Era duas e meia. Duas e meia? Não. Duas e trinta e sete.
Tinha um violão sendo arranhado do lado de fora. A parte ruim de morar no segundo andar é que ainda se pode ouvir o movimento na rua. Os adolescentes que insistem em tocar rock enquanto passam em frente à sacada da minha casa, o cachorro do vizinho que vive preso e late sofrido.
E o Leório.
— Kurapika! — Gritou.
Ignorei.
O relógio faz tic-tac. Talvez eu deva trocar ele de lugar. Me incomoda.
— Kurapika, vem ‘pra sacada!
Duas e cinquenta já. Acho que ele está bêbado.
Jogou uma pedra na janela. Pensei em xingar baixinho, mas decidi que não seria uma boa ideia.
Prendi o cabelo em um rabo-de-cavalo. Ia até lá apenas para direcionar meus mais sinceros xingos a Leório.
— Que foi? — Minha voz estava falha.
— Finalmente! — Exclamou. — Me perdoa!
Acho que tínhamos brigado. Por que mesmo? Não lembro. Faz cinco semanas que não nos falamos. Cinco? Não. Talvez dois dias.
— Você não toca violão.
Violão, buquê e bombom. Só espero que não sejam margaridas, porque me faz espirrar.
— Como você está, amor? — Sorriu. Minha carranca aumentou.
— Pronto para te mandar tomar no cu.
Acho que a resposta assustou, mas a expressão se suavizou quando ele pegou o violão.
— Vou cantar pra você me perdoar. — Leório começou a arranhar o violão de novo. Meus ouvidos doem. — Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu? — Cantou. A voz não era ruim. Só é ruim cantando. — Se você me pedir eu vou buscar só pra te dar. Se bem que o brilho dela nem se compara ao seu.
— Leório.
— Deixa eu te dar um beijo e vou mostrar o tempo que perdeu.
— Tá bom então, Leório.
— Me perdoa?
— Se você me trazer a lua.
Silêncio. Passaram mais três carros atrás dele antes de ouvir alguma voz naquela rua.
O vizinho ia me matar, mas eu aturo o cachorro dele, então ele terá que aguentar meu namorado também (ainda não terminamos).
— O quê?! — Gritou. O vizinho xingou junto. — Como você quer que eu pegue a lua, seu doido?!
— Não sei, você me prometeu a lua e agora vai me dar. — Minhas sobrancelhas se franziram. Eu estou com sono. — Pega seu cavalo mágico e vai buscar.
— Será que tem no Mercado Livre? — Colocou a mão no queixo. Acho que realmente está bêbado. — Ah, Kurapika, deixa eu voltar pra casa.
— Leório, você não entra nessa casa enquanto não me trouxer a merda da lua! — Ele começou a reclamar, mas eu nem me dei o trabalho de entender as palavras gritadas. — Você me prometeu a lua, agora você vai me trazer!
Saí da varanda batendo o pé. E completei:
— Se você jogar pedra na minha janela de novo vou enfiar no seu olho! E eu não disse em qual!
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