites atrás, quando jantei no labirinto com Itachi. A ocasião tinha tudo para ser romântica e agradável, mas fui surpreendida por um lado dele da qual não posso competir. Mesmo com toda a sua gentileza, charme e cavalheirismo, Itachi é extremamente ambicioso e egoista. Seus interesses me fizeram crer de que as coisas para si só servem se forem perfeitas demais. E a perfeição me assusta.
Mas sou uma das favoritas por ser abençoada. Logo, Hinata também é. E qualquer uma das outras garotas que também forem. Mas no final da noite – que não durou muito depois das massas e molhos com almôndegas – ele me pediu para não dizer nada daquilo as garotas. E bem, eu não pretendia mesmo.
Ouço a Tenda. Os guardas estão mais uma vez unidos para treinarem, mas desta vez, em maior número e quase tão bem sincronizado que mais parece um espetáculo de ação.
Siga seu caminho, digo a mim mesma. Mas outro coro rompe o frio e faz minha tez estremecer em vida. Calor. Ali parece emanar calor e vida. Algo tão real quanto o resto do castelo. E de repente, estou seguindo o caminho oposto, na direção da Tenda. Quando percebo o que estou fazendo, não paro, mas continuo porque parece um caminho livre. Ninguém me impede de continuar me aproximando por ser uma das pretendentes do sucessor, ninguém parece ligar muito para mim quando estou com aquelas roupas normais. Me sinto melhor assim. Acho que ser princesa, ou ao menos me comportar como uma, não é para mim.
Logo quando alcanço a aglomeração, percebo que estão em duplas. Cada dupla lutando com varas. Há muito deles, e alguns parecem amadores e outros, já bastante experientes. Tento manter uma certa distância, não quero ser atingida. Mas me aproximo de uma dupla em específica quando identifico um deles sendo Shikamaru.
Ele parece muito concentrado e nem nota que estou o assistindo. Seus movimentos são rápidos, mas convencidos; ele parece ter o prazer em fazer seu oponente se vê intimidado, confuso e irritado. Para ele isso parece uma brincadeira, percebo pelo sorriso divertido no rosto e a forma tranquila que encarar aquele duelo. Enquanto isso, o outro guarda mesmo apreensivo não parece pronto para se dar por vencido. Ele agarra a vara com força, está pronto para dar tudo de si.
Tento me manter distante o suficiente para não ser notada, mas perto o bastante para ver o brilho do suor que lhe escorre a face. No entanto, quando o seu oponente não consegue se defender e Shikamaru o leva ao chão com apenas um empurrão, finalizando o duelo, ele olha para mim com um sorriso presunçoso e diz:
— O que achou disso, bisbilhoteira?
Minhas sobrancelhas se erguem em surpresa por ele não me mandar embora na primeira oportunidade, e por perceber que ultimamente tenho sido chamada assim.
— Achei que durou até demais para um guarda treinado como você. — digo abaixando a sua bola. Aponto com o queixo para o seu oponente que se levantava. — Ele soube lidar bem com você.
Shikamaru o olha de esguelha e contrai o rosto.
— Sorte de principiante. Só não acabei com ele logo porque não teria graça. — explicou de forma nada modesta.
— Não vai simplesmente admitir que ele é bom? — insisto. Sei que estou o provocando, mas também não me agrade que ele seja arrogante.
— Há princípios a se manter com aqueles que estão começando.
— Aposto que eu daria uma surra em você. — digo brincando e ele franze as sobrancelhas.
— Mulheres não são bem-vindas aqui, mas eu fico curioso. — ele dá dois passos à frente e questiona. — O que você sabe sobre luta?
Não sei nada. Mas ele iria rir da minha cara e me mandaria embora por ser uma inútil e fermentar a ideia de que eu realmente não sirvo para aquele lugar. Então eu uso algo que não deveria, o meu passado; o meu real passado.
— Digamos que eu tive uma infância bastante agitada. Não sou uma lutadora mas sou ágil e aprendo rápido. — digo como se eu precisasse provar a ele alguma coisa, como se eu devesse ser aceita. Me sinto ridícula logo depois.
— Isso não significa nada. — ele diz. Faz uma pequena pausa então ele dar um sorriso preguiçoso e finca a vara na terra e se apoia nela. — Mas o quão ágil você é?
Me preparo para respondê-lo, mas no exato segundo em que puxo o fôlego para falar, sinto algo sólido bater na minha canela com tanta força que por me pegar desprevenida e pela dor, sou levada ao chão numa rasteira só. Meu corpo cai de lado sobre a terra fofa e úmida; com o impacto, meu coração bate forte e a respiração muda. Estou assustada mas também muito enraivada.
Rapidamente me viro na direção de quem fez isso e encontro Sasuke Uchiha em uma posição suspeita, além do seu olhar de predador e um sorriso satisfatório.
— Com certeza não o suficiente para sair dessa sem nenhum arranhão. — ele responde a pergunta de Shikamaru por mim, e ouço o guarda rir.
Eles estão juntos nisso. Sasuke e Shikamaru parecem formar um complô para me humilhar e rir da minha cara. Levanto-me rapidamente, suja e trêmula.
— Qual o seu problema?! — pergunto rosnando entredentes a Sasuke que não parece se abalar com a minha irritação. Meu tom de voz surpreende até a mim mesma; ele é da realeza, não devo faltá-lo com respeito. Mas a esta altura eu nem me importo.
— Muitos. Mas no momento, o problema aqui é você. — ele aponta na minha direção com a vara. — Não deveria estar aqui. Muito menos questionando a possibilidade de estar entre nós.
Dou de ombros.
— Não vejo porque não deveria.
Sasuke me analisa enquanto eu pareço uma tola procurando encrenca. Ele está de cabelo amarrado e vestido igualmente aos guardas, exceto pelo fato de que não está de colete. Ao vê-lo assim, é fácil esquecer de seu cargo, e de onde ele vem; parece tão comum que a comunicação com ele parece ser algo fácil. No entanto, é só abrir a boca para toda a sua arrogância se resultar em uma gama histórica de alto ego.
Quando acho que ele vai desistir de mim porque não vale a pena, Sasuke ergue apenas a mão esquerda e torna sua expressão serena.
— Shikamaru. — este é o comando, e então o guarda vem até mim com a vara que hesito olhando incrédula para aquela situação. — Talvez eu me foda muito por causa disso, mas é algo que eu pagaria pra ver.
É claro que ele quer ver a minha humilhação. Mesmo que isso o prejudique muito quando cair nos ouvidos do irmão. Eu poderia recusar o desafio. Poderia dar as costas e ir para o Complexo que é o lugar onde eu deveria estar; mas aqui estou eu, sendo desafiada pelo príncipe mais novo que dar sinais de que não gosta de mim. Mas por que? Por que ele insiste tanto em me atazanar? Por que ele não tenta ser legal? Ou será que ele nunca era legal?
— O que você ganha com isso? — pergunto desconfiada ainda hesitando em aceitar o desafio.
Sasuke dar uma risada preguiçosa e solta um suspiro pesado.
— Um pouco de diversão. Mas acho que o prêmio maior sem duvidas é o quão isso irá irritar o meu irmão.
— Isso não parece algo legal de se fazer. — penso em Itachi e na sua fúria quando descobrisse que o irmão machucou uma de suas possíveis futuras esposas.
— É coisa de irmão. — ele da de ombros.
— Talvez mexer com a pretendente do seu irmão seja mais do que coisa de irmão.
— E você se importa? — uma sobrancelha é arqueada de forma convencida.
Arrogante. Sao todos um bando de arrogantes. Pego com agressividade a vara que Shikamaru segurava.
— Não, não me importo. Será um prazer ver Itachi acabar com você. — minha voz soa tão malevola que me faz sentir culpada logo depois. Espere, eu não sou assim. No que estou me tornando?
A forma súbita que aquilo ocorre causa um clima tenso no ar. Começo a me dar conta do que era acontecendo: vou duelar com Sasuke Uchiha, um príncipe treinado em luta e que ao ver pelo seu porte físico, me partiria em duas se assim ele desejasse. Minhas mãos começam a suar e meu coração a bater tão forte que pulsa atrás dos meus olhos. Onde estou com a cabeça? Ele ganha intriga com o irmão, mas eu não ganho nada além de possivelmente, pontos negativos com Itachi por ser uma teimosa.
Mei me esfolaria por isso. O rei? Bom, acho que ele não se importa. Olho ao redor e vejo que os outros até pararam o que estavam fazendo para ver aquela cena rara. Eles devem achar que o príncipe me obrigou a lutar com ele, porque casualmente ninguém seria idiota o suficiente para aceitar a duelar com alguém experiente. Mas bem, eu fui. Em nenhum momento recusei ou tentei escapar da situação.
E acho que Shikamaru percebe que o que está pra ser uma brincadeira, acabará ficando sério demais. Ele rir sem jeito para Sasuke.
— Calma aí, cara. Isso é sério? Achei que estivesse só blefando.
— E desde quando eu sou apenas de blefar, Shikamaru? — indagou seriamente ao guarda que estremeceu.
— Ela é só uma garota. Você está apelando. Não posso permitir que esse tipo de coisa aconteça.
O olhar duro de Sasuke passa de Shikamaru para mim.
— Vamos ver se ela é uma garota selvagem. — então é isso. O veredicto é que Sasuke está me testando. Eu deveria saber que ele ter ouvido meu desabafo com Itachi traria consequências.
— Droga. — murmura Shikamaru dando as costas ao príncipe. Ele sabe que não há como competir com a realeza. Então o guarda passa por mim, mas antes, cochicha: — Você vai perder. Mas ao menos faça durar enquanto se defende. Mantenha a vara como um escudo, você é baixa, terá tempo de agir.
Então ele se afasta rumo aos outros guardas e o sigo com o meu olhar vítreo de puro êxtase e medo. Shikamaru acabara de ser legal comigo, me dando uma chance de não sair completamente humilhada daquela situação. Seu olhar pra mim é de desprezo, provável que me veja como uma garota estúpida. Mas até eu começo a duvidar disso ser verdade.
Agarro a vara com força na horizontal como se fosse um escudo. Meus dedos estão bem fechados quase nas extremidades, tão finos que se adaptam bem à madeira lisa e bastante sólida; não quero imaginar a dor que o impacto dela causaria ao me atingir. Eu vou apanhar. Sei que vou, e nesse momento, é o que me deixa nervosa. Sasuke teria essa coragem.
Quando ele dar dois passos à frente, afasto dois também. Como um animalzinho indefeso. Ouço risadinhas vindo da plateia masculina que se formara ali; nenhuma mulher para me apoiar, ou me impedir. Na verdade, a única mulher capaz de fazer isso ali, era eu mesma.
Meus braços estão tremendo e minha respiração tão pesada que é audível. Medo. Estou com tanto medo que isto torna a simulação inofensiva; mas eu preferia mil vezes a isto, do que ver minha mãe morrer várias e várias vezes.
Os joelhos de Sasuke estão flexionados e o seu bastão em minha direção. Ele vai atacar. O bastão é impulsionado duas vezes a minha frente e me assusto com o ataque eminente; o que me leva a pisar em falso e cair de bunda na terra úmida. Ouço mais risadas e murmúrios. Eles dizem que não devo estar ali, mas parecem estar amando o show.
Me levanto e Sasuke não me dá tempo. Ele avança rodopiando o bastão diversas vezes como uma tentativa de me hipnotizar, tirar a minha atenção. Seguro o meu bastão com força, mas com a guarda baixa demais que subitamente Sasuke me golpeia no braço esquerdo fazendo um barulho estampido cortar no ar juntamente ao meu grito. Sinto uma ardência que se espalha por todo o meu braço e então sobe pra minha cabeça quando compreendo a dor.
Olho para Shikamaru na procura de alguma desaprovação. Eu falhei usando a princípio a sua dica. Ele está sério e de braços cruzados, não parece compadecer com o meu caso. Mas ele me avisou.
Então, outro golpe, desta vez na minha perna e eu desabo sobre ela que estremece e formiga. O local onde Sasuke golpeou arde como os infernos. Sinto que a dor é capaz de atravessar meus ossos.
— Nunca tire os olhos do seu oponente. — Sasuke exclama com fervor, para que eu e todos ali o ouçam.
Respirando fundo, me levanto e faço o que ele diz. Mantenho meu olhar nele, o que é difícil pois sinto-me despida. Posso vê-lo, mas também não muito além daquelas ônix que parecem impenetráveis. Ao tempo que Sasuke me dá arrepios, sinto que se tocando nos lugares certos, a fera é amansada. Mas a única forma que quero tocar nele agora, é o acertando bem no meio da fuça, o que poderia causar um estrago em seu belo rosto.
Sei que shikamaru me pediu somente para manter a guarda e fazer durar, mas ignoro esta parte, pois há um lado selvagem dentro de mim que precisa reivindicar a minha dignidade. E esta pulsando e pulsando como uma luz incandescente, deixando meu corpo formigando em uma sensação de fúria e pura adrenalina. Reajusto o bastão e com os pulmões ardendo, eu corro gritando na direção de Sasuke; quero que à ponta vare o seu olho. Ele se esquiva com facilidade e gira com o bastão só para que tenha mais força quando me atinge nas costas pegando uma parte da costela e eu cuspo todo o meu fôlego.
Caio sobre meus joelhos e apoio as minhas mãos na terra fofa. Posso senti-la, tão calma e viva, assistindo eu sofrer. Desta vez sinto que este impacto foi mais intenso, minha visão fica sombreada pelos cantos. Não posso desmaiar. Não posso desmaiar. Mas o meu coração bate tão forte que acho que não terei mais forças para lidar com tudo.
Meus dedos estão fincando na terra como garras. Lá embaixo até que está quentinho. Algumas raízes me arranham, mas não é nada comparado com a dor que ainda me mantém no chão. E se eu não fizer nada, logo estará doendo de novo, e em outro lugar. Olho por cima do meu ombro e vejo Sasuke me olhando ansioso, como se esperasse algo de mim. Mas ele sabe que não sei lutar, então o que mais poderia ser?
Agarro um punho de terra e atiro em sua direção, no seu rosto. Isso o atrasa e ele cambaleia, é o momento em que avanço e o acerto no quadril e quando estou prestes a golpeá-lo mais uma vez, Sasuke mantém a guarda e nossos bastões se encontram com violência, ecoando pelas árvores.
É neste momento que ficamos cara a cara. Sinto a respiração dele bater fria no meu rosto e embora o frio de novembro, vejo gotas de suor escorrer pela sua pele alva suja de terra. Isso não diminui a sua beleza, muito pelo contrário, talvez ela esteja ali, na forma em como ele é selvagem e mais real.
Um sorriso presunçoso nasce no canto de seus lábios e ele diz baixinho:
— Está pensando se vale a pena mesmo lutar por Itachi quando se tem outro príncipe mais bonito, srta. Senju?
Sinto meu rosto esquentar, e o sorriso dele se alarga. Odeio ser tão expressiva ao ponto de ser fácil de se decifrar. Não acho possível que Sasuke leia mentes.
Ele me empurra e cambaleio. Mantenho a guarda alta quando ele dá sequências de golpe. Meu pulso está firme. Cada força que ele excede em meu bastão eu consigo suportar, como se pudesse canalizar cada potência de seu golpe. Estranhamente estou mais resistente agora e ágil. Sinto meu corpo ativo, como se tivessem apertado o botão automático onde meu eu interior sabe o que está fazendo.
Por uma fração de segundo lembro de Hidan e em como eu lidei com ele: inesperadamente forte e corajosa. Talvez seja isso. Talvez seja o meu poder entrando em ação de forma sútil mais uma vez. Quando penso nisso, sinto-me mais forte para enfrentar Sasuke.
Ele rodopia o bastão no chão e eu pulo rapidamente sobre ele, giro e consigo acertar as costas de Sasuke que arqueia. Ouço um coro de surpresa, não quero me desconcentrar ao ter que olhar para os guardas embasbacados com a minha repentina mudança de colocação no duelo.
Entretanto, não consigo lidar com aquilo. Violência não é o meu forte, embora eu tenha crescido perto o suficiente dela para temê-la e usá-la somente quando necessário, como em caso de autodefesa. Mas machucar outras pessoas por diversão não me parece certo, e quando ataco Sasuke com mais força desta vez, sabendo que era apenas para levantar a minha moral, algo dentro de mim retorce.
Ele está apoiado nos joelhos enquanto recupera o fôlego, e é quando eu abaixo a guarda e toda aquela sensação de onipotência se esvanece como águas descendo por uma margem. Ele é um príncipe, e eu o machuquei. Itachi irá ficar decepcionado por isso, e o rei irá querer me matar. Subitamente sou tomada por um sentimento de culpa e me aproximo com cautela.
— Ferrou pra mim. — digo baixinho a mim mesma enquanto troto em sua direção; estou receosa, mas parece que o atingi com tanta força que mais um toque e ele irá se quebrar. — Me desculpe, eu não queria machucar pra valer.
Como se ele não estivesse fazendo isso comigo também. Mas acho que ele poderia me machucar muito se assim desejasse. Afinal, ele não pode de fato fazer isso. Ele pode querer problemas com o irmão, mas não o suficiente para iniciar uma guerra entre ambos. Ao menos é o que eu imagino.
Quando ele não diz nada, fico preocupada. Está sem ar. Ele está sem ar!
— Alteza? — é quando acelero meus passos esquecendo das precauções, e de que possivelmente temos uma rixa.
Estico minha mão para tocá-lo e antes que eu consiga, o braço direito de Sasuke se envolve no meu prendendo-me de surpresa em um agarre forte, e o esticando. Ouço meu braço estralar. Tento acertá-lo com o bastão mas ele defende com maestria. E num movimento ágil e arriscado, Sasuke solta o seu bastão e agarra o meu, e antes que eu perceba que estou completamente exposta para ele, levo um chute bem no meu estômago que lança uma dor pungente por todo o meu corpo.
Sou lançada ao chão pela força do impacto e da dor. Encolho-me abraçando a minha barriga enquanto sinto que minhas entranhas estão sendo dilaceradas; é uma dor insuportável, somando a tudo. Estou chorando porque não posso evitar, mas isso também não parece compadecer ninguém.
— Você está em uma luta, e não em uma roda de chá. — Sasuke diz alto.
Fiquei mal quando o machuquei, mas Sasuke parece não ter dado a mínima ao me dar o xeque-mate. Bem quando Hidan estava preparado para me matar no tapa. Será que todos são iguais? Agressivos e possessivos. Com a vontade suprema de alimentar seus alter egos?
Isso também doi. Não estou segura em lugar nenhum. A culpa também é minha por ter ficado, mas achei que não seria tão ruim assim, até o momento em que ele me chutaria de tal forma como para se dar um basta.
Estou com ânsia. Ao meu redor o mundo tornou-se desfocado e pequeno. Mas o formigamento volta, juntamente a sensação de que uma corrente de água límpida está transitando por mim; me limpando, me restaurando… me curando.
Tenho forças para ver, ainda que de forma distorcida, a luz verde emanando de mim mais uma vez. Pulsando quente e vibrante. Ouço a voz de Shizune: um brilho eternamente independente que incandescência por onde passa. Estou começando a me sentir melhor, não cem por cento, mas ao menos a minha visão está voltando ao normal e quando isso acontece, vejo os guardas me olhando espantados. E Sasuke está no canto, não parece surpreso ou muito menos preocupado, mas sim, acatado.
Ouço vozes exasperantes se aproximando e me remexo. A luz em mim esta emanando um pouco mais fraca agora, e consequentemente, metade da dor já desapareceu.
Quando estou tentando me reerguer, vejo o general Kakashi e Mei Terumi correndo em minha direção. Nenhum dos dois parecem contentes.
— Mas que merda está acontecendo aqui? — ele gritou para os guardas que estremeceram, recuando passos.
— Srta. Senju! — exclamou Mei, mas não sei com qual sentimento. Quando me alcança, seus olhos estão chocados e os dedos hesitantes em me tocar; como se eu fosse um objeto raro e precioso.
— Alguém quer me explicar o porquê da pretendente do príncipe Itachi está no chão da Tenda e machucada? — A voz dele continuava rigorosa, que afetara até a mim. Sou culpada por isso também.
— E brilhando. — emendou Shikamaru que ao receber um olhar duro do general, estremeceu. — Quer dizer, você viu ela brilhando, não viu? Luz verde, igual um vagalume.
Então é com isso que eu me pareço? Um vagalume?
— Eu a duelei, general. Hatake. — corajosamente Sasuke se entrega, parecendo com nenhum pouco de medo.
Não posso ver o rosto de Kakashi. Mas a sua voz parece demonstrar confusão.
— Alteza, logo você? — questionou impressionado. — Sabe das regras da Tenda. Além de que a garota é pretendente do seu irmão.
Sasuke não se demora a respondê-lo.
— Reconheço o meu erro, e se Itachi estiver pronto para uma briga, estarei bem aqui.
Sasuke não trata do assunto com desdém. Ele parece assumir as suas responsabilidades, e isso o deixa com uma aparência inabalável. Ou talvez ele só seja orgulhoso demais para admitir que causou um erro muito grande, e que não tem medo das consequências.
— Precisamos levá-la imediatamente para a sala de simulação. — diz Mei, como se uma ideia tivesse se despertado em si. — Talvez agora conseguiremos captar o seu poder e o chakra dele.
Saber que a simulação chegará ao seu fim me alivia. Então tento me levantar, mas as pernas falham. Sinto que meu corpo está curado da dor, mas há vestígios dela, como uma superfície molhada que está a enxugar.
— Eu a levo. — diz Sasuke e o olho consternada enquanto se aproxima de mim.
Acho que não quero a sua ajuda. Eu não consigo compreendê-lo, e isso me deixa insegura sobre estar ao seu lado. Antes, ele estava determinado em me machucar, agora, parece condescendente a minha situação. Tento recuar quando ele se agacha para me pegar. Ainda tem terra em seu rosto, e de qualquer forma, ele parece menos perigoso agora.
— É o mínimo que posso fazer. — complementou baixinho.
Aqueles olhos antes inescrutáveis, agora transparecem bondade. Essa mudança gigante me choca no primeiro momento. O que você quer comigo? Tenho vontade de gritar essa pergunta. Mas acho que é por causa da Karin. Ele com certeza nutria algum sentimento por ela, e eu estar aqui no lugar que a pertenceria deve deixá-lo irritado.
Mas aceito a sua gentileza. Não porque estou me sentindo mais confortável assim, mas porque algo me diz que este será o único momento de paz dele antes de encontrar o irmão mais velho. Sasuke está a par do que aquilo causaria em Itachi.
Desta vez quando ele faz menção em me pegar, eu não recuo, e quando Sasuke me pega em seus braços e se levanta com tanta facilidade, espero que ele não fale nada sobre isso. Eu detestaria ouvir mais alguém se vangloriar da minha desnutrição. Mas ele não faz, apenas segue Mei silenciosamente até o Complexo.
Kakashi fica na Tenda, certamente dando sermão nos guardas que não interviram aquela situação o quão cedo. Das poucas vezes em que arrisco a olhar de soslaio para Sasuke, fico me perguntando se ele está arrependido. Mas ele consegue ficar inexpressivo com facilidade, então opto por aguentar aquele silêncio ensurdecedor até chegarmos a sala da simulação.
Quando entramos no Complexo, Mei e Sasuke andam lado a lado, e eu percebo em dado momento que o príncipe conhece muito bem o caminho. Lembro então da primeira vez em que o encontrei; o que ele fazia naquela gruta? Assim como eu, também parecia estar fugindo de algo, procurando uma espécie de refúgio. Quando encontrei aquele lugar, eu estava fugindo da simulação. Então de onde ele havia saído – ou fugido – para chegar até ali?
Há uma agitação desorganizada quando adentramos a sala de simulação e Mei dispara o que aconteceu à mim na Tenda.
Kabuto corre para a câmara e Sasuke o acompanha. Sem precisar falar nada, ele me deita na cadeira reclinável com mais cuidado do que eu esperaria. Aquela agitação toda me deixa apreensiva que estou inquieta. Começo a cogitar que eu gostaria de voltar para os braços de Sasuke, e então para a Tenda. Olho-o fixamente para que ele compreenda isso, mas ao invés de me levar de volta, ele apenas diz friamente:
— De nada.
E então ele dar as costas e vai embora. De forma enigmática e arrogante, para variar. As oscilações de humor de Sasuke me deixa tão intrigada quanto ao sorriso de Itachi. Mas isso não importará nos próximos seis segundos porque me furam com uma agulha enquanto o soro da simulação pesa em minhas veias, e depois por todo o meu corpo.
Tudo então se apaga, e eu sei que é o único momento onde não precisarei me preocupar com o duelo entre Sasuke e eu.
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