Um encontro social com o Rei Fugaku não é uma coisa simples. Espero por muito tempo vê-lo, mas sinto que me faz esperar de propósito, aumentando então a ansiedade e angústia dentro de mim.
Por um longo período do dia, trancafiada dentro do quarto sem poder sair ou receber qualquer notícia externa, concluo que aquilo seja uma punição pela minha desavença com Ino mais cedo. Uma forma de eu repensar os meus atos. Mas não consigo, e não me arrependo de ter partido para cima dela.
A tardezinha, o Trio veio me preparar. Meg prende o meu cabelo em um coque simples, sem graça, e Kiara passou apenas um pó no meu rosto. Não devo estar glamurosa. Mas Lara trouxe um vestido preto, com tecido grosso, desenhado de forma bruta e com botões casuais demais. Não tinha nada a ver com tudo o que já vesti até agora, que transmitisse poder, luz e inocência; este é intimidador, medonho. Quando o coloco no corpo, parece que estou pronta para um funeral. Isso me deixa desconfortável, mas não é a melhor hora para ficar com medo.
Se vou ficar cara a cara com o rei, é melhor que eu seja corajosa e temível, de verdade. É bom que este vestido seja a minha armadura, porquê estou indo para a minha primeira batalha.
E já é noite quando estou pronta e um guarda bate à minha porta, preparado para me levar até a Sala do Trono onde irei encontrar Fugaku. E para o meu espanto, quando Lara abre a porta, é Zabuza que está do lado de fora à minha espera, com mais dois guardas que não consigo reconhecer. Ele ainda usa o uniforme de mais cedo, só que agora em meio à noite, o quepe forma sombras em seu rosto tenebroso.
Começo a agarrar mais uma vez a temível ideia de que este é o meu fim. Serei levada até a guilhotina ou então um fuzilamento, e Zabuza veio de longe para executar o serviço. É por isso que está aqui. No entanto, preciso segui-lo, e meus pés pesam toneladas até eu sair do quarto. O silêncio que me ronda é esmagador, principalmente durante o trajeto. Não estou algemada, mas sinto como se meus pulsos estivessem presos; logo atrás de mim, os dois soldados me escoltam mais para a segurança dos outros do que para a minha.
A gola alta do vestido pinica o meu pescoço, e a medida que avanço, parecem dedos me enforcando cada vez mais. Igual eu fazia a Ino mais cedo. Não penso na possibilidade de que isso tudo é por causa dela. Mas está na cara que foi o limite.
E isso é culpa minha.
— Como conseguiu fazer parte da Tenda? — Zabuza perguntou depois de um tempo, quando o silêncio entre nós dois ficou sufocante demais. E embora a dúvida, sua voz não expressa interesse nenhum.
— Sou boa em chutar bunda de homens. — digo tentando não parecer muito interessada também.
Ele solta um riso anasalado, e mesmo que esteja indo na minha frente, imagino que seus lábios mal repuxaram.
— Com um pouco de coragem e ousadia, se chega a qualquer lugar, não é?
Sim, mas nem tanto. E por isso não o respondo, porque a minha coragem e ousadia impulsionaram o rei a ter uma conversa de vez comigo esta noite. Mas também já era hora.
Não quero ser o centro dessa conversa, e por isso, mudo o rumo dela:
— E o que trouxe você para a Aldeia do Sol, soldado Momochi?
— Coragem e ousadia. — respondeu de prontidão, e reviro os olhos.
— Já não lhe tinha o suficiente na Fortaleza?
Ele vai diminuindo o ritmo dos passos à medida que nos aproximamos do local combinado. É quando finalmente responde:
— Fiquei sabendo que as coisas estão mais divertidas por essas bandas.
Estreito as sobrancelhas e olho para sua cabeça, o fuzilando.
— Acho que lhe deram a informação errada.
Zabuza me ignora pelos segundos que se coloca em frente a uma enorme porta e se detém ali para então me olhar com seus olhos impiedosos e dizer:
— É o que descobriremos.
Parece uma promessa assustadora, e eu fico calada. Mas não por isso, e sim, porque ele espalma as mãos na onipotente porta dupla da Sala do Trono e a empurra, fazendo-as ranger em suas dobradiças e revelar o interior sombrio e mortal. Hesito do lado de fora, olhando para tudo e não vendo nada. Devo confessar: estou com medo, sim. Sou apenas uma garota tentando sobreviver nessa loucura, mas estou no meio da loucura desde que nasci e agora, apenas me moldo conforme ela vai se distorcendo.
— O rei lhe espera, srta. Senju. — Zabuza diz, me mostrando o caminho de forma cordial.
Olho dele, para o que há lá dentro. Daqui, o rei é apenas um ponto sentado ao Trono. Porque é assim que ele planejou este momento, a oportunidade perfeita para ficar nítido a diferença gritante entre nós dois. E o que ele espera de mim já é óbvio demais, e por isso, me agarro a coragem e ousadia para enfrentá-lo.
Não posso tornar este momento contra mim. Preciso lembrar de como é caminhar, mesmo quando tudo parece estar desabando; recordo da forma mais inconveniente das aulas de etiquetas de Mei, que nos ensinou como parecer brutas diante de situações que necessitavam estômago forte, como agora. E mal acredito que será tão útil. Uno minhas mãos frente ao corpo, então “desfilo” até o rei, sozinha. Sempre sozinha.
Mas assim que avanço para dentro da sala, ao dar duas passadas, sinto um vazio me preencher. Como se toda a minha energia tivesse sido sugada, contida, ou desligada. Mas ainda assim, avanço e ignoro essa sensação arrancada de mim, porque começo a interpretar como um dos sinais de medo e nervosismo. Só que é estranho, e por isso vou titubeando pela passarela do salão, um pé de cada vez, com o meu coração pesado, me forçando a ficar mais prostrada do que gostaria.
Estou olhando fixamente para o rei, mas vez ou outra olho ao redor para não vomitar. Percebo então que tenho apenas uma lembrança deste salão pela manhã, quando ele fica realmente bonito, tomado pela luz do Sol que ilumina tudo. Mas à noite parece que ele se embroma no aspecto obscuro daquele que senta ao Trono. O brilho da lua não chega aqui, e só o que temos de luz são as velas que tremeluzem acesas derretendo nos candelabros pendurados nas pilastras, formando sombras assustadoras e uma iluminação pálida.
É assombroso.
Mas não tanto quanto ver Fugaku relaxado em seu trono, com a coroa de ouro escuro ordenhada com pedras de rubis. Ele pousa a face na mão esquerda, que está apoiada no braço do trono brutalmente cinza, que parece tão desconfortável. Vendo-o assim, ele não me dá medo, porém, o poder que tem na mão de ordenar, é o que me assusta. E eu não sei de que maneira ele irá usar esse poder agora.
Eu jurei a mim mesma que o esfolaria por ter feito o que fez com Sasuke, e vê-lo aqui eu só consigo sentir uma fúria que preciso controlar com toda a minha força, mesmo que ela pareça ter ido embora; sei que está aqui e que posso usá-la. Contudo, no momento minha cabeça fica enevoada com muitas razões que tenho para odiar o rei.
Mei Terumi está posicionada de pé ao lado do Trono, e do outro lado, está Kabuto. Eles parecem ansiosos, mas também não são os únicos rostos conhecidos aqui.
À minha esquerda, olho rapidamente de relance e avisto Konohamaru, eu não compreendo o motivo da presença dele. Porém, meu peito dá um solavanco de alívio ao vê-lo; estou aliviada e amedrontada, ele pode me ajudar, mas também pode descobrir coisas que não sabe ao meu respeito. E ainda que adote a postura de soldado, percebo-o tenso.
Fugaku está tramando uma contra mim, e eu não sei mesmo o que vem aí. Pelo menos Sasuke e Itachi parecem não terem sido convidados para a nossa reunião particular.
Paro então três metros antes dos cinco degraus que dão para o bloco elevado onde está o Trono. Não estou perto o suficiente, mas temo que ele ouça meu sangue correr com força em minhas veias, e o meu coração bombear brutalmente; felizmente, eu só consigo ouvir o zumbido desconfortável do silêncio. Me distraio um pouco quando Zabuza e os dois guardas que me escoltavam se colocam ao lado de Konohamaru.
É oficial, agora não tem para onde fugir. Relaxo meus braços rente ao corpo e languidamente, reverencio o Rei. Por ser ele, o peso da humilhação deste ato me corrói por dentro. E descubro que o silêncio ensurdecedor era melhor do que a voz brutal e temível de Fugaku quando ele começa a falar:
— Saky Senju, da Aldeia do Sol, sobrinha do Senador Jiraiya Senju e Abençoada pela Deusa. — ele cumprimenta, e já me surpreendo por não referenciar a mim pela minha verdadeira identidade; talvez ele não saiba, ou talvez ele esteja deixando o melhor para o final. — Eu ainda não lhe dei meus parabéns pela vitória da primeira eliminação. O dom que você vem mostrando é realmente impressionante.
Pisco atônita. Quero dizer algo mas não consigo. O agradecimento se entala no meio do caminho, porque não consigo entender a razão de sua gentileza, quando ele tem razão o suficiente para me destruir.
— Itachi deve saber o que está fazendo. — complementou. — Além de que Kabuto e Mei Terumi me dão ótimas notícias a seu respeito.
Mais uma vez hesito, mas me esforço ao máximo para não parecer chocada demais diante dele. E ainda assim, soou trêmula e confusa:
— Obrigada, Vossa Majestade.
Acima dos seus olhos negros e impassíveis, ele franze as espessas sobrancelhas negras, e estala a língua incrédulo ao continuar seu pronunciamento.
— Só que infelizmente, não se pode dizer o mesmo do seu comportamento. — silvou com aversão. — Como hoje de manhã, por exemplo, todos ficamos sabendo do seu repentino ataque a Ino Yamanaka. Filha de um grande amigo meu, que logo soube o que ocorreu a sua única herdeira e foi preciso Mei Terumi usar de seus bons artifícios de persuasão para ele não vir até a Corte e tratar deste assunto pessoalmente com você.
Ele dispara aquelas informações tão rápido que mal tenho tempo de processar. Só sei que o pai de Ino não ficou nada satisfeito com a minha ameaça a sua filha.
— Mais uma vez, minhas desculpas pelo comportamento inadequado da srta. Senju, Majestade. — Mei choramingou ao lado do Trono, quase se esfregando ao braço de Fugaku, o que me enojou. Seu tom muda rapidamente para algo desprezível: — É muito difícil lidar com o temperamento selvagem dela.
O rei ergue um dedo contendo a sacerdotisa antes mesmo que ela use mais uma desculpa.
— Não… — ele deixa aquela negação pairando no ar, deixando-nos confusas, mas sou eu que está à beira de um colapso nervoso. — Olhemos pelo lado positivo, minha querida Terumi. A selvageria da srta. Senju deu a ela a coragem necessária para salvar o meu filho do atentado à festa que ele deu, além de que salvou dezenas de vidas quando Ino quase congelou todo Complexo.
— É um dom realmente incrível. — diz Kabuto.
— Sim, é verdade, meu caro.
Metade do meu fôlego se perde. Não estou surpresa demais por ele estar me elogiando, mas estou surpresa porque ele está sendo convalescente, agindo como se importasse com outra vidas se não a dele mesmo.
Com isto, não consigo segurar as pontas. Noites atrás ele estava me caçando, querendo arrancar a verdade de mim se eu não colaborasse. Agora age como se nada daquilo tivesse acontecido; como se me admirasse, como se não maltratasse Sasuke. E isso vai perdendo o controle dentro de mim até formar uma bola de neve e eu não me segurar.
— Por que estou aqui? — pergunto nitidamente confusa, mas tentando permanecer estável mesmo com a minha voz fria.
Sinto todos os olhares sobre mim. Uns confusos também, outros achando graça ou então, curiosos. Não me detenho de pensar que Fugaku, em particular, está amando isso. Principalmente quando ele sorrir. E eu sempre soube que esse seu sorriso não era de carisma, e sim, de pura maldade.
— Minha querida, não precisa ficar com medo. — ele estala o dedo e das sombras surge uma criada segurando uma bandeja com vinho e uma taça delicada, ela o serve, e então volta para a escuridão. Precisamos esperar no silêncio Fugaku dar o seu primeiro e demorado gole. Tudo que esse homem faz revira o meu estômago. Gostaria muito que ele comece os vidros dessa taça também e sufocasse em seu próprio sangue. Quando volta a falar, me espanto dos meus devaneios: — Jiraiya e eu tivemos uma longa conversa sobre isso. E ele não me negou desta vez que realmente mentiu. Somos amigos há tempos, sei do histórico familiar dele e o que faz para alcançar o que quer.
Preciso segurar as laterais do meu vestido com muita força se eu não quiser transpassar nenhum tipo de emoção enquanto ouço isso.
— Mas mentir sobre você foi cômico e desesperador. — falou triunfante, tomando outro gole do vinho. — Pelo menos ele não mentiu sobre você ser da Aldeia do Sol. Mas, sobrinha? Francamente, isso foi uma piada para quem o conhece há décadas!
Dentro de mim um balão esvazia. Jiraiya teve a coragem de omitir a mentira, isso é tão a cara dele que nem me surpreendo. Ao menos pela primeira vez acho bom ter feito isso. Imagino que ter me revelado como uma inferior da Aldeia de Ferro poderia ter trazido consequências piores para mim, e então não estaríamos tendo essa conversa que muito provavelmente irá terminar em um acordo, como bem me avisou o Senador da última vez em que o vi.
Uma parte minha quer rir do rei por continuar um idiota que acredita nas mentiras de alguém que é tão próximo à ele, por outro lado, ainda estou nervosa. Não chegamos ao fim, e pelo visto, não estamos nem perto.
Relaxo os ombros e entristeço o rosto. Faço-o ver que estou chateado pela “descoberta”. Quanto mais eu acho que vou me despedir da Saky, mais eu permaneço com ela. Ao redor, os soldados não esboçam nenhum tipo de reação, tampouco Konohamaru. Mas Zabuza parece uma exceção, e ele apenas arqueia uma sobrancelha de curiosidade. Kabuto está chocado, mas Mei sorrir de forma convencida – ela nunca acreditou em mim.
— O que isso muda agora? — pergunto com a voz fraca para ele achar que estou mal por isso.
Fugaku arregalou os olhos.
— Não vai negar? Nem ao menos pensar na possibilidade de eu estar apenas a manipulando para confessar a verdade? — indagou afoito.
A reposta é simples. Eu já esperava que isso viesse à tona, então não insisto em negar. Caso contrário, eu continuaria negando, porquê não descartaria a possibilidade dele estar me manipulando, sim.
Então respiro fundo e o respondo:
— Do que adianta? Eu não poderia ir tão longe, não é? Você sempre suspeitou da verdade. — falo com tenacidade, arrancando dele uma expressão de orgulho.
Sasuke tem os olhos dele, mas olhar para o rei agora é como olhar para Itachi.
Vagarosamente ele informa:
— Você tem a opção de se entregar na segunda eliminatória, e então passará por uns testes de lealdade para que continue na Corte. Não podemos desprezar o seu enorme dom, tê-la com a gente será uma diferença enorme. A segunda opção, você deve imaginar que é a mais desagradável. Caso vença por puro orgulho, teremos de expor você ao público, e o seu exílio será retratado com a nação de Andarelly.
E da minha família também, penso. Mas lembro que sou uma outra pessoa, outra mentira por cima da mentira, então devo ter outra família fictícia. Mas isso tampouco importa agora, e na hora certa, irei organizar novas informações falsas com Jiraiya e Shizune. Preciso me focar ao que está a minha frente, e como já pensei demais nisso, respondo de prontidão:
— Estou aqui para servi-lo, Majestade. Ficarei com a primeira opção para que veja que arco com as minhas responsabilidades e sou leal à Coroa. — em meu interior, as palavras querem fugir, mas as cuspo diante do seu trono, e ele mal percebe.
— Como imaginei. — abriu um sorriso. — Aldeões do Sol são pessoas inteligentes. Não se trata apenas de vocês da Aldeia do Ar. — falou em direção à Kabuto, que enrubesceu.
— Absolutamente não, Majestade. — murmurou completamente desconfortável, Kabuto ajeita a armação do óculos.
Não entendo porque Fugaku precisou de plateia para isto. Talvez queria me ver sendo humilhada na frente dos outros, mas teria convidado mais pessoas se fosse esse o caso.
O rei volta a me olhar de forma modesta.
— Viu? Não foi tão ruim assim. E você me evitando todo esse tempo.
— Fiquei com medo do que pudesse acontecer comigo, Majestade. — revelo, mantendo a postura. Estou aliviada por saber que ainda viverei, mas ainda o odeio.
Ele desdenha e torna a falar com desgosto:
— Imagino que o meu filho Sasuke não tenha feito o serviço direito de lhe contatar. Ele nunca faz nada direito. É por isso que precisa ser disciplinado por isso.
Meus ossos congelam, mas meus olhos perdem o controle. Pisco rapidamente nervosa e atônita com essa informação; meu estômago dá um nó. Disciplinado para mim soa como punido, e por isso não consigo evitar a seguinte pergunta:
— O que quer dizer com isso, Majestade?
Fugaku bufa frustrado. Enquanto isso, vou identificando um gosto amargo na boca, a visão ficando enevoada e meu corpo trêmulo demais.
— Sasuke recusou continuar a persuadi-la para vim até o meu encontro para revelar as coisas que agora já sei. Mas já dei conta disso, srta. Senju. Não precisará mais se preocupar com o meu filhinho lhe atormentando.
Ele já deu conta disso. É claro que deu. E eu presenciei, sei o que ele fez. Foi horrível, e mesmo que tenha sido há um dia, parece que foi há uma eternidade, e que sou constantemente aterrorizada pelo som do chicote cortando o couro de Sasuke, e os gemidos dele, e a visão dos cortes abertos em suas costas manchando tudo de sangue. Vê-lo pela manhã tão bem faz parecer que tudo não passou de um pesadelo, só que foi real. E agora, infelizmente, como uma luz que se acendeu demais ao ponto de queimar tudo em sua volta e engolir em escuridão total, percebo o pior: Sasuke estava sendo açoitado por minha causa.
Meu coração para por alguns segundos e encaro o chão de abrindo sob meus pés. Não, isso não pode ser verdade. Sasuke disse que daria um jeito, e ele conseguiu. Lembro de ter ficado feliz e aliviada por saber que ele livraria a minha barra, mas agora estou triste e me sentindo culpada; e se eu soubesse que tal coisa o acometeria, a essa hora eu já estava bem longe da Aldeia do Sol, porque jamais deixaria outra pessoa se machucar em meu lugar.
E foi exatamente o que aconteceu. Meu mundo parece que desaba, e junto dele, a minha empatia por Sasuke. Burro. Burro! Por que fez isso? Por que ele e não eu? E mal pude curar as suas feridas que foram causadas por minha causa. Isso tudo só piora o que estou sentido agora. Raiva raiva e raiva.
No fundo, ouço alguém dizer:
— Srta. Senju, tudo bem? — é Fugaku, me analisando com cautela; balanço a cabeça mal conseguindo respirar diante daquele esclarecimento. Graças a Deusa, ele não para de falar, e tenho tempo de me recuperar. — Ótimo. Se não se importa, embora você deva ter outro nome, iremos nos dirigir a você ainda como Saky Senju. Não queremos que a verdade se espalhe antes de você tomar a sua decisão.
Pisco três vezes e balanço a cabeça ainda enevoada com os recentes fatos. As palavras estão embaralhadas, mas com sorte, logo consigo formular uma pergunta.
— Por que essas pessoas podem saber, enquanto Itachi, não? — pergunto baixinho, para que não percebam que fiquei afetada.
Ele muda a sua postura no Trono, ajustando-se ereto. Seus dedos apertam a curva dos braços do objeto, deixando a sua imagem mais onipotente ainda. Quando acho que ele irá falar, o rei acena para Zabuza e olho em sua direção, o soldado dar seis passos à frente se posicionando ao meu lado, ele reverencia o Rei e se apruma para falar.
— Soldados não veem, não falam, e não ouvem. Apenas obedecem. — entonou Zabuza, como um mandamento militar.
Olho de relance para Mei e Kabuto, e Fugaku capta de imediato:
— Mei Terumi e Kabuto possuem um outro tipo de comprometimento com a Coroa. Eles são peças insubstituíveis em nossa Corte, são ótimos em guardar segredo.
Não entendo.
A forma como tudo está tomando um caminho pacífico e normal demais começa a me assustar. Tem alguma coisa errada, sei que tem. Dias atrás Fugaku estava quase declarando guerra contra mim caso não colaborasse, e agora, sabendo que sou uma farsa, ainda parece bom demais. Onde está aquele homem que rejeita seu povo e açoita o próprio filho? Não. Tem que ter alguma coisa.
A minha respiração até acelera. Talvez eu esteja me precipitando demais. Não sou uma ameaça grande à realeza; eles não sabem que sou uma inferior da Aldeia de Ferro e membro da Resistência. A outra mentira criada por Jiraiya ainda faz Fugaku ser clemente, ou então, ele ainda vai fazer algo da qual eu me arrependa por ser quem eu sou.
Com isso, fico alerta. Mexo meus dedos e impulsiono o meu poder para entrar em ação a qualquer momento. Mas não sinto nada. Não há nada aqui dentro de mim desde o momento em que entrei. Percebo então, tarde demais, que a energia arrancada de mim não foi o prelúdio de um ataque de pânico, e sim, do meu poder sumindo.
Aperto os olhos. Não não não não não.
Meu peito está prestes a explodir quando ouço Zabuza dizer lentamente, fazendo toda a atmosfera daquele lugar mudar:
— E há mais militares do que civis em Andarelly. Eles estão sob nosso comando, mas não em nosso controle. É por isso que os soldados não irão dizer nada.
Então ele saca a arma de seu coldre, vira e atira na direção dos dois soldados, fazendo o estampido romper no ambiente acabando com o silêncio. Acontece tudo tão rápido que só tenho tempo de olhar para Konohamaru, e antes que eu grite e corra na direção dele, vejo os dois soldados caídos no chão, imóveis, com esferas em suas cabeças que começam a espalhar sangue rubro. Estão mortos estão mortos. Percebo que Zabuza se demora na hora de puxar o gatilho na direção de Konohamaru, ou eu que corri em seu encontro rápido demais. Sou um escudo humano. Mas estou sendo tola, porque não estou sentindo o meu poder. Mesmo assim, acabo agindo de forma abrupta e imprudente.
Meu coração está em disparada e meu corpo tremendo todo. Vejo um sorriso malicioso na face de Zabuza e fico assustada. Ao nosso lado, o sangue daqueles dois homens começam a empoçar debaixo de suas cabeças. Eles foram ali apenas para morrer.
Fico tonta, mas estou furiosa.
— Não! — urro com todo o fôlego dos meus pulmões, os olhos estão arregalados de horror, se enchendo de lágrimas quentes que não caem. — Pare! Você não vai atirar nele também!
Zabuza maneia a cabeça e me lança um olhar especulativo.
— Não se preocupe, mocinha. Não sou eu quem vai atirar nele. — ele diz, e então gira a arma e a ergue em minha direção. — Vai ser você.
Sinto as batidas do meu coração parando e parando. Reverberando em meus tímpanos com a mesma força que ele deveria estar batendo, mas não está.
— O que? — mal consigo mover os lábios.
De seu Trono, Fugaku se levanta e vejo melhor que está em vestes pesadas de couro preto, com botões de ouro branco e uma enorme capa escura de veludo caindo perfeitamente em si que se arrasta logo atrás como uma longa calda. Ele e seus dois filhos tornam real o que falam sobre os Uchihas serem cruéis e perigosamente lindos. Mas não vejo beleza nenhuma em Fugaku, apenas uma podridão.
— Tantas mentiras. Tantos comportamentos inadequados. Nada disso poderia passar impune pela Corte, menina. E é aqui que você será sentenciada pelas coisas inapropriadas que fez à Corte desde a sua chegada. — pronunciou com esmero, enquanto descia lentamente os degraus do bloco de onde está o Trono.
Meu interior começa a esquentar. Não estou com medo, mas furiosa comigo mesma. De certa forma, eu acabei cavando a minha própria cova, e agora Fugaku irá me jogar nela junto com estes soldados.
— Achei que tínhamos feito um acordo. — respaldo rispidamente, me esquecendo de Konohamaru que agora está ao meu lado.
Ele é um soldado da Guarda Real, não acha necessário a minha proteção.
— E fizemos. — consternou o rei. — Mas isso é outra história. Estou falando agora de como você subestimou as regras da Tenda, foi irresponsável ao se direcionar com o povo da Aldeia do Sol durante o Tributo, atacou Aisha no Complexo e hoje atacou a srta. Yamanaka. Além de querer me fazer de tolo com as suas tentativas de nos enganar.
Engulo um chumaço de algodão. Minhas sentenças são vergonhosas, mas as piores eles mal fazem ideia. Como ter atirado no príncipe Uchiha e o beijado: violência e traição. Uma parte minha quer gargalhar por isso, mas me controlo porque o ambiente não é mais o mesmo.
O rei continua:
— Você é uma criaturinha perigosa para a Corte, apesar de tudo. Um aldeão do Sol é como irmão para mim, mas um aldeão do Sol que tem atitudes subversivas dentro da minha Corte, é um prejuízo.
Pisco sem saber o que falar. Olho de relance para os dois corpos estirados ao chão. Há mais sangue, e eles parecem tão frios, parecem aldeões de ferro quando são fuzilados por soldados às vezes por tão pouco. Desvio o olhar e aperto-os enquanto ainda ouça a voz de Fugaku.
— Mas é um prejuízo reparável. — respaldou saltitante. — E por isso, nessas horas, apelamos para um simples ato de lealdade.
Ele pega com elegância da mão de Zabuza a arma que matou os outros dois soldados. Fico tensa e inquieta. Não é uma surpresa que ele saiba manusea-la muito bem.
— Soldado, tire o seu colete. — Fugaku ordenou.
Olho de relance para Konohamaru que nem hesita, obedece o rei de imediato, tirando o colete preto à prova de balas, o colocando no chão ao lado de seus pés metodicamente. Apenas obedecem. Mas parece mentira, vejo Konohamaru engolindo seco.
Estou com uma sensação muito ruim. E quero gritar mas só sei ficar aqui paralisada porque fui encurralada como um animalzinho.
— Muito bem. Agora você vai atirar nele. — O rei repetiu a mesma ordem de Zabuza a mim, me apontando o cabo da arma.
Recuo apavorada.
— Não. Não vou fazer nada disso.
— Você vai. Tem o poder da cura, irá conseguir trazê-lo de volta.
Sinto algo romper dentro de mim.
— Você quer que eu o mate? — indago enojada.
— Matá-lo não. Mas atirar bem no peito e não deixá-lo morrer. — explicou com uma tranquilidade assustadora. — Ouvi dizer que os gatilhos naturais são mais eficientes que os artificiais, então vamos ver se isso é verdade.
Estou balançando a cabeça com veemência, completamente apavorada. Não é como se eu nunca tivesse feito isso antes, mas nunca atirei para matar; nunca feri de fato alguém com essa intenção. Ainda mais a alguém que nunca me fez mal.
E em meio ao desespero, esqueço a vergonha e humilhação quando confesso em frente à eles:
— Isso não vai ser possível. Não sinto o meu poder. É como se ele tivesse sido desligado.
Fugaku desdenha.
— Deixe de lorotas, menina! — a sua voz troveja por toda a sala, estremecendo até mesmo o mármore sob nossos pés. — Faça o que eu mando e prove que você é uma pessoa confiável, ou então as coisas aqui na Corte ficarão bem ruins para você.
É uma chantagem. E eu não consigo me assustar porque as coisas já estão ruins há muito tempo para mim, e até que tudo tome um rumo definitivamente trágico é só questão de tempo.
Olho de relance para Konohamaru. Não estou reconsiderando a proposta de Fugaku, porque sei que não irei conseguir, mas tento de alguma forma encontrar força e coragem naquele soldado que desde o início soube me acolher, e foi mais príncipe do que um militar. E para a minha surpresa, Konohamaru está tranquilo, e esboça até mesmo um sorriso encorajador.
— Está tudo bem, srta. Senju. — ele murmura na minha direção, e isso não me deixa menos nervosa.
Ele confia em mim. Muito se ouviu e viram a respeito do meu poder, já curei soldados com fraturas expostas e sai ilesa de uma queda de doze metros de altura, salvei o futuro rei e rachei o chão congelado do Complexo só com um murro, pareço ser o tipo de pessoa perfeita para fazer a vontade do rei. Mas não é esse o caso agora, e isso ninguém entende. Muito menos eu.
Então olho para Fugaku quando tenho uma ideia mirabolante demais e sibilo:
— Atire em mim. Faça isso e veja que não estou mentindo. O meu poder se foi!
— Se atirar em você, como irá se curar? — Kabuto indagou muito interessado, e pouco incomodado com a situação.
Como eu imaginei. Ele é um deles.
— Não irei. Melhor arriscar a minha vida do que alguém que não tem nada a ver com as minhas mentiras. — digo rispidamente.
O rei esboça um sorriso endiabrado. A ideia parece agradá-lo.
— Atirar em você seria no mínimo, um acerto de contas. — falou suavemente, mas como uma lâmina que corta facilmente. — Porém com muita sorte, você é uma Aldeã do Sol, Abençoada, e tem uma escolha a fazer até a segunda eliminatória. — suas sobrancelhas arqueiam-se para completar com glória: — És insubstituível, srta. Senju.
Meu estômago retorce. Quanto mais o rei fala, mais aversão sinto por si. Quem ele pensa que é para dizer quem é ou não é insubstituível? O seu título temporário? É por causa dele que há dois soldados mortos à minha direita, e agora tento defender a vida de mais um. Não entendo porque pessoas poderiam ser substituíveis ao ponto de serem mortas.
Então com escárnio argumento:
— Corações nobres não são substituíveis. — aponto com o queixo em direção ao peito dele. — Proteja o seu, Majestade, para que ele não seja tão mal ao ponto de ser um coração substituível.
Embora ele já seja completamente podre.
Ele rosna e eu me endureço, olhando fixamente para a arma que ele segura ainda com o cabo em minha direção. O que acabo de falar o irrita, mas sei que também é tarde demais para aconselhá-lo a resguardar o coração ruim. Fugaku é um rei mal, e ele só ficará pior.
— Menina tola. Não ligo para corações. Eu poderia comer o seu agora mesmo por ser tão frágil e ingênuo. — Não duvidei disso, posso ver daqui seus caninos se exibindo para mim. — A maldade é confundida com o talento de ser consistente, e acredite, eu sou muito. Sei exatamente o que eu quero, e a forma como faço isso reflete nas ações das pessoas.
Ele dá mais dois passos e estica o braço em minha direção, percebo melhor que o revolve treme em sua mão. Eu o deixo pirado, e ainda acha que maldade e consistência andam juntas.
— Atire nele. — ordenou mais uma vez. E então, diz algo inédito, aos berros: — Atire no aldeão de Ferro!
Fecho os dedos em punhos e blindo o meu rosto. Mas por dentro estou paralisada. Konohamaru é um aldeão de Ferro, um irmão de Aldeia!
— Não. — digo com firmeza e dor.
— Atire! — gritou, fazendo Mei e Kabuto se espantarem-se logo atrás de si. Zabuza está imóvel, mas com um sorriso de canto que mostra que ele está amando; essa é a diversão que tanto queria encontrar aqui.
— Eu já disse que o meu poder não está comigo agora!
Num segundo, acho que Fugaku irá repensar com cuidado esse detalhe quando ele dá um forte bufada e me olha atentamente. Konohamaru é um dos soldados da Guarda Real da Corte, é profissional no que faz e Shikamaru confia nele. Mas lembro das palavras a pouco de Zabuza, que por ele ser um militar, é substituível.
— Então o encontre. — diz o rei, que gira a arma e aperta o gatilho.
Perco o fôlego por fração de segundo quando acho que ele vai atirar em mim, mas vejo o momento em que seu braço se move para a esquerda e fogo e fumaça reluz num estalido só. Quando dou por mim, já estou me jogando sobre o corpo de Konohamaru sobre o chão, imóvel, mas vivo ainda. A bala acertou um ponto de seu peito, mas não fatal o suficiente para matá-lo no exato segundo, e sim, aos poucos.
Konohamaru está morrendo.
De joelhos diante dele, ergo minhas mãos desesperadamente. Estou chorando mas contenho porque preciso obter controle se quero encontrar o meu chakra e conjurar a cura. Mas nada vem. Não sinto nada dentro de mim há não ser um grande caos que vai se desfazendo em vazio; não há mãos brilhando, não há salvação para Konohamaru. Essa ideia me deixa apavorada.
— Não está funcionando! — resmungo alto, mas logo em seguida, olha para cima, e grito para Kaguya: — POR QUE? POR FAVOR! POR FAVOR!
Espero e espero. São segundos que nunca andam, que nunca me trazem resultados.
Quando olho de volta para Konohamaru, a sua blusa de tecido grosso mesmo sendo escura, é notório o sangue que mancha e se espalha como uma praga. Ele realmente foi baleado. Isso não é um pesadelo. A única proteção que ele usa é o colete que jaz ao seu lado, o seu aliado, deixado a mandato de Fugaku, que o acha substituível. Nesse momento meu coração se enche de algo ruim, e eu olho para o rosto de Konohamaru na tentativa de procurar qualquer faísca do meu poder.
Ele está agonizando. Um pouco de sangue escapuliu de sua boca manchando a bochecha esquerda. Cuidadosamente seguro-o pela cabeça na tentativa de ajudá-lo, mas isso não parece adiantar; me assusto que quando eu o toco, não sinto nada vindo dele. E eu gostaria muito, porque significaria que o meu poder voltou. Mas não sinto nada.
— Ele está morrendo! — grito olhando para o grupo atrás de mim, que assistem ao espetáculo. — Ele precisa de ajuda, rápido! Kabuto!
Quando o chamo, vejo-o tentado a dar um passo, mas Fugaku impassível o impede, e isso me destrói e é quando sinto que nada poderá ser feito, que não haverá muito tempo e que esse é o preço que terei de pagar por mentir. Meu peito dá um solavanco que parece que ele vai ser arrancado, mas me mantenho firme.
Viro-me de volta para Konohamaru e mesmo triste e desesperada, esboço um sorriso torto. Esse reino é podre, e a forma como ele irá deixar a vida é injusta, mas não quero que saiba que foi tudo em vão.
— Tudo bem, querido. — digo baixinho, passando meus outros dedos livros nas pequenas mechas escuras que lhe caem a testa. — Vai ficar tudo bem. Não, não diga nada. — me afoito quando ele se esforça para dizer algo, mas só agoniza em meus braços.
Tão jovem, Konohamaru é tão jovem e lindo, de coração nobre. Insubstituível. Engulo o que está entalado dentro de mim, e preciso me apressar antes que ele perca a consciência de vez. Então como uma promessa, sibilo em seu ouvido para que só ele saiba:
— Você não será esquecido. Me chamo Sakura Haruna, sou da Aldeia de Ferro, e vou lutar por você, irmão de Aldeia.
Seus olhos se arregalam e se ascendem com aquela revelação. Vejo um resquício de Naruto, vejo meu pai, vejo Minato pai de Naruto ali em meus braços. Um pedaço de casa, ferido e sangrando, morrendo pelas mesmas mãos que nos matam todos os dias, semana e meses. E então, com o último resquício de luz nos olhos de Konohamaru, descubro que seus olhos são azuis como o fundo do oceano, e não pretos.
Ele os fecha, agora está morto. E levando para sempre com si o meu segredo.
Quero gritar, mas sinto que me afogo quando olhei bem no fundo de seus olhos, e ao fechá-los, fico presa. Estou sufocada, contendo o grito; meu nariz arde, pega fogo com o tanto que prendo dentro de mim.
Estou tremendo, mas logo fico estática quando sinto uma mão dura e fria em meu ombro. Esquivo e olho para cima, é Fugaku.
— Não se preocupe, querida. Se você fosse um dia rainha de Andarelly, haveria mais sangue em suas mãos do que o desse rapaz.
Com isso, ele sai pelos fundos, sendo escoltado por Zabuza, e Mei com Kabuto o seguem.
Não. Isso não é culpa minha. Eu não atirei em Konohamaru. Mas poderia ter salvado ele. Poderia ter feito alguma coisa. Eu seria útil se eu tivesse todo controle do meu dom, mas nem isso.
Fugaku consegue. Ele me desestabiliza mais ainda com aquela última frase. Konohamaru confiou em mim, achou que eu poderia tê-lo salvado, mas não fiz nada. O decepcionei. Não sou o que dizem por aí.
Isso também é culpa minha.
Me debruço mais ainda sobre o corpo de Konohamaru e choro, mas estou gritando também.
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