Brian Jones era um dos sujeitos mais incríveis da cena atual da música. Ele tinha um talento sem igual, fazia sucesso com sua banda e era paixão de quase toda adolescente fã de Rock. Inúmeras vezes projetei na minha mente como seria um encontro com meus ídolos preferidos, mas agora que acontecia finalmente, eu não sabia o que fazer. Eu queria me grudar nele, pular de alegria, berrar emocionada, mas tive que conter tudo isso dentro de mim.
Para minha surpresa, ele era muito… normal. Educado, pronunciava perfeitamente as palavras, tinha uma delicadeza na voz e um charme ainda maior em pessoa. Ele puxou conversa comigo muito atenciosamente. Conversamos sobre muitas coisas. Ele tinha um conhecimento incrível sobre música e me contava as histórias mais incríveis. Não ousei fazer perguntas sobre a banda ou vida pessoal dele, apesar de que queria muito saber sobre o término dele com Anita Pallenberg que, segundo rumores, o deixou por Keith Richards.
Acabamos entrando na casa para continuar a conversa, ambos congelando de frio. Brian acendeu um cigarro e me ofereceu um do maço, que recusei gentilmente. “E você acompanha a turnê com eles?” Ele me perguntou quando o assunto chegou em como rodei a Europa com o Cream.
“Sim. Quer dizer, é a primeira vez que venho junto. A próxima parada agora é na América. Meus pais surtaram quando Jack deu a ideia de me trazer junto.” Expliquei resumidamente.
“E como foi que os convenceram?” Ele perguntou, parecendo genuinamente curioso.
“Eu fugi na verdade.” Ele riu quando entendeu o que quis dizer. “Não me deixaram vir e Jack me sequestrou quando foi embora. Se souberem que logo vou estar nos Estados Unidos, acho que colocam até a rainha para ir atrás de mim.”
“Uma verdadeira aventura então, imagino como deve ser emocionante. E como eles são? Seus colegas de viagem.”
“Legais. Não sou muito próxima deles na verdade.” Respondi com sinceridade. Eric conversava com Donovan, agora sentado no sofá. Novamente o peguei me fitando. “Fiz amizade com os dois roadies, são garotos bem legais. Agora da banda, além do meu irmão, mantenho contato com Eric só, eu e Ginger não temos assuntos compatíveis… E eu acho que ele está sempre chapado, então não sei muito como me aproximar dele, sabe?”
“Acho que entendo.” Ele riu de leve. “Acho que Eric se preocupa bastante com você.” Ele falou e curvei as sobrancelhas confusa. “Ele está observando a gente conversar tem mais de uma hora, e acho que não percebeu que a gente consegue ver… Abre o olho com ele.” Brian falou e eu ri, olhando para onde Eric estava. Ele deve ter percebido que falávamos sobre ele, pois desviou rapidamente.
Conversei com Brian por mais uma hora inteira. Quando vi o relógio, já passava das duas da manhã. “Bom, preciso ir. Ainda tenho que dirigir de volta até Londres e comparecer na gravação cedo.” Ele se colocou de pé e cambaleou, um pouco bêbado. Me levantei junto, tentando ajudá-lo e fiquei preocupada.
“Acho que você não pode dirigir nessas condições, não é melhor ficar?” Perguntei tentando não soar como alguém com outras intenções. Brian sorriu para mim simpático e negou com a cabeça.
“Tenho motorista comigo hoje, exatamente por isso.” Ele olhou para o relógio em seu pulso. “Poxa, está tarde mesmo, não imaginei que tanto.” Ele olhou agora para mim. “Ainda preciso me despedir do restante do pessoal, mas foi muito bom te conhecer Julie Bruce.” Ele me abraçou apertado. Abracei-o de volta e ele demorou até me largar. “Espero te ver por aí de novo… certamente isso acontecerá em breve.” Concordei com o que ele disse, apesar de não ter tanta certeza. Ele se afastou de mim, segurou minhas duas mãos e beijou-as delicadamente.
“Tchau Brian. Boa viagem.” Sorri para ele e o observei se distanciar. Jack veio conversar comigo, surpreso que eu estava esse tempo todo na companhia de Jones.
“Um sujeito e tanto, não?” Ele perguntou e eu só assenti. Meu irmão avisou que ia conversar com mais uns amigos e logo iríamos embora. Me deixando sozinha novamente, não me dei ao trabalho de conversar com ninguém. Rodei pela casa até que cruzei com Terry e questionei onde estavam minha bolsa e casaco, já queria me aprontar para ir. Ele me indicou onde ficava o quarto no segundo andar e foi para lá que rumei.
A casa inteira tinha construção clássica e era muito bem decorada. O quarto em questão tinha sacada, com portas de vidro. Procurei meus pertences na pilha em cima da cama. Levei um bom tempo mas achei a bolsa e o casaco. Aproveitei para usar o banheiro desocupado e conferi minha maquiagem no espelho. Quando saí, minha visão desacostumou com o escuro. Ouvi do andar de baixo e comecei a cantarolar junto, enquanto vestia meu casaco.
“Do you believe in magic in a young girl's heart
How the music can free her, whenever it starts
And it's magic, if the music is groovy
It makes you feel happy like an old-time movie…” Cantei baixinho e alegremente. Me olhei no espelho, confirmando se minha aparência estava ok e dei um berro, meu peito doendo forte. Atrás de mim, sentado na cama estava Eric. Me virei para ele ainda trêmula, um pouco envergonhada pelo susto. “O que… Eric, o que você faz aqui?” Perguntei me agarrando a minha bolsa.
“Estava fugindo da festa… Se me dessem um violão outra vez acho que eu pulava da sacada.” Ri delicadamente e continuei fitando-o. Mesmo no escuro eu conseguia perceber a maneira que ele me olhava. “Já vai embora?” Ele perguntou parecendo um pouco decepcionado.
“Sim, Jack está se aprontando, dando tchau para todo mundo, eu acho… ele é muito tagarela às vezes.” Nós dois rimos.
“Uma pena.” Eric falou e não entendi exatamente o contexto.
“Pena?” Questionei.
“Que vocês já vão.”
“Ah, eu… posso avisar ele que… Você quer que ele fique mais um pouco? Eu estou bem entediada mas não me importo de esperar vocês dois. Na verdade-“ Eric cortou minha frase na metade, dando uma risada baixa.
“Uma pena que você já vai.” Ele disse simplesmente.
“Eu? Como assim?” Perguntei confusa e ele continuou em silêncio. “Eric, porque você estava me olhando daquele jeito mais cedo?” A pergunta escapou de mim, quando me dei conta que tinha feito isso, me arrependi na hora, morta de vergonha.
“Não sei Julie, porque você estava olhando para mim?” Contra-ataque. Por esses motivos eu preciso aprender a deixar a boca fechada.
“Eu não estava… Do que você está falando Eric?” Cruzei meus braços e minha bolsa caiu no chão. Me ajoelhei para juntar as coisas que caíram dela, sentindo a raiva subir minha cabeça. “Sabe… Brian Jones me disse para abrir o olho com você. O que isso quer dizer?”
“Você devia perguntar isso para ele, não para mim.” Ele sentou-se com as costas na cabeceira da cama.
“O jeito que você estava me olhando… foi como naquela noite na Alemanha.”
“Que noite?”
“Você não lembra, obviamente. Esquece.” Me levantei incomodada. Segurei minha bolsa nas mãos, pronta para marchar para fora do quarto. Passei por Eric rapidamente, e com as mãos no trinco, pronta para sair, olhei para ele pela última vez. “Eu realmente não entendo você Eric.”
Tentei girar a maçaneta, mas antes que conseguisse concluir essa ação, Eric se pôs de pé e segurou meu pulso delicadamente, me impedindo de sair do quarto. Olhei para ele sem saber o que fazer.
Ele tirou a mão do meu pulso e me virou de frente para ele, me segurando contra a porta e me fitando fundo nos olhos. Conseguia sentir a respiração dele em mim e me preocupei se ele percebia como eu tremia com tudo isso. “O que você está fazendo?” Perguntei quase em sussurro e me surpreendi quando ele conseguiu ouvir minhas palavras.
“Algo que eu devia ter feito antes.” Ele disse e me beijou.
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