Taehyung saiu do escritório de seu advogado se sentindo triste, porém decidido, não via mais sentido em permanecer com alguém que já não lhe causava alegrias, que já não lhe olhava com amor. E pior, alguém que estava enamorado de outra pessoa, era terrível admitir para si mesmo, mas Jungkook, seu amado Jeon Jungkook, estava lhe traindo. Não que Taehyung houvesse pego o mesmo no ato, mas como poderia ser diferente? Que explicação haveria para que Jungkook, lhe deixasse tão sozinho, esquecesse datas importantes, fosse tão impessoal durante as poucas refeições que faziam juntos, e já não lhe beijasse com desejo fora dos cios de ambos? Taehyung queria pensar diferente, que era apenas uma fase, que após anos juntos, eles apenas haviam se perdido pelo caminho, que Jungkook ainda o amava. Mas depois da noite de ontem, em que ele havia estado sozinho, em seu aniversário de casamento, já não havia mais vendas nos olhos, nem desculpas a dar. Era o fim do seu casamento.
Ele chegou em casa e olhou ao redor, a mobília de tons claros, o sofá enorme, comprado por ele com sonhos de que nas tarde de domingo, ele e o marido pudessem se deitar no mesmo e verem filmes na televisão pregada à parede. Mas tudo que ele tinha a lembrar do sofá, fora das vezes em que havia coroado nele com um pote de mousse no colo e Adele tocando. Ele amava Adele, ela era a única que entendia a sua dor, talvez por ela ter passado pelo mesmo, amado alguém e sido feliz com essa pessoa para depois perdê-la. Sim, a diva o entendia perfeitamente.
Ele deixou o envelope com os papéis que tinha em mãos em cima da cama e foi para o banheiro, tirou a roupa e se colocou sob os fortes jatos do chuveiro.
Quantas vezes, ali sob aqueles jatos, ele havia feito amor com seu marido, ouvido os gemidos de Jungkook e gemido para ele. Ali, eles haviam feito promessas, se amado, e feito um ao outro saber que eram amados — mas também era ali, que Taehyung vinha disfarçar suas lágrimas muitas vezes. Sozinho, sentindo falta dos toques do marido.
Terminou o banho e saiu, se secou, vestiu uma calça preta folgada, uma camisa branca, penteou o cabelo e desceu as escadas rumo à cozinha. Preparou algo para comer e sentou-se na mesa, para mais uma refeição sozinho.
Enquanto Taehyung após comer, se sentava no sofá, acompanhado de uma garrafa de vinho e Adele, Jungkook estacionava o carro na garagem do prédio, ele estava tenso, cheio de culpa, por conta de toda pressão que vinha enfrentando, seu corpo doía, sua cabeça parecia que iria explodir. E para piorar, seu cio chegaria naquele dia e ele não havia tomado nada para evitar, não que ele precisasse, afinal era casado com a melhor pessoa do mundo, Taehyung — mas estava envergonhado, devido ao trabalho, por passar horas indo de um plantão à outro e dirigir aquele hospital, ele estava negligenciando seu marido, seu casamento.
Na noite passada mesmo, ele havia planejado levar Taehyung para jantar e propor que renovarem seus votos, mas um acidente, com feridos em estado grave, haviam impedido o mesmo, ele teve que ir às pressas ao centro cirúrgico, operar uma garotinha de 5 anos, uma pequena beta, de olhos lindos que infelizmente não havia sobrevivido. Jungkook se sentia péssimo pela sensação de fracasso, por ter tido que dar a notícia aos familiares, familiares estes que perderam não apenas a menininha, mas também a mãe desta. O que já não estava no lugar, apenas piorou quando sua assistente lhe informou que não havia avisado Taehyung, e ainda tentou beijá-lo. Nikki era uma beta linda, mas ela e ninguém mais fazia seu pau levantar, seu coração se aquecer, apenas Taehyung e seu sorriso lindo. Quanto tempo havia se passado desde a última vez em que ele havia visto aquele sorriso?
Pensando nisso, Jeon se deu conta que muito tempo havia se passado, ele e Taehyung já não ficavam mais juntos, não passavam mais tempo de qualidade como casal. Ele trabalhava tanto, que havia se tornado um estranho para o marido.
— Você é tão idiota Jeon, como deixou tudo isso chegar à esse ponto?
Abrindo a porta do apartamento, ele foi brindado pela voz de Adele. Como ele odiava aquela mulher… não por ela, mas pelas letras de suas músicas, ele as achava tão cruéis, tão cheias de dor. E ouvindo a mesma cantar naquele momento, ele não podia negar a veracidade de suas palavras...
Deixe essa ser a nossa lição de amor
Deixe ser a forma a qual nos lembraremos
Eu não quero ser cruel ou violenta
E eu não estou pedindo perdão
Tudo que eu peço é
Se esta é a minha última noite com você
Me abrace mais do que se abraça um amigo
Me dê uma lembrança que eu possa usar
Me guie enquanto fazemos coisas de amantes
Importa como isso termina
Por que e se eu nunca amar novamente?
Ele não queria aquelas palavras para si, não queria aquela visão de um futuro daquele jeito. Mas ao entrar, e ver seu marido no sofá, uma garrafa vazia ao seu lado, as marcas de lágrimas em seu rosto, ele soube. Soube sem precisar ver, que Taehyung estava o deixando. Ele sentia a tristeza do outro, sentia a sua dor. Afinal era a sua própria. Taehyung e ele iriam se perder.
— Tae...
Taehyung ouviu a voz do marido e franziu o cenho, não era para Jeon estar em casa, ele nunca estava em casa, menos ainda naquele horário, se virando, olhou as janelas e viu que ainda era claro, ainda era dia.
— Por que você está em casa tão cedo Jeon, aliás, o que você faz em casa?
Jungkook se aproximou devagar e se abaixou perto do marido. Taehyung o olhou com tanta dor, que era quase como se seu próprio coração estivesse sendo arrancado de dentro do peito.
— Eu sinto muito por ontem, por não ter estado aqui no nosso aniversário… Aliás eu sinto muito por tudo, por não ser mais a pessoa com quem você se casou, por estar tão ocupado salvando vidas ao meu redor, construindo uma carreira, focado em tentar ser o melhor, em ser um ômega respeitado, em não ser visto como a classe mais fraca, que não vi, ignorei que eu estava te magoando no processo. Que eu magoei, feri, a única pessoa que realmente me importa: você, Tae. Eu me perdi no caminho, e eu sei que perdi você também, não por não te amar, mas por esquecer que o amor precisa ser alimentado, que ele precisa de beijos ao amanhecer, que ele precisa de bom dia com voz de sono, que amor precisa de ações, não de palavras — sussurrou. — Eu sei que agora, nada deve estar fazendo sentido, mas se eu puder ter a chance de te mostrar, sem os efeitos do álcool, ah Tae, por que você tinha que beber uma garrafa toda? Justo agora? Eu queria tanto que você não esquecesse... Não me esquecesse...
Taehyung o olhava sem dizer nada, não queria quebrar as palavras de Jungkook, afinal fazia tanto tempo que ele não as dizia, fazia tanto tempo que ele, Taehyung, não era abraçado pelo outro como estava sendo agora, que ele se deixou ficar. Seu ômega estava lhe abraçando como há muito tempo não o fazia, e ele queria aproveitar isso. Mesmo que nada mais durasse, ele iria eternizar aquele momento em seu coração. Porém ao sentir o cheiro do outro, notou que estava diferente, mais acentuado. Jungkook logo entraria no cio. Ele se levantou e sem olhar para o mesmo, foi até o quarto, abriu a gaveta de cuecas de Jeon e pegou o frasco que tanta dor havia lhe trazido ao achar, os inibidores de cio. Jungkook havia começado a tomar tais remédios sem falar consigo antes.
Ele voltou com passos resolutos para a sala e desfez o caminho até a cozinha. Pegou um copo com água e o levou até o marido.
— Tome Jungkook, deve fazer efeito ainda.
Jungkook olhou para o frasco nas mãos do alfa, e gemeu, Taehyung havia achado os malditos remédios.
— Tae, não é isso que você deve estar pensando...
Taehyung não disse nada. Apenas se sentou na cadeira em frente ao ômega e olhou para ele.
— Tae…
— O que Jeon? Eu ouvi tudo que você disse, e eu consigo entender essa sua necessidade, quantas vezes eu não mostrei achar injusto que tratem ômegas, betas e alfas diferentes, e que não há sentido nisso? Eu sempre te dei meu apoio Jungkook, sempre estive na primeira fileira, te mostrando que eu sempre estarei aqui por você, mas quando isso deixou de ser importante?! Quando você me deixou pelo caminho?
Jeon queria gritar, queria dizer ao seu alfa que ele não havia o deixado pelo caminho, que ele nunca iria fazer isso. Mas foi tomado pela dor, uma dor mais forte que antes. E então o cheiro de tangerina encheu a sala, seu cio havia realmente chegado.
Taehyung o olhou sério, seus olhos dilatando, e o pegou no colo, Jungkook sorriu em alívio, alívio este que se desfez quando o alfa o deitou na cama e pegou outro remédio, que Jeon reconheceu como para dormir.
Então notou que se ele evitava seu próprio cio, Taehyung também estava sem o dele. Com dor no peito, pegou o remédio que o alfa oferecia e o bebeu, poucos minutos depois, dormiu.
Taehyung não queria ficar ali, não queria olhar Jungkook, mas não conseguia se afastar, seu lobo chorava de tristeza, ele também já havia se conformado em perder o ômega. Ambos haviam fracassado. Então ele fez a única coisa que poderia. Deitou ao lado do marido e o abraçou, ficou contando as pintinhas do mesmo e pegou no sono.
Ele não sabia o que o tinha acordado, não até sentir Jungkook lhe beijar, o marido havia acordado...
— Gukkie, não...
Jungkook gemia baixinho, ele sentia dor.
— Eu sei que você me odeia Tae, mas me ajuda, ta doendo, doendo demais...
Taehyung nunca havia conseguido negar algo ao marido, Gukkie era sua força e a sua fraqueza, então com um gemido, o alfa se rendeu; ele beijou Jungkook com todo amor, cuidado e proteção, seu lobo assumindo algum tempo depois, e dando ao ômega o que ele precisava. O que ambos precisavam. Jungkook gemia com as investidas do marido, seu corpo sendo tomado pelo prazer enquanto sua alma era tomada por amor.
Taehyung sempre seria seu ponto mais brilhante, e ele sempre seria a constelação favorita do alfa. Ambos sentiam isso, o cio era algo carnal, mas nunca para eles, eles nunca seriam apenas carnal na vida um do outro, eles haviam sido o primeiro um na vida do outro, haviam sido os únicos um na vida do outro e com alguma ajuda do universo assim findariam. Sendo únicos para o outro.
[...]
Jungkook acordou antes de Taehyung três dias mais tarde, o marido ainda dormia de forma tranquila. Sorrindo, o ômega foi até o banheiro e se olhou no espelho, então notou a marca, Taehyung havia lhe marcado de novo, e ele sabia que havia retribuído, ambos os lobos haviam se marcado. Além do J&T, Jungkook agora levava consigo a marca de dois lobos entrelaçados. Não era uma marca comum, e ele se perguntava porquê justo agora, quando eles estavam mal.
Ele sentiu a presença de Taehyung, e logo depois o alfa entrou no banheiro.
Ambos se olharam, Jeon com vergonha, Taehyung com receio, mas ambos inegavelmente com amor.
— Precisamos conversar, Jungkook.
Eles tomaram banho e desceram, Jungkook fez o café da manhã, enquanto Taehyung apenas lhe observava. Ele sorriu ao ver Jungkook franzir o nariz para a cebola que cortava, sorria ao ver o ômega coçar a perna com o pé, ao ver a maneira confortável que ele andava pela cozinha apenas com a larga camisa — era como se eles houvessem voltado no tempo, lá no início do casamento.
Eles comeram em silêncio, não um silêncio estranho, mas tampouco confortável. Taehyung lavou a louça do café, afinal, Jeon havia cozinhado. E então ele foi para a sala e chamou o ômega.
— Jungkook, como ambos vimos, nossos lobos se marcaram, eu não sei por qual razão, mas eu prefiro achar que eles querem nos dar uma chance. Eu estive com meu advogado… Conversei com ele e dei entrada no pedido de divórcio — murmurou. — Não dá mais pra continuar assim, eu não quero algo de fachada, eu não quero ser infeliz, e não quero que você seja infeliz comigo Gukkie. Então, eu não sei qual vai ser a sua decisão, seja qual for, eu estarei aqui, com ou sem você, para ou por você, mas acima de tudo, eu estarei aqui por mim.
Jungkook olhou o marido subir as escadas e abriu o envelope, reconheceu o escritório do advogado e sentiu seu coração falhar ao ver que eram realmente os papéis do divórcio. E eles já estavam assinados por Taehyung.
Chorando baixinho, olhou para a aliança de prata na mão, e lembrou de cada detalhe desde que havia conhecido Taehyung. Decidido, pegou um caderno e passou a escrever.
“Tae, eu nunca poderia me arrepender de te amar, te ter casado com você, te ter dado meu coração ao homem mais curável do mundo, o meu melhor amigo, o meu complemento perfeito. Eu não sei onde foi que eu me perdi, em que momento me tornar alguém respeitável, alguém conhecido se tornou maior que tudo. Mas nunca, acredite em mim, nunca foi algo com você. Eu te amo meu TaeTae, isso nunca foi posto em prova, eu ainda sou apaixonado pelas suas pintinhas, pela sua voz ainda mais rouca ao acordar, pelo seu sorriso retangular, eu sou apaixonado pelo seu jeito único de dizer bom dia, seu jeito único de queimar o frango por fora e deixar ele cru por dentro. Eu sou apaixonado pelo seu toque, pelo seu gosto, pelo modo como protege meu corpo do vento... Uma vida inteira não seria o bastante para te dizer ou mostrar o tamanho do meu amor. Mas eu entendo, entendo que ferrei tudo, grande surpresa, não é? Vindo de um ômega conhecido por falhar. Então amor, eu aceito a sua decisão, mesmo não sendo a minha, eu aceito, por não querer ser a razão da sua infelicidade, não quando você não é a razão da minha. Seja feliz Tae, sempre foi a única coisa que eu quis. Acho que, dessa vez, eu entendo a sua amada Adele...
"Às vezes o amor dura, mas às vezes ele machuca..."
E eu te machuquei... Eu nunca quis isso, ambos sabemos que no fim eu perderei, no fim eu virarei história, mas sabe Tae, quando eu chegar lá, e me perguntarem do que eu não me arrependo, a única resposta será você. Eu nunca vou me arrepender de você. Seja feliz Taehyung, seja tão incrível quanto você puder ser.”
Jungkook pegou os papéis e assinou depois sem hesitar — embora sentisse dor —, pegou as chaves e saiu. Só havia um único lugar onde poderia ir.
Taehyung desceu algum tempo mais tarde e não viu Jeon, mas viu os papéis em cima da mesa, sentindo o coração acelerar, ele os pegou, e viu que o ômega havia assinado. Era o fim, Jungkook não queria mais estar ligado à ele. Entretanto, ele notou aquele papel dobrado e as palavras nele o fizeram se curvar, a marca doía...
[...]
Jungkook estava na casa de praia já há alguns dias. Taehyung havia o ligado várias vezes, no entanto ele não conseguia falar com o marido, ou precisamente, ex-marido, ele não se sentia bem o bastante para isso. Jungkook havia pedido licença do hospital, por tempo indeterminado, avisado a amigos e familiares próximos que viajaria e lá estava ele; na mesma praia onde havia conhecido Taehyung, quando tinham nada mais que 3 e 5 anos, e se tornado inseparáveis desde então.
Jungkook sabia que uma hora teria que falar com Taehyung, ainda mais com sua gravidez. Sim, ele havia engravidado no cio, mas ainda não estava pronto para ter a confirmação do fim. Ele voltava da caminhada na praia, quando algo — ou melhor, alguém — o fez parar. Sentado na cadeira da varanda, estava Taehyung.
— Tae...
Ele não conseguiu dizer mais nada, pois Taehyung o abraçou forte, e o calou com um beijo.
— Porra Gukkie, como você me deixa assim? Como? — Taehyung se aproximou dele um pouco e cheirou seu pescoço. — Gukkie, por acaso... Esse cheiro...
Jungkook se afastou e pegou a mão de Taehyung, levando a mesma até a
própria barriga.
— Sim Tae, estou grávido… Pode não ser o que você quer, o ideal, mas eu tô tão feliz...
Taehyung o calou com um beijo.
— Gukkie, nós vamos ter um bebê? É isso?
Jungkook assentiu.
— Vamos ter um bebê sim, mesmo estando separados.
Taehyung ficou sério. E segurou o rosto de Jungkook.
— Eu rasguei os papéis amor, eu tô tentando como um louco te dizer isso.
— Então....
— Sim, seu idiota, nós estamos casados.
Os dois riram, se beijaram, conversaram e se amaram. Jungkook e Taehyung tiveram uma segunda chance, uma chance de avaliar seus erros, reconstruir seu amor e compartilhar alegrias. E alguns meses mais tarde, eles compartilharam o nascimento de seus dois bebês, um alfa e um ômega. Então os quatro compartilharam uma vida de amor, conversas e cumplicidade.
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