História Taiyo - Terceiro

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Por oito vezes seguidas Sasuke assistiu o pôr do sol pela pequenina janela, mas em momento algum Zus apareceu com suas respostas. Isso o aborreceu. Sentiu-se tolo por ter criado tanta expectativa só para vê-la ir murchando a cada dia. Ah sim, Sasuke Uchiha sentia-se um perfeito idiota.

E depois daquela oitava noite, ele desistiu de esperar. Mas esse transtorno em sua rotina não sairia tão cedo de sua mente. Através daquelas cartas, pode finalmente ultrapassar os muros do Posto Norte, conseguiu voltar a imaginar coma era a vida lá fora, como era ter uma rotina saudável, lembrou-se até de como era possível - mesmo para o um Uchiha renegado - manter uma breve interação.

Sentado em sua cama, ele acendeu as velas assim que o sol sumiu no crepúsculo vermelho. Retirou de cima do travesseiro a última carta que recebera, mas dessa vez não voltou a ler as palavras que já havia decorado, Sasuke vagou em seus últimos pensamentos, aborrecido por ter acreditado em quem o havia escrito, e isso pela primeira vez o atormentou.

Com quem diabos estava conversando?

Levantou-se e foi até a escrivania, pegando a primeira carta em sua gaveta, deixando lado a lado com a que já estava em sua mão. Analisou-as. A mesma caligrafia, a mesma cor de tinta, o mesmo pepel de pergaminho. Certamente foram escritos pela mesma pessoa.

Passou os olhos por cima de cada palavra, tudo era conjugado de forma neutra, ditada de maneira imparcial, não podia saber se era um homem ou mulher. Porém o codinome, Taiyo, soava masculino demais aos ouvidos de Sasuke, entretanto, sua nomenclatura poética era metafórica demais para ter sido escolhido ao acaso.

Sol.

Um sol enviado para iluminar seu cômodo repleto de sombras, esquentar aqueles pisos gelados. Um sol para compartilhar sua rotina previsível. Um sol que tudo toca, que tudo vê, que a Sasuke oferece um único conforto. Um sol de papel e tinta preta capaz de brevemente colorir toda aquela cela cinza. O Sol, o único capaz de atravessar livremente os muros daquela prisão.

Onipotente. Onipresente. Onisciente.

Sasuke fechou os olhos, chacoalhando levemente a cabeça. Estava preso demais aos milhares de códigos e parábolas que se espalhavam pelos pergaminhos do seu clã. Sua mente parecia girar enquanto tentava desvendar mais uma metáfora.

Deixou o codinome de lado, voltando a superfície dos papéis. Levou ambos ao nariz. Madeira e algodão. Franziu o mesmo, tanto que seus óculos escorregaram até a ponta. Nada. Nenhuma pista.

Seus olhos cansados se perderam naquela caligrafia inclinada, praticamente desenhada, escrita por uma mão leve que sabia exatamente o que estava fazendo. Abriu um pequeno sorriso; podiam lhe dizer o que fosse, mas sabia que nenhum homem no mundo teria tanta delicadeza nos punhos.

Taiyo era uma mulher, disso ele poderia ter - quase - certeza.

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Era a décima noite desde a última carta, mas Sasuke já havia deixado de contar. Fazia algumas horas que o céu estava repleto de pontinhos brilhosos, a lua era cheia naquela noite. O prisioneiro estava sentado no chão, com as costas apoiadas no esqueleto de sua cama enquanto suas pernas cruzadas apoiavam a bandeja da janta.

Estava com a última garfada próxima a boca quando seus ouvidos captaram um som conhecido, mas já esquecido. O Uchiha levantou os olhos em direção a janela, erguendo em seguida a cabeça, direcionando toda sua atenção a coruja branca que agora aprumava suas penas. O garfo já havia se perdido no prato.

Sasuke fez uma careta, semelhante a primeira vez que avistou a ave em sua cela, e demorou para que deixasse sua bandeja de lado e finalmente se levantasse. Retirou sem qualquer resistência o rolo de pergaminho das garras de Zus, notando que dessa vez o papel estava mais espesso.

Gostaria de murmurar um “O sol já se pôs faz tempo, está atrasado” para a coruja, entretanto isso soou irrelevante demais, por isso preferiu assistir em silêncio as penas brancas irem se camuflarem na luz da lua.

Antes de sentar em sua cama, empurrou a bandeja para fora, passando pela portinhola próxima ao chão, não esquecendo de antes pegar a maçã vermelha que lhe serviria de sobremesa.

Sentou-se e desenrolou com uma falsa calma os papéis, dando uma primeira mordida antes de começar a ler.

“Olá, Uchiha-san. Tudo bem?

Antes de irmos ao propósito da carta, sinto que devo pedir perdão por todo esse tempo que te deixei sem resposta. Não foi intencional, acredite. Tsunade-sama me convocou para - mais uma - missão, e não pude negá-la. Entretanto, não deixarei que mais imprevistos nos interrompam.
Gomenasai, Uchiha-san.

Agora às perguntas, elas são bem abrangentes, e eu precisaria de muita tinta pra conseguir lhe responder. Entretanto, sinto que posso simplificar e te oferecer o pouco que sei ou procurei saber. Partindo do geral ao específico, a Vila está prosperando. Todo o mundo shinobi passou por baixas irreparáveis, mas os que mantém força em seus punhos não se cansam de oferecer ajuda para avançarmos a cada dia. Estamos bem, e caminhando para melhorar.
Aqui em Konoha, muitos como Tenten-san, Aburame-san e Lee-san, estão se dedicando ao futuro dos novos shinobis. Soube que Tenten-san está abrindo um armazém e lojas de armas ninja, indo das mais comuns às mais excêntricas. Aburame-san passou a se interessar em ensinar crianças, começando com as órfãs causadas pela Guerra, mas logo terá uma classe como Iruka-sensei. Lee-san interessou-se mais pelos gennins, sempre o vejo energético treinando alguns jovens, e em pouco tempo também terá o seu próprio time.
Outros, como Shikamaru-san, Chouji-san e Gai-sensei, estão focados em manter as estruturas da aldeia, servindo como grandes pilastras a tudo o que vem acontecendo. Shikamaru-san é um ninja muito respeitado e reconhecido, também foi um dos mais afetados pela Guerra; ele manteve sua palavra, e vem sempre ajudando Naruto em seus estudos, certamente será um bom conselheiro. Chouji-san anda muito ocupado com a parte física da Vila, usando de sua Kekkei Genkai para auxiliar na reconstrução de áreas devastadas, sua força é tão prestativa que por muitas vezes é emprestada a outros países. Enquanto isso, Gai-sensei está sempre próximo a Kakashi-san; depois que seu esforço na Guerra o imobilizou, ele dedicou seu tempo a ajudar o amigo e futuro Hokage nas partes mais burocráticas, sempre o acompanhando em reuniões e encontros diplomáticos.
E também há aqueles como Inuzuka-san, Yamanaka-san e Hyuuga-san, que continuaram a servir em missões. Mesmo com o acordo entre as cinco nações, ainda não foi possível alcançar a almejada paz, e para isso ainda é preciso ter alguém disposto a lutar. Entre eles, o Inuzuka é quem mais se ausenta, ficando por longos períodos fora, da última vez soube que sua missão durou mais de dois meses; mas ele nunca está sozinho, Akamaru está sempre a lhe ajudar. Ouvi dizer que Yamanaka-san tornou-se uma ótima nin-espiã, sua Kekkei Genkai sempre nos deixa um passo à frente daqueles que planejam afetar a Vila, e apesar das curtas missões, é difícil vê-la pelas ruas. Sobre Hyuuga-san é o que menos se sabe, imagino que tentou se esconder ainda mais, talvez as perdas da Guerra tenham a afetado de alguma forma, e do pouco que sei, foi de sua dedicação inesperada para tornar-se uma ANBU.

Como comentei anteriormente, sua pergunta não me permitiu oferecer uma resposta aprofundada, mas se caso queira saber sobre algo de forma mais específica, apenas avise-me em uma futura carta. Irei respondê-lo.
E também, imaginei que poderia focar naqueles que foram seus companheiros na Academia Ninja, e tecnicamente fizeram parte da sua infância, além de hoje em dia possuírem um certo destaque à Vila.
Novamente peço perdão pela demora, talvez Zus se atrase, mas não tanto quanto eu.

Há algo mais que queria saber? Eu irei lhe contar.

Estarei esperando - Taiyo”

Sasuke terminou de engolir o último pedaço da maçã assim que sua leitura chegou ao fim. Apesar de todos aqueles dias se auto-punindo pelo interesse tolo que criou por aquelas cartas, agora esse rancor havia lhe dado uma trégua, e sua mente voltou a flutuar naquele passado que se tornou tão presente.

Confessou em seu íntimo que demorou mais de alguns minutos para recordar a face de cada um citado naquela carta. Certamente já viu a todos, e certamente sabia que aqueles nomes lhe eram familiares, mas quem eles de fato eram, isso nunca fez parte do seu conhecimento.

A grande maioria ele nem sabia como estava nos dias de hoje, lembrava apenas das versões infantis, de quando ainda eram da Academia ou participaram do exame chuunin, e as descrições que recebeu surpreendeu-o de certa forma. Muita coisa havia mudado.

Quando imaginou que aquele esquisito dos insetos um dia se daria bem com crianças e se tornaria sensei? Ou que o preguiçoso do Shikamaru iria finalmente usar sua inteligência para algo mais útil? Até Ino havia deixado de ser aquela garota escandalosa que um dia conheceu.

Assustou-se com o sobrenome Hyuuga, pois o único que veio a mente era Neji, lembrando-se que o mesmo havia morrido em guerra. Entretanto sua mente puxou uma lembrança distante, de uma garotinha pálida e amedrontada com quem nunca sequer trocou cumprimentos. Não lembrava do seu nome, mas tinha uma vaga noção de quem era, e associar aquela pessoa a ANBU lhe soou improvável demais. Concluiu que talvez haja outra Hyuuga.

Em uma segunda leitura, reparou que diferente das outras cartas, as letras estavam mais inclinadas, esticadas como se tivessem sido feitas às pressas. Sasuke percebeu a urgência das palavras, e Taiyo talvez estaria mesmo incomodado com a demora de enviar sua resposta. Mas ignorando esse detalhe, tudo parecia o mesmo.

De qualquer forma, o Uchiha se daria momentaneamente por satisfeito. Apagou as velas que precariamente iluminavam sua cela, caindo na escuridão enquanto arrumava-se em seu colchão. Sua última visão antes de dormir foram os pontinhos brilhosos das estrelas e a recente lembrança de sua letra garranchada em um pergaminho amarelado.

“Sim, há algo mais que eu queira saber. Você se submeteu a uma missão tão monótona quanto trocar cartas com um prisioneiro que já foi, e talvez ainda seja, muito odiado por Konoha. Aceitou isso, concordando com as palavras da Hokage, ‘não é saudável viver sozinho’. Mas e você? É amado? Rodeado por pessoas? Você entende o que está fazendo?

Sim, eu quero saber. Quem é você?”