Estava no Restaurante DiCaprio, próximo ao shopping principal de Seoul.
Não era um lugar tão famoso assim, por isto consegui encontrar facilmente enquanto andava pela cidade. Ele foi bastante inteligente em procurar um local menos movimentado.
Pelo menos, descobri uma boa qualidade nele agora. Inteligente.
— Kai? — Cheguei em uma mesa e encontrei um homem todo encapotado, assim que tirou a máscara e o boné, o reconheci.
— Ah? Ryuna. Ainda bem que chegou. Sente-se.
Me sentei, receosa.
O que ele estava querendo conversar comigo? Por que comigo? O que eu posso lhe oferecer?
Mas tem algo que me incomoda. Por que o RM não queria que eu tivesse alguma aproximação com ele? Qual a ameaça que ele traz?
A forma que ele me parou naquele dia ainda é um mistério pra mim. Por que celebridades sempre escondem algo? Deve ser por isso que existe tanta imprensa e muitos jornalistas.
Kai é, aparentemente, muito bonito. Vi em minhas pesquisas que eu e ele temos a mesma idade.
— Kai, você tem a mesma idade que eu né? — Tento confirmar.
— Certo. Se você tiver 28 anos, sim. — Ele chamou um garçom e o mesmo voltou com um vinho, e encheu os nossos copos.
— O que quer conversar comigo? — Pergunto indo direto ao ponto. Nunca fui e nunca serei uma pessoa paciente. Isso é um fato.
— Bem, deixe-me apresentar primeiro, já que o RM não me deixou fazer isso naquele dia. Sou- — O interrompo.
— Sei quem é. Kim Jong-in, mais conhecido na carreira de atuação por seu nome artístico Kai, é um cantor, compositor e ator sul-coreano. Foi apresentado como Wooho no drama My Love is Dramatic em dezembro de 2018, estreando oficialmente em abril de 2019.
— Wow...
— Gosto de me informar antes de qualquer coisa. — Sorriso transmitindo um pouco mais de alívio para mim mesma.
— Ok então... Já que você sabe sobre mim, me conte sobre você.
— Hum? Sobre mim?
— Sim. Tem algo que me deixa intrigado em você... Talvez a sua beleza? — Ok... Este homem está me assustando.
— Ah... Eu? Bela? — Me finjo inocente. — Que nada, sou apenas uma mulher qualquer que nem essas.
— Não para o RM.
— O quê? — Acho que eu ouvi errado.
A voz de Kai estava bem séria. E ele me olhava com certa intensidade, digamos assim. Isso me incomoda. E incomoda bastante.
Desviei rapidamente dos seus olhos buscando entender porque aquela conversa estava tendo muito haver com o RM.
Como assim "não para o RM"?
Claro que para o RM sou apenas uma noona chata, que o obriga a acordar todos os dias e reclamar dele enquanto dorme no carro. É este tipo de mulher que o RM vê em mim.
— Para você me entender, vou te dar uma pequena pista. — Ele voltou a falar me tirando dos pensamentos.
— Que... Pista?
— Bem, já se perguntou por que, aparentemente, eu e o RM temos uma certa... Rixa um com o outro?
— Não. — Minto descaradamente.
— Eu e RM começamos na mesma época. Buscamos oportunidades nas mesmas empresas. Sempre fomos juntos para os mesmos testes. — Bebe um pouco de vinho. — Mas... Uma garota chamada Yoon Jae In começou a se aproximar de nós. Ela e o RM namoraram por um tempo muito curto, e quando RM foi aceito na TDE, Jae In o largou.
— Nossa...
— Daí pra cá, o RM começou a se distanciar de mim, ele disse que era tudo minha culpa por Jae In ter terminado com ele. Mas, o que tenho haver se Jae In me escolheu?
Escolheu.... Você?
— Como assim? Essa garota largou o RM por você? — Pergunto ainda espantada.
— Exatamente. Ela é a causa de RM me odiar tanto até hoje. Claro que eu e Jae In não estamos mais juntos pois ela virou atriz internacional e viajou pra fora do país. Eu não levo mágoa, mas o RM continua com isso.
— Mas... Por que ela ficou com você depois de terminar com o RM?
Essa história está estranha. Como esse cara pode simplesmente namorar a ex de seu amigo, e depois dizer que não é culpa dele? Que sem noção. E quem é essa mulher afinal para trocar o RM por esse cara?
— Ela simplesmente me escolheu. — Respondeu cinicamente.
— Cara, como você teve a audácia de acabar com sua amizade por causa dela? Afinal, você a amava? — Aquela história do Kai estava mexendo muito com meu lado pessoal.
— Amar é uma palavra muito forte. Digamos... Gostar, talvez.
— "Talvez"? — O olho mais incrédula ainda. — Nossa mesmo. Depois você quer que ele volte a ser seu amigo. Não tem como.
— Mas não é isso que eu quero. — Respondeu-me e não entendi.
— Mas, você não me chamou aqui para te ajudar a fazer as pazes com o RM? — Depois dessa história toda a única coisa que pude pensar foi nisso.
— Vim para ser seu amigo. — Ele passou suas mãos pela mesa e tocou nas minhas delicadamente. — Um amigo bem íntimo.
O que está acontecendo aqui?
— A-Amigo íntimo? — Repito afastando a sua mão da minha.
— Claro. Como já disse, você me intriga. E não é só a sua beleza, mas também o seu jeito valente.
— Va... Lente? — Digo com lentidão na voz surpresa.
— Sim. Gosto deste tipo de mulher que nem você. Não conheci muitas, então você é uma exceção. — Tocou na ponta do meu nariz transmitindo diversão na conversa.
— N-Nossa... Não sabia que fazia o seu tipo. — Eu não sei se fico com medo ou fico feliz.
O telefone dele tocou brevemente e ele atendeu enquanto eu processava aquelas informações.
— Com licença, Ryuna, só vou atender e já continuamos. — Ele se levantou da cadeira e se afastou um pouco.
— OK.
Olhei para um lado e olhei para o outro.
Será que é tudo apenas um sonho estranho? Será que esta é a minha deixa para eu fugir enquanto ainda tenho tempo? O que eu estou fazendo aqui afinal?
Não, Ryuna, agora não é hora de se lamentar pela sua decisão. Agora aguente pois foi você quem quis isso.
Algo tocou no meu celular que estava na minha bolsa. Assim que o pego percebi ser uma mensagem.
RM: Oi. Posso te pedir uma coisa?
Estranhei rapidamente a mensagem de RM. A única que inicia a conversa nas mensagens sou eu, o que aconteceu para hoje ser ele?
Eu: Diga então.
RM: antes de eu te pedir isso, eu pensei muito.
Quando Jin hyung está aqui ele sempre me acompanha pessoalmente.
Eu não sei se é muito adequado pedir isto para você.
Eu: Pedir o que??
RM: ...
Todo mês, eu e o Jin hyung vamos a um hospital dar um presente para uma menininha que conheci há alguns anos.
Eu: Ah... Então você quer que eu te acompanhe?
RM: Na verdade, a garotinha não sabe quem sou eu.
Jin hyung é quem leva os presentes.
Eu: por que você não se mostra pra ela?
RM: Eu não quero que a imprensa saiba que eu ajudo ela. Eles pensarão que quero ganhar boa imagem na mídia.
Eu: Entendi...
RM: você gostaria de fazer isto por mim?
Nossa. Eu nunca pensei que o RM poderia fazer este tipo de coisa.
Eu: Aceito sim.
RM: Obrigada, Ryuna.
Depois te passo o local.
Está ocupada agora?
Olho de relance, e vejo que o Kai ainda estava na ligação.
Eu: Mais ou menos.
Quando terminar vou até sua casa. OK?
RM: Certo. Até logo.
Eu: Tchau.
O RM me chamou na hora certa. Essa conversa com o Kai já estava me deixando louca.
O gesto dele é bastante humilde. Ele nem aparenta ser uma pessoa tão boa assim. Não estou dizendo que ele seja ruim, mas é que não imaginaria isso de jeito nenhum.
— Voltei. Estava no telefone também? — O Kai se aproximou de mim novamente.
— Ah, eu estava sim. — Antes que o Kai se sentasse e voltasse para aquele papo constrangedor. — Kai, infelizmente eu vou ter que partir.
— O quê? Como assim?
— É que o meu trabalho me chama. — Levanto-me já pronta para partir. — Obrigado pela conversa.
— Nos encontraremos de novo? — Perguntou antes que eu partisse.
— Provavelmente.
[...]
O local era desconhecido para mim, por isso desta vez o RM foi quem dirigiu.
Ele me contou que a garota é paraplégica. Eu fiquei tão comovida com isso que meu peito doeu.
Ela só tem 10 anos de acordo com o que o RM me disse. Ela é muito pequena para sofrer com este tipo de coisa.
— Quando chegar lá tente não dar essa cara de preocupação e tristeza. — A voz de RM me tirou das minhas preocupações enquanto ele dirigia.
— Como? — Pergunto. — Como irei não demonstrar tristeza e preocupação se ela é apenas uma criança! — Explico.
— Bang Haru. Ela pode ser uma criança mas sabe ser forte quando precisa. Ela está ciente de suas condições e permanece firme enquanto pode. Ela é bastante inteligente.
— Mas mesmo assim. Ela ainda é uma criança. — Começo a observar as ruas que estavam ficando menos movimentada a cada segundo que nos aproximávamos do hospital. — Como conheceu ela?
— Bem. Foi quando eu tinha 21 anos. Eu vi o acidente dela acontecer de perto. Ela só tinha 6 anos na época. Ela estava com os pais no parque, e uma de suas bolas coloridas acabou indo para a rua e um carro-
— Não precisa falar o resto, já imagino o que deve ter acontecido. Ah... — Suspiro triste. — A vida é realmente cruel.
— Verdade, e disso eu sei bem.
Quando chegamos no local, RM me deu um envelope e uma caixa empacotada como um presente. Ele me disse que o presente era para a Haru e o envelope para os pais dela.
Assim que entrei no local pedi à moça do balcão que me mostrasse o quarto da Haru.
— Obrigada. — Agradeci após ela me mostrar o quarto.
205.
Parece que é aqui.
— Licença? — Abri vagarosamente a porta, mas não vi ninguém. — Cadê a garota?
Entrei no quarto e fechei a porta. O lugar parecia bastante aconchegante, e o hospital era bem caro pelo que vi.
— Só o RM para pagar isto tudo mesmo...
— Quem é você? — Ouço uma voz infantil do nada e me viro para ver a pequena criatura.
De olhos castanhos, cabelos lisinhos e bem escurinhos. Com um vestido florado e um coala azul em suas mãos, aquela era a Bang Haru.
— Oi. Sou a Ryuna, vim aqui porque o Jin está viajando. Você é a Haru? — Tentei ao máximo ser simpática com a menina, mas nunca fui próxima a crianças.
— Sou sim a Haru... O que é isso? — Apontou para o presente em minhas mãos.
— Isso é para você. É do... — Parei de falar tentando pensar no que dizer. Eu não posso expor o nome do RM para ela.
— O Koya ahjussi me mandou um presente? — Ela entrou no quarto e logo percebi a cadeira de rodas.
Ah não. Lembranças.
Lembranças que agora me martirizam. Até pouco tempo não ligava, mas agora eu ligo e me sinto arrependida.
Por que fui daquele jeito? Por que joguei a minha raiva em um garoto que estava na mesma situação que essa menina? Por que fui tão dura com ele?
Por que?
— "Koya ahjussi"?
— Sim. Nunca conheci o senhor ou o moço que me ajuda. O RJ ahjussi me contou que ele é muito jovem, e famoso também. — Ela logo abriu o presente.
— O RJ ahjussi é o Kim Seokjin?
— Sim, isso mesmo. Que lindo! — O presente dela era uma coelhinha de laço rosa. Bem a cara do RM mesmo digamos assim. — Como devo chamar ela unnie?
— Não sei.
— Que tal... Bunnyryu ahjumma? — Sugeriu e eu a olhei estranho.
— Que nome é esse?
— O presente do Koya ahjussi foi uma coelhinha, e foi a unnie que me deu. Por isto é coelho, em inglês bunny e Ryu de Ryuna.
Ela em seguida deu um sorriso e eu inconscientemente também sorri.
Realmente crianças são criaturas comoventes e tocam no coração de qualquer pessoa com suas palavras.
Bunnyryu ahjumma? Vou levar este apelido para o meu coração.
— Quem é você moça? — Um homem e uma mulher entraram no quarto já me interrogando.
— Sou Baek Ryuna, vim substituir o Seokjin. — Digo e eles logo mostram entendimento.
— Ah, certo. Filha, espere aqui OK. — A mulher pediu e o homem me chamou para fora do quarto.
Quando saímos eles logo se curvaram em agradecimento.
— Por que estão se curvando para mim? — Pergunto espantada.
— Agradeça ao RM por tudo que fez pela nossa filha novamente. — O homem disse ainda de cabeça baixa.
— Ele sempre nos ajudou desde o acidente até agora. Somos muito gratos a ele. — A mulher complementa.
Pais preocupados e uma criança cadeirante. Então era isso que eles deviam ter sentido naquela época.
Como será que eles estão hoje? Será que ele está bem? Será que... Ainda é paraplégico?
Argh!
Como pode algo de tanto tempo atrás ainda me fazer ter arrependimento. Eu era uma criança. Uma criança insolente e inconsciente. Muito rebelde também.
Não posso mudar o meu passado agora. Infelizmente eu fui daquele jeito.
E não tem volta.
[...]
— Pronto. — O RM parou o carro em frente ao apartamento onde eu moro. — Ryuna?
Eu estava ainda pensando na Haru. Na situação dela. E nas suas dificuldades na escola. Será que ela sofre que nem ele ou será que os colegas são mais simpáticos?
— Ryuna?
— Hum?
— Já chegamos.
— A-Ah. — Logo tiro o cinto de segurança já pronto para sair do carro, mas o RM pega a minha mão.
— Esta tudo bem Ryuna?
— Ah sim. Não se preocupe.
— Se tiver preocupada com a Ha-
— Não é isso. Tenho outras preocupações também. Tchau.
Sai do carro sem esperar a sua resposta.
Essas lembranças ainda vão me matar um dia.
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