Tenho a minha própria Guarda Pessoal, o que é uma loucura. Mas nada disso me impede de sentir que estou sendo escoltada por ser uma criminosa – ou dita como uma. Talvez seja porque os guardas mantém a mão em suas armas o tempo todo, em estado de alerta, porque sou uma ameaça. Mas isso deveria ser normal, certo? Afinal de contas, eles estão mantendo a proteção da consorte do rei.
Estou tão perturbada da cabeça com tudo que vem acontecendo, que pequenas suposições, tornam-se grandes paranóias. Se eu não for julgada e morta, então brevemente eu estarei enlouquecida, o que parece ser pior, e sufocante.
Louca. Completamente louca da cabeça, perturbada com tudo o que me armaram, e eu caí lindamente como uma mosca é presa na teia de uma aranha.
Mas aí lembro que Itachi me escolheu como a sua consorte.
Droga, talvez ele esteja tão louco quanto eu!
Ainda não consigo acreditar no que aconteceu mais cedo. Fui mesmo escolhida para ser a rainha dele. Exatamente como eu imaginei que seria ótimo para eu executar qualquer ação contra a Corte.
Mas, por que não estou empolgada com a ideia disso dar certo?
Existe um entalo na minha garganta, queimando e corroendo tudo por dentro. Eu só quero me jogar no chão e gritar com todas as minhas forças. Porque de repente, sinto que Itachi me escolheu não para livrar a minha barra, e sim, para me fazer sofrer.
Por isso, acelero meus passos de volta para o meu quarto. Quero ficar sozinha, mesmo sabendo que a porta do quarto ainda será vigiada por guardas, já que ainda sou uma grande suspeita.
Suspeita de matar o rei Fugaku, uma grande impostora, e que agora é a consorte do rei Itachi.
Preciso repetir isso várias vezes, porque não faz nenhum sentido. E é quando eu realmente fico em alerta, esperando as paredes explodirem ao meu redor, ou uma bala atravessar o meu peito.
É uma armadilha. É uma armadilha. Fico repetindo a mim mesma várias vezes.
Os dois guardas da frente abrem espaço quando nos aproximamos da porta do meu quarto. E quando abro, uma surpresa. Ele está vazio.
Quer dizer, a cama e os móveis ainda estão lá. Mas resquícios de que estive um dia ali, já não existem mais. Ainda assim, entro no cômodo. Do do outro lado da cama, de frente para a janela longa, Mei Terumi se mantém de costas enquanto observa algo pela janela.
Atrás de mim, um dos guardas fecha a porta. Mantenho meus olhos na sacerdotisa, afinal de contas, devo me manter mais desconfiada do que nunca agora que voltei, e conquistei uma posição que todos temiam. Pelo menos é o que eu acho.
— Você foi realocada para outro cômodo. — Mei Terumi avisa ainda de costas para mim, esnobando a minha presença.
— Uma cela? — Indago, e ela dá um sorrisinho abafado, de puro deboche, como quem concorda com aquilo.
— Eu bem que queria, confesso. Mas o rei está visivelmente cego. Ou talvez ele tenha planos sórdidos demais para você. — dito isso, ela vira o rosto para me olhar por cima do ombro. — Este último item me agrada. Seria o mais justo a se fazer.
— Não me surpreende que tal desejo profano venha de você, sacerdotisa. — Enfatizo o sacerdotisa, para que ela saiba que estou fazendo pouco da sua colocação errônea ali.
— Assassinos não merecem perdão. — Ela profere.
— Você não tem nenhuma prova de que matei Fugaku. E nunca terá, porque não o matei, como venho dizendo. — Insisti, e então, franzi meus olhos em sua direção. — Suas acusações sérias e problemáticas contra a sua futura rainha deveriam ser consideradas como traição à Coroa, Mei Terumi.
Não sei porque disse aquilo com tanto ímpeto. Mas já era tarde demais. Mei Terumi começou a rir de mim, e eu me senti uma tola por ter usado tais palavras que espelham o lado arrogante e soberbo de possuir tamanha posição naquela Corte.
Mas, de alguma forma, achei que seria o suficiente para me defender de Mei. Tudo era válido naquela situação. E eu recorreria a qualquer coisa para não fraquejar, e até mesmo dá-los o gostinho de vitória.
A sacerdotisa veio então em minha direção, e eu não recuei. Já estava acostumada a Mei Terumi, e ela não me amedrontava. Era só mais um peão da realeza, e eu podia sim derrotá-la.
— Pobre Saky. Mal foi escolhida como a consorte do rei, e já está cheia de espírito positivo com a sua colocação. — disse com um tom de voz que respingava veneno. Mas eu não me desviei, eu já tinha o antídoto contra isso. Mesmo assim, me surpreendi quando ela avisa: — Deixe-me deixar bem claro, que você será apenas um fantoche de Itachi. Seus poderes? Ele não deixará você ter livre acesso à eles. A sua voz? Irá ser calada. Tudo o que ele vai usar em você, será o que tem no meio das suas pernas, e fará você procriar feito uma égua. Porque Itachi quer herdeiros poderosos. Ele terá tantas amantes, que vai fazer você se sentir um lixo. A pressão será tão grande, que você mesmo irá desejar o seu fim.
À medida que ela falava, seu rosto ia se aproximando do meu, e eu não recuava. Quando ela terminou, estava tão próxima de mim que eu quase podia discernir as variações do tom de verde dos seus olhos.
Eu a encarava de volta, não por implicância, ou porque eu queria mostrar força. Mas, nada daquilo me impressionava, ou assustava. Soava como um absurdo, mas não havia sido o suficiente para eu tremer de medo.
— Acabou? — pergunto a desafiando.
Ela se afasta.
— Sabe o que é melhor nisso tudo? — ela pergunta de volta. Não respondo. Mas ela diz: — Eu continuarei sendo a sua tutora. Como sacerdotisa da realeza, eu sou quase como uma amiga da consorte. Então você terá muito de mim ainda, garotinha.
— Será uma tortura, mas prometo fazer você desistir primeiro.
Mei dá um sorrisinho de descrença.
— Veremos. — ela diz aceitando o desafio. — Que a sorte lhe falte, srta. Senju. Ou seja lá quem você realmente for. — ela devolve o deboche, e então passa por mim.
Eu sempre desconfiei de Mei desde o primeiro dia em que a vi. Não senti que ela fosse uma sacerdotisa digna daquele colocação. Ela é ruim, maldosa e peçonhenta. Não sei muito sobre o processo de se tornar uma sacerdotisa, mas não consigo entender como Mei Terumi conseguiu esse título.
Não entendo como Kaguya permitiu que tal ser humano andasse por aí como uma de suas discípulas, já que Mei não prega nada dos ensinamentos que Kaguya deixou no mundo quando tudo estava se acabando, e ela foi a única esperança no meio do caos.
E agora, onde ela poderia estar?
Às vezes quero rogar a alguma entidade superior para me dar forças, quando não tenho mais para onde correr. Penso em Kaguya, mas lembro que ela é uma deusa adormecida. Tanto sofrimento já se passou desde que ela se foi, então, do que adiantaria se eu clamasse por ela agora mesmo?
A única coisa que eu posso fazer naquele momento, é olhar ao redor do quarto que já foi meu. Lembrar dos momentos bons que passei ali com minhas amigas de Rito, e até mesmo com Sasuke.
Pensar nele me deixa triste demais. Temos tanto o que conversar, mas ele tem me evitado ainda. E depois que seu irmão me proclamou como a sua consorte, duvido muito que ele ainda queira algo comigo. Aliás, qualquer coisa do tipo seria considerado traição, e nós dois estaríamos mortos, literalmente.
Não sei como as coisas irão desandar, mas as vezes acho que se eu tivesse um pouco da sua atenção, as coisas pudessem ficar mais claras.
Olho para o anel em meu dedo anelar da mão direita, e começo a girar a pequena argola no meu dedo. Ela deveria me deixar feliz, a garota mais realizada em toda Andarelly. Mas não sei o que pensar, ou sentir.
A argola de ouro é fria ao redor do meu dedo, e parece tão… insignificante. Tudo o que ela me remete é um grande vazio. E sinto que não consigo escapar dele.
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O rei solicita a minha presença. E eu nunca pensei que sentiria tanta ânsia em encontrar Itachi, como senti naquele momento. Eu ainda não conseguia discernir a sua nova personalidade agora que era rei. Ele até que estava aparentando ser um homem bom, gentil, como sempre demonstrou.
No entanto, sei que Itachi era apenas um aluno de Fugaku. Ele sabe sobre as atrocidades que Fugaku fazia com Sasuke, ficou completamente calmo enquanto via a mãe morrer afogada. Entre outras coisas inaceitáveis que já o ouvi proferir.
Não posso negar que as coisas que Mei Terumi me disse, me deixaram um pouco pensativa. Não que eu me importasse no final se Itachi fosse ter mil amantes, mas, e se ele estivesse mesmo planejando algo ruim para mim?
Aquilo estava me consumindo!
Ele estava me aguardando na biblioteca. Um lugar muito incomum de encontrá-lo. Ali era o lugar favorito de Sasuke em todo palácio, por isso, foi impossível entrar e não lembrar dele. Meu coração dispara, parece até que consigo sentir o cheiro dele, ou que ele irá surgir de qualquer um desses corredores de estantes.
Mas me pego observando Itachi, que está analisando um enorme globo suspenso por um apoio de bronze. O globo é maior do que ele, e a sua aparência é um tanto quanto familiar; já vi em alguns livros da escola, mas as imagens que cheguei a ver, não tinham tanta área azul assim.
Com as mãos atrás das costas, Itachi pergunta para mim enquanto observa o grande globo azul, com enormes “manchas” verdes também:
— Dá para acreditar que houve um tempo em que o nosso mundo era assim? Que em cada canto desses, havia líderes para determinados povos? Mas agora, — ele então começou a girar o globo no sentido horário — tudo o que resta do nosso mundo é isso.
A outra faceta do globo é o nosso atual mundo. Composto por três cores: azul recolhido nada mais é do que restou do oceano, o marrom, o que é a maior parte, é a terra inabitável do nosso planeta. Tão grande, se espalhando como um câncer. E então, uma pequena parte verde, que nos conhecemos como Andarelly.
Um ponto de esperança, e ao mesmo tempo, parece uma prisão. Apenas aquele pedaço de terra nos mantém vivos, tudo além dele, é mortal. Vasto, desconhecido. Não podemos ir para nenhum canto além dele.
— Tudo o que restou da humanidade, encontra-se neste ponto verde. — ele tocou então o verde com desvelo, enquanto a sua voz continha uma emoção que não me afetava em nada. — E agora eu lidero o que restou. Sou o Rei deles.
Ele soava como se aquilo fosse a sua obsessão doentia. Itachi sempre soou dessa forma. Toda vez que ele falava sobre a Coroa, era como se ele fosse capaz de fazer qualquer coisa para tê-la.
Só que agora eu percebo a forma taciturna que aquilo soa. Doentia e perigosa, como uma cobra rastejando por um chão imaculado.
— Meus parabéns, Majestade. — digo por fim, fazendo-o que se vire e me olhe pela primeira vez desde que cheguei ali. — Conseguiu o que queria.
— Nós conseguimos. — ele rebate ao me corrigir. — Ganhar o Rito era o que você queria, não é à toa que lutou tanto por ele.
Respiro fundo, porque aquilo chega a ser um insulto, e ao mesmo tempo, um tipo de piada horrível. Porque quando eu pude jurar que estava entendendo tudo, Itachi me provava o contrário.
— Você só pode estar brincando comigo. — disse atordoada, em um tom de angústia que o fez me olhar um tanto incrédulo com as mãos ainda sobre o globo. Com a voz baixa, mas em um tom afiado, eu sibilei para o Rei:— Age como se nada tivesse acontecido nesses últimos dias. Que tipo de plano você está tramando contra mim? É algo tão grandioso, ao ponto de me iludir que serei poupada de todos os julgamentos injustos ao meu respeito?
Itachi continuou me olhando, e se afastou do globo enquanto me encarava daquele jeito confuso, sombrio. Os anéis em seus dedos reluziram quando ele levantou a mão para mim, eu afastei o rosto, mas seus dedos longos foram mais ágeis, e tocaram a minha face.
Eu não precisava de nenhum poder para sentir repulsa em seu toque, como algo frio, sem vida. Igual a ponta de uma faca. A minha respiração está descontrolada, mas tento demonstrar equilíbrio. Por isso ergo meu olhar até ele, e imagino que o que ele esteja vendo, não seja nada parecido com admiração e felicidade por estar ali.
— Se os julgamentos são injustos, porque devo fazer algo? — perguntou calmamente enquanto acariciava o meu rosto.
Virei meu rosto de volta para ele. Eu podia sentir o fogo queimando por dentro de mim, e querendo subir até que eu cuspisse labaredas nele.
— Eu ataquei a Aldeia Armada. — relembrei.
— E eu disse que tinha sido divertido. — ele fala sobre a vez em que me visitou na cabine do trem quando estávamos a caminho da Aldeia do Gelo.
— Quase matei seu pai.
Itachi sorriu.
— Eu disse que você era a minha favorita. Que sempre seria. — ele disse mesmo, antes de sair, e me deixar tão confusa.
Mas nem aquilo havia me deixado confiante sobre si.
— O seu pai me expôs. — continuo, e engulo seco. — A maior parte dos civis querem a minha cabeça agora.
Ele então tirou a mão do meu rosto, e aprumou a postura, demonstrando um certo poder por trás da capa pesada que ele usava, embora ainda não possuísse a coroa.
Não sei se era as circunstâncias da situação, por Itachi ter conseguido finalmente o que sempre queria, ou se era apenas a iluminação da biblioteca. No entanto, seu rosto formava sombras em seu rosto que de repente noto estar mais magro, dilacerante, como ele estivesse demonstrando um lado meio mórbido.
De qualquer forma, era estranho olhar para ele agora, e não consegui ver a mesma pessoa do início. Que dava sorrisos galanteadores, e palavras de conforto e cordialidade, que não parecesse que ele estivesse soando como um maniaco.
Eu sabia que havia algo de errado com Itachi, mas que não podia ser tão grave ao ponto de me assustar sem eu saber ao certo do que se tratava.
— O quanto o destino de alguém pode mudar entre a vida e a morte? — ele me pergunta aquilo de novo.
Itachi estava refazendo aquela nossa conversa no trem. E embora eu já tivesse percebido, só agora me dou conta de que ele estava tentando me dizer alguma coisa naquele dia. Deixou entrelinhas, como poeira solta no ar, que mais tarde se juntariam, e finalmente formariam alguma coisa decifrável. Como quando você está perdido e avista uma praia, e sabe que aquilo é um bom sinal.
— Há muitas possibilidades, mas eu nunca tive muitas opções. — repeti a mesma coisa que eu disse a ele também. — E uma delas não é algo maquinado por você.
Desta vez, Itachi ergue um dedo dele, e fico em silêncio.
Meu sangue esfria. Eu estava ficando dura enquanto caía em realidade.
— Farei tudo pela Coroa, Saky. — repetiu, desta vez mais sério e com uma determinação tangível. — Até mesmo como anular todas as acusações contra você. E esquecer o fato de que mentiu sobre seu parentesco com Jiraya.
— O que…
Tento falar algo, mas ele me interrompe, e nem sei se fico agradecida por isso
— Não sei quem você é, mas sei que é a única digna que tem para carregar o título de minha consorte.
Meus olhos pousaram rigidamente sobre ele, ainda sem acreditar.
— Quem eu sou? Por que não pergunta a Mei? Ou a qualquer um civil na rua da Aldeia do Fogo? Você terá a sua resposta, e talvez se arrependa muito da sua escolha.
Itachi deu um sorriso presunçoso.
— Eles não veem em você o mesmo potencial que eu vejo. Sabe, quando passaram o seu vídeo inteiro do que aconteceu na Aldeia Armada, e a minoria esteve a seu favor, eu sabia que era você a minha escolhida. Uns estão contra você, e outros, não. Dessa forma, manteremos todos na linha. Vamos reinar, juntos.
— Então você está me usando? — pergunto friamente.
Ele não tem vergonha em afirmar com a cabeça. E eu me surpreendo por sentir como se Itachi tivesse enfiado uma estaca no meu coração. Sinto isso por antes, pelas vezes em que eu pensei, no começo, que ele fosse bom, e que ser a mulher dele talvez não fosse tão ruim assim.
Sasuke era horrível, e Itachi, gentil. E até então, os únicos homens gentis que eu já havia conhecido, foi meu pai e Naruto. Eu estava encantada. E mesmo depois de descobrir sua verdadeira faceta, dói ter chegado a este ponto.
— Assim como você também estará usando da minha benevolência para continuar livre… ou viva. — ele diz com orgulho.
— Se você quer que eu faça isso para manter a escolha de me deixar viva, não está sendo benevolente, está sendo chantagista. — afirmo corajosamente. — Você não me dá escolha.
O sorriso dele não vai embora nunca, como se Itachi estivesse se deliciando com o que estava acontecendo.
— E mesmo que se eu desse, qual você escolheria?
Odeio me sentir impotente, como naquela situação. Porque é vergonhoso perceber que, apesar de toda revolta, todo medo, eu sei que escolheria ficar. Não por capricho, mas porque uma das poucas coisas que eu sei, é que se eu me mantiver por aqui, estarei salva, de algum jeito. Ainda estarei dentro do jogo.
E depois de tudo que já se passou, a última coisa que devo fazer é agir feito uma covarde. Recuar, derrubando todas as cargas de baralho que já ergui uma sobre uma, até formar a porra do castelo.
Um castelo instável, mal formado. Mas com as melhores intenções de conseguir.
— Como eu imaginei. — ele conclui, e eu preciso engolir a ardência na garganta; o nó entalado. Tento ignorar o seu olhar na direção do meu colo, como se ele estivesse observando através da pele e ossos o meu coração batendo forte. Por um instante, parece que ele quer evitar meus olhos, e fica mais evidente quando sugere: — Mas, quer saber? No final fico feliz que seja você a minha escolhida. Sempre foi a mais racional.
Ele então coloca as mãos atrás das costas, e se vira, voltando para o Globo dando a entender que a conversa estava encerrada.
Tento ignorar o enjoo que se forma na boca do meu estômago. Coloca a minha mão sobre a barriga e respiro fundo. Então, é isso. Itachi me reconhece como uma trapaceira, ou criminosa, mas ignora esses fatos porque sabe que eu posso ser útil, e ele parece bem obstinado a essa decisão pela própria glória, mesmo que todos o julguem por ela. E até mesmo a mim.
Não sei qual dos dois está mais desesperado. Mas Itachi me dá uma luz. Agora sei o meu destino naquela Corte, e que de qualquer jeito, estou a salvo. Só não sei por quanto tempo. Antes eu até tinha Jiraya, e agora parece que não me resta mais nada.
Nem mesmo Sasuke parece interessado.
— Enquanto Jiraya? — não resisti em perguntar.
Itachi vira o rosto sutilmente na direção do ombro, e responde sem muito interesse.
— Você não precisa mais dele. Isso é tudo o que você precisa saber.
Sinto um aperto no coração. Um aperto que não consigo desprezar, e que me surpreende mais que tudo. Porque talvez esse seja o momento que eu mais precise de Jiraya.
— Você mandou prendê-lo? Matá-lo? — sinto bile subir com essa segunda possibilidade.
— Infelizmente, não. Meu pai me ensinou muita coisa sobre diplomacia. Manter bons relacionamentos. Vou fazer isso, mesmo que Jiraya seja um grande canalha.
— Não está arriscando demais? Você nem sequer mandou me interrogar depois que voltei.
Eu sei. Parece besteira perguntar essas coisas, poderia soar como se eu estivesse dando a ele espaço para questionar certas coisas que não deveria. Mas é estranho toda essa confiança de Itachi.
Ele então me olha de soslaio.
— Logo estaremos fazendo isso, assim que estivermos prontos. — avisou.
Foi como o chão ter se rasgado sob meus pés. De repente lembro do que Tsunade me contou sobre eles terem alguma maneira de fazer alguém contar a verdade. Na hora a ideia disso pareceu terrível, e eu também mal acreditei que tal coisa pudesse ser real.
Mas, se houver essa possibilidade, tudo estará perdido.
¥
O meu novo quarto é apenas uma distração. Longe da ala onde eu estava acomodada com as outras participantes, e perto o suficiente do quarto de Itachi para que eu começasse a me acostumar com a ideia de estar dividindo o quarto com ele. Ninguém contou isso para mim, mas chego a essa conclusão porque é óbvio pensar que, se vamos nos casar, brevemente estaremos na mesma cama também.
Meu estômago embrulha só de pensar.
O Trio toma conta de mim. Percebo o sorriso nos rostos de Lara, Meg e até mesmo Kiara parece agradável naquele dia. Ainda lembro da nossa despedida, em como ela foi gentil comigo, todas elas. Mas Kiara foi uma surpresa no final das contas. Elas estão contentes por eu ter continuado, e não conseguem esquecer isso. Sempre acreditaram em mim, até mais do que eu mesma. Mas como rainha, e não como alguém que pudesse salvar Andarelly de um futuro terrível.
Estou de frente para o espelho enorme do meu novo aposento, que é duas vezes maior que o antigo. Não entendo porque isso é necessário, e ao mesmo tempo, chega a ser incrível perceber o quanto o espaço pode ser usado.
Por exemplo, horas atrás chegou uma equipe com várias araras, todas elas abarrotadas de vestidos novos!
— Pra quê isso? — perguntei um pouco assustada.
Lara se aproximou dos tecidos bufantes, brilhantes e com rendas. Ela segurou um deles e com olhos iluminados informou:
— É o seu novo guarda-roupa. Gostou?
— O que aconteceu com o antigo? Eu gostava dele.
— Você é a consorte do Rei Itachi. Em breve será coroada como a rainha. Precisa de um novo guarda-roupa que reflita o reinado de Itachi.
Estiquei a mão até pegar em um tecido de camurça verde, com pedras em tom de âmbar em seu decote.
— Já estavam todas prontas? — pergunto mais surpresa ainda.
— Sim. — Lara disse tirando então a fita métrica de seu bolso. — Por isso precisamos pegar suas novas medidas, e reajustar ao menos uma leva de vestidos para que você possa usá-los nas primeiras semanas como a consorte do Rei.
— Imagine quando seu vestido de noiva estiver sendo feito! — Meg exclamou com uma exaltação empolgante, dando pulinhos.
Não sei porque isso ainda me assusta. Mas, vou casar, e desde o início, isso nunca havia se encaixado em meus planos.
— Vamos, escolha alguma coisa pra você usar hoje. — Lara disse enquanto girava a arara pesada na linha horizontal, para que eu pudesse ver melhor as opções.
— Hoje?
Ela dá de ombros.
— Hoje, amanhã, depois de amanhã… uma rainha nunca anda desarrumada, mesmo que seja apenas para andar pelos corredores do Palácio.
Olho para Kiara, como se eu pudesse ver em si algum reflexo da minha surpresa incrédula. Às vezes, eu achava que tínhamos algumas semelhanças.
— Você sabe como é Itachi. — ela me diz e cruza os braços enquanto olha para os vestidos e complementou: — Vaidoso, exagerado. Cada peça de vestido foi escolhida por ele. Teve um dedo pessoal do seu gosto por moda.
Arqueei as sobrancelhas em surpresa.
— Vão andar combinando. — Meg quase cantarolou, como se aquilo fosse romântico demais.
Kiara fingiu que ia vomitar. Eu quase fiz o mesmo, mas não de brincadeira.
Agora estou aqui, recebendo o que parece os últimos ajustes do vestido que já está em meu corpo. O vestido preto, cheio de composições douradas, seja na renda ou nas pedrarias. Kiara colocou alguns grampos no meu cabelo, e avisou que seria chamada uma equipe para pintar as raízes que voltavam a ficar escuras.
Fecho os olhos, pensando em como aquilo me faz voltar meses atrás, quando eu estava assustada na casa de Jiraya, me preparando para o Rito, tirando de mim qualquer resquício aparente da Aldeia de Ferro.
O som dos saltos de Shizune pelo corredor, pela casa, indicando que seria um dia árduo de preparamento. Eu quase podia sentir falta daquilo.
Meu coração chega até se encher com boas lembranças. Até mesmo acho que posso realmente ouvir o salto dela quando o som da porta do quarto se abre.
— Onde ela está?
Ouço ao fundo. Abro os olhos imediatamente com a voz familiar. Me viro na direção e encontro Shizune atravessando o quarto, os cabelos negros e curtos balançado a medida que ela dá passos longos e apressados.
Desço do tablado redondo, e apesar de saber que ela detesta isso, a abraço fortemente. Ela não reage, fica dura a princípio, mas logo sinto seus dedos na minha cabeça, para cima e para baixo, uma tentativa de me acalentar.
— Ah, garota. — ela diz suavemente, como se lamenta-se. — Deixe-nos a sós. — Ordenou ao Trio, que em questão de segundos já estavam saindo do quarto.
Shizune se afastou e segurou meus ombros enquanto olhava fixamente para mim.
— Está chorando? — ela perguntou sem reação.
— Sim. — funguei, sentindo os olhos arderem com as lágrimas que queriam descer freneticamente, mas eu estava me contendo.
Afinal de contas, era Shizune. Eu sabia que chorar na frente dela não adiantaria nada, mas, eu estava aliviada.
— É bom ver um aliado, uma amiga. — eu disse por fim. — Achei que estivesse sozinha.
— Nem eu seus sonhos. — afirmou de um jeito tranquilo. — Você precisa de alguém para ser a sua guia, agora que Jiraya está sendo mantido em prisão domiciliar, e tudo o que ele pode ir é até a sede, onde trabalha.
— Você conversou com ele?
A emissária de Jiraya soltou um suspiro, e tomou uma certa distância conforme analisava os cantos do quarto. Procurando alguma escuta, talvez. Ou só admirando meu novo cômodo.
— Conversar não é bem o que eu diria o que tivemos. Mas, já havíamos conversado sobre isso muito antes, e Jiraya me fez prometer que eu cuidaria de você e de sua família caso algo desse errado com ele.
— Então você tem notícia da minha família? — perguntei com o coração disparado, e Shizune acenou com a cabeça.
— Estão todos bem. Naruto viu você no telão quando transmitimos o seu vídeo na Aldeia Armada, e eu diria que ele está um tanto orgulhoso por você, mas preocupado.
Pela Deusa.
Eu sorri. Pra primeira vez, em dias, sorrio aliviada, com o coração querendo sair pela boca. Preciso me apoiar em algo, e por isso sento no parapeito da janela enquanto faço mais perguntas:
— E a minha mãe?
— A sua mãe não viu, e pedi a Naruto que não contasse nada. Quanto menos pessoas saberem que você é você, melhor ainda.
Sinto uma pontada de frustração, afinal de contas, o Naruto que eu conheço já teria dado um jeito de me tirar daqui. Mas Shizune deve tê-lo alertado de como aquilo poderia ser perigoso para nós dois.
Estou encarando o chão, com a minha mente inquieta. Ainda tenho tantas perguntas, mas não sei por onde começar. Sei que muitas delas é só questão de tempo até que eu tenha todas as respostas. Preciso focar naquelas em que irei sanar minhas dúvidas agora mesmo.
— Jiraya já imaginava que isso tudo fosse acontecer. — comentei. — Foi um tiro no escuro, a única possibilidade em milhões delas. Só há essa chance de dar certo, e mesmo assim arriscou. E por incrível que pareça, Itachi não desconfia em nada ao meu respeito. Ele ainda me vê como uma utilidade em seu reino.
Ouço o som alto de helicópteros descendo o céu e pousando no terreno do palácio. Uns três. De repente, uma grande movimentação entre os guardas.
Ah, que se dane. Tem sido assim desde que o rei foi morto, pelo visto. Volto para Shizune que diz:
— Ótimo! Está constando no sistema como se você ainda fosse uma aldeã do fogo, e não há prestígio maior para eles do que isso. Além do seu poder, esse detalhe é uma das poucas coisas que ainda a manteve viva. Eles nunca aturariam uma aldeã de ferro com a Coroa.
— Acredito que isso seja pior do que matar o pai, na visão de Itachi, claro. — murmuro, ainda olhando lá para baixo, onde vários homens correm com cargas. — O que está acontecendo ali embaixo?
Shizune se aproxima e analisa.
— Ah, é o novo pelotão que vai para a Aldeia Armada. Eles vão treinar uma equipe de homens para que lide apenas com essa ameaça desconhecida.
— Mas por que estão aqui? — de repente sinto um ânsia. — Vão levar alguns dos nossos guardas?
— Também. Mas é porque Sasuke Uchiha também foi escalado.
É como se o ar tivesse se partido, uma fissura tivesse sido feita no véu da realidade.
— O que? — viro-me para ela abruptamente. Deixo até mesmo Shizune surpresa.
— Sasuke sempre treinou para lutar ao lado da Guarda Real, Sakura. Isso não é nenhuma surpresa.
— Ele vai embora? — sinto meu coração ficando minúsculo, apertado, tão… tão doído.
— São só algumas semanas.
Quando ela diz isso, já estou me levantando e correndo até a porta.
— Saky! — ela grita, mas não lhe dou ouvidos.
Passo pela porta, corro descalça pelos corredores, e cada passo que dou, é como se o chão estivesse ficando mole sob meus pés. Seguro a barra do vestido, querendo poder voar nesse instante, para chegar mais rápido até lá embaixo.
Quando estou descendo as escadas, tropeço em um dos degraus e caio de bunda. Não reclamo, apenas me ergo e continuo descendo porque talvez seja apenas questão de tempo. E se eu nunca mais vê-lo?
Faz um dia desde que voltei, e tudo o que tive de Sasuke foi a sua indiferença, e a sua mágoa quando Itachi me escolheu. Será que ele não via que eu ainda estava ali? Que eu, ainda era eu?
Atravesso o vestíbulo querendo gritar, e quando alcanço a escadaria interna, e o vejo se preparando para subir no helicóptero, grito por ele sem pensar:
— Sasuke!
A minha garganta arranha, mas ele se vira, e me vê. O mesmo fica sem reação por alguns segundos, e percebo que ele está mesmo pronto para partir como um soldado. Totalmente desprendido de qualquer status da realeza. E ele ia embora, sem se despedir.
A hélice de um dos helicópteros vai perdendo a força quando ele grita algo, e então, desiste de subir e começa a andar na minha direção. O vento açoita os fios negros em uma única direção, e aproveito para tatuar aquela cena na minha cabeça, dele voltando, enquanto mantém os olhos fixos em mim.
Desse jeito, percebo que tudo o que sinto por ele, é mais forte do que eu imaginava. Quero correr de encontro aos seus braços e ter conforto, ouvi-lo dizer que tudo vai ficar bem. Quero beijá-lo, me perder debaixo de lençóis com ele, e nunca mais sair de lá.
Desço mais alguns degraus, até que eu esteja no chão, e ele mais perto.
Algo intenso espreita seu olhar, mas nada é tão forte quanto a tristeza que permeia toda a sua face, de um jeito como eu nunca vi antes.
Ele para, mas não tão perto quanto eu gostaria, para que eu sentisse o seu cheiro, e tentasse qualquer chance de ao menos tocar a sua mão. No entanto, alguma coisa se parte dentro de mim quando vejo que seus olhos estão tão vazios, como se eu não fosse mais a mesma.
Como se não tivéssemos vivido nada naqueles últimos dias, semanas.
— Está indo embora. — pontuo.
— Sim. — ele responde mesmo assim, com a voz fria, sem muitas emoções.
— Por que? — pergunto incrédula, e respirar é difícil, assim como dizer as palavras.
Vejo-o engolir em seco, e algo ficar trêmulo em seus olhos opacos, ao ponto dele ter que virar o rosto para que eu não veja. Mas é tarde demais.
— Não tem mais nada para mim aqui. — ele diz, e então, é como se tivesse afundado meu coração a sete palmos do chão.
— Por que diz isso? — indago tentando disfarçar a dor. — E eu, Sasuke? Enquanto a mim?
Ele abaixa a cabeça, como se estivesse derrotado em ouvir aquelas palavras.
— O que você quer que eu faça? — quando ele levanta a cabeça e volta a me olhar, eu quase me desfaço ao perceber que faltava muito pouco para ele desabar em meus pés e começar a chorar: — Quer que eu fique aqui e assista você se casar com o meu irmão?
— Achei que íamos dar um jeito nisso juntos.
— Isso foi antes dele colocar um anel no seu dedo e escolher você como a noiva dele. Não pensei que teria esse fim.
— E você acha que eu pensei? — rebati irritada. — Mesmo assim, estamos juntos. Ou pensei que estávamos, e você agora está escolhendo ir embora e me deixar aqui sozinha. — me exaltei, contendo as lágrimas nos olhos, e o coração ardendo como chamas vivas.
Sasuke ergue a cabeça para o céu, com olhos fechados e respirando com calma, ou tentando manter a calma. Percebo que ele está completamente armado, mas armas não me assustam mais. E a única coisa que me dá receio agora é ficar sem ele.
Ele volta a me olhar, parecia mais recuperado.
— É uma missão da Guarda Real. Vamos procurar os culpados por tudo isso, e então manter Itachi seguro, e você também.
— Não preciso de proteção. — rebati impaciente. — Preciso de você.
— Irei voltar.
— Você não está indo pela missão, está indo porque vou casar com Itachi e você assumiu isso logo no começo. Então mesmo que você volte daqui umas semanas, quem garante que ainda será a mesma coisa?
Os olhos dele me encaram de um jeito taciturno.
— Exatamente. Quem pode garantir isso? — ele repete.
— Sabe o que eu sinto por você, Sasuke. E não será Itachi que mudará isso.
Ele balança a cabeça em concordância.
— E você também sabe o que eu sinto, Sakura. E mesmo assim quer que eu fique e veja tudo isso acontecer bem debaixo do meu nariz? Prefiro ir para outra Aldeia, e me recolher na minha própria dor.
Meus ombros cedem quando, de forma relutante, percebo que ele tem razão. Tento ser compreensiva, me ver em seu lugar, e imaginar em como seria tão doloroso ver Sasuke com outra mulher, mesmo que não exista nada, como não existe entre Itachi e eu.
Dói, de qualquer jeito, e ele parece estar destruído por dentro. Senti isso desde que Itachi me nomeou como a sua noiva.
Precisei engolir a dor, recuperar o fôlego e ignorar a pontada no coração. Fecho os olhos e respiro fundo.
— Tudo bem. Eu… entendo. — digo por fim. — Eu estarei aqui, esperando por você independente de qualquer coisa.
Deixo bem claro, como uma promessa. Sasuke me olha, e percebo sua hesitação em querer me tocar. E isso dói, como se a minha pele estivesse sendo esfolada.
Ele acena com a cabeça, em uma reverência sutil.
— Majestade.
Quase perco o fôlego.
Nos olhamos uma última vez, ele se vira e então volta para o helicóptero. Um guarda ao longe dá o comando para o piloto, que aciona as hélices para voltar a funcionar.
Só então me dou conta de que, mesmo que ninguém possa ter nos escutados, nos assistiram ter uma conversa que parecia envolver dor e angústia. Aquilo não era bom, mas fui tomada pelas emoções, e não ligava muito para os outros.
Todo mundo sabia que Sasuke e eu começamos com um relacionamento horrível. Dois inimigos, que com o passar do tempo souberam se suportar. Mas ninguém poderia imaginar que aquilo havia nos levado a um lugar longe demais.
Vejo Shikamaru se aproximar do helicóptero, de Sasuke. Não parece que irá deixar o regime daqui, mas, de qualquer forma, se aproxima de Sasuke que murmura algo para ele, e os olhos de Shikamaru encontram os meus. Determinados.
Então Shikamaru se afasta, e Sasuke entra no helicóptero, dando uma última olhada para trás. Em questão de segundos, já estão no ar, subindo e subindo. Sinto que existe uma corda presa ao meu coração e aquele helicóptero, e quanto mais distância ele pega, mais sinto aquela corda se esticar e esticar.
E então, se rompe. Engulo o grito que se perde dentro de mim, apoio a mão na minha barriga, porque tudo dentro de mim fraqueja, até meus ossos.
— Sakura? — ouço Shizune me segurar, enquanto murmura. — Pela Deusa, aqui não. Aqui não.
Não sofra aqui, não na frente de todos.
É isso o que ela quis dizer, como se entendesse o que se passava comigo.
E eu pensei que seria mais fácil de lidar. Nunca imaginei que a parte mais difícil disso tudo, fosse ver Sasuke partir. Uma outra parte de mim.
Mas, eu prometi. O esperarei.
Ser paciente é a minha especialidade. Só espero conseguir sobreviver até lá.
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