-Está na hora Lucy, bota pra quebrar!
É eu sei, foi uma péssima frase até mesmo para um incentivo, mas o que eu poderia dizer de melhor, eu precisava confiar em mim mesmo. Nós saímos naquela manha quente, o sol já queimava meus olhos e quando eu vi que tudo ia ser uma merda eu simplesmente entrei em pânico.
Chegamos a base mais perto da linha inimiga, não haviam muitas pessoas por lá, alguns soldados do ultimo confronto, médicos e alguns generais. Eu achei realmente que teriam várias pessoas para marcar a posse de território, mas eu estava enganada, algumas pessoas feridas e crianças que foram deixadas pelos pais que morreram no confronto me fizeram ver o inferno no qual eu havia me metido.
Eu estou a dez dias em um buraco bem feito pelos soldados que passaram antes de mim, ele é fundo e grande. Alzack está ao meu lado, não tão assustado igual a mim, porem com receio de sair. Ao fundo abafado pelo meu medo e ansiedade eu ouvia baixo os tiros e explosões de poucas bombas. Eu fiquei por um bom tempo pensando em como os rebeldes conseguiam armamentos e como aquilo tudo estava muito perigoso.
Afinal não era só para ser uma conquista de território e... "Conquista de território Lucy, isso quer dizer que você vai ter que expulsa-los do lugar, burra"... Minha mente fez questão de brigar comigo mesma por não ter pensado direito nas coisas. Eu me levantei vagarosamente para ver como estava tudo ao meu redor e meus olhos conseguiram captar o exato momento que um dos meus soldados caiu para trás por ter sido atingido por uma bala.
Eu me abaixei vagarosamente e senti meu rosto esquentar. Natsu estava certo, aquilo tudo era horrível, vidas, jovens estavam sendo perdidas e jogadas fora como se fossem lixo, apenas para suprir um interesse econômico de estado, automaticamente me senti um lixo por estar antes incentivando tudo isso.
-Lucy está chorando? -Percebi porque meu rosto estava tão quente e passei os dedos pela face molhada, a voz de Alzack estava longe, olhei para ele que estava próximo e me agarrei a barra de seu uniforme -Está com medo?- Eu só confirmei com a cabeça e ele me abraçou -Essa com toda certeza não é a hora de congelar... Olha para mim! -ele se separou de mim e instantaneamente senti falta de seu calor.
-E-Ele morreu! -Apontei para o corpo que estava próximo a beira do buraco e ele o encarou, a face jovem estava ensanguentada e apagando seus traços de bondade, fixa em uma carranca que transmitia ódio.
-Ei, estamos aqui para combater tudo bem? Vamos em frente, depois choramos nossos mortos. -vi que as palavras de Alzack não condiziam com as emoções que ele transmitia, afinal estava com medo e tenso também, angustiado e parecendo que ia surtar a qualquer momento -Aqui é matar ou morrer, temos que fazer algo Lucy, ou vai deixar seus homens morrerem assim? -Com toda certeza ele estava me culpando por não fazer nada e movido por uma pontada de adrenalina que faiscou por seus olhos ele pulou para cima do buraco e andou o mais depressa possível.
-Puta merda! -Eu gritei alto e em um súbito piscar de olhos pedi ao Deus de Natsu para me guardar, peguei meu fuzil que estava jogado ao meu lado e pulei para cima do buraco.
Uma densa névoa tomava o local, isso era causa das bombas que espalhavam sua fumaça pelos lugares, eu corri sem cessar, o mais rápido possível, não sei como minhas pernas forram capazes de tal coisa, mas eu alcancei Alzack e me joguei sobre ele, fazendo-o cair de rosto no chão.
-Está doido é? Nunca mais faça isso, ou eu não vou conseguir te proteger. -As palavras saíram com tamanho fúria de meus lábios que eu me assustei. Estávamos consideravelmente perto da linha entre nós e o inimigo. Eu me levantei de cima de Alzack e ele se sentou, eu me sentei ao seu lado e dei-lhe um belo sorriso -Vamos sair daqui, Juntos! -Eu não tinha tanta convicção mas estava me agarrando em alguns fios de esperança.
Um dos braços de Alzack foi atingido por uma bala e ele caiu gritando no chão. Em questão de segundos, meus olhos se arregalaram e os segundos mais pareceram uma eternidade em uma câmera lenta, eu fui em sua direção para ajudá-lo. Porem uma bomba explodiu consideravelmente perto de nós. Meus ouvidos perderam pelos menos 80% da audição e eu cai para trás pelo impacto que a bomba causou.
Eu respirava fundo e com dificuldade, levei as mãos aos meu ouvidos e senti algo muito quente escorrer por eles e molhar meus dedos. Lutei contra a vontade de fechar os olhos e olhei para minhas mãos, era sangue, a bomba havia feito meu ouvidos sangrarem. Joguei meus braços ao lado do corpo e sem conseguir ir contra a vontade de fechar os olhos eu acabei desmaiando.
Abri os olhos lentamente, não havia sol, mas também não era noite, o céu estava cinzento e ameaçava chover. Ao longe eu ouvi um barulho e então o solo em baixo de mim tremeu. Me levantei com muita dificuldade, sentindo cada musculo gritar de dor e olhei ao meu redor.
-Alzack? -Eu o chamei, mas minha voz estava baixa e falha. O moreno não estava mais lá onde havia sido atingido, forcei meus olhos a se focarem no que estava diante de mim e vi seu corpo a alguns metros, sendo arrastado para longe, já quase na divisa entre o inimigo. Meu fuzil estava longe, mas forcei meu corpo a se arrastar até ele -Desgraçado! -Eu só conseguia ter ódio pelo homem que o estava arrastando e quando alcancei meu fuzil atirei sem dó.
Alzack estava desmaiado e o homem que eu baleei estava caído alguns centímetros a frente, comecei a me arrastar para perto de meu soldado, porem ouvi algumas vozes com uma língua que eu não fazia ideia do qual seria, então me encolhi e sujei o resto do meu rosto com o sangue quente que ainda saia aos poucos de meu ouvido. Isso me levou a saber que provavelmente só havia ficado alguns minutos desmaiada.
Eu vi com meus próprios olhos homens vestidos com um uniforme estilo exército mas de cor amarelada levarem Alzack e quando eles deram as costas para mim eu atirei novamente e os dois caíram por cima do corpo do colega morto, eu continuei me arrastando com dificuldade para perto de meu soldado. -Não vou deixar que te levem. -Eu disse mais para me fortalecer do que para dar esperança a alguém, meu braços fizeram mais forças e eu o alcancei -Vamos voltar! Juntos! -Eu tentei levantar e o pegar pelo colarinho, porem uma bala acertou de raspão minha perna e eu cai de joelhos. -Merda! -Gritei para o vento.
Natsu On
Fazia algumas horas que eu havia chegado do quartel e como sempre a casa estava vazia, não tinha mais cheiro de Lucy, só o cheiro de minhas coisas. A bagunça em que se transformara cara cômodo era evidente, afinal eu não tinham muito mais vontades de fazer qualquer coisa além de ir e voltar do trabalho e dormir. Meu corpo necessitava ter Lucy de volta o mais rápido possível.
O telefone começou a tocar, porem eu não dei muita bola. Três meses já se passaram e eu não tive mais notícias de Lucy, enviei várias cartas, mas nenhuma delas teve resposta, o que me levava a pensar que ela ainda não havia voltado a base principal e ainda estava no campo de batalha ou morta. Suspirei ao pensar em tais coisas e um nó se formou em minha garganta.
Atendi o telefone me sentindo muito incomodado pelo barulho que me impedia de pensar.
-Oi! -eu disse sem forças.
-Natsu, é o Gray, alguns corpos chegaram ao quartel, o General Precht Gaebolg trouxe algumas notícias também e...
-Diga logo Gray! -Disparei, não gostava de rodeios e a palavras "corpos" não me deixou muito mais calmo.
-Bem digamos que Lucy está desaparecida até o momento e ele trouxe alguns pertences dela para cá. -O nó de minha garganta parecia maior ainda e eu senti meu rosto esquentar ao mesmo tempo que sentia ele sendo molhado -Ela já está desaparecida a quase dois meses e eles já estão desistindo de procurar por ela.. Sinto muito. -Pelo primeira vez ouvi Gray me dizer algo com total sinceridade. Eu desliguei o telefone e respirei fundo tentando me recompor. Eu tinha que ir até Lucy, tinha que ir procurá-la e era isso que eu iria fazer. Peguei uma maça, e sai correndo pela porta, já estava uniformizado mesmo. Corri o mais rápido possível, cheguei alguns minutos depois ao quartel e vi o rosto do tal general, o grande avião e Levy em prantos.
-Natsu! -Levy gritou meu nome e veio correndo em minha direção -Ela ainda não voltou! -Levy era tão frágil que parecia correr o risco de quebrar a qualquer momento -o que vamos fazer sem a Lu?
-Eu não sei Levy! -Fui sincero eu não saberia o que fazer sem ela -Você é Precht Gaebolg? -Eu disse o nome de forma embaralhada mas o general que não estava muito longe me olhou de cima a baixo.
-Você é filho de Igneel Dragneel? -Eu acenei positivo -Sim sou Gaebolg, o que você quer meu jovem? -Eu respirei fundo.
-Quero que me leve de volta com você, preciso procurar pela Lucy. -Ele me olhou nos olhos e vi um lampejo de tristeza passar por seus olhos -Ela é minha noiva e se vocês vão desistir dela eu não vou, prometi!
-Não desistimos dela! -Ele disse com convicção, sinto muito filho mas não posso te levar. -Uma onda de raiva tomou conta do meu corpo, mas me segurei no lugar -Ela é uma menina ótima, muito engraçada. Eu não vou desistir dela.
-Então por que está aqui?
-Eu precisei trazer as coisas dela por que sou obrigado a cumprir ordens, mas logo vou estar de volta. Mas para te tranquilizar eu tenho algumas informações, ela e um de seus soldados foram vistos por último atravessando a linha inimiga, porém nós já avançamos em termos de território e estamos mais próximos do que antes.
-Isso não quer dizer nada, só que tem mais chances de ela estar morta. -Vociferei, não conseguindo conter minha revolta.
-Confie em sua mulher soldado, ela é forte, eu confio nela...
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