Capítulo III ➸ Dúvidas.
— Você só pode estar de brincadeira! — Ela praticamente gritou. Todos que estavam no apartamento a olharam, mas não comentaram nada. E nem deveriam. Hinata estava no total direito de surtar. — Ótimo! Estou sendo perseguida por um assassino que é chaveiro.
— Acredito que ele é muito minucioso. Já deve ter feito isso a muito tempo, planejado e arquitetado tudo.
— Ah! — Ela forçou um sorriso, mas que parecia uma careta. — Então esse assassino tinha livre acesso ao meu apartamento por quanto tempo? Dez meses? 1 ano? 3 Anos?
Hinata abraçou o próprio corpo, cansada demais. Se sentou no sofá e observou enquanto a perícia fazia seu trabalho. Estavam coletando qualquer coisa que fosse útil para descobrir impressões digitais. Hinata duvidava muito que esse assassino fosse ser tão burro a ponto de não usar luvas.
Suas mãos tremiam tanto que não conseguia fazê-las parar. Queria beber algo forte. Algo forte o suficiente para fazê-la esquecer daquele pesadelo real. Sua cama havia sido coberta de sangue. Sangue humano ou animal, não fazia ideia. Mas que aquilo era uma mensagem, ah... isso era. O assassino está atrás dela. Ele a quer. Quem é ele? Por que ele está fazendo isso? Não que deseje o mal para outra pessoa, mas por que tem que acontecer com ela? De novo?
A cada momento que olhava para sua pele, seus braços, e suas roupas – mesmo trocadas –, ainda conseguia ver o sangue vermelho e espesso cobrindo-lhe como um véu. Gritou tão alto a ver o sangue que dez segundos depois Naruto já estava na porta do seu apartamento, praticamente esmurrando e não ligando se quebraria. Kizashi ligou para Hanabi, mas que só viria depois. Hinata se sentia em uma gaiola sendo observada. Mas havia tantas perguntas...
Por que só depois de cinco anos? Esse assassino tem alguma ligação com o Escultor? Por que ele está fazendo isso? Quer vingança? Quer terminar o trabalho? Aquelas perguntavam martelavam na sua cabeça sem parar. Estava ficando paranoica. Louca. Estava perdendo o controle.
Era quase seis da manhã e ia fazer vinte e quatro horas que Hinata não dormia. Fora as outras noites que, ou ficava no IML, ou não dormia por causa dos pesadelos. O peso da insônia estava nítido no seu rosto, que outrora fora tão belo, agora estava destruído, triste, melancólico.
— Você precisa ficar na casa da sua irmã. Esse apartamento não é mais seguro. — Kizashi anunciou. Naruto, Hinata e Sasuke olharam para ele, mas a diferença de expressões era significativa.
— Como é? — Estava irritada demais. — Você acha que vou por minha irmã e o noivo dela em perigo? Acha que vou estar segura lá? Esse filho da puta tinha a porra da chave da minha casa! Como? Não faço ideia! Agora me diz. Me diz se eu devo ficar lá.
— Fique na minha casa então. — Kizashi ofereceu, ferido por ter sido tratado daquela forma, mas não a culpava.
— E colocar a Mebuki e a Sakura em perigo? Nunca me perdoaria se acontecesse algo com as duas. Você sabe disso. — Falou tristemente. — Não tenho para onde ir. Qualquer lugar que eu vá estou correndo perigo. Aquele sangue na minha cama é a prova disso.
— Você pode morar ao lado do meu apartamento. Até onde eu sei, está vago. Posso conversar com o meu superior, ele vai entender. — Sasuke ofereceu. Naruto o olhou de soslaio. Não conhecia o parceiro que Kakashi, seu superior, lhe achou. Mas não gostava dele, havia algo em Sasuke que não cheirava bem.
— Hinata vai para o Brasil. — Naruto falou. Sasuke abriu a boca para dizer algo, mas a fechou e olhou para Hinata, que parecia estar pensando em algo.
— Não. — Ela se levantou, resignada. — Não faz sentido. Não faz sentido fugir. Ele vai atrás de mim. Vou ficar e dar toda a minha ajuda nesse caso. — Então ela abriu um sorriso agradecido na direção de Sasuke. — Obrigada, mas não será preciso. Vou ficar aqui mesmo.
— O que? — Naruto estava perplexo.
— Já disse que não importa para onde eu vá, ele vai atrás de mim. Então vou ficar aqui. Vou esperar por ele.
— Isso é suicídio Hinata! — Kizashi alertou, totalmente contra aquela decisão.
— Nós já fizemos a perícia pelo local. Vamos saber do que é aquele sangue até o fim dessa tarde e se encontrarmos algo revelador, ligaremos. — O perito interrompeu a conversa, sem se importar. — Srta Hyuuga, peço que durma em outro lugar hoje. O seu apartamento virou cena de crime, até limparmos e sabermos do que se tratava o sangue, ficará interditado.
— Tudo bem, vou ficar com minha irmã. — Ela disse. Notou o olhar de Kizashi e revirou os olhos. — Só enquanto meu apartamento estiver indisponível.
Sasuke observava enquanto Hinata conversava com o delegado. Ela era um mistério, não poderia negar isso. Quando Asuma o designou para esse caso, ficou interessadíssimo ao saber que se tratava da Hyuuga. Isso porque seu nome correu por diversos sites de notícias, televisões e jornais. Ela havia se tornado famosa e mesmo assim ainda se mantinha nas sombras.
Ele queria entender Hinata. Queria conhecê-la. Queria isso mais do que resolver esse caso.
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— Mas você é tão exagerada, Hanabi! — Hinata revirou os olhos e colocou um pedaço de bolo na boca. Observou a irmã de soslaio, que a olhava com raiva.
— Eu não entendo porquê você não quer ficar aqui! Você pode. Konohamaru nem liga, ele mesmo que falou sobre isso antes de mim. Mas tu’ é muito chata mesmo. — A Hyuuga mais nova fez bico e cruzou os braços.
— Você parece uma criancinha. — Hinata disse e gargalhou quando a irmã se empertigou. Algo que Hanabi odiava era ser comparada com uma criança pela irmã mais velha. Apesar da diferença de cinco anos, Hanabi já era muito mais madura que Hinata em diversos aspectos.
— Você vai mais tarde na sua consulta, não vai? — Hanabi mudou de assunto. — Quero ver você lá. Sem desculpas.
— Dessa vez eu vou, sem joguinhos. — Hinata levantou as mãos em sinal de rendição. — Preciso mesmo conversar.
— Sério? — Os olhos da mais nova brilharam. Odiava quando Hinata dava desculpas para furar com as sessões de terapia. — É bom falar sobre o que aconteceu. Vai te fazer bem.
— Ah, que nada! — Hinata balançou uma mão e sorriu de canto. — Não vou falar sobre aquilo. Vou falar sobre o agente que está nesse caso.
— Qual dos dois? — Hanabi parecia mais animada. — Você é uma safada mesmo! Mas vai, sem esconder nada, qual dos dois fez seu coração bater mais rápido?
— Naruto. — Sentiu as bochechas ficarem vermelhas.
Entretanto, não tinha tanta certeza assim.
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Decidiu seguir os conselhos de Hanabi e resolveu dar uma volta pela cidade. Principalmente no Parque Central. Era o único lugar que Hinata podia ir e sentir uma leveza incrível enquanto observava famílias alheias. Entretanto, queria voltar para o seu apartamento e limpar aquele lugar de cima a baixo. Os tetos, as paredes, o chão e trocar os imóveis, mesmo que isso custasse caro. Não consegue lidar com o fato de que esse copiador tinha as chaves do seu apartamento. Ele poderia estar observando tudo o que ela fazia. Tudo. Agora mesmo que não conseguiria mais dormir, nem mesmo por míseros minutos.
Não consegue se lembrar da última vez que teve uma noite de sono completa. Que suas energias foram recarregadas e seus olhos estivessem bem atentos a qualquer situação ao seu redor. Todo o seu corpo parecia estar em câmera lenta e por mais que tentasse disfarçar com maquiagem, ainda era perceptível todo o caos que seu rosto se encontrava.
Estava um belo dia e precisava de sol. Precisava de vitamina. Suas amigas haviam desistido dela. Literalmente. Pararam de ligar, mandar mensagens e até mesmo perguntar se estava bem. Não ficou surpresa quando não recebeu o convite de casamento de Shizune. Afinal, quem ia querer alguém com uma cara de morta em um dia que era para celebrar a união e o amor?
— Sasuke? — Suas sobrancelhas se uniram ao ver o agente agachado próximo a uma árvore com uma câmera fotográfica apontada para o lago do Parque. Ele deixou a câmera cair e Hinata segurou a risada enquanto ele se levantava de forma desajeitada. — Te assustei?
— Não. — Ele mentiu. Passou a manga da jaqueta de couro na lente da câmera e depois observou Hinata com mais atenção. Ela já era bonita usando o uniforme verde de trabalho, então não poderia ser diferente ao usar um vestido florido. O sol deixava seus cabelos azulados mais intensos. — O que faz por aqui?
— Estou aproveitando o dia. — Respondeu apontando para cima, na direção do sol. Apontou com o queixo para a câmera dele e sorriu. — Você estava tirando fotos?
— Parece que sim. — Ele encolheu os ombros devagar. — Você não pode contar isso para ninguém.
— Hummm... — Ela abriu um sorriso debochado. — Parece que eu descobri seu pior segredo. Acho que tenho algo para usar contra você.
— Está querendo dizer que vai chantagear um homem da lei? — Ele levantou a sobrancelha esquerda e Hinata arfou mentalmente. — Isso é contra as regras, Srta Hyuuga.
Nunca negaria que Sasuke é um pedaço de mal caminho. A forma como ele olha é audaciosa e superior, um típico arrogante.
— Perdoe-me, não quis passar essa impressão. — Ela fez uma expressão de inocente, mas depois riu. — Mas então, me conte mais sobre esse hobbie.
— E por que eu deveria fazer isso? — Perguntou pendendo a cabeça para o lado.
— Bom, hã... — Ela piscou algumas vezes. — Tudo bem, esquece.
— Eu tiro foto a uns dez anos, acho. — Falou pegando Hinata de surpresa. — Na verdade, quando era mais novo, eu queria ser fotografo. Mas meu pai achava que isso não era coisa para um membro da família Uchiha.
— Isso me parece preconceituoso.
— E muito. — Ele concordou. — Mas enfim, eu só levo como um hobbie mesmo. Quando não tenho nada para fazer gosto de tirar fotos aleatórias.
— Muito interessante. — Sasuke notou que ela estava sendo sincera e aquilo lhe agradou, mesmo que seu interior não gostasse muito daquela sensação. — Posso ver suas fotos?
— Não. — Ele respondeu. Hinata fez uma expressão de desanimo. — Eu deixo você ver se aceitar tomar um café comigo agora.
— B-Bom... — Hinata engoliu em seco, se amaldiçoando por ter gaguejado. Aquele convite a pegou totalmente de surpresa, não esperava recebê-lo —... É claro, eu aceito.
— Você conhece algum lugar aqui perto? Eu convidei você para tomar um café e nem sei se tem isso por aqui. — Ele riu nervosamente e Hinata achou fofo.
— É claro que tem! — Ela riu. — Conheço um lugar muito bom. Faz um tempo que eu não vou lá, mas fica a uns dez minutos daqui do Parque.
— Hinata. — Ele a chamou com seriedade. Ficou por alguns segundos perdida nos olhos escuros e intensos dele. — Acho que vou tirar umas fotos suas.
— O-Oque? — Praticamente gritou. — M-Meu Deus! Você vai me matar de vergonha. Por favor, pare...
— Estou brincando. — Ele levantou as duas mãos em sinal de rendição. Os dois começaram a andar. — Mas talvez eu faça isso. Você não vai me processar, vai?
— Vou sim! — Tinha certeza que suas bochechas estavam vermelhas.
— Você fica muito bonita assim...
— Sasuke! — Ela deu um leve empurrão nele. — Daqui a pouco vou parecer um pimentão.
— Eu gosto de pimentão. Fica muito bom ao misturar na comida. — Ele continuou provocando-a.
— Ai, pelo amor de Deus! — Mas Hinata não conseguia deixar de sentir seu interior esquentar. Se sentia normal de novo, mesmo que isso durasse por pouco tempo, porque sabia que assim que voltasse para a solidão de sua casa, toda a dor voltaria novamente.
Abriu a boca para falar algo, mas seu celular tocou, assustando os dois. Mexeu de forma impaciente na bolsa até encontrá-lo. Queria ignorar a chamada, mas quando viu o nome de Hana Inuzuka brilhar na tela do celular, se desculpou com Sasuke e atendeu.
— Hinata Hyuuga? — A voz feminina de uma antiga amiga e também colega de trabalho trouxe sentimentos ruins.
— Oi, Hana. — Cumprimentou, mesmo que a contragosto. Gostava da mulher, mas ela fazia parte de um passado que Hinata tentava superar. — Como você está? Por que me ligou?
— Preciso falar algo para você. Olhe, sei que deveria dar essa informação para a polícia, mas considero você uma amiga. — Ouviu vozes do outro lado da linha, um silêncio e novamente a voz de Hana se fez presente. — Além de ser muito especial para o Kiba...
— Claro! — Sorriu. — E como ele está? Se estiver aí com você, diga que estou com saudades. Mas você não me ligou para falar sobre isso.
— Não. — A mulher suspirou. — Quando Kiba soube que uma perícia foi feita no seu apartamento, ele quis fazer as análises por si só. E eu o ajudei. Nós encontramos duas coisas. Assim que eu desligar esse telefone, vou ligar para o agente do FBI que deixou o número, mas você tem que me prometer que não vai contar sobre isso. É ilegal o que estou fazendo... quer dizer, eu e o Kiba.
— Sim, sim... — olhou para Sasuke de soslaio, não queria dizer que estava com um agente do FBI, mas sua curiosidade estava grande demais para pensar em ser ética. — O que foi? O que vocês encontraram?
— Primeiro: o sangue que estava na sua cama mais cedo. São dois tipos de sangues diferentes. O primeiro é tipo A- e o segundo é O+. — Sentiu sua respiração falhar, mas continuou firme, esperando que a mulher na outra linha continuasse: — É sangue humano, Hinata. De uma mulher e de um homem. Você já deve saber de quem é.
— Sim, eu sei.
— Mas acredite, isso não é o pior. — A linha ficou muda por alguns segundos. — Encontramos uma digital além da sua. Na maçaneta.
— Não acredito, está falando sério? — Podia sentir uma alegria inundar seu peito. Não imaginou que o assassino pode ser tão burro assim, mas se eles encontraram uma digital além da dela, só poderia ser dele. Esse caso se resolveria mais rápido do que imaginou. — De quem? Hana? De quem? Me diga!
— Isso que é estranho, Hinata. — A voz preocupada da mulher tirou toda a sua empolgação em menos de segundos. — Nós achamos que essa digital fosse do assassino e bom... pode até ser. Mas não sei. Ou nossa análise estava errada, Hinata... ou tem algo estranho. Muito estranho.
— Por que?
— A digital que encontramos é de Danzou Shimura. O Escultor.
— Isso é impossível... — Hinata bradou, totalmente confusa. — Ele está morto!
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