O dia começava cedo em Honey Rage, ainda mais do que na maioria das fazendas próximas. Mas nem todos os membros da família Bakugou acordam antes do sol.
Katsuki era sempre o primeiro a acordar, dessa forma, a primeira parte do café ficava por sua conta. Eram quatro e meia da manhã agora e tudo que pretendia fazer era um café bem forte para começar o dia. Aproveitou para pegar um dos muitos rolinhos de canela que o marido e a filha fizeram no dia anterior, o açúcar ajudaria a acordar. A água já estava quente o suficiente e a garrafa para o café estava na pia.
Hoje não seria um dia difícil, só precisava que Kayaku viesse com ele até Apple Blossom Lands ajudar Shouko e Hitohito com a parede do celeiro que quebrou, não se pode deixar os animais perto de construções quebradas, é muito perigoso. Ele sabia que tinha sido um inferno para a pobre Shouko conseguir pedir ajuda enquanto o marido realocava os animais na fazenda, mas Katsuki soube que algo estava errado assim que ela apareceu desesperada e no meio da chuva há dois dias.
Era uma corrida e tanto mesmo que fossem vizinhos, os portões tinham bons 5 quilômetros de distância e nenhuma das casas ficava perto dos portões. Ela percorreu todo o caminho de terra no meio da chuva, então realmente estava preocupada.
— Pai, você já terminou o café?
Uma voz sonolenta e baixa passou da sala para a cozinha chamando a atenção de Katsuki. Shōseki parecia ter acabado de acordar, ainda estava de pijamas, o cabelo loiro e espetado cortado curto por praticidade precisava ser arrumado com urgência. Katsuki serviu uma xícara extra de café e entregou para a filha mais velha, seria um longo dia para ela.
— O Tomioka vai passar aqui, não é, querida? — ela assentiu com a cabeça, ainda meio dormindo — Não se preocupe muito com isso, ainda não são nem cinco. Ele vem pouco antes das seis, já vamos estar todos acordados — outro aceno de cabeça e ela voltou a dormir ali mesmo.
Era a rotina matinal normal, Katsuki saiu da casa segurando uma xícara de alumínio e foi direto para as colmeias artificiais. Sem proteção nenhuma, abriu uma das caixas brancas e olhou para dentro, as abelhas nem se moveram com a visão do homem, nada de mais para Katsuki. Depois de olhar bem para a colmeia a fechou e começou a olhar as outras, não demorando mais do que 10 minutos ali.
Quando voltou para dentro a filha já tinha sumido e sua xícara estava vazia na pia, devia estar se trocando. Olhou bem para a sala vendo, finalmente, que o cachorro havia dormido para dentro. Sem saber como não viu um cachorro daquele tamanho na própria sala, Katsuki resolveu chamar Eros e o colocar para fora.
— Vem cá Eros, é hora de comer. — com a menção de comida na fala, o mestiço de rottweiler com pastor alemão levantou de imediato — É um morto de fome mesmo.
Eros e Katsuki saíram até o celeiro, o cachorro tentando morder os calcanhares do dono em forma de brincadeira, as vacas já acordadas para o começo do dia e muito animadas, ao passo que o cachorro corria latindo para chamar a atenção delas, era uma rotina boa, calma. Era isso que Katsuki buscava depois de literalmente fugir com Denki para o meio do nada.
Passaram-se poucos minutos antes de Shōseki e Kayaku aparecerem vestidos do lado de fora, cada um com uma xícara de alumínio e sua própria cara de sono para ajudar a colocar comida para os animais e arrumar o espaço para os filhotes que trocaram com o vizinho.
*****
Já eram quase seis da manhã, e como previsto, Giyuu apareceu com a caminhonete cheia. Katsuki, Shōseki e Kayaku já estavam no portão esperando para receber as ovelhas filhotes e sair logo depois. Denki ficaria na casa com a filha para trabalhar normalmente.
— Ei, Katsuki, eu sei que vai ajudar a consertar o celeiro em Apple Blossom Lands. Pode passar na minha casa quando estiver voltando para conferir as crianças? — Katsuki concordou, não faria mal. Acompanhou a filha com as ovelhas e depois encontrou Kayaku no carro.
Levantar uma parede era mais difícil do que poderia parecer, mas nada que os Bakugou não soubessem fazer. Poucos minutos depois de entrarem no carro estavam parados no portão vermelho e decorado com canteiros de flores de mesma cor, uma pequena placa com formato de maçã estava pendurada e tinha o nome da fazenda escrita. Era uma entrada muito bonita.
Shouko estava parada do lado de dentro esperando por eles para abrir o portão e deixar o carro passar, ela parecia mais apresentável hoje, o cabelo preto muito comprido preso num rabo baixo e suas roupas arrumadas e secas, a filha grudada em seu colo, dormindo.
Ela os guiou até o celeiro, mais longe da casa do que eles esperavam, e então puderam ver o que tinha acontecido. Algumas marcas de queimado manchavam a madeira envernizada da construção e a parede lateral estava pela metade, era triste de ver um celeiro pequeno destruído assim, provavelmente por um raio durante a tempestade. Para a sorte da mulher, as vacas estavam bem e não eram a fonte de renda regular da fazenda, então ela não precisava se preocupar tanto com isso.
— Vamos ter que derrubar a parede toda, mas isso vai ser muito perigoso. Não tem ninguém lá dentro, certo Shouko? — Ela respondeu com um balançar negativo da cabeça — Perfeito.
Não havia nada nem ninguém, as vacas foram deixadas no pasto, dormindo nos espaços que faziam sombras para descanso durante o dia. Com a ajuda de Hitohito e Kayaku, Katsuki mediu a parede, pensou na melhor forma de tirar as madeiras perigosas e já montaram uma segunda parede com madeiras de encaixe, era a melhor opção para um conserto rápido, usando madeira própria para esse tipo de situação. Depois, quando comprassem madeira mais adequada, fariam uma parede de verdade, mas ainda precisavam deixar essa por enquanto.
— Obrigado mesmo, Katsuki. Sem vocês eu não conseguiria montar a parede — Hitohito agradecia pela terceira vez só naquela hora e Katsuki estava começando a se incomodar.
— Não é nada, os vizinhos tem que se ajudar, se não, nenhuma fazenda vai pra frente — Katsuki deixou um sorriso para o amigo.
Ele podia ficar tão irritado quanto quisesse, mas foi graças aos vizinhos que Honey Rage estava de pé, e ele sempre retribuiria o favor aos novos moradores. Pegou o copo de suco que Shouko e a pequena Maru trouxeram para eles, estava quase na hora de voltar e ele teria que fazer um pequeno desvio para chegar em Mistwood Acres.
*****
Já era quase meio-dia quando estacionou na frente do portão de Mistwood Acres para conferir as crianças de Giyuu. Kayaku e Katsuki já desciam do carro e iam em direção ao portão.
— Garoto, já grita aí pra chamar a atenção deles, devem estar subindo pra casa.
Dito e feito, dava para ver os irmãos Tomioka acenando e subindo pelo jardim lateral da casa, muito florido nesse começo de verão.
— Já posso ver que os pestinhas estão bem — Katsuki falou alto para que as crianças escutassem ainda longe — Seu pai pediu para eu passar aqui quando pudesse para conferir vocês — Ele viu um sorriso passar no rosto do garoto e se apoiou no portão para conversar um pouco.
— Estamos bem sim, senhor Bakugou. Estávamos indo fazer o almoço e depois Nezuko vai treinar com Starbolt — O sorriso incansável dos dois irmãos dançando em seus rostos.
Estava tudo muito calmo pra ser verdade, então assim que ouviu o nome do cavalo Katsuki viu o filho brilhar, isso era sinônimo de problema, Kayaku se animou imediatamente e engatou em uma conversa com a menina.
— Incrível, Nezuko! Você poderia ir com ele até Honey Rage para treinarmos juntos! Eu e King estamos chegando no seu tempo então eu queria competir com a profissional.
“Convidando os outros pra casa sem me perguntar, peste?” a frase passou rápida pela mente de Katsuki, mas como veio, se foi. Ele viu uma chance infalível de distrair o filho por uma tarde, e trabalhou para convencer Tanjiro de que seria uma boa ideia deixar as crianças treinarem em seu rancho, se ofereceu até para ir buscar a menina e o cavalo durante a tarde e trazê-los de volta antes de anoitecer, em segurança e inteiros. Na hora de separar os hipistas, só foi preciso a palavra almoço.
******
Shōseki e Denki adoravam quando tinham tempo para ficarem sozinhos e cozinhar alguma coisa, mas por ficarem a manhã toda sozinhos, o almoço pode ou não ter atrasado para o gosto de Denki. Quando Kayaku e Katsuki chegaram, Eros estava gritando para a porta da sala e um carro que ele conhecia muito bem estava parado perto da casa. Esse dia estava muito perto de ficar insuportável, considerando que quem estava estacionada em sua casa era Ochako Uraraka e que eles nutriam uma birra de anos que poderia ter sido evitada se os dois agissem menos como crianças.
Como que por um milagre, quem saiu da porta de sua sala em direção ao carro era, na verdade, Tsuyu, esposa de Ochako, com quem Katsuki não tinha uma rixa sem motivos. E parecia que ela estava indo embora com um jarro bem grande de mel, o que significava que tinham trocado alguma coisa, e isso era bom.
— Denki, ele acabou de chegar! — A mulher muito pequena comparada a Katsuki gritou para dentro da casa ao vê-lo se aproximar.
— Suki! Que bom que você chegou, o almoço está quase pronto! Ah, vamos ter que passar em Swan Lake Gardens depois.
Um Denki muito animado passou pela porta da sala limpando as mãos em um pano, sorrindo mesmo ao saber o que aconteceria se seu marido cruzasse o caminho de Ochako. Todos sabiam o que poderia acontecer, e eles eram insuportáveis, mas elas precisam de ajuda para realocar coisas da feira dentro do celeiro, e oito braços são melhores do que quatro. Katsuki sabia que tinha a ver com a feira, motivo de ter ido até Mistwood Acres, e que o faria ir até Swan Lake. Mas ele podia tirar proveito da situação.
— Claro, claro, Denden, só vou ter que voltar pra Mistwood Acres antes de ir pra lá — vendo a cara de confusão do marido, ele continuou — O engraçadinho aqui convidou o amor da vida dele pra treinar na quadra de hipismo.
Ele não poderia deixar de zoar o próprio filho, reconhecia um idiota apaixonado quando via um e não perderia por nada a chance de constranger o adolescente. Enquanto Denki e Tsuyu estavam rindo consigo, ele pôde ver Kayaku se encolher como um filhotinho envergonhado e tentar se esconder atrás do pai, cena hilária considerando que Kayaku era quase 15 centímetros mais alto do que Denki e que ele também estava rindo do pobre coitado.
— Mas se bem que você não pode falar muito, não é, Suki? Fugindo comigo como fez, você também não passava de um bobo apaixonado — Denki sabia exatamente como derreter a pose de durão do marido.
— Talvez…vamos almoçar, sim? Até mais tarde, Tsuyu.
Essa frase tinha um significado, espantar Tsuyu pra casa dela para poder almoçar e não perder mais de sua dignidade. E também evitar explicar para o filho o que Denki quis dizer com fugir, não queria seus filhos procurando os avós, nem de longe. Ignorando as reclamações do filho e entrando para a cozinha, Katsuki só queria almoçar em paz com a família.
Não muito mais tarde, o carro de transporte estava atracado à caminhonete e eles voltavam para Mistwood Acres, na direção oposta de Swan Lake Gardens aliás, para buscar a pequena Nezuko. Denki ainda sorria como bobo pela pequena paixonite do filho que continuava encabulado toda vez que levantavam o assunto. Era difícil não se apaixonar por Nezuko, na verdade, ela era como uma estrela reluzente e Kayaku sempre soube disso.
Ignorando completamente esse sentimento alheio, Tanjiro fazia questão de reorganizar o equipamento da irmã uma última vez antes de a entregar de boa-fé para os cuidados dos vizinhos, sabendo que nada de ruim ou perigoso aconteceria com ela enquanto estivesse em Honey Rage.
— Até mais tarde, Nezuko. E tome cuidado com Starbolt!
— Pode deixar, eu preciso dele pros concursos! — Eles riram um pouco enquanto a menina entrava no carro.
— Até mais tarde, Tanjiro. Eu trago ela de volta inteira — Katsuki disse, já fechando o cavalo no transportador.
— Eu sei. Não vou ser eu que vou ficar com medo caso você não cumpra a promessa.
Tanjiro era, de fato, assustador quando queria. Mas Katsuki ainda tinha 28 centímetros a mais que o menino, e não se intimidava fácil, a pequena ameaça não fez nada para ele. Ambos estavam rindo da pequena conversa, não havia nada para se preocupar.
De volta à casa, com as crianças deixadas na arena e Eros bem avisado de que deveria protegê-las, Denki e Katsuki foram para Swan Lake Gardens. O lago no nome realmente existia na propriedade, um dos afluentes do rio maior que passava entre as fazendas de Mourninggate formava um lago relativamente grande na fazenda delas, onde estavam, exatamente, cisnes. E outros patos.
Chegando na fazenda, o portão estava aberto e dava para ver Ryūsei se aproximando. Ele era tão pequeno, a franja caindo nos olhos não ajudava a saber se ele realmente conseguia enxergar onde estava indo. Conforme entravam e estacionavam o carro perto da casa, a criança corria na direção deles, incrivelmente animado por ver os tios favoritos.
— Ryūsei! Como você está, meu bem? — Denki puxou o menino para seu colo assim que ele entrou no raio em que seus braços alcançavam — Você sabe por que a mamãe chamou a gente aqui? — Denki sabia, claro, mas não perderia a chance de conversar com seu novo anjinho.
— Sim! O píer caiu no lago! Precisamos de um novo…
O píer do lago nunca foi realmente muito forte, ele já estava lá quando as Uraraka chegaram, e isso já fazia algum tempo, não era surpresa que ele fosse cair, já tinha ameaçado várias vezes, e isso colocava Katsuki pra dentro do lago para reconstruir um píer. Alguém não estava feliz sobre ter que entrar no lago.
Enquanto andavam na direção da casa, os três conversavam mais um pouco e Denki sentia que talvez devesse ter tido só mais um bebê, eles nunca são realmente demais, talvez se pedir um pouquinho. Passavam pelo pequeno jardim da frente, uma das janelas completamente tomada por algumas trepadeiras e peônias, a cada canto que os olhos alcançam estavam pendurados pacotinhos de pano cheios de canela, alguns cristais grandes em arranjos no chão com as flores. E lá estava ela. Ochako Uraraka. Sua nêmesis.
— Parece que alguém aqui conseguiu deixar o píer cair, ou será que foi você que caiu nele? — ele não perderia uma oportunidade.
— Claro Kats, claro. Mas parece que você foi quem veio arrumar — e aquilo não teria fim.
******
Denki odiava atrasar uma refeição, com esse ponto, e ainda sendo cedo e a visita ainda estando em sua casa, ele resolveu adiantar o jantar. Não seria nada de mais e não demorariam tanto para comer, fora que já estava quase pronto de toda forma. Denki, Shōseki e Nezuko estavam se divertindo na cozinha terminando o jantar enquanto Katsuki e Kayaku recolhiam os rebanhos, era muito difícil controlar tantos animais sozinho, até para Katsuki.
Quando Denki viu o marido voltar para dentro de casa, já avisou que o jantar estaria pronto em pouco tempo para levarem Nezuko depois de comer, Shōseki entrou na conversa avisando que o carro de transporte estava arrumado e com Starbolt colocado junto de muito feno.
— Então se está tudo organizado, a janta não vai atrapalhar os planos. E o cheiro está ótimo.
— Oh, eu e o papai fizemos frango com batata no forno, e esquentamos alguns dos bolinhos de canela também. E tem a salada de macarrão que o papai gosta — Shōseki tinha uma certa empolgação ao falar da comida, mas talvez fosse só a fome.
— Tudo excelente, não é mesmo, Kiki? — Denki também estava orgulhoso, mas era porque ele adorava ficar entre a cozinha e a horta. Amava cozinhar mais do que tudo. Katsuki sorriu para o marido e deixou um beijo na testa dele.
— Bem, vamos comer ou não vamos conseguir levar a menina de volta.
*****
— Katsuki, estamos atrasados para levar a menina pra casa dela, Giyuu já deve ter voltado para casa a essa hora!
— Mas como é que a gente perdeu a hora se a gente só sentou pra jantar? — Katsuki reclamava correndo atrás da chave.
As crianças riam enquanto saíam para colocar Nezuko no carro com Starbolt, cada um comendo um bolinho de canela cheio de creme doce e mel. Giyuu não ficaria bravo contanto que ela estivesse em casa.
Deviam ser sete da noite quando chegaram em Mistwood Acres, estava escuro, mas nada fora do esperado. Eles estacionaram a pouco mais de dois minutos e estavam tirando Starbolt de dentro do carro, com a ajuda de Tanjiro. Nezuko estava sentada no portão aberto segurando um pacote com mais bolinhos de canela para o pai e o irmão.
— Desculpe pelo atraso, Tanjiro, eu achei que não faria mal entregar a pequena Nezuko já com o jantar no estômago. Ela e Starbolt se esforçaram bastante, então os trouxemos no carro de transporte.
Denki parecia até triste de ter perdido a hora sem perceber, a situação não era muito complicada, mas ainda se sentia incrivelmente mal por ter atrasado na entrega da criança. Tanjiro, por outro lado, estava sorrindo e segurando as rédeas do cavalo, Nezuko tinha o mesmo sorriso e os dois repetiam que não era nada demais.
— Não se preocupe, senhor Bakugou, vocês os trouxeram de volta como prometido e eles estão bem, é isso que importa. Ela estava segura com vocês assim como estaria comigo — Tanjiro fez questão de reafirmar para tentar acalmar Denki.
— O menino tem razão — A voz de Giyuu se fez presente para o desespero do Bakugou menor e assustando todos os outros que não perceberam a aproximação dele — Se minha filha estava treinando com o menino de vocês e se fizeram questão de trazê-la de volta, está de bom tamanho.
Todos se despediram, os Bakugou tinham que voltar para seus próprios filhos agora.
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