O motorista parou o carro em frente de um prédio, que dava de cara para o rio Weser. Já era tarde, então boa parte da cidade estava em silêncio, a não ser por dois andares no topo de um prédio médio. Ginger foi o primeiro a descer do carro e eu segui a fila em sequência, sem questionar o motivo de tudo isso. Jack me ajudou a descer do carro com o apoio de seu braço e me pediu para andar perto dele. Notei que a rua estava quase sem lugar livre para estacionar carros, conseguia ouvir música vindo de algum lugar e muitas pessoas chegando. Olhei para cima, tentando enxergar alguma coisa para dentro das janelas, mas o que era visível era somente uma alternação de luzes entre tons vivos e bastante movimentação de sombras. Dei sorte de estar distraída olhando para cima, pois fui capaz de ver em tempo o vidro quebrando e um objeto grande voando para fora. Dei um grito e pulei esbarrando em Jack e Eric ao mesmo tempo, quase derrubando o melhor amigo do meu irmão. “A porra de uma televisão! Alguém jogou a porra de uma televisão da janela!” Exclamei em choque.
“Já sabemos quem chegou então.” Eric riu, mas não entendi a referência. Dei uma última olhada para a televisão espatifada no chão e entramos no prédio. Jack nos guiou para um lance de escadas, já que o elevador era pequeno demais para nós três. Ao mesmo tempo que subíamos, muita gente também fazia o caminho contrário, descendo. Quando um grupo de garotas passou por nós, fui ficando para trás a cada pessoa que cruzava por mim e não fazia o menor esforço para desviar. Tentei ainda gritar por Jack, mas era tanto barulho e gente falando alto, que entendi ele não ter me ouvido.
Continuei a subida sozinha, sendo seguida por um outro grupo de recém chegados. Depois de subir aquele lance estreito de escadas, cheguei em um corredor, onde várias portas estavam abertas. Não sabia para onde ir, então passei de porta em porta, olhando para dentro e tentando enxergar Jack, Eric ou Ginger. Olhando a terceira porta a dentro, bufei irritada, nada ainda. Bufei de raiva e me escorei na parede, segurando minha bolsa com as duas mãos, sem saber o que fazer. Era tanta gritaria e gente fora de si, que pensei se realmente devia estar aqui. A última coisa que eu precisava agora era ser apreendida pela polícia ou quem sabe até mesmo deportada. Desviei meu olhar para as escadas de onde vim e um grupo de pessoas, com alguns rostos familiares, estavam descendo do andar superior.
“IRMÃ DO JACK BRUCE!” Um rapaz gritou de longe e estreitei minha visão, tentando identificar quem era. A pessoa por algum motivo começou a correr em minha direção, e quanto mais próximo chegava, mais aquele rosto me lembrava alguém. Quando ele estava muito perto eu o reconheci, era Keith Moon. Me assustei com o comportamento dele e comecei eu mesma a correr para longe. Ele era rápido, mas eu tentei ser mais. Corri até o fim do corredor e entrei na primeira porta aberta, onde estava um aglomerado de pessoas fumando. Passei por todo mundo, pisando em almofadas no chão e tomando cuidado para não esmagar nenhum dos copos de vidros.
“Hey, Moon the Loon!” Um homem visivelmente chapado gritou quando Keith passou por ele. Continuei correndo como se estivesse nas Olimpíadas, com medo do motivo que o levou a me perseguir assim. Passei entre portas e corredores, sem um pingo de noção sobre onde estava indo. Quando percebi já estava de volta ao centro do ambiente, passando pelas mesmas pessoas chapadas de antes e resolvi correr para fora então, deixando Moon para trás e sem rastro nenhum de mim. Para meu azar, foi meu corpo deixar a sala, que Keith, vindo do outro lado, sabe-se lá como, trombou comigo.
Apesar da cara de criança dócil, Keith transformava seu olhar quando atrás de um kit de bateria. Ele passava de inocente para, sinceramente, maluco. Com toda aquela energia acumulada ele realmente virava outra pessoa. Quando trombei com ele, e vi seu corpo ceder para trás, fiquei com medo de imaginar qual demônio eu tinha invocado. Parecia que tudo aconteceu em câmera lenta. Ele despencando em direção ao chão, eu levando as mãos até a boca em choque, minha bolsa caindo, e Keith então… se abriu em risos. Continuei olhando para ele com muita aflição, mas me abaixando até o chão para recolher a bolsa.
Moon elevou seu tronco, se apoiando nos braços, com o cabelo colado na testa por causa do suor, e esboçando aquele sorriso assustador. Olhei nos olhos dele me sentindo muito mal por isso. “Me desculpa, eu não…” Keith levantou-se do chão em um segundo, indo até mim e me erguendo também, sem questionar se eu precisava ou não daquela ajuda. Segurei minha bolsa firme e com medo de olhar para ele.
“Você… é a Deusa… das nossas… maiores fantasias…” Ele falou pausadamente, aparentemente sem fôlego. Fiquei estática, olhando para ele sem piscar. Abri a boca para falar que na verdade eu era apenas Julie Bruce, mas ele preferiu continuar com a conversa de louco. Notei na hora que ele ainda estava com o mesmo terno listrado do Beat-Club. “Acabei de te ver na televisão, dançando Yardbirds. Massa.” Ele abriu um sorrisão e forcei a mesma feição, com medo do que poderia vir disso. “Estou sem ar ainda, você tem perna para correr hein.” Ele colocou as mãos nos meus dois braços, me olhando no fundo dos olhos. “Continue com o bom trabalho.” E me soltou fazendo sinal de positivo com as duas mãos.
“Obrigada, eu acho…” Sorri fraco sem ideia do que fazer a seguir. Olhei para trás rapidamente, com esperança de ver Jack, mas nada do meu irmão. Torci para que ele não estivesse dando uma de lunático por aí também. Comecei a me questionar como Keith sabia quem eu era, mas lembrei que estava com o mesmo vestido o dia inteiro, e Pete devia ter me mencionado então. Olhei para frente de novo e Moon estava com o mesmo olhar de antes, me encarando.
“Bom, está na hora de te embebedar, você precisa comemorar seu momento na TV.” Keith começou a caminhar em direção ao andar de cima e parou quando viu que eu não estava atrás. Ele fez sinal para que eu me aproximasse e o segui duvidosa. Subimos mais um lance de escadas, chegando ao último andar, que era um espaço amplo e sem divisões, a não ser pela separação entre o ambiente e a sacada. “Vou te apresentar mais duas pessoas que querem te ver também.” Fui levada por ele até perto do bar, onde dois homens conversavam. Ele cutucou o ombro de um deles e quando a pessoa se virou, eu quase caí para trás. Se foi complicado assimilar que conheci Pete Townshend e Keith Moon, meu cérebro não estava minimamente pronto para o encontro com John Entwistle e Roger Daltrey.
Quando vi os olhos azuis de Roger tão de perto, minhas pernas ficaram bambas e meu coração parecia explodir. Devo tê-lo encarado de boca aberta igual uma idiota. Ele deu um sorriso e me estendeu a mão. Apertei tremendo, com vergonha sabendo que ele percebeu meu nervosismo. Fiz o mesmo com John, que me estendeu a mão molhada que antes segurava seu copo. “Você deve ser a irmã do Jack Bruce, prazer em conhecer você.” Roger sorriu descontraído. Me perguntei se ele tinha idéia do efeito que causava nas garotas. “Te vimos na gravação do programa hoje cedo, e alguns minutos atrás na televisão. Espero que não tenha mais cenas suas dançando, já que o Moon jogou o aparelho pela janela.”
“Emoção do momento.” Keith justificou e eu ri, lembrando na hora da televisão que quase me atingiu pela janela. Pensei em trazer o assunto para eles, mas John interrompeu a conversa, com um novo copo de bebida em mãos.
“Posso dizer com certeza que todo mundo bateu uma pra ti depois do Beat-Club.” Entwistle deu um gole em sua bebida e nós três olhamos ao mesmo tempo para ele, Keith sorrindo e assentindo com a cabeça e Roger visivelmente constrangido pelo comportamento do amigo. “Eu devia parar de beber agora.” Ele se virou e saiu andando na direção da sacada.
“Desculpa por ele.” Eu balancei a cabeça expressando que não estava incomodada. “E qual é o seu nome, irmã do Jack Bruce?”
“Julie. Julie Bruce.” Keith esticou o braço em direção ao bar e puxou dois copos de vidro, junto com uma garrafa de bebida. Não tinha ideia do que era aquele líquido, mas quando ele encheu os dois copos e me ofereceu um, não me senti digna de recusar nada vindo dele. Aceitei com simpatia e tentei beber sem fazer careta. “Alguém quer me derrubar hoje.” Fiz cara de quem chupou limão e os dois riram de mim. “O Pete não está aqui hoje?” Perguntei inocentemente.
“Ah não, ela já tem um favorito Dip.” Keith apoiou a testa no ombro do seu amigo e encenou choro. Roger riu, fingindo consolar o amigo, afagando seus cabelos. “Pete sempre consegue as mais bonitas, aquele cuzão.”
“Dip?” perguntei dando outro gole em minha bebida, dessa vez com uma careta mais razoável. Os dois levantaram a cabeça e olharam para mim novamente, deixando a risada escapar.
“Eles me chama de Dip por causa do produto de cabelo que uso… um gel.” Roger justificou, passando a mão em seus fios fingindo estar os arrumando.
“Gel não, laquê, igual de vovó.” Keith interferiu, com um braço envolto nos ombros do seu amigo e sua outra mão apontando para o cabelo dele. “Ele precisa do melhor para manter o capacete no lugar.” Roger riu e deu um tapa na cabeça dele. “Filho da mãe.” Ele xingou o amigo. “Mas, voltando ao assunto… seu favorito está por aí também, rodando igual a gente. Do jeito que esse muquifo está enchendo, duvido que você consiga achar o seu irmão também.”
Arqueei as sobrancelhas preocupada. “Eu não disse que ele é meu favorito!” me defendi com firmeza. Keith e Roger se entreolharam e caíram na risada. Achei um pouco rude da parte deles, mas provavelmente eles eram assim. Continuei parada olhando para eles, forçando um pouco o riso, com vergonha de estragar o clima.
“Desculpa, a gente é retardado.” Roger falou reduzindo as gargalhadas. Keith encheu meu copo mais uma vez, já me incentivando a virar tudo em um gole só. Balancei a cabeça para os lados negando, sabia que se fizesse isso, o que entrou ia voltar para fora em um segundo.
Perdi completamente a noção do que bebi durante aqueles minutos. A conversa com os dois evoluiu, mas em dado momento Roger desapareceu. Fiquei com Keith por ali, ainda não acreditando naquele momento. Andei pelo andar todo com ele, segurando em seu ombro e gritando elogios para as pessoas próximas de nós. Moon também não estava em sua plena consciência. A bebida que ele ingeriu devia estar surtindo algum efeito com outras substâncias, obviamente ilegais, e ele estava entrando no modo lunático rápido demais.
Não sei o que aconteceu naqueles minutos, parece que tudo ficou preto, como se eu tivesse apagado. Quando tomei o controle de mim mesma novamente, estava extasiada. Sentia toda aquela energia querendo sair do meu corpo. Era uma sensação de euforia, misturada com adrenalina e felicidade. Olhei para baixo e percebi que estava em cima de uma mesa de centro dançando. Reconheci na hora Little Bit O’ Soul do Music Explosion. Meus braços pareciam leves como penas, eu queria jogá-los para todas as direções. Meus pés só queriam pular, meu quadril balançar, minha cabeça girava… Eu só queria sentir toda aquela energia. Continuei dançando como se não houvesse amanhã. Roger estava sentado no chão me encarando de olhos arregalados e boca aberta, parecia estar em outra dimensão. As pessoas ao redor de mim em completo transe. Keith Moon estava sendo Keith Moon. Pulando de sofá em sofá, fazendo palhaçadas e jogando objetos no chão. Pete também estava ali, deitado olhando pra mim. Acho que assim como eu, ninguém estava muito ciente do que acontecia no ambiente. Admirei as cores que pareciam mais vivas, meu corpo leve como uma folha, as pessoas mais bonitas.
O efeito em Keith parecia reduzir, logo ele estava no sofá com Pete, também me assistindo. O mais estranho era que eu estava sem vergonha alguma. Parecia que na verdade eu assistia tudo em terceira pessoa. Eu percebia pessoas me encarando, sentia meu corpo balançando ao som da música e, em meu estado normal, eu teria sumido em um segundo, mas hoje parecia que nada me abalava.
Moon, não sei como, estava com um pano branco gigante nas mãos, que mais parecia uma capa. Ele se levantou e me cobriu, me segurando com os braços e me girando. “Vou roubar o show todo para mim!” Ele gritou com empolgação. Comecei a rir e gritei também quando ele pisou em falso, caindo comigo no sofá. Roger continuou nos seguindo com o olhar, ainda com a mesma cara de retardado de antes e Pete começou a rir.
Caímos com tudo no acento. Keith se abriu em gargalhadas e não foi possível eu me conter. Coloquei a cabeça para trás, no ombro dele, chorando de rir. Ele continuava me segurando com os dois braços fechados. “Sabe…” levei a mão até a bochecha dele e dei dois tapinhas leves. “Você é meu favorito.” Ele abriu o maior sorrisão e me abraçou mais forte ainda.
Acho que nosso momento teria ido adiante, se não fosse por uma gritaria absurda que começou vinda dos outros lugares. Roger acordou do seu transe, levantando para procurar o motivo da baderna. “POLÍCIA!” Alguém gritou na porta e foi o suficiente para matar todo mundo do coração. Parecia que alguém cutucou um ninho de rato. Todo mundo começou a correr desesperado, tentando esconder as substâncias ilícitas que davam sopa por cima dos móveis, outros deram no pé. Fiquei com pena da pessoa que era dona desse imóvel e teria que arcar com as consequências.
Keith e Pete me levaram pelos braços, já que eu não estava em plena condições de corrida, minha cabeça ainda girava e minhas pernas não queriam correr em sincronia. Desci com eles as escadas até o andar com os corredores. Pete disse que sabia uma outra saída. Entramos no cômodo errado e tivemos que dar meia-volta. No caminho, Eric também correndo por sua vida, cruzou com nós e começou a correr atrás de mim. “Ei, vocês dois! Me devolvam a garota.” Keith e Pete olharam para ele atrás de nós e continuaram fugindo. “O Jack está procurando por ela, qual é.”
“E quem é você para falar por ele palhaço.” Pete gritou de volta, me segurando com mais firmeza. Eric continuou caçando os dois insistentes. Quando chegamos na tal saída alternativa, era uma escada de incêndio. Analisamos por alguns segundos se seria possível descer.
“Escuta, o irmão dela está desesperado por ela. Eu sou Eric, amigo dele. A gente precisa tirar ela daqui.” Eric saiu pela janela e tentou ajudar os dois a me colocar para fora.
“Podia ter falado antes cara.” Keith olhou para ele irritado, ajudando a colocar meu corpo para fora.
“ERIIIIIIIIIIIC!” Gritei levantando os braços e acertei Pete nos olhos. Ele deu um grito de dor, mas não me largou nem por um segundo.
“Shiu! Parem de gritar.” Eric repreendeu e só fez com que os dois começassem a rir mais ainda. Clapton estava tendo dificuldade em manejar meu corpo com aquela capa estranha. Eu já não entendia mais nada do que estava acontecendo, mas tentei colaborar. “Alguém… me ajuda… com essa merda de pano.” Os dois ajudaram e tiraram a capa, jogando-a janela abaixo. Eric olhou para a rua e balançou a cabeça. Era possível enxergar o reflexo das luzes dos carros da polícia, que estavam do outro lado da esquina. “Eu devia saber que isso não ia acabar bem.”
“Eu consigo andar.” Comecei a me debater e Pete me largou de um lado. Cai no chão e grunhi por conta da dor. Eric e Pete entraram em algum tipo de argumento, mas não consegui dar bola para isso. Me coloquei de pé, mas precisei reconhecer que estava com pouco equilíbrio. Clapton percebeu minha dificuldade e ofereceu o ombro como apoio, me ajudando a descer tudo.
O último lance das escadas tinha um espaço entre a escada e o chão, então seria necessário pular o final. Estava com medo disso e travei. Os três desceram sem problemas, mas eu não tinha nada a meu favor naquela hora. Meu vestido era um pouco revelador, minha bota podia estragar, eu podia cair e me quebrar… era uma lista de coisas que poderiam dar errado.
Eric continuou na ponta da escada me incentivando a descer. Tentei por várias vezes, mas não tinha coragem. Pete e Keith ficaram no fundo fazendo torcida e eu entrei em uma crise de riso. Clapton bufou irritado, tentando pedir silêncio para os dois, que só aumentaram o volume do barulho. “Julie você precisa descer agora.” Ele estendeu os braços, fazendo sinal para que eu descesse. “Só pula, não é tão alto.” Ele me encarou fundo nos olhos, tentando me passar segurança. Fui até a ponta e saltei em direção a ele. “Pro chão, não em mim!” Ele gritou mas era tarde demais. Me joguei com tudo para cima dele, que inevitavelmente perdeu o equilíbrio e foi ao chão comigo. “Eu não sei se esse cabelo na minha boca é meu ou seu.”
“Acho que é meu.” Levantei meu pescoço, puxando os fios para trás, rindo de Eric. “Desculpa.” Comecei a levantar e Pete veio ao meu socorro, ainda rindo. Clapton se colocou de pé, pronto para continuar nossa fuga. Olhei para cima e vi algumas pessoas nas janelas rindo da gente. Quando dei o primeiro passo, senti meu joelho arder. Estava aberto, com sangue escorrendo. Eric voltou a me oferecer seu ombro como apoio e tentamos nos afastar dali.
Olhei para trás, conferindo se os dois músicos do The Who ainda nos acompanhavam, mas eles estavam sumidos. Apesar de preocupada, precisei continuar fugindo antes que déssemos de cara com a polícia.
Eric não parecia fazer muito esforço para aguentar meu peso, por sorte eu era leve para alguém do tamanho dele, apesar de ele mesmo ser magro também. Quando estávamos consideravelmente longe, me soltei dele e afirmei que eu mesma já conseguia caminhar por conta. Andamos alguns minutos pelas ruas, que nesse horário eram iluminadas por alguns poucos postes de luz e a lua. Caminhando pela margem do rio, terminamos em uma praça.
Vazia, ela consistia de árvores, flores e um discreto chafariz, que já estava desligado. Sentei na beirada dele com Eric, que não perdeu tempo ao acender um cigarro. Ele parecia fumar o tempo inteiro. “Dói?” Ele perguntou soltando a fumaça e apontando para meu joelho. Neguei com a cabeça e abri minha bolsa procurando por lenços de papel. Quando encontrei, tirei alguns para fora e molhei um deles na água. Eric pendeu o cigarro em seus lábios e assumiu a tarefa. Não tentei interferir, apenas movi meu joelho machucado em direção a ele.
Meu coração acelerou ao sentir o delicado toque dele em minha perna. Era como se ele não quisesse fazer nenhum movimento que parecesse me invadir de alguma forma. Seus dedos se apoiavam no contorno do meu joelho, enquanto a outra mão limpava o machucado com cuidado. “Posso fazer uma coisa?” Perguntei para ele, que subiu os olhos para meu rosto e assentiu receoso. Tirei da boca dele o cigarro que já passava da metade e joguei para longe, deixando seu rosto limpo e livre. Removi o cabelo acima dos olhos dele, revelando seu olhar penetrante. Eric me olhava como se eu fosse algum tipo de jóia rara, eu mesma fui capaz de perceber isso. Passei meus dedos em seu maxilar, seguindo o contorno da sua estrutura óssea. Ele voltou a atenção para meu joelho, algo que não esperei na verdade. “Você tem um rosto bonito.” Pensei em voz alta. Ele sorriu de lado, ainda sem olhar para mim. “Eric, posso ver seus olhos?” Perguntei, querendo mergulhar novamente naquele olhar melancólico que me fazia tremer.
“Acho que está pronto aqui.” Ele jogou o lenço encharcado de sangue dentro da água. Em outro momento teria repreendido sua ação, mas agora eu só queria admirar seu rosto. Ele deixou um dos lenços em cima do machucado, para conter o sangue que continuava a vir, mesmo que agora em menor quantidade.
“Eric.” Me sentei mais próxima dele, em busca do meu objetivo. Não sei de onde vinha toda essa coragem em mim, era como se alguma coisa tivesse me libertado. Movi meus dedos do maxilar dele até seus lábios. Clapton não esperava isso, eu sabia pela forma como ele olhou para mim. Brinquei um pouco com a boca dele, abrindo-a aos poucos, até que tudo chegou ao limite. Assim como eu tinha aquela vontade absurda de selar aquele momento, Eric parecia estar com a mesma necessidade. Em um segundo sua mão estava em meu rosto e ele juntou nossos lábios em um beijo.
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