"Uma coisa que as pessoas amam é julgar.
Ah, elas julgam, e julgam sem ligar para o bom senso ou pensar no que o julgamento causa em seu alvo. Rótulos são dados por ciúmes, por amor, por raiva... Julgar é algo que o ser humano, mesmo evitando, faz.
Kate tem lidado com isso a vida toda."
Point Of View: Harry Styles
Seria safado demais falar que eu queria beijar os lábios dela agora?
Porque... cara. Ela está me olhando de uma forma tão doce que eu até posso esquecer meu próprio nome.
Katherine Parson é uma assassina.
Tão amiga, doce, bonita, mal educada – isso é legal as vezes, eu acho –, inteligente, irritante, sarcástica, gentil, atrevida e desajeitada. Posso listar mais alguns adjetivos, eu inclusive os coloquei num dos relatórios do nosso projeto de sociologia. E verdade seja dita, nunca estive tão afetado por conta de alguém antes, então acredito piamente que ela seja uma assassina.
Ela me faz sentir importante, mas não como se eu fosse uma pessoa que tem fama e merece atenção. Só... importante por ser quem eu sou quando não sou quem as pessoas querem que eu seja. Alguém com quem posso ser honesto, eu acho. Posso até não ser isso para ela, mas é quem ela é para mim.
Não quero falar sobre a parte em que Kate disse que não podíamos nos dar uma chance porque existem muitos fatores que nos impedem. Essa parte dela, a parte racional, é a única parte detestável de sua personalidade.
— Harry! — Gritou ela, creio eu que não pela primeira vez. Sibilei um ''sim?'' e ela sorriu. — Depois você fala que eu que me perco no mundo da lua, né?
Kate, a desnorteada aqui é você.
— Isso não contou. — Eu retruquei em tom óbvio. — Me ajuda a pôr os pratos na mesa, vai.
E agora, eis que a garota a minha frente fica parada, me encarando com cara de tacho.
— Kath! — a devaneei, rolando os olhos.
— Para, eu não gosto de Kath. — Ela falou emburrada e eu ri um pouco. Desliguei o fogo do molho, porque dependendo de meus olhares para Katherine era bem capaz de eu estragar o jantar. — E sim, eu ajudo, senhor Eu-Sei-Cozinhar.
— Dó de você, que não sabe.
— Não tem problema, vou te querer por perto quando eu tiver que cozinhar pros meus filhos e clientes e diversas outras pessoas que precisarão ser alimentados por mim. — Kate deu por ombros.
— E se forem nossos? Os filhos? — perguntei automaticamente e pigarreei continuamente para ela não notar minha sugestão completamente romântica e impulsiva. — Ou os... hum... clientes? — o quê? Corrige essa bagunça, Styles. — Bom, seus filhos vão ser gordos se depender do seu modo de alimentação, convenhamos.
— Por isso o senhor Styles aqui irá ser padrinho deles. — Kate riu, piscando. — Ou tio, se eu me casar com o Louis, o que é bem provável.
— Mas ele namora a Hannah. — torci os lábios, infeliz. Primeiro o Louis, depois o Liam, e eis que o Louis volta para me aterrorizar. Aparentemente todo mundo na One Direction pode ter um affair com Katherine, menos eu.
— E isso interessa? — revirou os olhos, óbvia. — É claro que não vou me casar com Louis, tadinha da Georgia. É mais fácil eu casar com você, Styles...
Isso geralmente não me deixaria aliviado, mas deixou. Num mundo hipotético onde não existem restaurantes e delivery de comida, Katherine se casaria comigo para continuar se alimentando – mas apenas porque não pode se casar com Louis.
É incrível como a gente aceita migalhas, né?
Pigarreei.
— Pegue os copos, não sei onde eles ficam. — falei fingindo estar concentrado no molho. Kate me olhou por um tempo, sem expressão, mas depois balançou a cabeça para o lado em negação e assentiu, preparando tudo em questão de um minuto. — Chama o pessoal?
— Você é mandão! — Ela reclamou com um biquinho nos lábios.
Pra quê fazer uma expressão dessas senão para implorar um beijo sem precisar emitir palavras?
— Ah, me desculpe. — Disse, tentando me distrair dos lábios rosados e chamativos, dando ombros.
— Não.
Me virei de frente para ela, que estava de braços cruzados. Bem perto.
— Por favor? — Pedi, confuso.
— Não, Styles.
— Por favorzinho, Kate. — Eu pedi, manhoso, dando o passo que nos mantinha afastados. Ela me olhou pelo canto do olho e quase abriu um sorriso. — Seja gentil.
— Seja gentil. — Ela imitou minha voz e sotaque, tirando com minha cara. Eu sorri. Ela era adoravelmente irritante. Rimos juntos, nos olhando, até que eu simplesmente selei meus lábios nos dela, apenas porque parecia certo fazer aquilo. — Hum... — Kate se afastou, corando. — Eu vou chamar o pessoal.
Point Of View: Katherine Parson
“Katherine Parson is a bitch?”
O nome da notícia assustou e a burra se deixou levar pela curiosidade, clicando no link com a certeza da merda que vinha por ai.
Respirei fundo antes de começar a ler.
“Ultimamente viemos rotulando K. Parson como a garota que quer distância dos holofotes, mas hoje morre mais um apelido. Não podemos mais chamá-la assim, já que quando se anda com a One Direction, você acaba virando notícia.
Segundo fontes confiáveis, recentemente a jovem de dezesseis anos se mudou para Londres com o pai, nome que intitula a franquia da Parson’s. E ela chegou com estilo!
Literalmente.
Como sabemos, Louis T. postou meses atrás que amou conhecer Kate, e a partir daí sempre havia mentions trocadas no Twitter, além de algumas fotos no Instagram.
Embora só tenhamos notícias da mudança de Kate para Londres agora, temos alguns flagras de um casal de jovens muito parecido com K e H, nos shoppings e pelas ruas da nossa capital. A proximidade entre K. e Harry Styles é clara, à essa altura.
“Por que o Kate é uma vadia?”, vocês podem estar se perguntando. E o porquê, queridas directioners, é que a flagramos muito com Louis e Liam também! Em nenhuma das vezes Kate parece ser uma mera conhecida; muito pelo contrário – ela sempre está trocando carinhos e risadas com quase todos os membros da banda, exceto Niall Horan, que namora Mariana Styles, irmã do affair mais recorrente de Parson.
Uma coisa é clara: sempre que Katherine é vista com algum direction, eles parecem mais que íntimos.
— Elen, colunista oficial do One Direction England”
Então a mídia pensa que eu sou o que Hannah Sparks tentou ser.
E quem é essa porra de fonte próxima que contou sobre minha mudança?
Queria não pensar em Ingrid. Vou evitar ao máximo pensar em Ingrid.
Respirei fundo, sentindo o ar um pouco mais pesado depois do texto. Meu coração estava levemente acelerado, pois eu fiz – também – a besteira de passar os olhos pelos comentários da notícia, e eles eram muitos.
O que todas essas pessoas querem investigando minha vida pessoal? Eu não sou uma pessoa pública! Nunca assumi nenhum tipo de atividade ou pedi que as pessoas prestassem atenção em mim. Isso é descabido em tantos níveis, e eu já nem sei como ficar brava porque é a milésima vez que passo por isso. Pode até fazer um tempo que não sofro ataques sérios assim, mas não faz com que doa menos.
É invasivo. Não há outra palavra para isso. Nem mesmo pessoas de imagem pública, como os membros da banda, deviam ter suas vidas expostas e especuladas assim. O que o resto do mundo tem a ver com quem eles se relacionam? Eles têm o livre direito de ter amizades e se os outros pensam que eles não transam, sofrem e vivem a própria vida, estão desumanizando quem eles juram admirar.
Não, nada contra as directioners, mas prefiro as jonatics.
Coloquei o notebook em cima da penteadeira e me sentei, pensativa.
Eu juro que estou puta. Estou mesmo. Não é tão catastrófico quanto era no passado, mas ainda assim é revoltante.
Nunca abertamente fiz algo a respeito. Nem mesmo um comentário ou uma resposta. Só teve aquela vez em que empurrei o paparazzi, mas isso também foi meio que sem querer.
Não sou uma vadia. Não sou interesseira. Não sou um objeto. Não sou uma agressora. Não sou nem mesmo um nome relevante para darem tanta atenção. Eu devia ser ninguém, mas tiraram esse direito de mim.
Respirei fundo novamente, o ar parecendo rarefeito e frio, mas mais leve.
Cliquei em tweetar:
“’Cansei de boatos, principalmente os vindos da @OneDirectionEngland, precisamente os vindos da Elen. Vou fazer uma twitcam AGORA.”
Conferi meu cabelo (queria muito não estar com a mão enfaixada para prendê-lo num rabo de cavalo) e ajeitei minha blusa. Uma rápida olhada no espelho, apenas para conferir quão vadia eu estava numa escala de um à machismo extremo.
Meu computador começou a pipocar com notificações em todas as redes sociais não mais que cinco minutos depois do meu tweet.
Testei a câmera... tudo ok.
Cliquei no link da livestream e iniciei a twitcam.
— Primeiro, boa noite. — Eu sorri fraco para a câmera. — Acho mais que justo directioners não gostarem de mim, eu mesma não curto muito algumas de vocês mesmo. Tipo a Elen. Mas... eu tenho um motivo, não é? Ela fez um ataque pessoal contra mim.
A live travou por um momento, por não suportar a quantidade de acessos e de comentários no chat ao vivo.
— Enfim, me odeiem, não tiro a razão de vocês porque quando você é fã tem dessas coisas. Eu nem gosto muito da Dani, esposa do Kevin Jonas. Agora me chamar de vadia é um pouco demais. E eu podia ter vindo aqui antes me manifestar sobre isso, porque muitas de vocês me mandam mentions dizendo coisas assim todo dia... — mexi no cabelo, desconfortável. A questão definitivamente não era me xingarem. — Eu só estou aqui porque preciso me manifestar diante de tudo isso, e minha manifestação é: não quero e não preciso me defender. Tudo o que quero é que vocês entendam o peso de uma acusação, um xingamento desses na vida de uma pessoa. Na vida de uma mulher, cis ou trans, isso é mil vezes pior. O que vocês estão fazendo vai de encontro a uma série de premissas sobre igualdade entre sexo e como nós estamos distantes de alcançar isso.
Mordi a boca, pensativa. Muito daquilo podia não valer a pena falar, porque sei que as pessoas são politizadas e sabem que o mundo é um lugar cheio de injustiça com mulheres e outras minorias, mas uma parte de mim, a parte que nunca teve coragem de se levantar e responder à opressão, precisava daquilo. Pelo bem da minha própria consciência e pela esperança de ensinar algo a quem ainda não sabe sobre todas essas questões importantes.
— Acho que vocês estão familiarizados com o termo sororidade. — Eu voltei a falar, pensando em como ser o mais condizente e breve possível. — Eu não estou pedindo por mim, mas imploro a vocês que repensem antes de usar palavras pejorativas como vadia, puta, interesseira ao tratar outras mulheres. Mulheres carregam o peso desses termos por toda a história, e na maioria das vezes eles foram dados injustamente, e apenas existem para oprimir o desejo de liberdade e escolha do nosso sexo. É uma arma contra a união entre mulheres, pois só reforça a sociedade machista em que vivemos, sabe? — Olhei para um ponto perdido no meu quarto, pensativa. — Só... evitem fazer isso. Não comigo, mas com vocês mesmas.
Verifiquei os comentários no chat ao vivo por um momento. Muitas meninas começaram a mandar textos enormes explicando sobre machismo, feminismo e opressão à mulher. Outros só reafirmaram que sou uma grande vadia. Ri de lado, já prevendo por essa dualidade.
— Bom, agora efetivamente falando sobre mim... — Comecei, suspirando. — Elen, você se sentiu no direito de me chamar de vadia, e isso é muito parecido com o que diversas pessoas fazem todos os dias nos comentários das redes sociais, mas expor isso num site enorme como o One Direction England é um exagero mais que grande. Eu fiquei triste demais com a irresponsabilidade da sua atitude, então fiz a twitcam para esclarecer algumas coisas. Todos já sabem que eu sou contra a opressão, maus tratos e objetificação da mulher. Posso também responder às perguntas que vocês querem saber. Enviem no chat agora.
Me ajeitei na cadeira, suspirei e olhei o número de pessoas visualizando a transmissão. Trinta mil.
Jesus Cristo.
Bati os olhos no comentário de uma seguidora.
— Ok. — Eu ri fracamente. — A @MadsonHoran pergunta: “Por que você vive com o Harry e com o Liam?” Olá, Madson. Harry e eu somos colegas, e a 1D é parceira da empresa do meu pai. E eu estou com o braço quebrado, como vocês podem reparar. Harry me ajudou no dia em que isso aconteceu. — Eu levantei minha mão enfaixada para todos verem.
Bom, eu não menti, e realmente não devo satisfações a ninguém.
— Agora a pergunta da @KeepcalmandloveLouis: “Você é directioner?”. Não sou directioner. Eu gostava das músicas, mas não os conhecia como vocês. — Sorri, singela, torcendo para não ser odiada por minha confissão. — Ah, eu não respondi sobre o Liam! Então, ele é um bom amigo, como um irmão mais velho que zoa mas cuida de mim.
Verifiquei a próxima pergunta: @isaloveshaz_: “Oi Kate, as brasileiras te amam. Qual é a sua ligação com os garotos?”
— Awn, eu amo as brasileiras também. O Brasil inteiro, na verdade, já que minha mãe era brasileira. Bom, meu pai assinou um contrato com eles, ou seja, a estilista Lou Teasdale irá vestir a One Direction.
A pergunta seguinte: “@MillenaCastilho: ”Brasil dominando essa porra! Kate, você é jonatic?”
— Brasil arrasando, oh yeah! Parei, eu também amo os outros países ok? — Abri um grande sorriso. — Ok. Então, sim, eu sou jonatic! Gosto muito do The Wanted e Demi Lovato. Amo as Little Mix também!
Virei o computador para o espelho da penteadeira e mostrei as fotos que tenho com os Jonas Brothers. Essa era minha bandinha de infância que eu amaria para sempre. Essa minha foto era a minha terceira melhor lembrança do mundo – depois de uma noite da pizza que tive com meus pais e do dia em que o Harry me deu o colar com o pingente do número 319, é claro.
— Estou perdendo o foco e a culpa é dos Jonas Brothers. — Eu disse, brincando, meu braço doendo por segurar o computador no ar por muito tempo. — A próxima pergunta é da @meeowniall: “BRASIL! Kate, você é linda e eu amo a Parson’s. Diga-nos sobre Hannah, Mariana e Isabela.” Boa pergunta e mais uma vez OI BRASIL!
“Mariana é minha amiga, irmã do Harry e namorada do Niall. Aliás, eu shippo Miall! Isabela é minha amiga também. Eu, ela e Mari somos as três mosqueteiras, só que não. — dei uma risada. — Aliás, eu super shipparia Zaybela e vocês? Hannah é uma publicitária, amiga do Louis. Agora, pausando as perguntas rapidinho...”
Ok, nessa hora meu tom de voz ficou um pouquinho mais enfático do que deveria. Eu estava um pouco ansiosa. Pigarreei:
— Elen, eu quero que você fale comigo. Estou aguardando seu contato. — deixei claro que o assunto sobre o artigo não havia passado. — Agora voltando... @Larica_Priester pergunta: “Hey, você namora o Harry? Xx’’ — ri um pouco com a pergunta, e quando fui abrir a boca para responder....
Bom, ele respondeu por mim.
— Somos noivos, não é amor? — Harry estava me olhando de lá da porta, o que o tornava visível para os telespectadores da twitcam também. Subitamente os números pularam para 400 mil.
E eu que lute pra arcar com as ações de Styles.
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