Sasuke não me largou em nenhum momento do trajeto, não deixou que ninguém ousasse colocar as mãos em mim. Mais ninguém além dele mesmo, e também não houve ninguém que insistisse o contrário.
O príncipe me manteve acolhida em seus braços fortes, no calor de seu corpo esguio e másculo, bruto pelo uniforme da Guarda Real que escondia todas as marcas deixadas por Fugaku, e mesmo que nós dois estivéssemos encharcados eu sentia o calor emanar de si; como algo vibrando em energia. Eu podia sentir suas falanges queimando enquanto sustentava o meu pequeno corpo exaurido, segurando-me com cautela e rigor; a respiração exasperada e morna dele aquecia o meu rosto, principalmente quando se arriscava em me olhar por mais tempo que deveria. E mesmo que eu estivesse me escondendo na curva do seu pescoço, procurando algum aconchego, eu sentia quando ele olhava para mim, fazendo meu coração se acalmar.
Todo momento que eu passava ao lado de Sasuke, parecia que eu vivenciava o tempo parar, ou então correr depressa demais ao ponto de não alcançá-lo. Nesta ocasião, eu diria que o tempo parou. Eu não ousei olhar para mais nada, nem mesmo dei ouvidos ao que acontecia envolta, me preocupei apenas em manter meus braços firmes ao redor do pescoço dele, enquanto eu sentia a sua presença tão perto da minha – eu sentia o corpo dele se mover e não hesitar em nenhum momento. Suas passadas eram tão graciosas que camuflavam as tensões de seus músculos. Por um momento parecia que o final seria ali, embromada em seus braços. Em um mundo só nosso que criamos sem querer.
Porém, houve um único instante em que arrisquei olhar por trás das cortinas molhadas do meu cabelo que caía na frente do rosto, e eu quase prendi o fôlego quando presenciei a cena.
Sasuke estava se aproximando da escada da entrada do palácio, tudo estava tão sombrio, frio e úmido, a chuva não parava, mas mesmo assim soldados haviam feito um corredor quando passamos. Dos dois lados, lá estavam rostos familiares da Guarda Real, homens que conheci na minha fase da Tenda, onde treinamos e brincamos juntos, onde eu pude conhecê-los um pouco melhor. Eu nunca pensei que fosse me compadecer com estes homens, que eles podem ser mais que meros peões de guerra. E agora eles estão aqui, me assistindo chegar como se eu fosse alguém importante a qual eles tiveram a significância de se preocupar.
Eu podia ver nos rostos deles o cansaço, e que a minha chegada havia colocado um fim em tarefas exaustantes, onde ninguém dormia ou sequer comia direito, onde o único dever deles era procurar por mim. Tsunade me contou que eles estavam à minha procura.
Agora não estão mais, porque voltei.
Aperto meus dedos envolta do pescoço de Sasuke, tentando imaginar o que ele poderia ter passado nesses últimos dias também. Eu pensei que pudesse estar com raiva de mim, mas a forma como ele me carrega como se eu fosse a sua protegida, e algo facilmente quebrável, diz muito sobre como o mesmo teve de lidar com isso nesses três dias.
Eu queria tanto poder conversar com ele. Quero contá-lo sobre a Resistência, mas lembro que nunca cheguei a mencionar a ele a existência desse movimento. Entretanto, nem que eu quisesse isso seria possível, pois quando adentramos o Palácio há um certo alvoroço. E tudo o que eu faço é usar os meus ouvidos.
— Isso está horrível. — ouço a voz de Kabuto surgindo ao longe, ele parece afobado também enquanto se aproxima.
Imagino que ele esteja se referindo ao tiro que levei.
— Se Itachi der a permissão, eu mesmo matarei Zabuza por isso. — Sasuke diz com uma voz sombria, deixando seu corpo tenso ao mencionar a ameaça; da forma como o conheço, ele não esperaria aprovação de ninguém para acertar as contas.
— Ou talvez a gente cuide disso e deixe a justiça agir depois, vossa Alteza. Talvez o seu irmão queira interrogá-la. — Kabuto disse em um tom desprezível. Ele parecia mais confiante, ou talvez seja apenas impressão minha, mas continuo ouvindo. — Ela parece desnutrida. Precisamos verificar a temperatura corporal, fazer algumas amostras de sangue e cuidar urgentemente desse ferimento. Ela está desacordada?
Sasuke me ajustou em seus braços, tentando ao máximo não apertar a minha perna ferida.
— Sim. — ele mente. Mas também não tento provar que está mentindo.
— Bom, então leve-a para o antigo quarto dela. As criadas estarão lá para limpá-la e dá-la comida. Acho que o Rei já está avisado sobre o retorno da Srta. Senju, mas preciso verificar pessoalmente isso com ele. Pode ser que haja uma ordem para mantê-la no calabouço, ou qualquer cela que a mantenha detida.
— Faça o que for necessário, mas não demore para curá-la. — Sasuke diz rigidamente.
Sasuke nem espera uma resposta e já segue comigo para o cômodo que era o meu quarto. Pensei que eu seria mandada para o Complexo, ou então uma prisão, sou uma pessoa muito suspeita para ser mantida dentro do Palácio. Mas aqui estou eu, sendo levada para o meu antigo quarto como se nada tivesse acontecido. Começo a duvidar se isso é sorte ou apenas uma jogada da realeza.
De degrau em degrau, Sasuke vai subindo comigo para o piso dos quartos, mostrando sempre resistência e força. O admiro muito por isso. Não pela sua força física, mas que mesmo com seus fantasmas em seu encalço, ele sempre tem forças obastante para seguir em frente, encarar seus problemas e tomar as dores de terceiros para então lutar. Eu não queria que ele se preocupasse comigo, mas que continuasse esse príncipe rígido. É mais fácil de sobreviver quando se é firme feito mármore ao invés de frágil feito uma folha.
Mas Sasuke é feito de obsidiana. E eu, uma folha despencando lentamente de um galho.
Ainda assim, tento constantemente ser forte como mármore, mesmo que digam que eu sou uma pobre folha.
Quando dobramos para o corredor do meu quarto, apesar dos dois soldados que parecem estar ali para me vigiar, assim que vejo a porta eu quase estico meu braço para tocar a maçaneta e abri-la; o Palácio pode não ser o meu lugar favorito, mas aquele quarto foi o meu refúgio nos últimos meses.
Levanto a cabeça sutilmente quando um dos soldados abre a porta para Sasuke passar comigo. Tento visualizar aquele cômodo e refletir sobre como eu imaginei que nunca mais voltaria a colocar meus pés ali, mas Sasuke está me deitando sobre a cama com uma delicadeza admirável, que até mesmo o Trio parado ao lado do outro lado da cama fica olhando para ele com surpresa. Menos Kiara. Talvez ela sentisse alguma coisa entre nós dois, ou talvez ela ainda estivesse desconfiada com ele desde que Karin morreu.
Estou feliz em vê-las. Mas é Sasuke quem não consigo parar de olhar. Minhas mãos negam a soltar o seu pescoço, e ele hesita comprimindo os lábios e piscando de um jeito desconcertado enquanto evita me olhar.
— Você estará segura aqui. — ele informa se esforçando para parecer impassível enquanto tenta se afastar. E eu me esforço para compreender o porquê.
Engulo bile. Ainda me sinto mal pela rápida “viagem” que fui submetida. Sinto o gosto amargo pairando no meio da minha garganta, o cheiro do sangue me deixa enjoada também, parece que a queda fez o ferimento da bala sangrar de novo. E mesmo com o coração disparando e a boca seca, pergunto:
— O que aconteceu?
— Você pode ter sido sequestrada…
O interrompo, um pouco mais grosseira.
— Não. — olho firmemente para ele que tem os olhos vítreos em mim agora também. — O que aconteceu? — enfatizo a pergunta pressionando meus dedos que ainda seguravam o seu pescoço.
O que aconteceu com você?
O que aconteceu para estar agindo estranho desse jeito?
Espero que ele entenda.
Mas Sasuke pisca e pisca, balança a cabeça enquanto nega.
Ele não pode falar. Ou não quer.
Franzi o cenho.
— Não é tão complicado de se entender. — ele diz com duplo sentido.
A resposta já é o que eu esperava. É claro que ele não pode agir como meu amante na frente das criadas, mas ele também poderia mandar todos irem embora, como consegue fazer quando quer ficar sozinho comigo. Sasuke sempre arranjava uma desculpa para acabar só nós dois juntos. Mas agora ele não parece muito afim disso.
Ou talvez, com probabilidades maiores, o reinado de seu irmão já esteja o afetando também. E as coisas podem ter ficado estreitas entre nós dois.
Sasuke piscou como se estivesse desolado.
— Sinto muito, Srta. Senju. — ele diz e então se afasta, olha para Lara. — Cuide bem dela.
— Cuidaremos, alteza. — ela e as outras duas fazem uma reverência.
Então Sasuke anda em direção a porta, olha mais uma vez por cima do ombro para mim e sai.
Não posso chorar. Não posso chamar por ele, muito menos segui-lo. Não posso fazer nada, senão aceitar toda essa indiferença que me faz pensar que voltei para uma espécie de outro universo, onde ele é aquele Sasuke da gruta, e que voltamos à estaca zero.
Mas também, olha só onde viemos parar de novo? Aqui nunca podemos ser nós dois livremente.
Para os outros eu fui libertada, trazida de volta para onde eu deveria estar. Mas aqui é a minha prisão e a de Sasuke, e este é último lugar onde gostaríamos de estar.
¥
O Trio me ajudou a tomar banho na banheira. Acho que em algum momento a doce Meg chorou ao ver meu estado, e eu me recusei a olhar porque não quero que ninguém tenha pena de mim. Apesar da Tsunade planejar assustar a realeza por ser uma ameaça misteriosa, eu queria mesmo que as pessoas vissem que aquilo era parte do que a realeza representa. Mas agora que Fugaku está morto, culpar Itachi vai ser injusto, mesmo que ele seja cúmplice.
Depois de muito esfrega e esfrega, passa sabonete aqui, penteia ali, enxuga acolá, me colocam em um roupão confortável que eu diria ser pele legítima de algum bicho. Kiara enfaixou o meu ferimento na perna com a ajuda de uma atadura, estancando o sangue que já tinha um fluxo bem lento, mas o banho e o curativo fizeram com que a dor fosse camuflada. Deito na cama e ao lado na mesinha já tem uma bandeja com algumas comidinhas leves me esperando. Olho para aquilo, e parece tão estranho que a recepção da realeza esteja sendo melhor que a da Resistência, que fico confusa.
— O que isso significa? — pergunto intrépida.
— A senhorita está visivelmente faminta, precisa comer. — Lara diz.
— Sim, eu preciso. Mas por que isso tudo? Até onde eu me lembro, eu era uma prisioneira do rei. — entonei a voz pela confusão, e embora não me agrada falar assim com elas, esse joguinho da realeza me irrita mais ainda.
Naquele mesmo instante a porta do quarto é aberta abruptamente por um Kabuto afobado que vem acompanhado de Aisha em seu encalço. Ambos vestem jalecos e parecem agitados. Eu não sei se é porque passei dias sendo mantida em um quarto escuro, sob efeito de remédios para dor, mas desde que cheguei tenho a impressão de que todos à minha volta estão sempre apressados. Isso me deixa tonta. Eu não consigo acompanhá-los, e preciso que alguém ande no mesmo ritmo que eu, e quem sabe assim eu consiga alcançá-los.
O Trio apruma a postura diante da chegada dos dois.
— As três, fora. — de um jeito desprezível Kabuto ordenou que as três se retirassem.
Elas fazem isso sem hesitação alguma. Eu gostaria que elas ficassem aqui, pelo menos eu me sentiria melhor na presença de pessoas que não me machucam e que posso confiar.
— Parece que você está mesmo finalmente mostrando as garras, Kabuto. — comentei após observar seus comportamentos desde que me drogou no trem. Ele até tentou impedir Konohamaru de ser morto, mas não se importou quando seus testes malucos quase puseram a vida de Hinata em risco.
Tsunade me instruiu a fazer imagem de coitada diante da Corte, mas não consigo fazer isso na frente de Kabuto. Lembro que da última vez em que o vi, quando estávamos no trem e ele me dopando como se eu fosse um cavalo selvagem, eu o ameacei. E ele quase se borrou.
Mas agora ele parece seguro de si, com um sorriso presunçoso escondido no canto dos lábios do qual eu consigo visualizar porque ele pára na frente da minha cama, dois passos à frente de Aisha, enquanto segura um aparelho portátil onde o dedo dele desliza na tela.
— E você parece bem melhor. — ele diz sem muito ânimo, ignorando a minha provocação.
— Eu estou, o que é estranho. Lembro-me que da última vez o rei me queria morta. — ressalto sendo logo direta com as questões pendentes.
Ele ajeita a armação do óculos e solta um suspiro.
— Pois é, mas Fugaku está morto e para a sua sorte, o sucessor no momento não parece muito interessado em executar você, nem mantê-la como prisioneira e fazer uma série de perguntas, o que é bem irritante. Está tudo uma correria para Itachi desde que o pai foi assassinado.
Mesmo que eu não me importe, engulo seco e pergunto:
— Quem o matou?
Kabuto trocou o peso dos pés e desviou sua atenção do aparelho que segurava para me olhar.
— É um mistério a permear Andarelly neste momento. — falou e então abaixou sutilmente a armação de seu óculos redondo e me olhou por cima do acessório. Num tom desconfiado, indagou: — A senhorita sabe de alguma coisa?
Pisco e engulo seco de novo.
— Infelizmente, não. Mas queria ter sido eu a matá-lo. — digo com a voz rígida, quase rosnando.
Encaro Kabuto, ele não parece impressionado.
— Isso não é a coisa mais inteligente a se dizer, visto que a senhorita está passando por um processo meticuloso de julgamento.
— Me trazer pra cá não parece também a coisa mais inteligente a se fazer. — retruquei sem desviar o contato visual.
Uma dor pontuda atingiu meu ferimento conforme eu ia ficando mais tensa.
— Nisso eu concordo, mas são ordens do rei. Não podemos interferir em nada.
Maneei minha cabeça para ele e estreitei os olho antes de refletir:
— Na verdade, podem sim. Só não possuem a coragem necessária. Agora que Fugaku está morto e Itachi ainda será coroado, o poder legislativo de Andarelly fica tão fragilizado que em algum canto, a corda pode arrebentar.
— Isso é um comentário bastante subversivo, srta. Senju. — falou petrificado.
— É apenas um comentário real. A Coroa não tem um conselho. E se Fugaku não deixou ensinamentos o suficiente para Itachi? Talvez isso seja um problema para o futuro da nossa nação.
Depois que expresso a minha falsa preocupação, porque estou pouco me lixando para o reinado de Itachi, Kabuto me olha de forma desprezível.
— Certamente a senhorita não tem muito respaldo neste assunto, mas se quiser insistir, aconselho que faça isso diretamente ao rei. Eu só vim para ajudá-la com o ferimento. — ele blefa e então volta sua atenção para o aparelho.
Ele não irá se livrar de mim tão facilmente. Sasuke pode até ter conseguido, mas é só questão de tempo até eu vê-lo novamente. Tenho certeza que terei mais disposição para colocá-lo contra a parede e perguntar o que está acontecendo.
— O que você quis dizer com um processo meticuloso de julgamento? — perguntei sem conseguir me esquecer desse detalhe.
Kabuto então me respondeu sem muito interesse:
— Que seus atos estão sendo avaliados. O povo de Andarelly quer saber se você é ou não uma criminosa de alto nível. Além do mais, Itachi insiste nisso também.
Fico surpresa por ele não me esconder esses detalhes.
— Mas por que? Ele por acaso me quer em sua Corte? — fico atônita, encarando o lençol rosa sobre minhas pernas para mantê-las bem aquecidas.
Ouço uma risada desdenhosa vindo de Kabuto.
— Ele quer ter certeza de que está fazendo a coisa certa a mantendo aqui. Afinal de contas, o Rito ainda não acabou. Devido às consequências desastrosas da última cerimônia, não foi possível concluir aquela noite, então a terminaremos ainda.
Balanço a cabeça e inesperadamente crispei baixinho:
— Foda-se o Rito.
Kabuto e Aisha me olham paralisados.
Pisco com olhos arregalados. Talvez eu tenha falado alto demais.
Fico à espera de qualquer reação defensora de Kabuto. O espero acionar algum botão onde concede a entrada de homens armados que irão me algemar e me dar mais uma vez como prisioneira por blasfêmia.
Mas ele não faz nada disso.
— Deixe-me ver o ferimento. — ele diz a ninguém específico, mas é Aisha que vem até mim e começa a retirar o lençol sobre a minha perna.
Ela pede licença e fico a olhando como um cão retraído, afinal de contas, eu não sei se ela ainda tem ressentimentos por eu tê-la atacado no Complexo. Mas isso já faz tempo.
A mesma retira o curativo e deixa que Kabuto veja o pequeno buraco na minha perna direita. Agora não parece mais tão preocupante assim, embora ainda esteja inflamado.
— Hum, pois bem. — ele diz após a rápida análise e me diz: — Isso tem de ser bem rápido, viu?
Antes que eu entenda o que ele está falando, Kabuto dá um toque na tela do seu aparelho, o brilho verde do meu bracelete some e de repente me sinto sendo tomada por uma energia tão forte que fico tonta. Preciso apoiar as mãos sobre a cama com tanta força que me agarro ao colchão.
É como um beliscão, e essa sensação de ter a pele repuxada e o corpo todo revigorado passeia por mim em questão de segundos. Preciso me agarrar ao lençol, fechar os olhos e acalmar a respiração, já que o meu coração começou a bater muito forte. Vou percebendo, sutilmente, que a sensação é como se eu tivesse voltado a vida.
Coração palpitando, dedos formigando, músculos tremendo e as percepções totalmente acesas. Se houvesse uma forma de sentir retomar a vida após a morte, essa seria a sensação, eu acho. Mesmo que eu não estivesse morta, senti que fui “ligada”.
Como se minha alma estivesse voltando ao corpo. No entanto, sei que é só o meu dom vicejando em seu modo de defesa, deixando-me saudável, curando qualquer ferida em mim. Embora eu duvide muito que ele possa curar as feridas que permeiam a minha cabeça e o coração.
Nós três então assistimos o buraco causado pela bala se auto-curar. Os tecidos da minha pele se regeneram e as células se restauram em questão de segundos, que no piscar de olho, é como se nenhum ferimento jamais tivesse existido ali.
— Se a senhorita não fosse uma pessoa de confiança duvidosa, poderíamos ter a oportunidade de estudar esse seu dom incrível. — Kabuto diz sem conseguir esconder a fascinação.
Estou passando o dedo onde antes havia um buraco de três centímetros e agora apenas uma pele imaculada.
— Não é de minha vontade voltar a ser seu ratinho de laboratório. — respaldei.
— Bom, aí a senhorita estaria contribuindo com a regressão da ciência, impedindo de salvar diversas vidas.
Paro então o que estou fazendo e olho para ele de um jeito nada amigável.
— Este papel é do rei. Se ele quiser um pouco disto — aponto indicando onde acabara de ocorrer visualmente o processo de cura —, terá de lidar com isto. — e então giro o indicador apontado para o meu rosto, para deixá-lo ciente de que nada disso seria de graça.
— Não estamos desesperados. — refutou.
Mais um toque no aparelho e então o bracelete se acende, sinto mais um beliscão e aquela energia vital do meu poder desaparece, mas ainda me sinto muito bem.
Olho fixamente para Kabuto.
— Não, não estão. — analiso.
Para uma Corte que acabou de perder o seu rei, ninguém ali parece triste ou abalado demais. Eu não sabia nem dizer se Sasuke estava de luto pelo pai, muito menos Itachi. O desespero não parecia ser algo existente ali, e isso era estranho, mas compreensível. Só mostra que Fugaku não era um rei querido.
E depois que aqueles dois foram embora, com a perna já curada, eu me levantei da cama e caminhei até a janela, sem mancar, e abri sutilmente uma das cortinas e vi que lá fora a Guarda Real havia se dispersado. Os carros fortes e as tropas não passeavam mais debaixo da chuva que ainda era insistente, mas ainda havia vestígios da operação levantada para a minha procura, ou para manter a segurança da Corte, já que o assassino de Fugaku teoricamente está à solta.
Engulo seco porque não imaginava voltar para cá e encontrar este lugar tão parecido com um local de guerra, sem cor, sem alegria. Sem qualquer vestígio de que houve um começo onde fantasiamos de fato um conto de fadas.
Quando eu olhava por essa janela, visualizava a esperança de um futuro promissor.
Agora, olhando pela mesma janela, tudo o que vejo são fragmentos de uma guerra prestes a se alastrar em nossa nação.
¥
Já era noite quando Lara tinha acabado de me entregar uma tigela de sopa de legumes quando um alvoroço no corredor ao lado chamou nossa atenção, nos deixando paralisadas. Meu coração começou a bater forte demais porque era uma mistura de esbravejos selvagens com uma voz familiar, que mesmo parecendo tão zangada, completamente fora de si, eu soube reconhecer.
Até que a porta foi aberta abruptamente e Jiraya pulou para dentro do quarto enquanto apontava o dedo para os dois soldados que estavam de guarda no corredor, olhando para ele em choque.
— … então vá até Itachi e me dedure! — ele gritava de volta.
— Mas o senhor não pode estar aqui! Precisa da autorização Real para fazer esta visita! — um dos soldados ressaltou.
— Aqui está a autorização Real! — O senador mostrou o dedo do meio e então fechou a porta com força fazendo os quadros e vasos do quarto tremerem.
— O que é isso? — pergunto a ele com o cenho franzido profundamente, mas Jiraya não me ouve.
Ele anda na minha direção com tanta firmeza que Lara se afasta apavorada, liberando caminho para o mesmo. Fico olhando para aquilo um tanto confusa e ao mesmo tempo preparada para me defender de qualquer coisa. No entanto, eu não estava preparada para aquilo que ele faz logo em seguida.
Jiraya estendeu uma das mãos e bateu na minha tigela que caiu fazendo uma verdadeira bagunça em mim e no lençol. É tão inesperado que tanto eu quanto Lara soltamos um arquejo de surpresa.
— Oh, pela Deusa! Mas que bagunça! — Jiraya exclamava exageradamente. — Venha, precisamos limpar isso já!
Ele então começou a me puxar pelo braço para fora da cama. E eu poderia muito bem enfiar a minha mão na cara dele, mas acontece tudo tão rápido que eu só tenho tempo de xingá-lo enquanto ele me arrasta para dentro do banheiro e me obriga a entrar na banheira onde ligou as torneiras em potência máxima.
— Senta aí. — ele ordena com tanta firmeza que obedeço.
Mas a verdade é que estou tão atônita com suas ações estranhas que sentar parece a coisa mais normal a se fazer ali.
Sento então na porcelana da banheira.
Eu poderia reagir. Sou forte o bastante para isso, mesmo com o meu poder inibido. Mas não faço nada disso, porque quando olhei para Jiraya, percebi que ele não estava tomando aquelas atitudes naturalmente, e que havia mais preocupação em seu semblante do que eu gostaria.
Por isso fico quieta. E espero. As coisas que ele fazia… nada era por acaso. Foi o que eu aprendi desde que o conheci.
O Senador se agacha ao lado da banheira para ficar da minha altura e me olha com olhos acesos quando começa a disparar um monte de palavras:
— O seu quarto está grampeado do chão ao teto. Você está sendo vigiada e o banheiro é o lugar mais ou menos privado agora, mas com a água ligada as nossas vozes serão camufladas. — explicou enquanto sussurrava. Ele estava tão agitado que tremia. — É questão de tempo até esses soldados receberem uma ordem para invadir o seu quarto e me arrancar daqui. Então precisamos ser rápidos!
Merda!
Merda! Merda! Merda!
Isso explica porque Sasuke não quis falar comigo mais cedo, e explica o porquê de Jiraya ter dado esse showzinho também. Agora eu não estou mais tão irritada com ele pelo que fez agora a pouco.
— Escute, como você está? — ele pergunta. É a primeira pessoa que me pergunta isso desde que cheguei.
Mesmo atônita, tento respondê-lo.
— Estou bem. Jiraya, eu os conheci. — vou direito ao ponto sobre a Resistência, agora não temos mais tempo para enrolações. — Eu conheci ela… e ela me contou algumas coisas.
Ele começou a balançar a cabeça com veemência.
— Sim, sim. Eu sei. Sei de tudo. E preciso saber o que você acha.
Pisco atônita, o coração batendo na boca.
— Eu disse a ela que faria o que fosse necessário. Você sabe o que vai acontecer comigo?
A banheira enchia, me molhando com o roupa e tudo. O vapor no banheiro se formava.
— Mais ou menos. — Jiraya maneou a cabeça. — Mas de uma coisa tenho certeza: Itachi não mandará matá-la. Talvez ele a torne prisioneira e faça uma lavagem cerebral em você até que você vire uma arma para ele.
Arregalo os olhos.
— Isso não é nada reconfortante. — comento.
— Mas é melhor do que ser executada. É mais uma chance que você pode ter de sobreviver a isso.
— Eu estou cansada de ter que sobreviver. Eu quero viver, Jiraya.
— É um longo caminho até que se conquiste a liberdade para isso, minha querida.
— Eu sei, eu só… — fungo, engolindo o choro. — Odeio não saber de nada. Odeio não saber o que me espera lá na frente. Odeio ter que viver nessa corda bamba. Antes era bem mais fácil, quando eu precisava apenas fingir ser uma pessoa que eu não sou. Agora que estou mais perto de ser eu mesma, as coisas ficam mais difíceis para mim.
Jiraya suspira e então coloca a sua mão sobre a minha.
— Não permitirei que nada de ruim aconteça a você. — ele expõe com convicção.
— Você permitiria que ele destruísse a minha cabeça e me transformasse em uma arma? — indago quase sibilando palavra por palavra. — Eu não estou aqui para ser a isca da Resistência. Apesar de querer justiça tanto quanto vocês, não vou me impor além dos meus limites para lidar com planos que vocês criaram sozinhos e podem acabar sendo suicidas para mim!
Firmei verbalmente aqueles meus pensamentos que vinham se embromando na minha cabeça desde que estive com a Resistência. Tsunade só frisou a ideia de que me movo para onde eu quero neste tabuleiro, mas em algum momento posso ser derrubada. Então apesar dessa luta ser de nós todos, primeiro eu preciso lutar por mim.
— Seja lá qual for a decisão de Itachi, irei acionar a Resistência. E aí você será resgatada igual da última vez na Aldeia do Gelo. — ele propõe. — Basta você me dar um sinal, Sakura. Um olhar de socorro, qualquer coisa, eu irei entender que chegou ao seu limite.
Suas palavras soam com firmeza. Eu nunca vi Jiraya tão determinado. Por um momento parece que ele se sente culpado, e que me dar uma segurança de sair dessa situação com vida é a sua missão.
E eu confio nele.
Pela Deusa! Como isso desce seco!
Mas sim, eu confio em Jiraya. Não acho que ele vá soltar a minha mão no momento em que eu mais precisar dele. E se isso acontecer, ele perde uma aliada para sempre… e uma amiga também.
Respiro fundo. Tenho outras coisas para perguntar e preciso perguntar logo.
— E a minha mãe?
— A salva. Estou cuidando dela, Sakura. Mebuki está melhor do que você pode imaginar.
Uma chama se acende em meu peito. Me faz lembrar subitamente do porque aceitei tudo isso, além de querer salvar a minha vida. Tento não chorar.
— E Sasuke? Eu achei ele tão estranho comigo. — não consegui me conter.
Jiraya não sabia de nada sobre nós dois, mas supus que no meio daquela afobação toda, talvez ele me contasse algo que fizesse sentido.
— Foi o primeiro a levantar equipes de resgate. Ele vestiu o uniforme da Guarda Real para procurá-la. Não dormia, e às vezes até saía em buscas solo. Foi impressionante a sua garra durante esses dias. — revelou.
Algo em meu peito esmoreceu, e acabei sorrindo. Um leve e sútil sorriso que expressasse orgulho, ou qualquer coisa boa do tipo, o suficiente para fazer com que Jiraya me olhasse como se entendesse as respostas. Ou como se estivesse desacreditado no que estava vendo.
— Vocês… — ele me olhou desconfiado: — Vocês… Saky, Saky…Não complique mais as coisas, menina. — ele quase rosnou.
Levantei os olhos mais para si, igual a um cão provocado que mostra os dentes em seguida.
— Eu adoraria fazer isso, às vezes parece que já está tudo fodido mesmo. — respaldei com rebeldia.
Ele me lançou um olhar complicado. E do lado de fora ouvimos botas trotando pelo corredor e mais homens chegando. Meu coração voltou a disparar, eles haviam chegado com reforço e possivelmente alguma ordem do novo rei.
O Senador voltou a ficar exasperado.
— Não faça nenhuma besteira. Diga que eu tentei fazê-la confessar sobre o sequestro. Minta, Saky, apenas minta o máximo que puder! — ele gritou para mim bem antes dos soldados entrarem pela porta do banheiro sem nenhum aviso prévio além de sua selvageria.
A água da banheira esborrou, e Jiraya deslizou por ela, se molhando todo. Ele gritava coisas inaudíveis e se debatia conforme homens armados o tiravam do chão com violência. Eu me levantei, esquecendo o fato de estar com o meu simples vestido rosa ensopado, mostrando mais do que deveria.
Como um criminoso, Jiraya é levado para fora do banheiro, cada vez menos resistente às forças militares. Lara vê o meu estado e corre para me cobrir com um lençol grande, mas não acho isso relevante o suficiente enquanto toda gritaria invade a minha cabeça, e o pedido de Jiraya me sufoca.
Minta, Saky. Apenas minta o máximo que puder!
Mentir é algo que tenho feito desde o início. Mas ao que tudo indica, agora precisarei mentir por questão de sobrevivência, e não apenas por um teatro fantasioso.
E antes mesmo de fazer isso, já estou me sentindo sufocada pelas mentiras ainda não ditas. Porque não gosto de ser uma mentirosa. Isso me faz ser igual a eles.
No entanto, parecer igual a eles, é o que me trouxe até aqui, é o único meio de continuar viva também.
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Eu mal consegui dormir na noite anterior. Tive mais pesadelos do que eu gostaria. Em algum momento durante a madrugada, eu acordei ofegante após abrir os olhos e ter a ligeira alucinação de ter visto alguém no canto escuro do quarto. Alguém, não, era Fugaku. Jurei tê-lo visto ali, em pé no canto, apodrecendo com o tiro que foi lhe dado bem no meio da testa, enquanto apontava o dedo para mim igual fiz com ele na Arena.
Desse momento em diante, não consegui dormir mais. Liguei a abajur ao lado da cama e me sentei, juntando as pernas, abraçando-as e me encolhendo toda enquanto eu tentava me convencer de que eu não precisava sair correndo para encontrar conforto nos braços do Sasuke. Até porque seria impossível.
Eu conseguia ver as sombras dos soldados que passaram a noite vigiando a minha porta através da fresta, vi até mesmo quando trocaram de turno. Mas eu não sairia nem mesmo se quisesse.
Chega de armas apontadas na minha cabeça. Chega de olhares raivosos. Chega de vozes opressoras gritando no meu ouvido e criando raízes na minha mente.
O silêncio daquele quarto era o suficiente, por ora.
Pela manhã, nada de comida na cama. Fui orientada a colocar o meu melhor vestido e descer – escoltada –, para o salão de refeição. As criadas vieram me ajudar, mas eu já não tinha o mesmo ânimo de antes. Eu até tentei parecer normal, como qualquer outro dia em que elas cuidavam de mim, mas a impressão que ficou é que as três estavam cuidando de um cadáver.
Apenas duas mechas prendiam para trás em uma trança sobre o resto do meu cabelo solto. Lara me vestiu com um vestido rosa claro com detalhes em branco, flores, na verdade, pequenas flores salpicadas pela extensão da saia longa. Quando Kiara está fazendo uma maquiagem suave em mim, ao meu pedido, ela comenta:
— Seus olhos estão inchados, deve ser de tanto chorar.
Olhei para ela mais rispidamente do que eu gostaria. Das três, ela nunca se importou em ser legal comigo. Quer dizer, ela era legal, mas não fazia esforços para me impressionar
Quando penso em ignorá-la, a ouço dizer:
— Sinto muito.
Engulo seco, porque as suas palavras soaram trêmulas, e mais suave do que o normal. E isso me surpreende.
— Tudo bem. Achei que ninguém repararia, mesmo. — disse a ela.
Não que fizesse diferença que alguém reparasse, mas a curiosidade alheia nem sempre leva a boas intenções. Às vezes, a pessoa nem está preocupada, ela só quer saber o quão fundo no poço você está, para então se vangloriar disso. Entretanto, eu sentia que Kiara estava sendo verdadeira, ela realmente sentia muito.
E eu também.
O café da manhã já estava posto sobre a mesa quando cheguei ao salão. Tenten e Ino já estavam lá também conversando, mas foi só eu chegar que elas se calaram subitamente. Nem sequer deu para disfarçar que a minha presença pesou para elas. Mas eu não ligo. Eu estava ali igual da primeira vez em que cheguei, focada apenas na comida, morrendo de fome.
Mesmo depois de ter sido alimentada quando cheguei, senti que sopas e pedaços de pães não foram o suficiente para a minha barriga.
Os soldados ficaram postos logo na entrada. Eu andei solenemente até a cadeira da ponta e me sentei, ciente de que eu era estorvo o suficiente para sentar perto das duas. Não sei se Tenten ainda era a minha amiga depois das acusações que surgiram ao meu respeito, mas achei melhor manter a distância, não por um sentimento de orgulho maior, e sim, porque eu não queria que ela se tornasse uma suspeita por andar comigo.
A mistura de aromas matinais daquela mesa deixava o meu estômago confuso, mas era um deleite. Fui logo nas opções mais óbvias e comecei a encher meu prato com sanduíches de presunto, croissant com recheio de chocolate e um pedaço de panquecas molhadas com mel. Me servi de suco de laranja, e ainda peguei uma torrada, onde com a ajuda de uma pequena espátula eu comecei a passar uma camada de geleia sobre ela.
Foi quando eu notei os olhares ávidos sobre mim, e paralisei antes mesmo de dar a primeira mordida.
— O que?
Tenten piscou. Ino piscou.
Tenten parecia ansiosa, seu olhar era até condescendente para mim. Mas Ino, ela nem sequer tentava demonstrar outra coisa que não fosse repugnância. Ela segurava a sua xícara com tanta força que eu quase podia vê-la fazendo o líquido ali dentro solidificar ao congelá-lo.
— O que faz aqui? — ela perguntou com a voz severa.
— Tentando tomar o meu café da manhã. — digo sem indiferença alguma, apenas o humor convencional alinhado ao dela.
— Não. — A voz dela quase trovejou no recinto. — Você deveria estar atrás das grades, é suspeita pelo assassinato do rei!
Pisco para ela, sem me sentir nenhum pouco afetada.
Eu já estava a caminho de dar uma mordida na minha torrada, mas desisto. Volto a aprumar a postura que aprendi a ter com Mei Terumi, e deixo de volta delicadamente a torrada sobre o prato. Faço movimentos lentos propositalmente, para que ela saiba que mostrar os dentes não me assustam mais.
— Você acha que eu deveria estar presa? Eu também. Mas não porque eu matei o rei, porque não fui eu, infelizmente. E sim, porque não tenho sido um belo exemplo nos últimos dias. Me auto declarei uma subversiva ainda naquela Arena, e aqui estou eu, tomando café da manhã no Palácio Real. Deve ser porque meus atos foram justos até aqui, e também porque sou inocente.
— Eu acredito em você. — Tenten diz convencida, e eu olho para ela com o coração batendo na garganta.
Bom, nem tudo está perdido.
Mas isso irrita Ino. Irrita tanto, ao ponto dela apoiar a xícara sobre a mesa com tanta força que o faz virar uma pedra de gelo no mesmo instante em que se espatifa no ar.
— Deixe de ser idiota! — ela grita com Tenten, parecendo fora de controle. A atenção dela logo se volta para mim. — Você é um caso perdido. De todo jeito, o seu destino será miserável.
Eu sorrio para ela. Um sorriso afetado, mas que aprendi a superar.
— Não mais que a sua vida amarga. — rebato olhando para ela, que sustenta meus olhos com aqueles pináculos de gelo que são os olhos dela. — Deve muito ser chato ser você, não é? Parece que a sua única diversão é tentar diminuir o outro, sempre! O que você tenta suprir em si mesma ao fazer isso?
— Nada falta em mim. Eu sou uma pessoa competente e determinada! — ela rebateu aos nervos. — Desde o início, ninguém quis tanto ganhar esse Rito quanto eu, e ninguém é mais merecedora do que eu!
Olho para Tenten, que também me olha. Ela parece assustada, talvez isso explique o fato de estar tão calada neste momento. Um único olhar, é tudo o que basta para eu entender: do jeito que as coisas estão, Ino já poderia se declarar vencedora do Rito.
Só que agora havia um porém, e nas horas em que não consegui dormir, pensei o suficiente nele para ter certeza de que eu não estava apenas delirando.
— Você tem razão, é merecedora por ter sido tão competente e determinada ao ponto de passar por cima de qualquer um para ganhar o Rito. — ela rosna quando digo isso, mas me enrijeço não cadeira e selo os punhos quando verbalizo em seguida: — Mas agora que Itachi assumirá a Coroa, consequentemente a ganhadora será a rainha de Andarelly também, e a última pessoa que eu quero como rainha para a nossa nação, é você.
O governo de Andarelly é quebrado desde Madara. Desde que ele aprisionou Kaguya, nada prosperou. E embora eu não faça a mínima ideia de como será o reinado de Itachi, colocar Ino ao seu lado após ela ter mostrado até aqui quem realmente ela é, não é algo que me agrada muito.
Quando decidi me juntar à Resistência, eu não pensei só em mim, pensei em um todo. Pensei em um futuro promissor, onde pessoas que nem eu poderia ter a liberdade de voltar a sonhar de novo.
E por essa razão, eu me veria determinada a ganhar o Rito.
Entretanto, Ino sorri. E não parece abalada com o que eu acabei de lhe dizer.
— Tarde demais, querida. — ela disse ainda sorrindo abertamente, com os ombros sacudindo e os olhos se apertando, como se eu tivesse lhe contado uma piada. — Se você acha que eu sou ruim como rainha para Andarelly, imagina uma candidata que se opôs à Coroa em uma arena cheia de soldados, e ainda é suspeita de assassinar o rei?! Você é uma piada, Saky Senju.
Ino para de rir e ergue o queixo, bastante confiante.
— Acho que eu deveria até agradecê-la.
Franzi o cenho.
— Por que? — pergunto de uma forma inocente que me faz arrepender logo depois.
— Porque sem querer, você colocou o título de rainha em mim. E muito em breve, você estará se ajoelhando perante a sua majestade. — A unha afiada do dedo indicador apontou na direção do seu peito antes de completar: — Que será eu.
O sorriso vitorioso de Ino chega a ser irritante. Tenho vontade de arrancá-lo com a própria unha dela, mas ela está certa, e é isso que me deixa mais louca.
Eu estraguei tudo, desde o início. Tentei parecer convincente, mas as minhas investidas não foram tão boas quanto as dela. Ino vem de uma linhagem autoritária e próspera, a sua imagem já se refere a uma rainha, no entanto, só mais uma rainha que somaria de forma maquiavélica com o rei, ou então viveria sob a sua sombra, apenas para procriar e fazer a linhagem Uchiha ir mais à frente. E eu… bom, até aqui a única coisa boa que eu ofereci foi o meu poder, que nem isso posso usufruir direito.
Odeio como o meu silêncio após a declaração dela só deixa mais comprovado ainda a veracidade de suas palavras, em como aquilo é coerente, e justo dentro daquele jogo.
— Olá, senhoritas.
Uma voz masculina adentra o cômodo e rapidamente nos colocamos de pé. É Shikamaru, e meu coração se amolece quando o vê. Ele está com o uniforme da Guarda Real, mas não a de costume, e sim, a de batalha, com adornos mais firmes e selvagens, a braçadeira vermelha indicando o seu cargo ali. A sensação que tenho é que todos estão constantemente prontos para a guerra a qualquer momento agora.
Tento sorrir para ele, mas o mesmo está sério, e não olha para mim enquanto dá o seu recado:
— A presença de vocês foi solicitada na Sala do Trono, o rei Itachi exige vê-las, agora mesmo.
Ele diz isso, e por fim me olha, e aquilo não significa nada. Meu coração fica apertado. Nem ele e nem Sasuke. Os dois parecem muito indiferentes a mim e isso parte o meu coração. Desde que eu cheguei, Shikamaru parecia ser o único que acreditava em mim ali, depois o Sasuke, e agora parece que eu não tenho mais ninguém, nem Hinata, e nem mesmo Tenten parece a mesma pessoa. E Konohamaru está morto. Morto, morto.
Puxo o ar para dentro dos meus pulmões, não posso achar que as coisas ficarão ruins de agora em diante, e que finalmente me verei tão solitária quanto antes.
— Sigam-me, por favor. — ele pede.
Eu nem sequer comi, mas não reclamo. A fome foi embora, e eu sentia que seria capaz de vomitar o jantar da noite passada.
Seja o que for, eu sentia que terminaria ali. Onde tudo começou.
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A Sala do Trono refletia uma energia sombria, diferente da que tinha quando estivemos ali pela primeira vez. Eu não sabia dizer se era por causa do luto pela morte de Fugaku, ou se porque dias sombrios se aproximavam. Mas a claridade do dia iluminava o ambiente, que estava mortificado de algum jeito pelo silêncio brutal, e a incerteza do que aconteceria.
No trono, lá estava Itachi sentado, de cabeça baixa como se estivesse sofrendo, e ao seu lado direito, Sasuke mantia a guarda rigidamente, como um soldado sanguinário, que fora treinado apenas para executar. Meu coração disparou quando pensei que algo poderia ter mudado. Olhe para mim, pensei. Mas o olhar dele estava em nós três, e de repente em mim. Eu queria ser mais expressiva, mas não podia vacilar agora que estamos a quatro metros do trono.
Mei Terumi, Kabuto e Aisha estão ao lado esquerdo do altar, Zabuza ocupa a liderança da Guarda Real, até que Shikamaru volte, ao lado de Hidan, que parece ajudá-lo a manter a Guarda Pessoal do novo rei. Ignorei o seu olhar. Se havia uma hora para Hidan me desmascarar, o momento era agora, ou então ele fora tolo demais até agora em não ter me reconhecido.
Do outro lado oposto do salão, à minha esquerda, lá estava os Senadores. Inoichi, Mika e Jiraya. Mas ninguém parecia tão destruído quanto o Senador da Aldeia do Fogo. As bolsas roxas abaixo dos seus olhos indicam a noite em claro que passou em algum lugar opressor, como uma cela, por exemplo.
— As coisas saíram do controle e dos nossos planos, como podem ver. — Itachi disse baixinho, com as falanges coçando a testa, exibindo os anéis que usa de costume. A voz dele era vulnerável quando completou: — Meu pai está morto, ele foi assassinado em uma noite conflituosa, que acabou de forma trágica. Não sei o que é pior, tenho minhas razões para ter essa dúvida.
Franzi o cenho.
Eu fui o conflito naquela noite, e mesmo assim, porque Itachi teria dúvidas sobre qual situação foi pior?
— Estamos todos acabados, aparentemente. Não houve uma alma que sossegou nesses últimos dias. — analisou.
Ao meu lado, eu ouvi Ino coçar a garganta. Ela, não. Ela poderia muito bem ter ficado em completa paz nesses últimos dias, e ter ouvido aquilo de Itachi parece ter a incomodado.
— Principalmente eu, que além de assumir o trono agora de forma precoce, tenho de fazer uma escolha que irá refletir em meu reinado para sempre.
Senti a minha respiração acelerar, principalmente quando ele se levantou e meu coração bateu mais forte. Itachi se ergueu em suas roupas de príncipe ainda, nem mesmo a famigerada capa real ele vestia. Aparentemente, mesmo que tivesse sido ensinado para este momento desde criança, a tarefa lhe parecia um fardo.
Itachi deu um passo, e então outro.
— Não temos tempo, não sabemos o que há lá fora nos ameaçando. O mesmo tiro que matou o meu pai, poderá me matar se não formos rápidos, e eu não estou afim de jogar pelo ralo os anos de ensinamentos que recebi do meu pai. Não estou afim de ver Andarelly sendo corrompida pelo desconhecido, mesmo que a ameaça possa ser de traidores. Estou pronto para lidar com qualquer coisa que entrar no meu caminho, e vou precisar de pessoas competentes ao meu lado.
Ele fez um gesto com a mão esquerda e Mei Terumi se moveu. Só então percebi que ao lado dela havia uma base de acrílico, que sustentava uma pequena almofada, com uma coisinha pequena e brilhante, um arco perfeito, que foi responsável por comprimir o ar do lugar. Ela pegou a pequena almofada com desvelo e ficou ali na base dos degraus do altar, esperando Itachi descê-los com todo o seu esplendor.
— Eu não posso dar início ao meu reinado sem terminar com o Rito primeiro. — ele disse, agora de cabeça erguida, olhando para nós três. — Este era o sonho do meu pai, guiar o Rito de seu sucessor, e conhecer quem seria a poderosa que assumiria o trono ao meu lado. Esse ano tivemos mais Abençoadas do que esperávamos, então foi um milagre da Deusa. Me pergunto se ela está aqui agora conosco.
Não, penso. Até porque a realeza despreza a existência dela e tudo o que Kaguya fez pelo mundo, o seu templo na torre deste castelo nada mais é do que uma ruína agora, um cômodo poderoso esquecido por ignorantes e céticos.
— Espero que a Deusa me guie nessa escolha, porque não será fácil, acreditem. — ressaltou.
Quando Itachi atingiu o último degrau, não hesitou em chegar perto de nós três. E a primeira pessoa que ele olhou, foi exatamente para mim. Sua expressão era rígida, e ele me olhava como se eu fosse inferior o suficiente ao ponto de ser cuspida. Bom, talvez ele cuspisse na minha cara, e eu esperei por isso.
Antes, era até fácil saber o que ele estava pensando ao me olhar, agora tudo o que eu vejo é uma cortina sombria, que me arrepia e faz com que ele sugue toda energia em sua volta. Mas me mantenho de pé, sou inocente, e preciso demonstrar isso.
— Eu confiava em você. — ele me disse, e minha garganta ficou seca. — Eu gostava de você. Achava você a mais competente para estar ao meu lado. A sua garra, o seu poder, a sua bondade misturada com a sua coragem selvagem. Tinha curiosidade em saber de onde tudo isso veio. Mas as mentiras que permeiam você, e suas ações subversivas, com certeza anulam todo o resto.
Senti minhas mãos formigarem, e um talo me sufocar, mas engoli com força ao ponto de murmurar:
— Eu posso ser uma mentirosa, ou uma subversiva, mas não sou uma assassina. Eu definitivamente não matei o seu pai.
Mas gostaria de ter sido aquela que o fez.
— Eu sei.— afirmou com convicção. — Sei que você foi sequestrada e mantida em uma espécie de cativeiro, por isso que voltou daquele jeito. Apesar de tudo, srta. Senju, precisarei de seu depoimento sobre o inimigo iminente, tudo o que você viu ou ouviu. Quanto às suas atitudes na Arena na Aldeia Armada, elas serão anuladas. Você só estava brava com o mecanismo de tudo, e tentando salvar a sua vida, não é?
Precisei balbuciar. Nem estava acreditando que aquilo estava mesmo acontecendo.
Eu não seria a rainha de Itachi, pelo visto, mas seria algo em sua Corte, como ele havia me dito semanas atrás. Ao menos é o que ficou subentendido.
Sou poderosa demais para ele desperdiçar, ainda mais com uma ameaça vindo aí em seu reinado.
— S-sim. — respondi.
Ele apenas acenou com a cabeça.
— Ótimo.
Quando Itachi foi para a minha direita, eu liberei o ar preso em meus pulmões. Ele começou a falar com Ino, mas eu não conseguia ouvir nada. Meus tímpanos zumbiam, e meu coração batia muito forte. Olhei para Jiraya e ele apenas acenou a cabeça, bom trabalho. Olhei também para Sasuke na esperança de qualquer reação, mas ele parecia alheio à minha presença, e isso doía como inferno.
— … Você se mostrou leal e persistente, isso eu admiro muito. Inclusive acho que somos muito parecidos, srta. Yamanaka, em quase tudo. Também não gosto de coisas no meu caminho me atrapalhando, logo trato de dar um jeito nelas. — Ino sorriu largamente para ele, ao ponto de parecer exagerada demais, eu quase podia vê-la esticando o dedo para receber a aliança. — A sua Aldeia é uma das mais prósperas, vocês são consistentes e bravos. Eu tinha certeza desde o ínicio que você estaria na final, de um jeito ou de outro.
— É uma honra, Vossa Graça! — ela o reverenciou, e Itachi inclinou os lábios em um sorriso estranho.
— A honra que é toda minha.
Ele se encaminhou até Tenten, que parecia indiferente. Ela não era igual a Konan que sempre desprezou o Rito, Tenten tinha objetivos se ganhasse aquela competição. Mas agora ela já não andava tão animada desde o que aconteceu na Arena. Parece que tudo o que ela queria era ir embora para casa.
A entendo perfeitamente.
E para a surpresa de todos, Itachi deu um sorriso sincero para ela, e lhe tocou o rosto de um jeito gentil. Senti Ino quase congelar a si mesma ao meu lado e Tenten recuar ao toque, como se lhe fosse brasa tocando, e quem nem ela estivesse suportando aquilo.
— Você foi especial, srta. Mitsashi. Mika deve ter muito orgulho de você, assim como a Aldeia do Ar também deve se sentir orgulhosa por ter alguém tão inteligente e poderosa como você os representando. Mas, depois de todos esses tempo, acho que não conseguimos nos conectar. Não é?
Tenten nem sequer pensou em hesitar antes de concordar com ele. A sua falta de vontade em provar o contrário só mostrava que eu estava certa sobre ela não aguentar mais nada daquilo.
— Não. — ela disse.
Itachi comprimiu os lábios e então se afastou, como se aquele fato lhe fosse doloroso. E bem, era. Tenten é uma Abençoada poderosa, que conseguiu ter controle do seu dom, e Itachi não reinaria ao lado dela.
Ele foi até Mei Terumi e pegou o anel sobre a almofada. Ele ficou encarando a argola, e eu não sabia decifrar se é porque ele estava na dúvida ou pensando nas palavras corretas. Seja o que for, estava criando uma tensão máxima ali no salão, e tudo o que eu queria era vomitar.
Não sei porque sinto essa ansiedade, se a sua escolha já é óbvia demais. Talvez eu esteja apenas o esperando dizer: “Ok, Saky. Você não será a minha rainha, mas terá uma chance de ficar na Corte, na Guarda Real ao lado do meu irmão.”. Talvez eu quisesse muito que ele falasse aquilo para mim. Seria o suficiente para destruir a sua Corte de dentro para fora.
Eu já olhava vez ou outra para Sasuke na expectativa. Além do mais, se isso acontecesse de fato, poderíamos ficar juntos, nossos sentimentos não seriam mais um problema. A única reclamação que ouviríamos seria de que estaríamos incomodando os demais com nossos amassos. Talvez a gente acabasse juntos na Resistência.
De todas as formas, qualquer pensamento que envolvia nós dois juntos me fazia querer sorrir mesmo em meio ao caos.
— A minha escolha é óbvia. — Itachi disse finalmente. Ao meu lado, Ino empinou aquele nariz mais ainda. — Porque mesmo que o meu pai não esteja mais aqui, seus conselhos serão eternos, e ele sempre me falou muito sobre a importância de priorizar a Coroa, porque a Coroa era o início, o meio e o fim de tudo. Então a partir da Coroa, recomeços podem ser feitos, e como o reinado é meu, eu quero tudo exatamente do jeito que meu pai não foi capaz de dar ao seu próprio reinado: perseverança, coragem e poder. Principalmente o poder.
Ele deu uns passos até Ino, e a atmosfera permaneceu intacta, como se todos nós já esperássemos aquilo. Ino sorriu para ele, contendo ao máximo a felicidade. Eu olhava de esguelha, e quando me dei conta, já estava arrancando algumas florzinhas do meu vestido.
Ok. Talvez ele decrete o meu destino apenas no final.
— Somos muito parecidos, até mais do que eu gostaria, e isso nunca daria certo. É por isso que eu não posso escolher você, Ino Yamanaka.
Foi como se todo ar do salão tivesse sido sugado. Arquejos foram proferidos até mesmo pelos soldados. Acho que Jiraya exasperou algum palavrão, mas nada fazia sentido ao meu redor. Não enquanto meu coração galopava a todo vapor, enviando uma corrente fria por todo meu corpo que estava petrificado. Era impossível conseguir disfarçar o choque que estava me atravessando naquele momento.
Não, não pode ser real.
Ele não está fazendo isso!
Itachi se virou para mim, e desta vez seus olhos estavam vítreos, como brasas ainda acesas. Ele ainda me olhava ali de cima, eu ainda parecia pequena diante dele, mas desta vez ele estava ansioso e não conseguia esconder.
— Você errou muito, Saky Senju. Desde o dia em que chegou seu comportamento era diferente, um afronte e um deleite para mim que tanto imaginei alguém com coragem astuta o suficiente para reinar ao meu lado. Meu pai não gostava de você, mas você não era boa para o reinado dele, mas para o meu… Tenho planos para nós. Tenho planos para você na realeza.
Respirei fundo e olhei fixamente para ele.
— Você não está falando sério. — disse atônita.
— Por que eu não estaria? Porque você se mostrou perigosa? Desconfiável? Ótimo. Preciso de alguém com coragem ao ponto de parecer extremamente perigosa, ainda mais com essa ameaça desconhecida. Sobre a sua lealdade, você não terá outra opção, senão ser leal a mim.
Errado.
Itachi estava cometendo o maior erro da vida dele, e nem tinha noção disso.
Ele pegou a minha mão direita, e posicionou o anel ali na ponta.
— Saky Senju, diante de todas as testemunhas aqui, perante o Trono, com a graça da Deusa Kaguya, mãe dos Abençoados, você aceitaria ser a minha esposa, e futura rainha de Andarelly?
Eu sentia que ia desmaiar. Minhas pernas fraquejaram, mas, porra, era isso que eu passei a madrugada toda pensando, que talvez eu quisesse que Itachi me escolhesse, porque eu seria uma boa opção. Mas pensei porque eu sabia que era uma possibilidade longe da minha realidade. E agora é real, e me sinto presa, sufocada, sem saída.
Se eu me tornasse rainha, seria mais fácil atingir meus objetivos, a procura pela justiça e o passe livre para a Resistência entrar em ação. Eu tornaria o reinado Uchiha em frangalhos, faria com que um novo tipo de governo fosse instalado ali. Seríamos uma unidade de verdade.
Parecia fazer tanto sentido na minha cabeça. Mas o meu coração não conseguia aguentar. Algo doía ao ponto de eu querer desabar de joelhos ali, na frente de todos. E naquele instante, sabendo onde doía mais, olhei diretamente para o causador daquilo.
Sasuke.
Ele continuava de guarda ao lado do Trono, mas era possível perceber seu corpo mais rígido do que nunca, como se ele estivesse fazendo esforço máximo para não cair, ou tomar qualquer atitude.
Eu vou sequestrar você, ele havia me dito antes, naquele dia na Arena, enquanto me fazia companhia na sala de espera. E tudo o que eu queria era que ele fizesse isso. Mas Sasuke se manteve firme. A garganta dele oscilou, a linha de sua mandíbula ficou rígida e seu olhar vagou para dentro da minha alma.
Não…
Mas era um sim.
Sasuke acenou a cabeça discretamente, como se estivesse me encorajando a tomar a decisão mais sensata e esperada.
Mas como ficaríamos?
Por que importa tanto agora o que eu sinto? Por que quero colocar isso à frente de tudo?
De imediato, eu sei que Itachi jamais prosperará em seu reinado. Não porque eu quero destruí-lo - e irei -, mas porque a Coroa é tudo o que importa para ele. E tudo o que eu mais quero agora é ter o poder de escolher dizer não, e ficar com Sasuke. Mas nunca tive esse poder, e não será agora.
Eu colocaria meus sentimentos em frente a Coroa, porque já havia descoberto há muito tempo que amava Sasuke.
Mas por Sasuke, eu tentaria. Por ele, por minha mãe e Naruto, por Hinata, Konohamaru, Shion e todos os outros. Eu tentaria, colocando meu sentimentos a frente da Coroa, porque ela não significava nada para mim, além de muito desgosto.
Respirei fundo, e então desviei do olhar doloroso de Sasuke e encarei Itachi, que estava cheio de expectativa e medo.
— Sim, eu aceito. — respondi, e no mesmo instante senti o anel deslizar perfeitamente em meu dedo anelar.
Itachi sorriu e então levou minha mão até seus lábios, onde depositou um beijo sobre o dorso. Seu cabelo longo e escuro deslizou para a frente, e ele não se incomodou em tirá-lo dali.
Ele me puxou para o seu lado e ergueu minha mão com o anel, para então proferir:
— Saky Senju, da Aldeia do Fogo, Abençoada pela Deusa Kaguya, noiva do rei e futura rainha de Andarelly!
— Saudações a Saky Senju! — Mei Terumi exclamou e luzes iluminam a Sala do Trono através das colunas imperiais, como se aquele fato tivesse acabado com o luto e os dias obscuros.
Uma comoção começou ao lado, e quando percebi era Jiraya vindo em nossa direção como para me parabenizar. Me pergunto se ele havia de certa forma perdido o juízo, ou se era o estresse e a privação do sono o deixando parecer louco naquele momento.
Zabuza fez questão de contê-lo no meio do caminho. E Itachi moveu apenas a cabeça.
— Temos muito a conversar, senador. Não teste a minha paciência, muito menos tente mudar minha opnião. Um dos meus pedidos, é que fique longe de minha noiva, tenho certeza que você é como um maldito cancer para ela.
Pisquei horrorizada. Olhei para Jiraya, mais uma vez no chão imobilizado por causa de mim. Meu coração deu uma apertada também, e tudo o que eu pude fazer foi acenar com a cabeça discretamente.
Confie em mim.
Eu ainda não era rainha, mas Jiraya me obedeceria como se eu fosse a sua Majestade.
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