Olhares. Não só de pena, não só de chacota. Muitos riam, outros sentiam dó. Alguns cochichavam com risadas abafadas, mas nenhum dos outros foi atrás de alguém capaz de impedir aquela garota de falar tudo para mim. O acontecimento em questão era como um espetáculo no teatro, todos estavam vendo, todos estavam atentos, mas ninguém era capaz de se intrometer ou ajudar. Eles só podiam me olhar sem fazer nada.
– Entenda uma coisa, Kim Namjoon. Todos eles não querem ser seus amigos por conta própria. O diretor falou com todo mundo para se tornar o seu amigo por pena. Não é porque você é legal ou interessante, é por causa desta maldita cadeira de rodas onde você senta.
Aquela menina foi a única que me contou o real motivo de ser tão cheio de amigos. Todos eles eram falsos. Todos mentirosos. Ninguém gostava de mim, não tinha ninguém que estivesse realmente ao meu lado durante todo esse tempo. Eu sempre fui só, eu sempre senti que era só, mas a verdade era cruel demais para mim acreditar nela.
– Yoongi – Olhei para o meu amigo em busca dele desmentir o que ela disse. A minha única esperança era ele, ele sempre esteve comigo. Sempre foi meu melhor amigo! A primeira pessoa que me estendeu a mão.
– Me desculpa, Namjoon.
Eu estava sendo enganado. Nada e nem ninguém era por mim. Eu me sentia como um animal indefeso no meio de humanos malignos que falavam sobre minha morte. Eu era um animal no abatedouro.
– Você não tem e nunca terá amigos de verdade. Todos os que aparecerem serão por pena ou pedido de professores. Entenda isso de uma vez, você nunca terá uma vida normal!
Malditas palavras daquela garota. Tudo ao meu redor se desfez e não pude mais confiar em ninguém. Todos ao meu redor me causavam medo. Eram meus amigos por pena. Ninguém estava comigo de verdade, eu jamais conseguiria ter amigos de verdade.
Maldito acidente de carro. De todas as coisas que poderia acontecer na minha vida, tinha que ser um acidente de carro e me fazer ficar paraplégico? Por que? Qual a causa? O que fiz de mal? Eu mereço isso? Sou apenas uma criança, quero correr e dançar para todos os cantos, igual meus colegas, mas não posso.
Não mais.
Eu juro que não vou deixar isto assim. Não quero aceitar essa realidade. Tem que haver, eu preciso que haja uma forma de me curar desse acidente. Eu não aceito ficar assim, vou fazer de tudo para voltar a minha vida de antes. A minha vida antes dessa garota arruinar tudo com suas palavras cruéis.
Eu espero que ela saiba que suas palavras arruinaram a minha vida. Espero que ela se lembre que foi a causa da minha mais cruel realidade. O real motivo da minha solidão. Não. Eu não quero essa garota.
Não a olharei com os mesmos olhos de antes nunca mais.
– Filho? – Minha mãe entrou no quarto. – Está pronto?
– Sim, mãe. – Respondi a ela assim que abri os meus olhos.
– Tem certeza que quer fazer isto? Você sabe as suas possibilidades de-
– Eu sei, mãe. Eu sei. – A interrompi. – Mas eu quero ao menos tentar. Por favor, eu já sofri muito nesta vida por causa disso.
– Te entendo filho, já que é isso o que você quer.
Ela saiu do quarto e eu voltei aos meus pensamentos.
As chances de eu sair vivo eram difíceis, mas as probabilidades de voltar a andar eram maiores. Eu precisava fazer isso, eu precisava correr esse risco. Se tudo der certo, vou me livrar deste peso de ficar na cadeira de rodas pra sempre. Meus pais se esforçaram bastante para pagar essa cirurgia, e espero que resulte no sucesso.
Eu preciso que resulte no sucesso.
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