Minhas mãos doíam e as lágrimas dos meus olhos estavam secas. Percy estava de braços cruzados e revirava os olhos a cada tentativa minha de machuca-lo. Por que ele simplesmente tinha que ser tão alto e forte? Cansei-me de bater em seu peito e me sentei na beira da minha cama. Percy tinha um sorriso de canto extremamente lindo em seu rosto, mas eu não me deixei levar. Eu não iria simplesmente esquecer o que ele havia me dito.
- O que você está fazendo aqui, Jackson? Já não disse tudo o que queria? – ele fez menção de falar algo, mas eu o interrompi – O que? Acha que pode simplesmente chegar no meu chalé, expulsar a minha equipe daqui para depois ficar me olhando com essa cara de afetado? Ta segurando um peido, meu filho? – me levantei estressada e fiquei na frente dele – O que você quer? Como você consegue ficar em um mesmo cômodo comigo? Pensei que eu já havia estragado seu precioso verão com a Miss Cabelo de Salsicha. Talvez eu não seja tão insuportável assim para você conseguir ficar aqui no chalé por tanto tempo comigo.
- Annabeth, olha, não pense que eu estou aqui porque quero...
- Ótimo, porque eu também não te quero aqui. Já pode sair! – eu disse apontando para a porta.
- Eu só vim te pedir desculpas, ok? Sei que o que eu falei não foi certo e vi que eu te magoei.
Eu ri com escárnio.
- Você? Me magoou? – eu ri mais uma vez – Tenha certeza que não foi você quem me magoou. Eu não quero você aqui, não quero você por perto e não quero falar com você!
Ele revirou os olhos e descruzou os braços, botando as mãos dentro do bolso da sua calça jeans desgastada. E eu não pude evitar pensar o quão sexy ele ficava daquele jeito. Mas não era a hora de ter esses pensamentos, certo? Certo.
Ele mudou o peso de uma perna para a outra, desconfortável.
- Me desculpe, eu não...
- Você não o que? – perguntei sentindo as lágrimas escorrendo novamente pelo meu rosto.
- Eu não sei. – seus ombros caíram e ele sentou na minha cama, dando tapas do lado para eu me sentar também. O olhei relutante, mas me rendi no fim. – Olha, eu sei muito bem o que é se decepcionar com pessoas que você ama, pode acreditar! Eu sei que não é fácil, até porque é meio ressente para você, eu bem... eu já me acostumei. Sei que você amava seu pa... – eu o fuzilei com os olhos – amava Frederick e sei como é ver alguém que você ama simplesmente te deixando. Ou você deixando essa pessoa – ele sussurrou, mas consegui ouvir – Mas bem, tudo acontece por um motivo e talvez se Frederick não tivesse feito o que fez, você não estaria aqui agora tendo o prazer de conhecer todas essas pessoas maravilhosas do acampamento, me incluindo é claro. – nós rimos – Só entenda que você tem Thalia, tem Luke e pode ter certeza que você tem a mim agora.
Percy passou os braços por meu pescoço e segurou minha cabeça carinhosamente enquanto dava um beijo suave na minha testa.
- Eu pensei que você me achava insuportável. – eu disse fraca e ele fez uma careta. Eu sorri.
- Bom, você continua sendo um pouco, mas dá para conviver.
Fiz uma cara de falsa indignação e bati em seu rosto de brincadeira.
- Desculpe por ter estragado sua noite com a Miss Cabelo de Salsicha.
- Não fale assim da Rachel, eu gosto dela!
Revirei os olhos e senti algo desconfortável.
- Que seja. – dei de ombros.
Ele se levantou e estendeu uma mão para mim.
- Vem, você precisa comer alguma coisa, Sabidinha.
- Mas que apelido é esse, Cabeça de Alga?
- Você está reclamando? Cabeça de Alga não é exatamente algo amigável! – peguei sua mão e saímos do chalé de mãos dadas e rindo.
Todos que estavam lá fora nos olharam, inclusive Rachel. Eu soltei a mão de Percy rapidamente, o olhei e percebi que ele estava corado. Ele coçou sua nuca e me olhou também.
- Obrigada, Percy. De verdade. – sorri agradecida.
- Sem problemas, Sabidinha.
Eu dei um tchau e fui em direção a Casa Grande, de onde eu não ouvia mais nenhuma música. Franzi a testa.
- Hey, Annabeth! – me virei e vi Percy exatamente no mesmo lugar, me olhando com um sorriso no rosto. – Três horas!
- O que? – gritei de volta.
- Você irá entender, Sabidinha!
Então ele simplesmente deu as costas e foi na direção de Rachel – que estava de braços cruzados e com uma cara nada boa. Quando cheguei à Casa Grande, encontrei um Nico com um saco imenso de gelo no rosto. A decoração da festa ainda estava intacta: as duas mesas que havia para dividir uma equipe da outra estavam na parte da frente do salão principal e uma tinha todos os tipos de doces e outra tinha salgados, refrigerante e sucos. Pequei um prato e me servi de salgadinhos e suco de laranja, me sentei com Nico.
- O que aconteceu com seu rosto? – perguntei enquanto comia um salgadinho. Ele murmurou algo incompreendido. – Você fala minha língua?
- Luke me bateu. – ele disse num sussurro e eu engasguei.
- E por que ele te bateu?
Outro resmungo. Revirei os olhos.
- Eu beijei a Thalia e ele simplesmente enlouqueceu e veio pra cima de mim.
- Não leve para o lado pessoal – eu disse dando de ombros – Luke faz isso com todos que sequer tenham pensamentos pervertidos em relação à Thalia.
- Mas eu não sabia que eles tinham algo.
- Eles não têm! Mas... É complicado. – eu disse fazendo uma careta.
Não falamos mais nada até eu terminar de comer.
- E você e o Percy?
- O que tem a gente?
- Essa relação ai de amor e ódio.
- Não tem ódio e muito menos amor.
Nico riu.
- O que eu perdi nessa história?
- Eu e Jackson fizemos uma trégua. Somos amiguinhos agora.
- Isso não vai acabar com vocês sendo amigos. – ele disse com um sorriso no rosto.
- O que quer dizer?
- Ou vai terminar com vocês numa cama se comendo até não aguentarem mais, ou vai acabar com vocês de odiando eternamente por alguma merda que vai acontecer. Ou vocês irão se comer e depois irão se odiar.
- Primeiro: a gente não vai se comer, e depois, não somos tão amigos ao ponto de ficarmos chateados com alguma merda.
- Ainda, Annie... ainda. – ele disse sorrindo.
- Seu humor me assusta, Nico. – eu disse com um sorriso no rosto.
- Você também é encantadora, Annabeth.
Continuamos conversando até duas da manhã. Nico era realmente legal e bem engraçado, mesmo não parecendo por causa do seu estilo meio dark. Conversamos sobre tudo: desde piadinhas sobre Joãozinho até política. Eu estava realmente sonolenta, então voltei aos chalés com Nico, nos despedimos e cada um foi para o seu canto. Fui recepcionada por 24 cabeças curiosas.
- O que foi, pessoal? – perguntei assustada me sentando na minha cama.
- O que rolou entre você e o Percy? – os Irmãos Stoll me perguntaram em uníssono, seguidos por várias outras perguntas de pessoas variadas. Apenas Thalia me olhava com um sorriso estranho no rosto e seus olhos azuis elétricos se destacavam em meio a tantos rostos.
- Só conversamos e decidimos acabar com essa rixa maluca nossa. Só somos amigos agora gente, só isso. – respondi cansada.
Alguns deram de ombros e outros estavam visivelmente decepcionados, mas apagaram as luzes e cada um foi para a sua cama. Eu deitei cansada e Thalia deitou no meu lado, em seguida.
- Ok, me conte. O que aconteceu entre você e Percy?
Revirei os olhos.
- Só conversamos e bom, ele se mostrou bastante legal e compreensível. Somos amigos agora.
- Nem um beijinho? Nada?
- Não, Thalia. Por que isso?
- Eu fiquei realmente chateada com o que ele fez, e eu queria que você voltasse para casa. Luke que me convenceu a não ligar para Atena...
- Não ligue! Eu estou realmente começando a gostar daqui. – eu disse corando.
Mesmo no escuro, vi seu rosto se curvar num sorriso.
- Acho que você está mesmo é gostando do Percy. – ela disse rindo.
- Ah, pelo amor de Deus, cale a boca! – nós rimos – Percy falou comigo algo relacionado á três horas. São que horas, Thalia?
- 2h30, vocês vão se encontrar ou algo do tipo?
- Eu não sei – disse me levantando, meio sonolenta e querendo mais que tudo dormir. – Mas estou curiosa e vou descobrir.
- Boa sorte, e boa noite! – Thalia disse indo para a cama dela e se virando.
Peguei a lanterna que estava ao lado da minha turma e abri minha mala, fazendo o mínimo de barulho possível. Peguei uma calça leggin preta, uma das blusas do acampamento que eu havia ganhado e uma blusa xadrez de botões que eu iria usar como casaco. Entrei no banheiro e tomei um banho refrescante. Botei minha roupa e faltavam cinco minutos para as três da manhã. Eu estaria exausta amanhã.
Percy estava jogando baixo.
Botei minha roupa no cesto onde estavam as roupas sujas, botei meus tênis e sai do chalé silenciosamente. Percy já estava do lado de fora me esperando. Seus cabelos negros estavam molhados e ele vestia um jeans preto com a camisa do acampamento e um casaco branco por cima.
- Pensei que você não iria descobrir a charada, Sabidinha. – ele disse sorrindo quando me viu.
- Se eu não descobrisse, meu apelido não iria fazer sentindo no final das contas. – eu sorri para ele – E eu não tive que pensar muito, sabe? Não foi uma charada muito complexa.
- Aprendi com Quíron! – nós rimos de verdade e fizemos silencio em seguida, com medo de alguém nos escutar. – Vem comigo, Sabidinha. Tenho um lugar para te mostrar e temos que chegar lá a tempo de ver o nascer do sol.
Parei ao lado de Percy, o olhando com cuidado.
- Você quer ver o amanhecer comigo? – eu perguntei cética.
- Sim! – mas em seguida ele corou e coçou a nuca como da outra vez – Bem... não do tipo romântico sabe... do tipo que amigos fazem quando não tem mais nada legal para fazer... Você sabe, Annabeth!
Prendi a risada e somente o acompanhei na direção da floresta. Tentei não comentar que ver o amanhecer era algo romântico demais para amigos, mas não sabia como ele interpretaria isso. E é claro que amigos não iam ver o amanhecer quando estavam entediados!
- O que você e o Valdez têm um com o outro? – Percy perguntou quando chegamos perto do rio.
- Quê? Como assim? Somos só amigos, Percy.
- Calypso brigou feio com ele por sua causa... Ela acha que ele está afim de você. – ele deu de ombros. – E eu não o culpo, você sabe.
Arqueei as sobrancelhas. Percy Jackson estava falando que eu era gostável?
- Não, eu não sei. – eu disse sorrindo.
Ele segurou minha mão e subimos numa trilha de pedras, atravessando o rio.
- Ah, Annabeth, não me faça repetir isso! Você sabe... seu cabelo loiro, seus olhos cinzas, sua personalidade... você é uma garota legal e bom, tem um corpo bonito. – ele coçou a nuca mais uma vez como se percebendo o que ele acabou de falar – E tem uma pele legal. – ele acrescentou rapidamente.
Uma pele legal?
- Ahn, ok, obrigada. Mas não, eu e Leo não temos nada um com o outro. Na verdade, nos falamos pouquíssimas vezes. Ele é muito legal e é muito bonito, mas ele realmente gosta da Calypso.
Ele não respondeu mais nada e parecia pensativo. Subimos o que parecia uma montanha por longos e infinitos minutos. O céu estava levemente clareado, o que me fazia acreditar que logo estaria amanhecendo.
- Vem Annie, estamos chegando!
- Eu tenho uma vida sedentária, não posso simplesmente ficar subindo montanhas de uma hora para outra, Cabeça de Alga.
- Valerá a pena! – ele me deu um sorriso lindo e seus olhos verdes brilhavam intensamente. Tentei não me sentir culpada pelo o que eu achava que estava sentindo. – Venha! Só temos alguns minutos.
Subimos rapidamente e bom, chegamos no topo da montanha bem a tempo de ver o sol se erguendo atrás de outras montanhas menores e um rio imenso. A água tinha cor de fogo e eu nunca, em toda a minha vida, tinha visto algo tão lindo. Sentei-me em uma pedra enorme, cansada, mas sem tirar os olhos daquela paisagem linda. Percy se sentou do meu lado com um sorriso imenso no rosto e, por incrível que pareça, aquele sorriso conseguia ser mais lindo do que a paisagem que estava na minha frente.
- Se você ficar me olhando vai perder todo o show. – ele disse se virando para mim.
Olhos verdes com olhos cinzas. Um arrepio percorreu a minha espinha. Por que ele me fazia sentir daquele jeito? Não desviamos nossos olhos e ninguém disse mais nada. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo ali, mas não queria que parasse. Era como se eu fosse uma máquina e aqueles olhos verdes, aquele cabelo preto e o corpo definido de Percy fossem minha fonte de energia. Ele se aproximou de mim e respirou fundo, fechou os olhos. Ele estava realmente perto agora, nossos narizes se encostavam. Eu não me movi e não fechei os olhos. Eu ainda o olhava de perto, seu cheiro de maresia dominava minha mente e tudo o que eu queria era ser abraçada, mas então ele se afastou e soltou um longo suspiro.
- Eu não posso, me desculpe. Não posso fazer isso com a Rachel, por mais que eu queira.
Me senti levemente desapontada, mas ele estava certo.
- Eu não te pedi para fazer nada, Cabeça de Alga. – sorri sem desgrudar os lábios.
Percy soltou outro suspiro e se levantou.
- Vamos, melhor voltarmos antes que Quíron note nossa ausência.
Levantei-me e olhei mais uma vez a paisagem desejando ficar ali para sempre.
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