CAPÍTULO XI
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Um paraíso chamado família
¹Mesmo que a manhã seguinte tivesse chegado, nenhum dos dois havia realmente dormido. Seonghwa e Hongjoong acabaram repetindo a dose mais três vezes, tirando alguns momentos que foram apenas carícias intensas e explícitas. O alfa conseguiu demonstrar parte de suas grandes habilidades com as mãos, boca, língua e com aquele tamanho digno de um lobo como ele.
A mordida deixou mais presente cada emoção, misturando-as um no outro e aumentando os níveis de sensibilidade. Era bonitinho como Seonghwa ficava indo até o pescoço do alfa o tempo todo para cheirá-lo e dizer: "sinto meu cheiro junto ao seu". Ou também em como ele parecia lamber a pequena ferida causada pelas presas, passar o dedo por cima e pedir desculpas por tê-lo machucado. Óbvio que Hongjoong não via assim, não se sentia ferido pelo seu ômega de maneira alguma, na verdade, ele se sentia abraçado.
Contudo, algo havia chamado a sua atenção. Em uma das vezes que se acariciavam, principalmente quando Seonghwa montou-o por cima e cavalgou em seu colo, era como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo, o quê não fazia sentido algum. Deuses, e quando ele o chupou, abrigando bastante do seu comprimento e ainda brincou com seus testículos, lambeu seu períneo e o masturbou no instante que os fazia… Se questionou o quanto que ele havia procurado conhecer sobre sexo para fazê-lo.
Chegava a ser engraçado como Seonghwa era legível, facilmente decodificável.
E, bom, ele não estava errado. O ômega nunca iria dizer, mas guardava um segredo sobre. Desde que havia ido até a vila sozinho em uma das vezes que precisou buscar suprimentos, acabou tendo uma "brilhante" ideia ao avistar um cortesão – um prostituto, um garoto da vida. Haviam muitos cabarés, bordéis, espalhados pelos locais da vila, onde pessoas que ganhavam a vida oferecendo serviços sexuais trabalhavam. Era uma vida triste, ômegas e alguns betas acabavam se submetendo a isso para não passarem fome. Lá, Um garoto de cabelos negros que exalava sensualidade, jovem e muito bonito, despertou sua atenção assim que passou por ele.
Era uma ideia equivocada, ou muito boba, mas Seonghwa acreditava que não custava muito ter as informações que precisava perguntando a um, porque só existia alguém a mais que era próximo o suficiente para ter conhecimento sobre sexo, mas jamais teria esse tipo de assunto com Wooyoung. Nunca. Em hipótese alguma. Nem mesmo San era uma opção viável, já que o garoto com certeza iria contar para seu filho.
Pediu para que o garoto que vestia roupas reveladoras o ensinasse a como satisfazer um alfa, queria saber o que eles gostavam, como gostavam e o que os atiçava. Não precisou de muito, pois ele aceitou fácil por uma moeda.
Seonghwa não somente ouviu explicações como também imaginou perfeitamente, o menino era muito descarado e explícito, além de bem desinibido e falador. O rosado chegou a ficar vermelho dos pés à cabeça cada vez que ele "demonstrava" como funcionava. Contudo, foi muito além quando foi convencido a fazer um ato escandaloso: vê-lo flertar com um cliente beta, nitidamente bêbado, o qual levou para um bequinho qualquer. Não acreditava que estava se submetendo a isso, mas aquela ânsia de satisfazer Hongjoong estava o deixando fora de si. Por isso, escondido detrás de uma parede, assistiu a cena indecente do garoto chupando o pênis do homem, o viu levantar a barra de um saiote que usava, erguê-lo até o quadril e abrir as pernas para que o homem o penetrasse. Neste instante, evitou olhar com atenção, era muito vergonhoso presenciar isso. Os gemidos soltos sem pudor algum faziam Seonghwa olhar. Aquele que estava agora arremetendo para dentro do ômega, havia colocado-o de quatro, depois de lado e em pé de costas. Não tinha sequer a intenção de estar mesmo ali, mas ao mesmo tempo tinha a curiosidade.
Ao final, deu uma última olhada para o garoto jovem, e saiu. Esperava nunca mais encontrá-lo ou sequer que descobrissem o que tinha feito.
Voltando ao casal…
Eles conseguiram descansar duas horas antes que ouvissem vozes chegando ao longe. Nem ao menos haviam comido e estavam tão desgrenhados, tinha cheiro de sexo espalhado pela casa e coisas fora do lugar. Céus, Seonghwa quase morreu ao pensar nas crianças chegando ali. Era final da tarde, o que significava que realmente passaram noite e dia aos amassos.
O ômega pulou da cama, catou roupas no baú e as vestiu com pressa, passou as mãos pelo cabelo e sentiu algumas partes "secas", imediatamente imaginou o porquê. Não era possível… Bom, era, mas sabia que um dos seus filhos em especial iria notar no mesmo instante, vulgo Wooyoung.
─ Hongjoong!
Chamou pelo alfa, sacudindo-o. Assustou-se quando o moreno levantou de súbito, mesmo que nu, e ficou mediante a divisória do quarto para cozinha em posição de ataque. Contudo, não durou muito tempo. Ele relaxou os músculos e voltou a ficar normal.
─ O que diabos aconteceu?! – Hongjoong olhou para trás. ─ Por que me acordou assim?!
─ As crianças! – falou e apontou tudo em volta, apontou inclusive o estado que o alfa estava. ─ Se isso aqui não parecer que trepamos até o raiar do dia, parecerá que guerreamos! Pelos Deuses, está nítido como água cristalina.
─ Wooyoung soube bem o que você iria fazer no instante que os tirou daqui para ficar sozinho comigo. – o alfa falou o óbvio, algo que Seonghwa sabia de fato. ─ Mingi não é inocente, Hwa, ele sabe quase tanto quanto o irmão mais velho.
─ Ma-Mas temos Jongho que é uma criança! – jogou roupas para o mais velho. ─ Ele não precisa ser desvirtuado tão cedo. Meu garotinho pode sobreviver mais alguns anos sem saber outras formas de demonstrar amor.
Hongjoong terminou de dar a amarra na calça e se aproximou, rodeando a cintura do ômega e o puxando de encontro para o seu corpo. Olhou cada traço do mais velho e sorriu.
─ Gostei da forma que demonstrou todo o seu amor para mim em cima daquela cama. – a boca foi mais perto ainda da do outro, roçando suavemente os lábios pelo pescoço ─ Meu cheiro está todinho em você, cada canto da sua pele e eu amo isso também.
Seonghwa queria empurrar Hongjoong, ao mesmo tempo que queria puxá-lo mais e tirar suas roupas de novo. Maldito fosse!
─ Papai?!
A vozinha de Jongho estava mais próxima da casa e isso serviu como um incentivo para o ômega se desvencilhar dos braços do alfa safado e bater contra seu peitoral ainda descoberto.
─ Pare de me seduzir, seu… alfa depravado! – sorriu ao que o moreno fez uma careta ofendida, mas, obviamente, brincando. ─ Vá se vestir e ficar adequado para receber nossos filhos. Não quero me sentir ainda mais encabulado por ser pego nesta situação.
Saiu tão natural, tão comum, como se já fosse um hábito diário, que o rosado nem sequer se deu conta que pela primeira vez havia os colocado como uma família definitivamente. Não faltava mais nada para serem, pois eles já eram e sempre foram, sem ao menos perceber, no entanto, dessa vez pareceu mais certo do que nunca ao ser dito em voz alta. Hongjoong até mesmo se arrepiou por inteiro, não teve condições de se mexer, de dizer algo ou de expressar além de sua face apatetada e igualmente feliz.
Enquanto isso, o ômega corria de um lado a outro, organizando o que dava, abrindo a porta para que o ar ventilasse mais ali dentro e correu para o lago com algumas vasilhas, aproveitando para jogar água pelo rosto e, principalmente, cabelos, tentando tirar aquele tantinho de rastro de esperma de quando o alfa gozou em sua boca aberta, mas atingiu também a sua cara e mais acima.
Quando menos esperou, sentiu braços pequenos rodearem a sua cintura.
─ Por que você está cheirando igual ao Hongie? – Jongho perguntou e tentou aproximar mais o rostinho do pescoço do pai, sendo impedido pelo mais velho.
─ O-O-O papai- Eu- Nó-Nós estávamos-
─ E eu não recebo abraço algum? – a voz do alfa foi um alívio para o rosado. ─ Diga que trouxe algo para mim.
O ômega estava envergonhado e a prova concreta era o seu rosto vermelho. Piorou quando bateu os olhos em Wooyoung e o encontrou sorrindo, mas não um sorriso acolhedor e típico, ah, não, era um sorriso que dizia que sabia de toda a perversidade que havia rolado ali, um sorriso que falava por si só em um "fodeu com ele, não foi?" e um "marcados, hn?". Mingi, para piorar, estava corado e ainda assim ria.
─ Nem uma palavrinha sequer sobre isso. – disse para o filho mais velho. ─ Iremos conversar sobre… algumas coisas, mas não agora.
O alfa mais velho apenas levantou as mãos em rendição e se afastou, em contrapartida, Mingi se aproximou.
─ Está feliz? – questionou, olhando para longe, observando a paisagem ficando laranja.
Seonghwa encarou o filho. Mingi era tão lindo, tinha traços delicados e fortes ao mesmo tempo, era calmo e também intenso em tudo. O amava tanto, como se ele tivesse em seus braços desde o nascimento, como se tivesse o visto dar os primeiros passos e falar as primeiras palavras, como se ele tivesse sido o motivo de querer ser cada vez melhor desde sempre. Ainda que não fosse assim, ainda que soubesse que o lobo ao seu lado era fruto de outra relação, não aceitava que ninguém ousasse ao menos falar que não era seu garotinho, seu filhote, ou seu herdeiro. O mesmo valia para os outros dois, obviamente, mas olhando-o tão impassível, tão crescido…
─ Estou, meu amor – respondeu sinceramente. Mingi balançou sutilmente a cabeça deixando claro que havia escutado. ─ E você, filho, está bem com… isso? Eu gostaria muito de saber o que está sentindo, de saber se realmente aceitou ele. Se aceitou "a gente"...
O mais novo sentou no chão bem ao lado do rosado, com as mãos sobre os joelhos, a cabeça erguida, os olhos ainda no horizonte e um sorriso nos lábios.
─ Sempre achei que merecesse ter certeza do seu valor, – falou. ─ de que alguém além de nós pudesse mostrar o quão amável você é, o quão amado merece ser…
Os olhos do ômega se enchiam aos poucos de lágrimas, brilhavam. Sorriu sem mostrar os dentes. Mesmo que o lobo mais novo não pudesse ver, sentia a alegria do pai e o olhar dele preso em si.
─ Hongjoong é exatamente aquilo que você precisava. Você é exatamente aquilo que ele precisa. Ele o respeita e o ama de um jeito que fica nítido em cada ato, cada palavra, cada gesto e cada olhar… – sentiu Seonghwa tocar uma de suas mãos, "dizendo" que estava ouvindo bem. ─ Você sempre me ensinou a ser bom, a amar e me deu em alguns anos o que eu nunca tive em vários outros ao lado de uma família que não me fazia feliz. – virou a mão e emaranhou os dedos aos do pai. ─ Estou bem desde que esteja bem, pai…
Seonghwa soluçou, incapaz de segurar mais aquela vontade de chorar, e abraçou o filho. Sabia que Mingi ainda tinha muito guardado dentro de si, mas sabia que ele era sincero também. Sentiu os braços do garoto o rodeando.
Jongho acabou se jogando no meio dos dois e os abraçando também.
─ Você está cheirando a ele… – Mingi afirmou em meio a um enorme sorriso. ─ Ele te marcou.
Seonghwa afastou-se aos poucos
─ Agora o Hongie é lobo do papai… e o papai é lobo do Hongie? – Jongho deitou a cabeça para o lado, afastando-se do abraço e encarando o rosado. ─ Você faz "coisas de amantes" com ele?
Mingi arregalou os olhos. Seonghwa abriu a boca e fechou inúmeras vezes, incapaz de formular qualquer frase ou exclamar qualquer palavra.
─ Por que o Hongie tá com as costas machucadas? Ele tá com arranhões… Vocês brigaram? – Jongho continuou ─ Por que ele tá cheio de roxos? E o que era aquilo branco e seco no rosto dele?
Mingi não aguentou e começou a rir alto, chamando atenção dos dois alfas ao longe. Hongjoong estava igualmente vermelho, provavelmente porque Wooyoung já havia aproveitado para deixá-lo sem jeito. Seonghwa apenas ficou em pé e entrou no riacho. Precisava ficar longe daquilo ou morreria de tanta vergonha.
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Com aquela nova fase entre os dois mais velhos da casa se iniciando, Hongjoong achou necessário fazer algumas mudanças na casa. Os cinco, ajudando da maneira que podiam, fizeram uma reforma, expandindo o ambiente.
O quarto de Hongjoong e Seonghwa não era mais dividido com os três. Mingi e Jongho dormiam juntos na mesma cama em um quarto pequeno, onde Wooyoung também dormia, porém, em uma cama individual. Resolveram que seria melhor também uma porta de madeira instalada, além de uma pequena janela para que ficasse mais ventilado.
No meio, tiveram a cozinha ampliada, duas pequenas janelas colocadas e serviu para que o quarto do casal ficasse do outro lado, sendo assim, os quartos ficavam de frente um para o outro. Preferiram assim por motivos óbvios.
Só que, mesmo com os quartos um pouquinho mais distantes, sempre que tinham relações, Seonghwa fazia o possível para não gemer alto, mordia os lençóis, enfiava o rosto contra o pescoço ou peitoral do alfa, mordia as mãos, o que fosse, para não ser audível. Quando não, aproveitavam os banhos no riacho, as vezes que iam até a floresta ou até a vila sozinhos.
Foram oito longos meses.
─ Geme baixinho no meu ouvido… Eu quero ouvir você, Hwa… – Hongjoong pedia, tendo os olhos apaixonados vidrados no corpo acima do seu, suado e se movimentando com graciosidade e leveza. ─ Você é também tão lindo desse ângulo.
O ômega tinha o quadril e cintura segurados pelas mãos firmes do alfa, a boca sendo mordida com força pelos próprios dentes, os olhos revirando de prazer enquanto rebolava e cavalgava.
Todas as noites, antes de dormir, se entregavam a esse momento repleto de trocas. Era algo que relaxava a mente dos dois e ao mesmo tempo deixava que se expressassem como que sentiam.
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Seonghwa acordou instintivamente quando ouviu bem um barulho e o reconheceu facilmente. Era um choro. Obviamente um choro contido ou abafado, mas era um choro.
Levantou-se da cama com cuidado para não acordar o outro lobo, buscou as roupas no chão, que estavam espalhadas de qualquer jeito, e cobriu o próprio corpo nu. Ainda podia sentir os toques profundos do alfa em sua pele com facilidade.
Era de manhã cedo e aparentemente seus filhos já estavam acordados, já que a porta do quarto deles estava aberta. Contudo, não encontrou nenhum por perto. Andou pela pequena cabana seguindo o som até a parte de fora próximo ao galinheiro. Achou então seu filho mais novo, Jongho, de costas e soluçando, as mãozinhas pareciam sempre serem levadas ao rosto, talvez para enxugar as lágrimas. Mas por que estava chorando? O que tinham feito com seu bebê? O ômega ficou aflito rapidamente.
─ Jongie? – chamou-o, já preocupado, enquanto se aproximava ainda mais. ─ Filho… o que houve? – olhou em volta, tentando saber se havia mais alguém ali. ─ Por que está chorando, Jongho?
A criança pareceu se encolher e soltou o filhotinho da galinha pequeno que saiu em disparada para longe.
─ Meu pequeno, por que está chorando? Alguém o fez mal? Mingi ou Wooyoung brigaram com você? – tocou o mais novo, que virou rapidamente e se jogou contra o corpo do mais velho, abraçando-o com força. ─ Oh! O que foi?! – o menino intensificou o choro. ─ Diga, por tudo o que é mais sagrado nessas terras, o que o fez chorar assim?
O menino levantou o rosto na direção do ômega, parecia desolado, abatido e amedrontado.
─ Papai… – ele agarrava o tecido das roupas do pai fortemente. ─ o senhor vai me abandonar? – crispou os lábios. ─ Vai me jogar fora?
Seonghwa não conseguia fazer nada além de abrir a boca abismado e encarar aquilo atônito. Como diabos um garotinho de, agora, seis anos estava questionando coisas absurdas como aquelas? Por que Jongho pensaria isso? Como que em uma noite ele estava sorridente e em outra estava neste estado?
─ Por favor, não me abandone, papai! – sentiu Jongho o abraçar com toda a força que tinha. ─ Não me deixe sozinho na floresta de novo! Eu não quero ficar sozinho!
O ômega agarrou a criança nos braços assim que conseguiu se mover coerentemente e o apertou contra o próprio peito, parecia o proteger até mesmo do mundo. Chorou, assustado com o pensamento de seu pequeno longe dele ou do garoto perdido em uma floresta novamente, de seu precioso garotinho crescendo longe de seus olhos ou sendo morto por algo ruim. Jamais o deixaria. Jamais o abandonaria. Jamais permitiria que algo o ferisse. Daria a própria vida apenas para que seus três filhos crescessem saudáveis e felizes, bem e amados.
Encontrou Jongho quando ele ainda estava próximo aos três anos, era um filhotinho pequeno, perdido, desamparado e desprotegido, abandonado à sorte em meio a uma floresta tão perigosa. Não conseguia ter ideia de como alguém poderia ser facilmente igual a um monstro e ter coragem de deixar o próprio filho assim… jogá-lo para morrer. Estava magrinho e fraquinho, quase não tinha cor, achou até mesmo que Jongho não sobreviveria, mas fez o melhor para alimentá-lo e fazê-lo saudável. Dormia abraçado a ele como se em qualquer descuido fosse ficar sem o pequeno. O viu melhorar, o viu ganhar peso, as bochechinhas ficarem gordinhas, a boca ficar rosada, os olhos ganharem vida e o viu sorrir com aqueles dentinhos.
Seonghwa salvou o garotinho, mas acabou sendo salvo por ele também, quando estava tão triste e desolado sem a mãe. Havia sido o primeiro dos três a ser adotado, o primeiro dos três a preencher o buraco no coração do ômega.
─ Jongho, meu Jongho… ─ repetiu inúmeras vezes, sentado no chão e abraçado a ele. ─ De onde tirou essa asneira? Eu jamais me afastaria de você, jamais o deixaria, meu bem… Papai Seonghwa o ama demais.
─ Mingi disse que nos descartaria. – a voz fanha ainda era compreensível. ─ Ele disse que fará bebês que sairão da sua barriga… – o pequeno lobo tocou a barriga do pai e suspirou, tremendo. ─ e que não precisaria mais da gente… que não terá espaço para nós em sua vida.
O rosado sentiu um calafrio. Sentiu o peito arder em dor. Sentiu tantas coisas que quase caiu fraco.
Não conseguia julgar o filho por isso, não quando sabia que Mingi era exatamente aquele entre os três que não conseguia extravasar todos os seus medos, vontades e sentimentos. Talvez ele estivesse tão assustado quanto Jongho, talvez estivesse com medo de ser rejeitado de novo, exatamente como pai fez quando encontrou outro ômega para substituir sua mãe. Seonghwa sabia… ele tinha trauma. Todos os três tinham. Mesmo que ele realmente desejasse a sua felicidade, pois com certeza desejava, talvez tenha receios do futuro.
Precisavam conversar sobre isso.
Porque, ainda que Mingi fosse jovem ou tivesse os seus motivos, não podia ter jogado algo tão cruel nas costas de Jongho, não poderia ter ferido e despertado as coisas ruins do passado dele. Se não fosse corrigido, aconteceria novamente e o que Seonghwa menos queria era isso.
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─ Como pôde?! – a voz do omega assustou o filho, que estava sentado afastado da casa e próximo à floresta. ─ O que tem na cabeça, seu asno?! – o rosado estava irritado. ─ Por que disse uma coisa daquelas para o seu irmão?! O que pensou que estava fazendo?! – parou em frente a Mingi, que olhou para o outro lado. ─ Olhe para mim, estou falando com você, Mingi!
O garoto tremeu os lábios e ficou em pé, levou o olhar até o pai.
─ Mas é a verdade! Está se deitando com o lobo, vai fazer filhotes, emprenhar de bebês seus e nós não seremos mais úteis! Não somos seus filhos de verdade, não temos servent-
─ Cale-se! – o ômega gritou. ─ Como ousa…? Como você…
Hongjoong, que estava cuidando de Jongho a pedido de Seonghwa, ficou inquieto com a gritaria, mas não podia deixar o menor ali, porque ele estava nitidamente emocionalmente instável. Wooyoung não estava em casa e isso era ainda mais uma preocupação, tinha medo dos pais de San acabarem tentando algo contra ele.
─ Aí! – Mingi se encolheu após ser acertado pela mão de Seonghwa no braço. Não foi forte, já que o rosado jamais teria coragem de machucá-los, mas ainda assim, incômodo. ─ Pare! – mais outro. ─ Aí! Não me bata!
─ O que é isso?! O que está acontecendo com você?! Seu irresponsável! Tolo! Deveria batê-lo até criar juízo! Como acha que eu seria capaz de largar meus filhos?! – o mais velho chorava, acomodando a própria dor e a dor dos filhos, dos dois. ─ Como pôde achar que eu os mandaria embora?! Depois de tudo… Depois de tanto!
O mais novo já estava se banhando em lágrimas grossas descendo pelo próprio rosto, arrependido do que disse e do que pensou. Contudo, ele vinha de um passado de dor e confusão, nem sempre tinha controle dos atos e pensamentos e das memórias, de tudo…
─ Os cuidei como se a minha vida dependesse disso, os amei e os amo, como o meu tudo! – Seonghwa parou e agarrou as mãos no rosto fino, forçando-o a olhá-lo nos olhos. ─ Vocês são meus filhotes, não importa se nasceram de meu ventre ou não, são meus e eu jamais os deixaria! Seria capaz de morrer de tristeza caso algo acontecesse a um dos três!
─ Não quero ficar sem vocês… Sem nenhum de vocês. – Mingi abraçou e apertou o pai, apertou como se sua vida dependesse disso.
─ Nunca mais repita isso, nunca mais, me ouviu bem? – tentando manter a calma, algo que estava longe de estar, o mais velho sussurrou. ─ Eu o amo tanto, Mingi… Não os trouxe para casa para curar carência ou tristeza por não poder carregar um filhote em meus braços. Os trouxe porque quis dar a vocês tudo que foi tirado, à medida do que eu poderia. Queria fazer por vocês o mesmo que fizeram por mim.
─ Não quero ser largado de novo… – fungou. ─ Não quero ficar longe de meus irmãos e de você, pai… – soluçou e o encarou. Os olhos ainda mais pequenos e as bochechas coradas e molhadas. ─ Eu não quero me sentir sozinho de novo.
─ Ah, meu menino…
Ambos se sentaram na grama, mas Seonghwa trouxe a cabeça do mais novo para seu colo e acalentando e dando carinho em seus fios escuros, não deixando um segundo de olhá-lo nos olhos.
─ Eu poderia ter dez filhotes, vocês três continuariam sendo meus primeiros, continuariam sendo amados e criados da mesma maneira.
[•••]
─ O que houve aqui?
O alfa mais novo chegou dentro da casa de mãos dadas à San e não demorou para reparar que Mingi estava encolhido no colo do ômega e Jongho também.
─ Seu irmãos… – Seonghwa suspirou, acariciou os fios de cabelo de ambos e voltou a falar. ─ Converse com eles, Woo, sei que pode fazer isso melhor do que eu. – pediu gentilmente. ─ Ponha na cabeça desses dois que nada nesta vida vai ser mais forte do que nós temos, nem laços de sangue, sequer um sobrenome, será capaz de ficar acima do amor de nossa família.
San esticou os braços para que Jongho segurasse em suas mãos, o que não demorou muito, já que o pequeno adorava brincar com o ômega do seu irmão. Enquanto isso, o rosado beijava a testa do filho do meio e pedia para que ele fosse ao lado de Wooyoung. Mingi apenas concordou com a cabeça e se afastou, seguindo os outros até o quarto deles. San os deixou à vontade e foi ajudar os mais velhos com alguns afazeres.
Já dentro do quarto, os três sentados em círculo na cama conversavam.
─ Por que estava chorando? – Wooyoung questionou o mais novo e tocou sua mão pequena. ─ E você? – fez o mesmo com o outro irmão.
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