Altas luzes invadiam o quarto de Micaela pela manhã, iluminando todo o ambiente e fazendo com que a menina acordasse. Calmamente, ela se encaminhou para o banheiro, onde tomou um rápido banho e vestiu uma calça jeans e um moletom, deslizou seus pés para dentro de seus sapatos e estava pronta para enfrentar o dia perfeito que estava a sua espera.
Ela olhou a hora em seu celular e viu que ainda eram oito da manhã. Provavelmente todo mundo ainda estaria dormindo. Ela se permitiu ir à cozinha e se deparou com os empregados acabando de ajeitar a mesa do café da manhã. Sem muita fome, Micaela apenas pegou um kiwi e mordeu, sem se importar.
Micaela caminhou para a porta dos fundos da casa e pela enorme área de lazer, admirando cada detalhe. Havia uma piscina e algumas esteiras espalhadas pelo deck e ao fundo a paisagem era de varias árvores na área mais baixa. Ela deu a volta na casa e começou a caminhar pela a frente da casa e se sentou em um pequeno banco de ferro que tinha ali. A paisagem era linda. Uma vasta área verde a sua frente e ao fundo pequenos morros e árvores coloridas.
- Aproveitando a vista? – Ela se assustou ao ver que Justin estava parado em pé ao seu lado, com as mãos dentro dos bolsos de sua calça bege, segurada por um cinto e vestia uma camisa lisa, azul marinho.
- Tudo é muito lindo. –Micaela murmurou não parando de observar.
- Está impressionada?
- Mais do que isso! – Disse sem palavras.
- Então me acompanhe. – Ele disse e estendeu a mão para que ela a pegasse. Com certo receio, ela pegou e os dois caminharam até o que parecia a garagem da casa.
O enorme portão se abriu para cima e vários carros ocuparam a visão de Micaela. Ela ficou ainda mais maravilhada quando Justin entrou em um dos carros que eram abertos em cima, quase como um jeep. Justin deu partida e então eles começaram a adentrar uma estrada coberta pelas arvores.
Poucos minutos depois, um enorme galpão um tanto rústico ocupou a visão dos dois. De lá adentravam e saiam vários homens e rapidamente Micaela se lembrou do projeto dos avós de Justin. Ele estava continuando o trabalho. O carro parou e ambos desceram do mesmo. Micaela sentiu Justin puxar sua mão, a guiando para dentro do largo espaço fechado. Ela se sentiu muito mais maravilhada quando viu que dentro daquele local era ocupado somente por uma enorme adega de vinhos. Várias e várias garrafas separadas por safras, ou local de produção.
Justin a conduziu para uma das fileiras e puxou uma das garrafas de vinho, entregando-a para Micaela e logo seguindo novamente para fora dali. Micaela observou a garrafa em suas mãos. Era de 1963. Eles caminharam por algum tempo por dentro das arvores e só pararam quando a vista se transformou em um enorme lago. Justin caminhou pela ponte e adentrou um espaço redondo coberto, que continha gaveteiros e uma mesa no centro. Ele abriu uma das gavetas e pegou duas taças e um saca rolhas.
- Aqui. – Justin entregou as taças para que Micaela segurasse e pegou o vinho, abrindo-o logo em seguida e derramando o liquido dentro das taças. – Prove.
Micaela fez o que toda e qualquer pessoa faz quando vai provar um vinho pela primeira vez. Rodou o liquido dentro do copo e depois o cheirou, bebericou um pouco e então se permitiu tomar um longo gole.
- É uma safra muito boa. – Justin disse, puxando-a para o corrimão e observando a área a sua frente.
- Sim, excelente.
- E a vista?
- Não sei se é possível eu me impressionar mais, como já estou agora. Este lugar é maravilhoso.
- Agradeça aos meus avós por isso. – Justin sorriu de lado.
Eles permaneceram em silencio por alguns instantes.
- Me fale de você. – Justin bebeu mais de seu vinho.
- De mim? – Ele assentiu. – Bem... Não tenho muito o que dizer. Ao contrario de você e dos rapazes, eu ainda sou dependente. A coisa comum entre nós é que vou herdar o trabalho de meu pai, assim como você fez. Saio do faculdade em dois anos. – Deu de ombros. – Minha mãe morreu quando eu ainda era criança e por isso cresci protegida em excesso por meu pai. Acho que a melhor coisa que me aconteceu todo esse tempo foi ter conhecido Chaz, você e os outros.
Ela desviou seu olhar do rosto de Justin e mirou na água. Ele deu um leve sorrisinho e terminou de uma vez com seu vinho, colocando sua taça dentro de uma pequena pia e logo Micaela o acompanhou.
- Micaela, eu estou com vontade de fazer algo com você. – Justin disse a olhando e rapidamente ela ficou séria, sem saber o que dizer.
- O que? – Falou o encarando e ela o viu se aproximar.
De um segundo a outro Micaela sentiu seus pés saírem do chão e logo um rápido impacto de seu corpo contra a água do lago. Ainda em choque, ela sentiu seu corpo tremer por completo devido ao frio a fazendo praguejar e gritar ainda no fundo do lago.
Justin ainda protegido pelo corrimão estava rindo e apenas via as bolhas de ar subindo a superfície e estourando. Ele não sabia por que tinha feito aquilo, apenas achou uma ideia engraçada com certeza deixaria a garota aos nervos. Na verdade ele apenas precisava tirar os pensamentos do trabalho e focar em qualquer outra coisa. E foi aquilo.
Ele escutou o grito agudo de Micaela e acordou de seus pensamentos, vendo a garota batendo os braços na superfície da água com cara de nojo e com medo. Justin a observava de cima, sorrindo.
- Justin, seu filho da mãe! – Ela gritou o mais alto que pôde, fazendo Justin colocar as mãos aos ouvidos. – Me tira daqui.
- Você sabe nadar, Micaela. – Ele disse simples. – Eu não tenho certeza, quero dizer, mas torço para estar certo.
- E daí? – Ela grunhiu.
- Nade até a margem.
- Justin, porra! – Ela gritou. – Eu estou com medo. Eu não consigo tocar o fundo com meus pés e a água é escura. – Ele choramingou.
- Já me disseram uma vez que havia cobras nesses rios daqui. – Ele falou e gargalhou quando viu a cara de apavorada de Micaela.
- Mais que merda. – Micaela disse com a voz embargada e Justin pareceu não acreditar por um instante.
- Você está chorando? – Ele riu.
- Eu não gosto de lugares que não dê de ver o fundo, Justin. – Ela soluçou tentando ficar parada o máximo possível. Justin bufou, acabando com sua diversão e esticou a mão para baixo, a fim de ajudar Micaela subir por ali mesmo.
- Venha, eu te ajudo.
Micaela se esticou também e agarrou com toda a sua força a mão de Justin. Apoiou os pés no concreto da parede que mantinha a pequena área coberta na superfície e se impulsionou para cima, mas se arrependeu logo em seguida, pois Justin caiu na água ao seu lado.
E sem poder ficar séria, Micaela gargalhou dele, mas parou assim que sentiu ser puxada para baixo sem aviso prévio. A garota acabou engolindo água e rapidamente começou a debater seus braços e pernas, fazendo o que quer que tenha a puxado, se soltar. Logo ela voltou à superfície tossindo e viu que Justin estava ao seu lado todo molhado e a encarando com certa preocupação.
- O que foi? – Ele falou e puxou Micaela mais para junto dele quando a viu chorando.
- Me tira daqui, por favor. – Ela murmurou com a voz embargada.
Sem hesitar, ele a fez segurar em seu pescoço pelas suas costas e começou a nadar em direção a terra, assim que a alcançou, deixou seu corpo cair na grama misturada com areia e escutou Micaela fazer o mesmo, mas soluçando. Ele se virou para vê-la e notou certa vermelhidão em seu tornozelo.
- O que foi aquilo na água? – Ele perguntou se sentando e a encarando. – Seu tornozelo.
- E-eu não sei. – Ela disse baixo e deixou que Justin puxasse sua perna.
- Vamos. Quando chegarmos a casa eu cuidarei disto. – Ele disse se levantando, a ajudando a levantar.
- Tá doendo. – Ela disse.
Justin a deixou por alguns segundos e quando apareceu novamente ele estava com uma toalha e a lhe entregou.
- Venha cá. – Ele puxou Micaela e a colocou em seu colo e começou a andar até chegar novamente no enorme galpão e a colocou dentro do carro. Rapidamente ele acelerou e seguiram em direção à casa que estavam.
Quando chegaram lá, Justin voltou a carrega-la no colo e a levou para dentro, deixando-a no sofá, mas antes que pudesse se afastar ambos escutaram a voz da garota que Micaela continuava sem saber o nome.
- Onde você estava? – Ela parecia afobada. Micaela virou seu rosto em sua direção e viu que a morena encarava Justin. – Meu amor, o que ela fez com você? Você está bem?
Meu amor?
Micaela olhou da mulher para Justin e de Justin para a mulher. Não que ela conhecesse Justin como a palma de sua mão, mas tinha certeza absoluta que a morena não fazia o tipo dele, bem, até aquele momento. Talvez ela não devesse estar fazendo esse tipo de observação a essa baixa altura do campeonato, mas fora algo inevitável.
Se sentindo desconfortável, Micaela empurrou Justin com certa delicadeza um pouco mais para longe e se ajeitou no sofá de um modo apresentável, não deixando transparecer uma forte pontada que havia acabado de sentir em seu tornozelo. A menina queria subir para o quarto e poder tirar as roupas molhadas que já estavam a começar a feder e a incomodar.
- Cameron! – Justin pareceu surpreso ao vê-la ali. – Estou bem, estou bem, mas Micaela que não está. Você poderia pegar a caixa de primeiros socorros? – O rapaz se aproximou da morena e beijou o canto de seus lábios e depois sorriu, o que deixou Micaela desconfortável.
- Claro. Por que você, quero dizer, vocês estão molhados? – Ela arqueou uma sobrancelha e encarou Micaela por cima dos ombros de Justin. A garota simplesmente deu de ombros.
- Foi um descuidado meu. Agora vá lá. – Justin deu as costas para Cameron e voltou a direcionar seu olhar para Micaela, que olhava para a lareira um pouco longe a sua frente. Apesar de inesperado, o rapaz percebeu que algo a incomodava. – Está doendo?
Micaela apenas concordou com a cabeça, ainda sem olha-lo. Suas mãos estavam entre suas pernas, de um modo que a mantivesse quente. A água do lago estava fria e apenas aquela toalha sobre seus ombros não parecia ser o suficiente. A garota puxou sua perna para cima do sofá e retirou seus sapatos e subiu mais um pouco a barra da calça. A vermelhidão em seu tornozelo parecia um pouco pior e uma pequena linha reta de sangue apareceu, escorrendo. No mesmo momento Cameron adentrou a sala com a pequena caixa de primeiros socorros em mãos e entregou para Justin, logo saindo de lá.
Ele se sentou ao sofá e sinalizou para Micaela colocar sua perna em seu colo, para que pudesse cuidar do machucado.
- Está doendo muito? – Perguntou olhando para o rosto da menina e depois para seu tornozelo. Como resposta apenas obteve um aceno de cabeça. – Acho que seria propício voltarmos para a cidade e irmos a um medico.
- Não! – Micaela falou logo em seguida. – Eu aguento e além do mais, estamos a menos de um dia neste paraíso e não quero estragar a estadia.
- Micaela, me desculpe. Eu verdadeiramente não queria ter lhe causado esse dano. Apenas achei que seria um momento oportuno a brincadeiras, mas estava enganado.
- E eu verdadeiramente acho que você não deveria se martirizar por tal coisa. – Ela riu ao ver o incomodo de Justin.
- Me desculpe, então.
- Está desculpado, se é isso que tanto quer. – Micaela sorriu e se levantou mancando. – Eu vou tomar outro banho e acho que você também deveria.
Justin assentiu, mas permaneceu sentado ao sofá. Micaela com certa dificuldade subiu as escadas e foi direto para o banheiro, onde tomou um relaxante banho na banheira e não teve que estragar o curativo recém-feito. Ao sair do banho, ela escolheu um vestido florido da cor azul e deslizou seus pés em uma rasteirinha. Deixou seus cabelos soltos e saiu do quarto.
Já se passavam das onze horas e todos estavam reunidos na área perto da piscina aos fundos. Todos menos Justin, que talvez ainda estivesse no banho. Os olhares dos rapazes e de Cameron se direcionaram para ela e a convidaram para se juntar a eles.
- Onde você estava? – Chaz a perguntou, afastando para o lado para que Micaela sentasse no sofá junto a ele. – Sua cama estava arrumada de manhã cedo e eu não havia a visto pela casa.
- Justin me levou para conhecer o enorme galpão dos vinhos. – Ela disse pondo suas mãos juntas em cima do seu colo.
- Ah sim, o galpão. – Ryan disse. – Lá é incrivelmente grande e maravilhoso. Justin tem o mais bom gosto para vinhos que alguém poderia ter, além dos vinhos dele.
- E o que foi isso no seu tornozelo? – Cameron perguntou olhando para a menina, que por algum motivo se envergonhou.
- Um pequeno acidente, mas Justin tratou de fazer o curativo. Vai melhorar.
- Contanto que esteja bem. – Ela escutou Chaz dizer ao seu lado e a abraçar pelos ombros. – Onde ele está, ao falar nele? O almoço já estará servido e...
- Estou aqui. – Ele disse abrindo os braços e sorrindo ao se aproximar do grupo de amigos.
- Parece animado. – Cameron prestou atenção.
- Meu sócio ligou a pouco para mim e ganhamos mais uma grande causa. – Logo em seguida apenas o barulho dos aplausos e os gritos de comemorações deles foram escutados.
Todos estavam felizes e aquilo parecia ter sido algo grande. Micaela estava se sentindo muito bem. Há anos que ela não convivia tão próxima a pessoas assim, como estava para com os rapazes. Apesar de serem mais velhos, ela conseguia se encaixar perfeitamente em sua roda e entrava nas conversas com extrema facilidade. Depois de tantos anos apenas tendo sua própria companhia, ela tivera sido recompensada de modo avassalador e não podia deixar de estar feliz por aquilo.
[...]
Todos estavam à mesa almoçando e assunto ia e vinha. Justin falava para Ryan e Chaz sobre o sucesso da “grande causa” e chegavam a falar dos novos trabalhos que já chegavam a suas mesas. Tudo indicava que eles eram repletos de trabalho, mas nenhum se incomodava com isso. Pareciam gostar.
- Não vamos esquecer da prova de vinhos. – Justin disse mudando rapidamente de assunto. – Será feita como sempre no I Vini.
- Como isso vai funcionar? – Micaela perguntou um pouco perdida.
- Será simples e delicioso. – Ela escutou Justin falar.
- Às oito e meia esteja a trajar algo respeitoso e da cor vinho. – Ryan falou. – Será uma hora inteira de prova de vinhos.
- Dos meus vinhos. – Justin disse. – Eu e os rapazes fazemos isso todo ano, pois sempre preciso saber o gosto do que é produzido em minha terra e por minha linha.
- Quem diria. – Micaela sorriu. – Então nós seremos o “selo de qualidade” das bebidas?
- Sim. Será divertido, a cima de tudo. E no final Justin sempre nos traz uma surpresa. – Charles falou sorrindo de canto.
Então todos voltaram a terminar de almoçar e depois subiram para seus respectivos quartos. Mas diferente deles, Micaela estava animada e inquieta com o que estava agendado para acontecer à noite.
Tudo iria ser excitante demais.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.