S C A R L E T
Era estranho assistir televisão depois de tanto tempo.
Digamos que eu nunca fui uma pessoa muito ligada à tecnologia. Toda vez que meu celular quebrava em alguma missão, às vezes eu deixava por isso mesmo e só comprava outro quando era realmente necessário. Comunicação era importante na vida humana, com um celular eu posso me comunicar com o mundo todo.
Várias vezes, durante a minha recuperação, eu desejei que Yoongi tivesse um celular. Ou que toda a alcateia fosse detentora de pelo menos alguns dispositivos de tecnologia, isso facilitaria bastante a vida deles. Eu não me importaria de viver lá para sempre se tivesse pelo menos formas mais fáceis de comunicação — telefone, celular, tanto faz —, ou quem sabe até chuveiro elétrico. Ia ser ótimo.
Minha recuperação levou duas semanas. Descobri que tive alguns ossos quebrados, peguei um resfriado enquanto estava doente — nem sabia que isso era possível —, e o corte na minha cabeça estava cicatrizando mais devagar do que o normal para um licantropo. Descobri também que meus instintos estavam mais fracos justamente porque estava longe da alcateia; não era recomendado licantropos novos saírem de seus hábitat. Era como se nossos lobos fossem ainda filhotes que precisavam ficar no berço por algum tempo, até atingir a maturidade e não se afetar tanto por estar longe do lugar que nasceu. De fato eu me sentia mais fraco mas, conforme o tempo passava e eu ia melhorando, fui percebendo os instintos anestesiados. Eles ainda estavam ali, só não eram extremamente fortes como na alcateia.
Eu ocupei minha mente com várias coisas durante as duas semanas. Sabia muito bem que se eu ficasse parado apenas assistindo televisão, minha mente iria entrar num limbo onde não conseguia parar de pensar se Yoongi estava bem. Algo me dizia que ele estava bem, um tipo de pressentimento mesclado aos instintos, ao mesmo tempo que a ansiedade corroía não só pela saudade que sentia dele, mas também para prová-lo que eu estava bem. Para não ficar nesse looping interminável — que cá entre nós, não adiantava muita coisa —, decidi me ocupar com tudo que poderia ser útil quando voltasse para a alcateia.
Por mais cômico que fosse, eu continuei pensando e arrumando estratégias para o uso de tecnologia na alcateia da Sibéria. Depois de algumas pesquisas acompanhado com Taehyung sobre a vida dos licantropos, nós descobrimos que havia apenas duas alcateias no mundo inteiro que era isolada da vida humana, a alcateia da Sibéria e a do Ártico. O ponto em comum que elas tinham eram as temperaturas negativas, eu não sabia o que isso influenciava na tecnologia, mas tinha uma ideia do porque era difícil a comunicação em lugares abaixo de zero. Foi realmente surpreendente descobrir que na alcateia de Machu Picchu havia até tecnologia para entretenimento, como a televisão. Por que a da Sibéria não poderia ter também? Pelo menos o necessário eu tentaria providenciar para ajudá-los. A liderança de Seokjin era muito boa e eu tinha certeza que ele aceitaria o necessário para que a vida de seu povo fosse melhor.
Algumas possibilidades vieram à minha mente depois de muita sopa enquanto assistia alguns filmes. Yoongi iria gostar do filme que eu estava assistindo; era sobre uma garotinha que virou amiga de um yeti. Minha mente voou longe e eu me questionei, yetis existiam? Me lembraria de perguntar a Yoongi, ou ao gênio que Jeon Jeongguk era.
Eu já me machuquei algumas vezes na minha vida, mas ficar deitado o dia inteiro apenas lendo e assistindo era um verdadeiro saco. Definitivamente, eu não fui feito para isso. Precisava me movimentar para viver.
Foi em uma manhã consideravelmente quente que eu consegui fazer alguns exercícios — nada muito grande, apenas corri na esteira numa velocidade normal. A sede da Shoreline tinha uma academia gigante no primeiro andar, foi o único lugar que eu senti vontade de explorar na instituição. Eu conseguia sentir algumas pessoas olhando para mim enquanto me exercitava, o que era considerado uma coisa até normal, levando em conta que — segundo Taehyung — eu estava “famoso” por ser o cara que ficou meses em uma alcateia. Era quase palpável os olhares, eles provavelmente tinham muitas perguntas e eu me questionava o porquê eles simplesmente não chegavam até a mim e perguntavam. Não havia nada errado em estar curioso sobre a vida dos licantropos. E eu, definitivamente, não era uma pessoa intimidante.
Não entendia porque ninguém veio até mim.
— É porque tem algo diferente em você, Jiminie — Taehyung me respondeu no jantar. Estávamos no refeitório e eu achei um bom momento para perguntar a ele o que estava acontecendo. A resposta dele foi nada menos do que estranha.
— Como assim “diferente”? Dá pra notar que eu sou, hm, licantropo? — sussurrei a última parte, mesmo sendo quase impossível alguém escutar a gente no meio de tanta conversa no refeitório cheio.
— Acho que quem está de fora não consegue distinguir comportamento licantropo, então pra eles você só está… diferente — respondeu com a boca cheia de macarrão. Isso era algo que eu sentia falta também: ramyun coreano. — Não sei, cara. Antes você era assim — Ele indicou um tamanho pequeno com os dedos. — E agora você é assim — Aí ele abriu os braços, indicando um tamanho grande.
— A licantropia muda a altura dos humanos? — debochei porque a explicação dele foi bem idiota, mas eu consegui entender. Quer dizer… Um pouco. Não fazia muito sentido, eu me sentia diferente, mas continuava o mesmo.
— Idiota — Taehyung revirou os olhos depois de beber todo o caldo do macarrão, ignorando meus questionamentos. — Não adianta, as pessoas não vão simplesmente chegar perto de você porque parece que você irá mordê-las a qualquer momento.
— A única pessoa que eu quero morder está a quilômetros de distância — Suspirei dramaticamente, sabendo que isso iria irritar Taehyung. E deu certo.
— Ah, não começa! — Ele se levantou para ir embora, mas eu o impedi segurando pelo braço, mal me aguentando de rir da careta que ele fez para o meu drama.
Com o tempo, eu e Taehyung estávamos evitando falar sobre Jeongguk e a situação em questão — a analogia do elefante grande na sala nunca fez tanto sentido aqui. Esse era um dos motivos pelos quais eu também queria propor o uso de tecnologia na alcateia. Quando eu voltasse para lá, queria manter contato com Taehyung e a maneira mais fácil disso acontecer era com a tecnologia.
Por enquanto eu só procurava por alternativas e as colocava no fundo de minha mente até o dia que teria que usá-las.
[...]
Curiosamente, eu não tive mais sonhos realistas como aqueles depois de acordar do coma.
Porém, eu me recordei de um na manhã da viagem.
Eu ainda me sentia letárgico, mas estava muito melhor do que quando cheguei na Coréia. Não era a mesma energia que eu sentia na alcateia, talvez eu só conseguisse sentir quando realmente voltasse para lá. Por enquanto o sentimento era brando, como se meu lobo estivesse dormindo até voltar ao local em que nasceu. Eu me sentia mais como um humano normal do que qualquer outra coisa — ansioso e determinado. Tinha que usar as minhas forças naturais, a força humana, para seguir em frente sem meu lobo para ajudar nisso.
Como a ansiedade estava me corroendo, eu levantei mais cedo que o normal e fui correr um pouco ao redor da instituição. Eu ainda sentia uma leve dor na costela, mas nada muito alarmante. Se eu dissesse isso para Taehyung, ele com certeza iria cancelar todos os planos até que eu não sentisse nenhuma dor. Isso não era algo que eu queria e nem cogitava; considerando que provavelmente nós não iríamos correr muito perigo no meio da viagem, não contar sobre as dores era algo nulo.
Quando voltei para o saguão, estava todas as pessoas que a Shoreline designou para a viagem — no total, excluindo eu e Taehyung, eram quatro. Estava Chloe, a americana especialista em tesouros e licantropia, Yeeun era a mais velha do grupo com seus quarenta anos e muito bem formada em arqueologia, Soobin — que era o mais novo e me lembrava muito a mim mesmo quando comecei no ramo — e Julian, ele era belga e eu sabia pouca coisa sobre ele, apenas que Taehyung tinha um grande crush nele quando fomos em um intercâmbio da europa ocidental.
Não conseguia nem imaginar o que eu teria que aguentar nessa viagem se Taehyung não estivesse apaixonado por Jeongguk.
— Olha quem chegou — Chloe disse assim que me viu entrando, o sotaque dela era bem acentuado. — Você não deveria correr e gastar energia assim, Jimin. Estamos prestes a viajar em missão.
— Você fala como se fossemos remando um barco — revirei os olhos em brincadeira, nós tínhamos um pouco de intimidade para brincar um com o outro. O que duas semanas com pessoas extrovertidas não fazia? — Eu descanso no avião, Clo.
— Você é bem louco se conseguir descansar no frio que vai estar fazendo no avião — Ela argumentou. Tive que ignorar o alerta na minha mente gritando “eu não sinto mais tanto frio!”
— A gente meio que se acostumou com o frio da Sibéria — Taehyung adicionou, mentindo tão bem quanto ele conseguia fazer. — Vocês vão ver, vão amar!
— Okay — Yeeun disse de repente. Ela estava encostada na parede com suas botas de combate, deixando-a mais alta do que ela já era. — O que nós estamos procurando, exatamente?
A próxima meia hora foi Taehyung contextualizando tudo para o pessoal, embora Julian e Chloe já soubessem do que se tratava. Eu aproveitei para me aprontar e foi estranho voltar para lá com todos os equipamentos certos de alpinismo, parecia uma década desde que coloquei um cinto realmente seguro. Eu preparei o necessário, mas como estaríamos em um avião, eu levei mais coisas do que o normal. Era muito melhor previnir do que remediar, óbvio.
No meio de toda a bagunça que estava meus equipamentos, por algum motivo meus olhos se fixaram em uma coisa específica. Foi um curto reflexo vermelho, até eu me dar conta de que era um colar de pingente de rubi que Yeeun estava usando.
A pedra de rubi sempre foi importante para mim, foi o primeiro tesouro valioso que consegui por contra própria no ramo. Sem que eu soubesse de fato, o colar de Yeeun me trouxe alguns sentimentos familiares. Talvez eu devesse procurar nas minhas coisas que Taehyung trouxe da minha antiga casa em Busan — que agora com certeza está em estado de abandono, coitadinha — alguns dos meus antigos tesouros. Ele trouxe muita coisa que eu não me atentei de fato, o materialismo nunca foi tão forte para mim quanto é para Tae, por exemplo.
Aproveitei a distração de todos no meio da conversa e fui até meu quarto, onde estava toda a bagunça trazida. O máximo que eu fiz foi mexer em algumas roupas, apenas para eu descobrir que algumas camisetas estavam apertadas em mim. Ou eu engordei, ou eu estava com músculos maiores, embora não fosse algo tão importante assim para dar atenção. Por isso eu tratei de procurar logo o que eu queria no meio daquela bagunça.
Havia muitas coisas, muitas coisas mesmo. Algumas relíquias que despertaram minha memória; como um pequeno token de madeira que uma moça indígina me deu em Machu Picchu, a chave dourada de uma gruta na Europa ocidental, o colar de ouro que diziam ser de uma antiga princesa da era Joseon — quando resolvi explorar mais do que minha própria cultura oferecia. Tudo estava em um pequeno baú que transbordava de bagunça, até eu achar o rubi escarlate.
Estava um pouco arranhado, mas ainda continuava em perfeito estado para mim. A pedra preciosa era pequena, dava para segurá-la entre meus dedos, um pouco maior que uma moeda, mas não mais que isso. Perfeita para levar ela na viagem.
Estranho pois só assim consegui conter minha inquietação.
[...]
Provas de que Taehyung realmente estava apaixonado por Jeon Jeongguk: ele não correspondeu aos flertes de Julian durante toda a viagem.
Era chocante, de fato. Taehyung era o cara mais desapegado que eu conhecia, apesar de ele ter seus momentos de carência, nunca vi ele namorar alguém por muito tempo ou até mesmo se apaixonar por tanto tempo.
O avião realmente estava frio, apesar do aquecedor. Nós pegamos dois, já que a parada mais próxima era na Suíça, logo pegamos o segundo embarque e já podia sentir o frio. Não era nada muito incômodo para mim, mas para meus companheiros e amigo era quase palpável o desconforto deles.
— Como você aguenta ficar com apenas dois cobertores? — Soobin perguntou ao meu lado, o lábio dele estava quase azul, mesmo quando pedi um chocolate quente ao serviço de bordo para ele. O mais novo do nosso grupo, aparentemente, iria sofrer um pouco. Mas eu tinha certeza que ele era um ótimo alpinista, cheio de energia que a idade dele permitia.
— Acho que me acostumei — argumentei, embora sentisse um pouco de frio. Nada muito alarmante. — Posso te dar uma das minhas cobertas, se quiser.
— E pra mim você não oferece? Eu tô morrendo aqui — Taehyung reclamou e eu ri, revirando os olhos. De todos ele era o que mais tinha cobertores, além das bolsas térmicas que ele usava.
— Você quer dividir o assento comigo? Podemos nos aquecer juntos — Julian disse ao lado de Taehyung e, claramente, foi um flerte. Surtiu efeito em Tae, já que ele ficou com a cara vermelha. Conhecendo-o bem o suficiente, eu sabia que era por causa do constrangimento, não porque ele tinha interesse em Julian.
— A-Ah, obrigado, Jules, mas não precisa — ele riu constrangido e tentou desviar o clima estranho, logo puxando assunto com Chloe e Soobin.
Se não fosse pelas sensações estranhas que eu estava sentido, provavelmente teria me esforçado um pouco mais para manter a conversa. Tudo parecia demais para mim, era como se eu fosse um pólo de um imã indo diretamente para o pólo oposto depois de dias. Uma energia estranha, uma ansiedade estranha.
Eu estava voltando para casa.
O plano não era como eu queria. Mas há algo sobre você estar em uma equipe que precisa ser respeitado: a opinião da maioria é mais valiosa do que a minoria, independente dos motivos. Tudo em mim gritava para ir diretamente para a alcateia, mostrar a todos que eu estava bem que poderíamos viver tranquilamente, mas isso só seria pior para a situação. O grupo achou melhor nós acabarmos com isso o mais rápido o possível, seguindo em direção ao o que as coordenadas nos levavam. Isso demoraria uns três dias, provavelmente.
Três dias. Apenas três dias.
Eu poderia conseguir, já passei por coisas piores. Já estive preso em uma caverna depois de uma avalanche, nesse mesmo país, por mais de dois dias. Três dias não era nada.
A primeira coisa que me deixou minimamente satisfeito nas horas que se passaram, desde que nós desembarcamos, foi sentir a temperatura que eu aprendi a me acostumar diretamente na minha pele. Minhas botas afundaram na neve fofa quando descemos do carro em direção a floresta. Eu me senti mais energizado do que nunca, respirar o ar daquele lugar era a pureza que procurei durante a minha vida toda.
Meu olfato até ficou infinitamente melhor. O cheiro dos meus companheiros eram dez vezes mais perceptíveis. Taehyung pareceu ter notado meu estado de entorpecimento, pois seus olhos estavam atentos em mim cada vez que andávamos até a floresta.
— Eu vejo como você se sente bem nesse lugar — Ele comentou baixinho, do meu lado enquanto nossos amigos andavam na frente. — Não se preocupe, logo você vai estar com ele.
Respirei fundo. Tae tinha razão e eu só precisava me manter firme um pouco mais.
[...]
— Tem alguma coisa muito errada nessa rota — Chloe disse quando paramos em frente a um paredão de pedra enorme, totalmente coberto por neve. Era pra ser uma caverna como indicava no mapa, mas não havia nada ali que tornasse essa informação verídica.
— Você percebeu agora? — Yeeun disse, aparentando estar muito cansada. Na verdade, todos eles pareciam cansados, menos eu. Cada vez que andava, sentia mais energia. — Eu disse que aquele pinheiro solitário naquela clareira era um sinal.
— Talvez nós vamos precisar escalar — Soobin deduziu olhando para cima, tentando ver o topo do paredão daquele monte.
— Nós não sabemos pra onde isso leva — Julian contrapôs, também tentando olhar o topo. Ele tirou um binóculo de dentro da mochila, mas ele não pareceu ajudar muito. O topo estava com uma densa neblina.
Eu não sabia que horas eram, mas nós provavelmente estávamos no final da tarde. Tínhamos parado muitas horas atrás quando estava parcialmente escuro, então já tinha passado um dia desde que entramos na reserva.
O meu maior desejo era conseguir trazer meu lobo de volta e andar sobre quatro patas, assim meus instintos iriam ser úteis naquele momento. Toda a minha intuição dizia que estávamos na rota certa, mas Chloe tinha razão: havia algo muito errado. Não fazíamos ideia do que era.
Talvez alguém, ou um grupo antes de nós, tenha mudado a rota.
— Vocês sabem se tem um grupo aqui na Sibéria também? — perguntei a eles, me sentindo estranho quando caminhei até a parede de pedra. Muito estranho.
— De arqueólogos? Acho que sim, mas não sei se são confiáveis — Chloe respondeu. — A equipe na sede comentou sobre algumas pessoas em grupos separados querendo fazer pesquisas, mas devido às legislações, não foi autorizado. Com certeza deve ter alguns que não aceitaram isso e vieram mesmo assim.
— Se esse é o caso, eles não são tão perigosos — Taehyung concluiu, mas ainda havia dúvida em seu semblante. — ...Ou são?
Não escutei mais a discussão que surgiu a partir dali, deixei-me ser guiado pelos meus instintos. Seria muito mais fácil ficar na minha forma lobo, mas isso certamente causaria um grande estranhamento pelos meus companheiros de equipe, então o que me restava era
agir como um… Humano lobo? Foi assim que eu me senti quando encostei minimamente meu nariz na pedra, tentando sentir um cheiro.
Foi até um pouco vergonhoso, mas era por uma boa causa. Havia realmente um cheiro ali, cheiro humano de pessoas que certamente fizeram um esforço para lidar com aquela extensa parede. Nosso grupo não sabia se a escalada era uma boa opção, também não sabíamos se deveríamos rodear pela direita ou pela esquerda. O que meus instintos diziam era uma coisa. Talvez não fosse uma boa ideia seguirmos pelo mesmo caminho que os prováveis arqueólogos, mas e se fosse um atalho?
— Pessoal — chamei a atenção deles. — Acho que tenho uma ideia.
[...]
Péssima ideia, porém ela deu certo?
Mais um dia passou e chegamos a um impasse novamente. No meio do caminho, depois de acamparmos e descansado logo após seguirem minhas orientações — que foi muito difícil, pelo amor de deus! Eles me acharam maluco, exceto Tae, que se não fosse por ele eu não conseguiria os convencer sozinho de irmos para a rota da esquerda. Ela era a mais perigosa porque… Havia uma grande descida por lá, estávamos em uma montanha sem percebermos de fato. Uma queda dali seria fatal, mas eu sabia que aquele era o lugar certo. Tinha que ser.
E era mesmo.
Taehyung gritou quando achou uma gema azul brilhante. A mesma que fazia parte da lenda, quase idêntica à primeira de Tae conseguiu naquela época. Ela estava presa a uma rocha que ele subiu em cima para usar o binóculo porque, ironicamente, havia um movimento poucos quilômetros à nossa frente. De longe eu consegui ver algumas motos para neve e um leve ruído de motor, definitivamente eram eles. E eles também não estavam nem um pouco respeitando às leis; não precisei mais que dez minutos os observando para notar o descuidado com a caverna que estavam entrando. Estavam destruindo quase tudo.
Parte de mim queria ir correndo até eles e impedi-los de estragar ainda mais o que pertencia por direito à alcateia, mas minha atenção foi totalmente para Taehyung quando ele exclamou ter encontrado a gema.
Se a relíquia estava ali nas suas mãos, significava que não estávamos longe do verdadeiro tesouro. E se não estávamos longe do tesouro, significa que…
— Jimin — Yeeun me chamou, os olhos dela focados na região à frente. — Acho que eles encontraram algo.
Merda!
Racionalidade nunca combinou muito comigo, cá entre nós. Eu tive que me segurar para não ir correndo até eles porque, não. Definitivamente não. Eles não poderiam ter encontrado o tesouro primeiro que nós. Nossa preocupação sempre foram os rebeldes, mas não fazíamos ideia do que poderia vir pela frente. Aqueles arqueólogos estavam fazendo o trabalho sujo dos rebeldes e, sem dúvidas, eles venderiam o tesouro para eles, contariam onde estava e deixariam que os rebeldes fizesse o resto do trabalho: destruir tudo.
Eu não nasci aqui. Eu não era original daquela terra, mas eu pertencia a ela agora. Isso significava que eu não deixaria que eles destruíssem tudo. Se depender de mim, isso nunca vai acontecer.
— Jimin, nós não podemos ser imprudentes — Soobin tocou meu ombro, ele notou como meu rosto ficou irritado. — Deve ter umas trintas pessoas ali ou mais, não vamos conseguir contra eles.
— Acho que conseguimos se nós nos escondermos, esperamos eles saírem e logo seguimos os rastros. Pegamos o tesouro furtivamente — Julian deu a ideia, para mim não parecia tão ruim se tiramos o fato que teria que me controlar ali, quieto, escondido, esperando-os sair para seguí-los.
— É bom, mas não fazemos ideia para onde eles vão depois daqui — Yeeun apontou, o olhar dela era irritadiço também. Como uma mulher nesse ramo há anos, Yeeun era totalmente contra o que aqueles caras estavam fazendo. — Como esses desgraçados conseguiram chegar até aqui? Nós tivemos sorte de chegarmos até agora, mas… Porra!
— Acho que não notamos uma coisa — Chloe surgiu atrás de mim com o mapa na mão, analisando-o mais precisamente. — Nós estamos no....
— Monte de Karter — concluí, olhando aos arredores depois de olhar o mapa.
O mapa não era preciso, nem todos os mapas são, mas não notamos o monte por um motivo: ele foi destruído.
Quero dizer, parte dele foi destruído. Com muita dinamite isso era possível. Minha mente correu tentando entender quando isso aconteceu e como. E se isso acabou atingindo parte da alcateia? Era possível, mesmo estamos tão longe?
Eu não me sentia tão longe assim, cada vez que cheirava o ar, eu sentia o cheiro de lar muito próximo. Parte de mim dizia que era por causa da sensação de flashback e meus sentidos estavam confusos, mas, porra, e se não estívessemos tão longe? Jamais conseguiria viver sabendo que aqueles desgraçados destruíram parte de um povo que nunca fez mal a ninguém.
— Qual o sentido de destruir tudo? Esses caras são burros? — Soobin perguntou, confuso. Compreensível por ele ser o mais novo, ele ainda não tinha visto como os seres humanos poderiam ser bem idiotas.
— Dinheiro, querido. Dinheiro move tudo — Chloe o respondeu, usando seu binóculo para observar os caras metros da gente. — E esses daqui ainda parecem ricos, olha os jetskis que eles tem!
— Acho que realmente vamos ter que esperar eles para depois seguirmos — Não me agradava nem um pouco, mas não podíamos fazer nada com tanta gente ali. Era um saco ter que esperar, quase rosnei irritado ao jogar minha mochila na neve para me sentar, aguardando até os incompetentes fazerem algo. — Talvez eles demorem horas, vai saber o que tem dentro daquela caverna. Tae, me deixa ver a gema — pedi a Taehyung sem de fato encarando ele, até não ouvir nenhuma resposta. — Tae…?
Todos do grupo viraram-se na minha direção, procurando por Taehyung que simplesmente… evaporou.
Antes que o pânico pudesse tomar conta de mim como um soco no estômago, levantei-me rapidamente e, na neve, consegui deduzir o que aconteceu.
Taehyung, seu filho da puta!
Os rastros de seus passos levavam até a caverna cheia de pesquisadores mal intencionados. Óbvio que ele foi sozinho. Taehyung era assim, ele sempre achava que poderia conseguir coisas através da furtividade. Ele era muito habilidoso, não podia negar isso jamais, mas ele podia fazer isso sem botar em risco nossas vidas!
Os caras estavam armados, obviamente. Eu conseguia até sentir cheiro de pólvora. Conhecendo Taehyung, eu sabia que a estratégia dele seria agir como um fantasma. Mas eu não podia deixá-lo ir sozinho, não mesmo.
O grupo foi contra eu ter que segui-lo, porém eles sabiam que não adiantava muito me impedir. O que lhes restavam eram ficar do lado de fora, prontos para qualquer imprevisto.
Não levei minha mochila, peguei apenas os dois canivetes presos à minha perna e segui os rastros já quase sumidos de Taehyung. Ele era bom, muito bom. Ninguém ia ver ele, mas eu sentia ele. Taehyung tinha cheiro de cacau.
Com o coração batendo forte em adrenalina, entrei na caverna. Conseguia ouvir vozes ecoando por todo o lugar, seria impossível passar por eles sem ser notado por aquela equipe, então eu fiz a única coisa cabível naquele momento; não muito longe dali, havia um cara que certamente era um guarda armado, bastante distraído com alguns desenhos que tinha nas paredes da caverna. Fiz o maior esforço da minha vida ao caminhar em completo silêncio, apenas para conseguir rodear as rochas e aparecer atrás do cara, imobilizando-o e acertando seu ponto vital atrás do pescoço com o cabo do meu canivete. Ele desmaiou imediatamente, sem nenhum som. Fui rápido em esconder seu corpo atrás de uma rocha bem longe dali; não pude deixar de notar que Taehyung teve a mesma ideia que a minha — havia o corpo de um cara escondido ali também, sem o uniforme do grupo de pesquisa. Desgraçado mesmo.
Fui mais rápido ainda em tirar seu uniforme e vesti-lo, ignorei completamente como o cheiro irritou meu nariz. Vestir algo de alguém que eu nem conhecia trouxe uma sensação amarga, eca.
Com o “disfarce” pronto, era um pouco mais seguro andar pela caverna sem correr o risco de levar bala. Isso não significava que eu não podia deixar de ser cuidadoso, meu rosto ainda estava visível para os caras perceberem que eu não fazia parte da equipe. Andei por trás das rochas e algumas estalagmites, minha respiração estava completamente ruidosa porque o cheiro do uniforme me irritou e, ainda por cima, estava me atrapalhando um pouco para sentir o cheiro de Taehyung.
Eu me concentrei ao máximo. De longe, eu ainda sentia aquela sensação do cheiro da alcateia, como se ela estivesse há poucos quilômetros de distância. Isso não era motivo para alívio, mas foi inevitável não ter essa sensação de que estava perto de casa. Era o suficiente para me motivar.
Seguindo Taehyung, eu soube que estava longe dos arqueólogos quando me vi num completo silêncio. Até o som do gelo no ar era possível de escutar, me perguntei se estava no caminho certo.
A esperança não tinha se esvaído completamente porque, minutos depois, ouvi barulho de passos. Pelo cheiro, eu sabia, era Taehyung.
— Tae, não me mate! Sou eu — sussurrei e ainda assim o som foi um tanto quanto alto, o suficiente para Taehyung parar de andar. Sabia que se eu simplesmente corresse até ele corria o risco de levar uma bela facada na cara. Poucos segundos depois lá estava ele, Kim Taehyung.
Ele tirou o casaco e parecia tremer, eu diria que ele não estava completamente morto de frio por causa da adrenalina correndo em suas veias. Taehyung parecia deslumbrado. Assim eu notei o porquê: o casaco que ele tirou estava cobrindo algo em suas mãos. Algo aparentemente pesado e muito valioso.
O tesouro.
Sempre achei que quando encontrasse esse tesouro eu iria gritar como um lunático, amaldiçoei tudo mentalmente por não poder fazer isso. Era o que eu queria: gritar.
Taehyung desembrulhou do casaco, com o maior cuidado do mundo, como se estivesse segurando um bebê, o tesouro.
Era, de fato, uma espada.
Porém a espada mais bonita que já vi. Ela brilhava. Era de prata, no seu cabo havia ornamentos que, segundo meus estudos, provavelmente foram feitos a mão. Cada um, milimetricamente detalhado. A base tinha uma gema azul, era dela que eu sentia o brilho para, logo abaixo, ter o desenho do que parecia ser uma besta — um lobo.
— Caralho — sussurrei, ainda muito incrédulo. — Onde… onde estava?
— Tinha uma parede — Taehyung sussurrou, ele parecia tão incrédulo quanto eu. — E algo me dizia que a última gema estava por lá… Realmente estava. Eu só precisei tirar ela para a parede revelar uma bancada. A espada estava em cima — disse tudo em um fôlego, eufórico. — Tinha outras coisas lá também, Jimin! Talvez voltaremos aqui depois, mas agora temos que sair o mais rápido o possível.
Eu não sabia se iria voltar para aquele lugar de novo, mas sabia que em outras circunstâncias, isso seria mais fácil. Muito mais fácil.
Porque naquele momento havia uns trintas caras atrás da gente.
Eles acharam os corpos desacordados, tinha quase certeza. Então começaram a vasculhar por toda caverna, até acharem a gente. Eles não tinham nos visto, mas ouviram a gente. Eles sabiam que nós estávamos ali.
Seria muito idiota da minha parte sair correndo e foda-se todo o resto, era exatamente isso que eu queria fazer. A agonia, a angústia, de saber que a qualquer momento alguém iria nos ver e muito provavelmente atirar em nós era muito horrível. Uma expectativa horrível, eu poderia vomitar ali mesmo de desespero.
Mas me mantive firme. E Taehyung também, ele segurava a espada como se sua vida dependesse disso — o que, teoricamente, era isso mesmo. Não era fácil rastejar e esgueirar-se pelas paredes da caverna com aquele troço — com todo respeito, mas porra! Era pesado e chamava muita atenção.
— Eu sei que vocês estão aí — Uma voz masculina, de um dos caras que perseguiam a gente, ditou alto e claro. — Não sei quem são vocês, mas se saírem e nos entregarem o tesouro, talvez repensamos se atiramos em vocês ou não.
Uau, que animador.
Eu devia ter trago minha arma, mas meus instintos diziam que era melhor usar o canivete. Talvez eu estivesse completamente insano, essa a verdade. Mais insano ainda quando visualizei que estávamos perto da saída, com vários caras espalhados pela caverna, poucos metros de nós estavam as motos, os jetskis.
Era um risco. Não sabíamos se estavam funcionando, eu nunca pilotei um jetski. Quando olhei para Taehyung ao meu lado, eu sabia que ele também estava considerando o mesmo que eu.
— Eu vou dar dez segundos para vocês saírem daí — Uma outra voz disse, começando a contar regressivamente.
Foda-se tudo.
Essa foi a coisa mais imprudente que eu e Taehyung fizemos. Cara, nós éramos muito burros.
Mas nós corremos por trás das rochas, sem ligarmos para o barulho que fazíamos. O som de disparos das armas começaram e eu soube que não tinha mais como voltar atrás.
Com a adrenalina me corroendo, eu e Taehyung chegamos ao jetski e, foda-se. Nós éramos muito sortudos porque a porra da máquina estava com a chave. Bastou eu ligá-la, como se fosse uma moto mesmo, para ela ir derrapando sobre a neve — tudo isso em questão de segundos. Taehyung gritou alto com a velocidade, quase caindo atrás de mim porque ele segurava o tesouro e tentava se segurar ao mesmo tempo. Não tinha tempo para esperar porque foi em milésimos de segundo até uma bala passar raspando pela moto. Eu acelerei com toda a minha força, desviando de dois tiros na pura sorte.
Se os deuses existem, porra, obrigado!
Meus olhos estavam mais frenéticos do que jamais estiveram em toda a minha vida. Acelerei a moto até onde dava, quase bati em uma rocha fora da caverna e agradeci novamente aos deuses pelo tempo estar claro, eu não seria capaz nem de ligar o farol da moto para enxergar coisa alguma na minha frente. A velocidade estava no máximo, uns duzentos quilômetros por hora? Não fazia ideia, nós só tínhamos que despistar aqueles caras o mais rápido o possível.
A vantagem da descida do monte de Karter foi a velocidade surpreendente. Não podia parar nem se eu quisesse porque haviam outros jetskis atrás de nós. Filhos da puta.
Eles começaram a atirar, eram ruins de mira, mas não podia contar apenas com isso. O vento gelado batia na minha cara com força, machucava meus olhos e meu cabelo provavelmente estava chicoteando o rosto de Taehyung, que mal conseguia se equilibrar atrás de mim.
— Se segura, porra! — gritei para ele ao que meu coração quase saiu pela boca quando senti seus braços afrouxarem meu corpo. Até eu entender o motivo por trás disso.
— Toma! — Taehyung gritou e bateu forte no meu braço, desequilibrando-me um pouco para alcançar o objeto. Era uma arma.
Já vi isso nos filmes de perseguição, tentar atirar enquanto dirige. Quem foi que disse que isso era fácil?
Com uma mão eu consegui mirar nos caras, se eu parasse suas motos seria mais fácil despistá-los. Não fazia ideia de quantas balas tinha na arma, mas tinha que arriscar. Atirei várias vezes até conseguir acertar a moto mais perto, o calibre era forte o suficiente para causar um estrago no motor. A moto em questão começou a fumaçar, a velocidade diminuiu até não conseguir mais vê-la.
Ainda tinha gente nos perseguindo e precisávamos achar uma alternativa imediatamente antes de chegarmos à floresta, seria muito pior entrar lá com eles na nossa cola. Meu cérebro não conseguia raciocinar tanta coisa ao mesmo tempo, então acabei não me dando conta do estrago que estava por vir. Um dos caras conseguiu atirar na nossa moto de modo certeiro, quase acertando Taehyung.
Nós perdemos o equilíbrio e caímos na neve em alta velocidade.
Era tudo um borrão branco para mim, segurei a arma com força porque iria precisar dele ainda, mas tirando isso, eu não tinha certeza de nada. A neve era macia, mas ainda assim me machuquei na queda — estávamos a mais de 150km por hora afinal. Me senti tão tonto, o antigo machucado da costela ardeu e eu soube que estava muito fodido se encontrassem meu corpo.
Taehyung provavelmente se machucou ainda mais por causa do tesouro; precisava encontrar ele mais rápido do que os caras. Quando finalmente parei de rolar na neve com o impacto, tentei normalizar minha respiração e me erguer para achar Tae. Minha visão estava tonta demais, quase inconsciente. Não conseguia me mexer na neve densa, mas ouvia vozes se aproximando. Merda.
A claridade atrapalhou minha visão ainda mais, tudo o que consegui ver foi o vislumbre de umas silhuetas se aproximando. O cheiro indicava que eram os caras.
— Não é ele que tá com o tesouro — ouvi um dizer.
— Foda-se, vamos nos livrar desse também — O cara se aproximou e eu segurei minha arma, mesmo sabendo que seria inútil contra mais de uma pessoa.
Ouvi o barulho do gatilho e, porra, não era possível que esses caras seriam tão covardes assim. Sequer conseguia enxergar eles!
Tentei pará-los mas, no mesmo momento que ergui meu braço com a arma, o cara chutou minha mão que estalou com o impacto. Eu gritei e tudo foi rápido demais, porque logo em seguida eu senti um cheiro.
E o rosnado de um lobo.
Meu coração parou depois de tanto caos, foi uma pausa. Realmente uma pausa.
Piscando diversas vezes, eu consegui enxergar a imagem de um lobo branco. Ele pulou sobre o cara que ia atirar em mim e, simplesmente, mordeu seu pescoço. Sangue manchou a imensidão branca daquela neve.
Agi quase no automático quando o outro cara, muito desnorteado com o animal, ergueu a arma para atirar nele. Um grito quase saiu da minha garganta dolorida, mas o lobo foi muito mais rápido e pulou no cara também, livrando-se da arma ao morder o braço. O grito do cara foi horripilante, meus ouvidos zuniam com os sons do lobo.
O lobo branco, depois de imobilizar o cara, uivou alto para o céu. Todo o meu corpo arrepiou quando ouvi o som de outros uivos. Eram vários.
Aqueles olhos prateados olharam para mim, exatamente do mesmo jeito da primeira vez. Minha visão focou-se nele completamente e uma preocupação latente foi como um soco na minha cara, quando o observei caminhar até a mim, mancando.
O que ele tinha passado para chegar até mim?
Minha mão se ergueu, largando a arma, para acariciar a cabeça do lobo. Os pelos ainda eram macios do jeito que eu me lembrava, a sensação fez meus olhos transbordarem.
— Yoongi?
Ele ganiu baixinho, deitando-se ao meu lado, muito cansado. Ele estava ferido.
Me levantei por completo, precisávamos sair dali imediatamente. Meus sentidos recobraram uma postura protetora e tudo piorou quando senti uma energia, um cheiro, muito mais forte.
A luz azulada da transformação estava ali à luz do dia, Yoongi voltando ao seu estado humano bem na minha frente.
Não consegui respirar em seguida.
Lá estava Yoongi, o mesmo Yoongi de sempre. Ele respirava pesado, os cabelos estavam suados, mas ainda eram platinados e macios. Seu rosto tinha um leve corte e seus olhos me dava vontade de pegá-lo e beijá-lo para sempre. Porém, tudo o que consegui ver depois que analisei todo o seu estado foi sua mão protetoramente em cima da barriga um pouco… grande.
Meu deus.
— Jimin...
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