História Teia Negra - Carta escrita a sangue

Capítulo XIV ➸ Carta escrita a sangue.

Boston;

24 de Maio; 00h02...

— Obrigada. — Era a quinta vez que agradecia e, como as outras vezes, Hidan apenas sorriu e deu de ombros.

Estavam na porta do apartamento, Hinata no lado de dentro e Hidan de fora. Talvez ele esperasse que ela o convidasse para entrar, ou talvez esperasse que ela tomasse a iniciativa para se despedir.

— Você quer entrar? — A voz suave preencheu o silêncio, mas era bem nítido que Hinata não queria companhia, mas sim ficar sozinha. E ele respeitava isso.

— Não, acho melhor eu ir. Já está tarde. — De fato, passava das 23 horas e os dois, mas principalmente Hinata, estavam exaustos.

— Obrig...

— Já disse que a culpa foi minha. Eu deixei você pra ir atrás de um barulho que, na verdade, era um esquilo. Quero dizer, acho que era. — Ele pigarreou. — Mas enfim, não precisa me agradecer. 

Hinata o abraçou novamente e se afastou com as bochechas vermelhas. Novamente o agradeceu e então se despediu, fechando a porta e encostando-se nela. Respirou devagar e fechou os olhos. Procurou o celular na bolsa e observou a tela reluzir, havia chamadas e mensagens.

— Ah. — Observou três chamadas perdidas de Sasuke. Ignorou a consciência que dizia para ficar sozinha e discou o número, ligando logo em seguida. Foram exatos três bipes para ele atender. — Oi.

Silêncio.

— Você me ligou. — Tentou novamente, esperando que ele dissesse algo.

— Sim. Você está ocupada? Pensei que estivesse dormindo já que não retornou minhas chamadas. 

— Não estou.

— Posso ir até aí?

Novamente fechou os olhos, sentindo uma dor estranha no peito. Queria ficar com ele? Realmente queria ter Sasuke ali? Chegava a ser engraçado que, até noite passada, ter Sasuke em seu apartamento era a única coisa que seu corpo e sua mente almejavam. Mas agora... não sabia se queria ele. Exatamente ele.

Talvez não estivesse interessada em Sasuke, talvez Sasuke não servisse para esse momento...

Céus, sentia-se uma idiota. Estava realmente fazendo isso? Rotulando Sasuke para cada momento que precisasse dele? Isso era tão... podre. Como se tornou essa pessoa? Hinata de cinco anos atrás estaria muito decepcionada.

— Desculpe... eu... quero ficar sozinha essa noite. — Mordeu o interior da bochecha, esperando a resposta.

— Certo. — Um silêncio desconfortável até Sasuke acrescentar: — Se cuide. Boa noite.

E com isso, desligou o telefonema.

Observou a tela do celular piscar e o número de Naruto reluzir, ele havia deixado duas mensagens de 1 hora de intervalo entre elas.

Mas decidiu que não faria isso. Não ligaria para ele, mesmo que seu coração quisesse muito. Decidiu que, essa noite, ficaria sozinha e lidaria com seus pesadelos.

(...)

‘’5 anos atrás...

Sinto-me diferente, encaro minhas mãos e não consigo sentir nada. Não sinto medo, remorso ou culpa. Não, na verdade, sinto algo sim. Sinto-me superior. Por que eu sou, não sou? A vida dela está em minhas mãos agora. A mulher desconhecida chora, implora e se contorce na mesa.

Ela pede para que eu pare, mas o poder da decisão está em minhas mãos. Sim, é isso, essa sensação, esse sentimento de sentir-se superior, sentir-se um deus. Posso fazer o que quiser com ela, porque tenho esse poder. Então começo pela boca, costuro enquanto ainda está viva porque a sensação é surpreendente.

Ela chora mais, tenta gritar e mexer-se para me atrapalhar. Nada me para. Sou imparável. Mais sangue jorra enquanto continua a costurar e mais ela se desespera.

Porém, enquanto encaro seus olhos marrons arregalados e dolorosos, percebo que não são eles que quero ver.

Paro;

Respiro;

Fecho os olhos;

Inspiro;

Abro os olhos.

E aqui, deitada na cama, com olhos assustados, está a mulher ideal. Hinata Hyuuga. E a reação dela, enquanto provoco-lhe dor e mostro que sou invencível é... excitante.

Porém tudo some. Volto a realidade e me deparo com outra pessoa. Ódio me percorre e preciso me afastar para perceber. Perceber que esse jogo... esse jogo que criei precisa de um fim.’’

(...)

Acordou com o som incessante da campainha. Olhou para o relógio na cabeceira ao lado da cama, era quase dez da manhã. Não seria adequado dizer que era cedo, porque há poucas semanas acordava às sete da manhã pra ir trabalhar, mas agora... sem emprego, sem um propósito de vida, sem nada para fazer, acordar às dez horas da manhã era seu mais novo considerado cedo.

Foi até o banheiro e fez a higiene às pressas, observou que as marcas rochas – chupões – estavam menos visíveis do que antes, colocou o roupão vermelho que estava a um tempo guardado no armário e foi até a porta, o puxou para cima na intenção de cobrir o pescoço. Ao abrir, não deu de cara só com Sasuke, mas também com Naruto. Suas expressões não eram nada acolhedoras, estavam apreensivos e possivelmente... irritados?

Sentiu certa vergonha por não ter se preparado, a cara amassada e o cabelo desgrenhado não lhe davam um ar muito bonito.

 — O que houve? — Perguntou ainda sonolenta, tentou ao máximo evitar de encarar Naruto por mais de três segundos. Não depois de dispensá-lo para ficar com Sasuke. E também ignorar as mensagens dele.

— Você está sozinha? — Sasuke quem falou, Naruto ainda permanecia em silêncio, talvez com vergonha? Difícil de saber.

— Sim, estou. O que foi?

— Ligue no canal do noticiário local. Agora. — O tom de voz fez Hinata arregalar os olhos e se apressar até a pequena sala, ligando a televisão em seguida.

Os dois agentes entraram no apartamento e Naruto fechou a porta. Eles se aproximaram, mas um em cada canto. Sasuke quem mais ficou próximo, quase sentando-se ao seu lado, mas ele achou melhor permanecer em pé.

— Dá pra me falar o que... — E sua fala se perdeu ao olhar a mulher de longos cabelos vermelhos na tela da televisão, enquanto olhava para a câmera. Do lado, um quadrado com a imagem de alguém sem rosto e um grande ponto de interrogação.

Então, na legenda, estava escrito em letras amareladas a seguinte frase: ‘’Mais uma obra do misterioso serial killer ou alguma pegadinha?’’ Teria achado aquilo bem infantil e sem criatividade se não estivesse tão chocada. Aumentou o volume no máximo, não se importando. Mesmo no 100, parecia estar mudo.

— Eu não deveria estar falando disso, é antiético, mas já acionamos a polícia e eles estão vindo para cá. A perícia também. No entanto, nosso compromisso com os cidadãos de Boston vale muito mais. — A apresentadora do telejornalismo falou. — Nós recebemos uma caixa. Claro, foi há algumas horas. Mas só abrimos agora. O que encontramos nessa caixa deixou todo mundo aqui, principalmente eu, assustados. 

Não, ela não parecia assustada, mas sim empolgada. Empolgada porque o que tinha a dizer a deixaria muito famosa na internet. Seria um passo certo para a decolagem da sua carreira. Afinal, tudo se resumia a isso, não? Sucesso. E o olhar daquela apresentadora era um só: ambição. 

— Estou indo contra as regras, mas sinto que é preciso. Nosso canal tem compromisso apenas com você, que está assistindo. — Ela respirou, fez a melhor encenação de tristeza e falou: — Recebemos partes de um corpo humano dentro de uma caixa. Com uma carta. Era por volta das sete da manhã. Eu pensei que era um presente de algum fã, mas me surpreendi ao abrir e ver que não. 

As palavras de Kabuto vieram na sua mente como um flash certeiro e doloroso. Era óbvio. Óbvio que isso aconteceria. Mas por que mandar para a televisão? Qual o sentido?

— Era horroroso. Uma coisa que me deixou... péssima. Não sabemos de quem é, mas temos certeza de que talvez seja de uma das recentes vítimas do Copiador. — Ela então ajeitou os óculos e tossiu levemente. — Chamei Kabuto Yakushi, o legista que agora faz parte da situação. Ele não quis dar entrevista, mas confirmou que fez a autópsia de uma vítima que estava com pedaços do corpo faltando. Não vou falar seu nome aqui, é desrespeitoso, mas fica minhas condolências a família dessa mulher. 

Uma pausa.

— Chamei um especialista para nos ajudar com a situação. —  Ela olhou para o lado e abaixou a cabeça, como se assentisse para alguém por trás das câmeras. Logo em seguida um homem apareceu, ele caminhou até ela e se sentou em uma cadeira improvisada. Não via muito a televisão, mas nas vezes que viu a esse jornal, só havia a bancada para a apresentadora. Ele se sentou bem confortável e sorriu para ela. —  Esse é Ebizo Baki. Ele é um especialista em psicopatia. 

— Obrigada por confiar em mim. — Ele continuou sorrindo, como se o mundo fosse perfeito e colorido. Hinata odiou aquilo. — Trabalho e estudo isso há vinte e cinco anos. E mesmo assim sinto que estou longe de entender a mente humana. 

— Você pode classificar o autor dessa carta? É claro, se for quem estamos pensando. — Dessa vez a mulher não olhava para as câmeras.

— É alguém que precisa de atenção. Qualquer resquício de esquecimento o faz ficar com raiva, então ele precisa ter a atenção. — O homem de meia idade continuou falando com um sorriso de dar enjoo. — Eu só não sei te dizer se é a atenção de uma única pessoa ou de várias.

— Como assim? 

— É simples, veja: — ele se empertigou na cadeira, como se fosse contar um segredo valioso — Um psicopata que é serial killer tem sempre um passado preocupante. Sofreu algo que o marcou muito, entende? Abusos verbais, abusos físicos, agressões... enfim. Um psicopata que mata por diversão é só alguém que precisa de tratamento, mas um psicopata que mata com um objetivo único precisa de atenção. Por exemplo alguém que mata apenas mulheres. Por quê? Talvez problemas com a mãe? Com a irmã? Enfim, é tudo um ciclo.

— Acho que entendi. — Ela sorriu satisfeita. — Você está querendo dizer que esse assassino tem um problema com alguém. Unicamente, certo? E que talvez essa carta não seja para nós, mas sim alguém. 

— É. — Ele assentiu. — Baseado no que eu tenho até agora, esse assassino se inspira em alguém que morreu. Pode ser só um fanático qualquer, é claro, mas talvez alguém muito íntimo. De qualquer forma não posso dizer muito sem antes ver o que está escrito nessa carta. 

Silêncio. Naruto e Sasuke não disseram uma palavra. A mulher na televisão pigarreou e concordou. 

— Peço para que prestem atenção. — Ela olhou intensamente para a câmera, como se pudesse ver além dela. — Acho que já posso ser considerada parte do caso, né? — Ela riu como se contasse uma piada engraçada.

Então ela fez uma pausa e o som cortou, os lábios dela se mexiam freneticamente como se falasse com alguém.

— Desculpem por isso. Meu chefe disse que eu não deveria, que é perigoso, mas...  — Hinata queria vomitar diante de tanto teatro. — Já tivemos muitos casos de psicopatas que mandaram cartas para a imprensa, a fim de contar um pouco sobre eles ou até mesmo assustar alguém. Eu acredito, sem receio algum, que essa carta, vinda com dois dedos humanos, seja do Copiador.

— Acho que... — Colocou a mão na boca, segurando-se para não vomitar.

— Eu vou ler agora. — Então ela levantou um papel amassado e respirou fundo. Estava usando luvas transparente, certamente pra não estragar uma pista importante. — A carta está com umas manchas vermelhas, acho que é...

Sangue. 

Uma pausa e então a mulher trincou o maxilar, nervosa. Sim, dessa vez era verdade, ela estava nervosa e assustada, não mais fazendo teatro. E estranhamente isso fez Hinata ficar bem. Qual era o seu problema? Por que estava bem com isso? 

— ''No momento que essa carta for recitada, estarei fazendo minha próxima vítima. Talvez a escolhendo ainda. Eu sou louco por isso? Sou um monstro por matar alguém? Então me digam, quantas vezes vocês sentiram a necessidade de machucar alguém? Perguntem-se se vocês também não são monstros. E deliciem-se com a resposta.'' — A apresentadora parou de falar e encarou Ebizo, mas ele estava mais interessado no conteúdo do que qualquer outra coisa. — ''Eu me questionei... por anos... se o que Danzou fazia era certo. E eu fiz. Eu provei. É incrível. Danzou não era louco, pelo contrário. Ah, permitam-me dizer, eu não gosto de Copiador. Na verdade, odeio.''

— Ele odeia porque não quer ser lembrado como alguém que copia. — Ebizo interrompeu a fala dela, entretido com aquilo. É como se fosse um prato cheio de informação. — O Escultor... claramente é alguém muito importante para o Copi... — ele tossiu — para esse serial killer. É, por exemplo, dizer que você copia o trabalho de alguém que você admira. Na verdade, pode até ser considerado uma cópia, mas para você é mais como uma inspiração. 

— ''Matar pessoas é quase tão divertido quanto brincar. Quero dizer, eu não sei. Eu nunca brinquei. — Hinata não sabia como, mas no seu interior sentiu que enquanto o assassino escrevia essa parte, ele sorria. — Eu estou sempre um passo a frente. Eu posso matar quantas pessoas eu quiser e ninguém vai descobrir. Eu sei exatamente o que estou fazendo. E sei exatamente o que eu quero. E minha única vontade é enterrar Hinata Hyuuga ao lado da cova de Danzou Shimura...

O coração de Hinata falhou uma batida. 

— Então vamos lá Hinata, procure por mim. Vá até a cabana. Continue fazendo autópsias. Tranque-se em casa ao tardar da noite. Tenha medo daqueles que você recém conheceu. Desconfie das pessoas que você ama. Eu estou tão perto que posso tocá-la a hora que eu quiser e você... você não vai sobreviver dessa vez. ''